O amigo libanês de Manuel Dias Loureiro

18-02-2005
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O Amigo Libanês de Manuel Dias Loureiro

Por CRISTINA FERREIRA

Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005 Num livro publicado em Espanha em 2004, o dirigente social-democrata Manuel Dias Loureiro surge como sócio do libanês Abdul Rahman El-Assir, ali citado como "traficante de armas", e, segundo a imprensa internacional, uma das personalidades mencionadas na mega-investigação que nos anos 80 envolveu um banco ligado ao narcotráfico internacional. Em declarações ao PÚBLICO, Dias Loureiro explicou que deu já indicações a um advogado, em Espanha, para impedir que em futuras edições o seu nome continue a constar como "sócio" de El-Assir, mas reconhece que o empresário o ajudou "a resolver um negócio em Marrocos" e admite manter com ele uma relação de amizade, tendo sido por seu intermédio que conheceu o Rei de Espanha, Juan Carlos. "Logo que tive conhecimento da existência desse livro, procurei agir de modo a repor a verdade dos factos e a evitar que em futuras edições essa mentira fosse repetida," disse ao PÚBLICO Dias Loureiro, 54 anos, quando confrontado com a informação de que seria sócio de Abdul Rahman El-Assir, conforme consta da obra publicada em Espanha, com o título "Los PPijos". Os autores, os jornalistas Carlos Ribagorda e Nacho Cardero, analisam uma nova geração de políticos/homens de negócio do Partido Popular espanhol, à volta dos 40 anos, agrupada em torno de Alejandro Agag, genro de José Maria Aznar. À data da edição do livro, Agag era oficialmente colaborador do Banco Português de Negócios (BPN), de que é accionista Dias Loureiro. Após tomar conhecimento da publicação de "Los PPijos", conta o dirigente social-democrata, que encarregou o professor de Direito Penal da Universidade de Valência Javier Beox de accionar os procedimentos necessários a clarificar o seu relacionamento com o libanês. Em declarações ao PÚBLICO, Beox confirmou ter "interposto" um requerimento notarial a solicitar a correcção apenas da informação constante em "Los PPijos", que indica o seu cliente como "sócio" de El-Assir. Isto, por se entender que a alusão "afecta o seu bom nome". O notário pode aceitar o pedido de Dias Loureiro ou recusá-lo. "[Se for assim], afirma o ex-deputado, depois decidiremos." O amigo libanês Contactado telefonicamente pelo PÚBLICO El-Assir afirmou não ter qualquer ligação empresarial com Dias Loureiro, que "é apenas um grande e bom amigo". O empresário libanês confessou não ter lido "Los PPijos" , considerando que "nem tudo o que se escreve é verdade". A imprensa espanhola ("El Mundo", 16/05/04) menciona o facto de El-Assir, de 54 anos, e com nacionalidade espanhola, estar proibido de entrar na Suíça e nos EUA, uma informação que o empresário contesta, adiantando que tem naquela localidade "residência" e mais de três mil empregados nos EUA, onde é proprietário de uma petrolífera, Gulf. O seu nome consta ainda de vários textos publicados nos últimos anos em "sites" internacionais como tendo estado associado ao escândalo que envolveu nos anos 80 o Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), com sede no Panamá, instituição que foi acusada de ligações ao narcotráfico mundial. Nos EUA, esta investigação foi liderada pelo ex-candidato presidencial John Kerry. Confrontado com o facto, El Assir assegura apenas que "nunca teve nenhuma conta pessoal ou empresarial no BCCI". Dias Loureiro disse ao PÚBLICO que não é "sócio" de El-Assir e "nada" saber "sobre o seu passado". "Não tenho quaisquer razões para pensar mal dele. O seu círculo de amigos é gente respeitável, ele sempre me tratou bem, com amizade e respeito", notou. "[E ainda recentemente] ajudou um meu amigo a entrar em contacto com um médico em Inglaterra." O ex-deputado ao ser contactado pelo PÚBLICO considerou que o assunto é muito delicado", reconhecendo que mantém uma relação de amizade com o libanês, mas "apenas desde 2001", ano em que este o "ajudou a resolver um negócio em Marrocos", onde estavam "a EDP, a Pleiade e o grupo espanhol Dragados" e ainda um sócio marroquino. Em causa esteve a venda da marroquina Redal (concessão de distribuição de água, de electricidade e de saneamento básico), de que Dias Loureiro era presidente, ao grupo francês Vivendi. Segundo o ex-ministro foi El-Assir que o "pôs em contacto com um responsável de Rabat", o que possibilitou "ultrapassar alguns obstáculos de ordem burocrática" e viabilizar o negócio com os franceses. O social-democrata conta ter sido apresentado ao empresário libanês por "um cunhado dele", "amigo [de Dias Loureiro] e casado com a irmã da actual mulher" de El-Assir, a espanhola Maria Fernandez Longoria, filha de um ex-embaixador de Espanha no Cairo. Desde 2001, garante o presidente da mesa da assembleia geral do PSD, passaram "a ter uma relação social", não voltando a ter "contactos" profissionais. "Apenas tenho conhecimento de que possui uma empresa ligada ao petróleo nos EUA." Dias Loureiro esclarece que a última vez que falou com o libanês "foi na passagem do ano". Caçadas com o Rei de Espanha "El-Assir é muito bem relacionado", observa o dirigente social-democrata. "Ele convidou-me várias vezes para caçar com o Rei de Espanha e jogar golfe." Foi ainda por seu intermédio, conta, que conheceu o ex-Presidente dos EUA Bill Clinton e o presidente do Partido Democrata norte-americano, Terry Macauliffe, o homem que trata das finanças dos democratas. "Jantei com Bill Clinton nas casas dele [El-Assir] em Madrid, Barcelona e Londres." El-Assir é visto regularmente na sua propriedade em Marbella, no Sul de Espanha, onde é vizinho dos pais de Alejandro Agag. "[Ele] é amigo do Rei de Espanha e do neto de Franco [Francis Franco], com quem tenho estado", acrescentou Loureiro, adiantando que já se encontrou "umas seis vezes" com Juan Carlos "em casa" de El-Assir para caçar, "a última das quais foi em Setembro". A "proximidade" do monarca espanhol a El-Assir tem sido aliás objecto de comentários por parte da imprensa espanhola, que põe em causa algumas das ligações de Juan Carlos, observando que três dos seus amigos "mais íntimos", Manolo Prado (envolvido em escândalos económicos), Javier de la Rosa (ligado à KIO) e Mário Conde (ex-presidente do Banesto), estão condenados criminalmente. O referido artigo do "El Mundo" tem mesmo como título: "Abdul El-Assir: outro amigo estranho do Rei." De acordo com os jornalistas, El-Assir deslocou-se em 2003 a Portugal para assistir ao casamento da filha de Dias Loureiro, Joana, com o filho do então secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, João. O ex-ministro de Cavaco Silva confirma-o: "É verdade que esteve nos casamentos das minhas duas filhas e o seu cunhado também." No Convento do Beato, em Lisboa, "junto à nata da política portuguesa [Durão Barroso, Cavaco Silva, Mário Soares...], Agag e a mulher partilharam a mesa com El-Assir: todos velhos conhecidos, todos amigos para convites e para os negócios", escrevem Ribagorda e Cardero. E lembram que o libanês foi igualmente convidado, em 2002, para o casamento de Alejandro Agag com a filha de Aznar, onde estiveram mil pessoas, incluindo um ex-primeiro-ministro português António Guterres, o então chefe de Governo, Durão Barroso, e um ex-ministro da Administração Interna, Dias Loureiro. Daí concluem: "Como se pode apreciar, as conexões de uns e de outros fazem com que tudo fique em casa." OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL O amigo libanês de Manuel Dias Loureiro

O processo contra os autores do livro

Genro de Aznar trabalhou para o Banco Português de Negócios

As ligações a negócios

Judiciária investiga na Madeira seis dirigentes sobre "Apito dourado"

O Amigo Libanês de Manuel Dias Loureiro

Por CRISTINA FERREIRA

Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005 Num livro publicado em Espanha em 2004, o dirigente social-democrata Manuel Dias Loureiro surge como sócio do libanês Abdul Rahman El-Assir, ali citado como "traficante de armas", e, segundo a imprensa internacional, uma das personalidades mencionadas na mega-investigação que nos anos 80 envolveu um banco ligado ao narcotráfico internacional. Em declarações ao PÚBLICO, Dias Loureiro explicou que deu já indicações a um advogado, em Espanha, para impedir que em futuras edições o seu nome continue a constar como "sócio" de El-Assir, mas reconhece que o empresário o ajudou "a resolver um negócio em Marrocos" e admite manter com ele uma relação de amizade, tendo sido por seu intermédio que conheceu o Rei de Espanha, Juan Carlos. "Logo que tive conhecimento da existência desse livro, procurei agir de modo a repor a verdade dos factos e a evitar que em futuras edições essa mentira fosse repetida," disse ao PÚBLICO Dias Loureiro, 54 anos, quando confrontado com a informação de que seria sócio de Abdul Rahman El-Assir, conforme consta da obra publicada em Espanha, com o título "Los PPijos". Os autores, os jornalistas Carlos Ribagorda e Nacho Cardero, analisam uma nova geração de políticos/homens de negócio do Partido Popular espanhol, à volta dos 40 anos, agrupada em torno de Alejandro Agag, genro de José Maria Aznar. À data da edição do livro, Agag era oficialmente colaborador do Banco Português de Negócios (BPN), de que é accionista Dias Loureiro. Após tomar conhecimento da publicação de "Los PPijos", conta o dirigente social-democrata, que encarregou o professor de Direito Penal da Universidade de Valência Javier Beox de accionar os procedimentos necessários a clarificar o seu relacionamento com o libanês. Em declarações ao PÚBLICO, Beox confirmou ter "interposto" um requerimento notarial a solicitar a correcção apenas da informação constante em "Los PPijos", que indica o seu cliente como "sócio" de El-Assir. Isto, por se entender que a alusão "afecta o seu bom nome". O notário pode aceitar o pedido de Dias Loureiro ou recusá-lo. "[Se for assim], afirma o ex-deputado, depois decidiremos." O amigo libanês Contactado telefonicamente pelo PÚBLICO El-Assir afirmou não ter qualquer ligação empresarial com Dias Loureiro, que "é apenas um grande e bom amigo". O empresário libanês confessou não ter lido "Los PPijos" , considerando que "nem tudo o que se escreve é verdade". A imprensa espanhola ("El Mundo", 16/05/04) menciona o facto de El-Assir, de 54 anos, e com nacionalidade espanhola, estar proibido de entrar na Suíça e nos EUA, uma informação que o empresário contesta, adiantando que tem naquela localidade "residência" e mais de três mil empregados nos EUA, onde é proprietário de uma petrolífera, Gulf. O seu nome consta ainda de vários textos publicados nos últimos anos em "sites" internacionais como tendo estado associado ao escândalo que envolveu nos anos 80 o Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), com sede no Panamá, instituição que foi acusada de ligações ao narcotráfico mundial. Nos EUA, esta investigação foi liderada pelo ex-candidato presidencial John Kerry. Confrontado com o facto, El Assir assegura apenas que "nunca teve nenhuma conta pessoal ou empresarial no BCCI". Dias Loureiro disse ao PÚBLICO que não é "sócio" de El-Assir e "nada" saber "sobre o seu passado". "Não tenho quaisquer razões para pensar mal dele. O seu círculo de amigos é gente respeitável, ele sempre me tratou bem, com amizade e respeito", notou. "[E ainda recentemente] ajudou um meu amigo a entrar em contacto com um médico em Inglaterra." O ex-deputado ao ser contactado pelo PÚBLICO considerou que o assunto é muito delicado", reconhecendo que mantém uma relação de amizade com o libanês, mas "apenas desde 2001", ano em que este o "ajudou a resolver um negócio em Marrocos", onde estavam "a EDP, a Pleiade e o grupo espanhol Dragados" e ainda um sócio marroquino. Em causa esteve a venda da marroquina Redal (concessão de distribuição de água, de electricidade e de saneamento básico), de que Dias Loureiro era presidente, ao grupo francês Vivendi. Segundo o ex-ministro foi El-Assir que o "pôs em contacto com um responsável de Rabat", o que possibilitou "ultrapassar alguns obstáculos de ordem burocrática" e viabilizar o negócio com os franceses. O social-democrata conta ter sido apresentado ao empresário libanês por "um cunhado dele", "amigo [de Dias Loureiro] e casado com a irmã da actual mulher" de El-Assir, a espanhola Maria Fernandez Longoria, filha de um ex-embaixador de Espanha no Cairo. Desde 2001, garante o presidente da mesa da assembleia geral do PSD, passaram "a ter uma relação social", não voltando a ter "contactos" profissionais. "Apenas tenho conhecimento de que possui uma empresa ligada ao petróleo nos EUA." Dias Loureiro esclarece que a última vez que falou com o libanês "foi na passagem do ano". Caçadas com o Rei de Espanha "El-Assir é muito bem relacionado", observa o dirigente social-democrata. "Ele convidou-me várias vezes para caçar com o Rei de Espanha e jogar golfe." Foi ainda por seu intermédio, conta, que conheceu o ex-Presidente dos EUA Bill Clinton e o presidente do Partido Democrata norte-americano, Terry Macauliffe, o homem que trata das finanças dos democratas. "Jantei com Bill Clinton nas casas dele [El-Assir] em Madrid, Barcelona e Londres." El-Assir é visto regularmente na sua propriedade em Marbella, no Sul de Espanha, onde é vizinho dos pais de Alejandro Agag. "[Ele] é amigo do Rei de Espanha e do neto de Franco [Francis Franco], com quem tenho estado", acrescentou Loureiro, adiantando que já se encontrou "umas seis vezes" com Juan Carlos "em casa" de El-Assir para caçar, "a última das quais foi em Setembro". A "proximidade" do monarca espanhol a El-Assir tem sido aliás objecto de comentários por parte da imprensa espanhola, que põe em causa algumas das ligações de Juan Carlos, observando que três dos seus amigos "mais íntimos", Manolo Prado (envolvido em escândalos económicos), Javier de la Rosa (ligado à KIO) e Mário Conde (ex-presidente do Banesto), estão condenados criminalmente. O referido artigo do "El Mundo" tem mesmo como título: "Abdul El-Assir: outro amigo estranho do Rei." De acordo com os jornalistas, El-Assir deslocou-se em 2003 a Portugal para assistir ao casamento da filha de Dias Loureiro, Joana, com o filho do então secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, João. O ex-ministro de Cavaco Silva confirma-o: "É verdade que esteve nos casamentos das minhas duas filhas e o seu cunhado também." No Convento do Beato, em Lisboa, "junto à nata da política portuguesa [Durão Barroso, Cavaco Silva, Mário Soares...], Agag e a mulher partilharam a mesa com El-Assir: todos velhos conhecidos, todos amigos para convites e para os negócios", escrevem Ribagorda e Cardero. E lembram que o libanês foi igualmente convidado, em 2002, para o casamento de Alejandro Agag com a filha de Aznar, onde estiveram mil pessoas, incluindo um ex-primeiro-ministro português António Guterres, o então chefe de Governo, Durão Barroso, e um ex-ministro da Administração Interna, Dias Loureiro. Daí concluem: "Como se pode apreciar, as conexões de uns e de outros fazem com que tudo fique em casa." OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL O amigo libanês de Manuel Dias Loureiro

O processo contra os autores do livro

Genro de Aznar trabalhou para o Banco Português de Negócios

As ligações a negócios

Judiciária investiga na Madeira seis dirigentes sobre "Apito dourado"

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