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03-01-2003
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Armando França/Arquivo AP Paulo Sousa tem características raras: sabe defender e lançar o ataque como mais nenhum jogador português 2002-07-02 - 20:52:00

Perfil

Paulo Sousa, o geómetra idolatrado

Paulo era um menino quando trocou a fria cidade de Viseu pela comospolita e sempre apressada Lisboa. Na capital, com 13 anos, juntou-se a outros rapazes na nova casa — o Estádio da Luz — e levava o sonho, comum a todos, de ser jogador profissional de futebol. Foi no Benfica que começou a dar nas vistas, mas até final da sua carreira seguir-se-iam mais sete clubes, todos europeus, e variados títulos, entre eles duas Taças dos Campeões Europeus e uma Taça Intercontinental.

Cabelo comprido, camisola encarnada e o número seis nas costas, juntando-lhe o olhar compenetrado no jogo — e sempre com a bola nos pés. Com apenas 17 anos, Paulo Manuel Carvalho Sousa estreou-se na equipa principal do Benfica e depressa ganhou a admiração das fãs (independentemente do clube) e dos adeptos “encarnados”. Dono e senhor da zona central do terreno, área que sempre privilegiou, ansiava por que a bola lhe voltasse aos pés para logo a devolver com passes geometricamente estudados e guiados a desmarcar os companheiros. Daí a alcunha do geómetra ou “regista”, como o tratariam anos mais tarde em Itália.

Para trás havia ficado a tristeza da solidão, as lágrimas pela ausência forçada dos pais e três títulos de campeão nacional (um de sub-16 e dois de sub-18). Titular no Benfica e a popularidade sempre a subir, o rapaz que queria ser professor da primária, não conseguia largar as primeiras páginas dos jornais. Talvez porque até num simples jogo contra o Boavista, no Bessa, Sousa tornou-o num excêntrico espectáculo de futebol: teve de substituir o guarda-redes benfiquista, entretanto expulso, e fez uma exibição notável de luvas calçadas: duas boas defesas evitaram a derrota dos “encarnados”.

O título da consagração viria no ano de 1991, o penúltimo da história do Benfica. A extensa lista de conquistas tinha aí começado: dois anos depois venceu a Taça de Portugal. No “Verão quente” de 1994, o ídolo dos benfiquistas viu riscado para sempre o seu nome da Luz. O presidente do rival Sporting, Sousa Cintra, consegue numa operação relâmpago ir buscá-lo ao Benfica e levá-lo para Alvalade.

Mas a casa sportinguista seria um mero trampolim para Paulo Sousa. Passada uma época, troca o futebol português pelo italiano. Assina um contrato com a Juventus, clube onde vence tudo o que existe para ganhar: Campeonato de Itália (1995), Taça de Itália (1995), Taça da Liga (1995) e Taça dos Campeões europeus (1996). Mas seria no “calcio” que as lesões começariam a atacar Sousa. Mais débil e sem o poder de recuperação de bolas que sempre identificou o jogador português, o número seis da Juventus começou um calvário que culminaria com o abandono da carreira.

Transferiu-se em 1996 para a Alemanha, onde alinhou um ano no Borussia Dortmund e, a espaços, quando conseguia fintar as lesões, ajudou o clube a conquistar a Taça dos Campeões, a Taça Intercontinental e a Supertaça da Alemanha. As passagens efémeras pelo Inter de Milão (1998/99), Parma (2000), Panathinaikos (2000/01) e Espanyol (2002) não trouxeram mais do que frustração.

Mas não foram só os clubes a terem o privilégio de albergar Paulo Sousa. Na selecção, o camisola 6 participou em 74 jogos, 51 pela equipa principal. Nas selecções foi vice-campeão da Europa de sub-18, campeão do Mundo de sub-19 e teve duas presenças na fase final do Europeus de 1996 e 2000, e uma presença na fase final do Mundial este ano. Filipe Escobar de Lima

Armando França/Arquivo AP Paulo Sousa tem características raras: sabe defender e lançar o ataque como mais nenhum jogador português 2002-07-02 - 20:52:00

Perfil

Paulo Sousa, o geómetra idolatrado

Paulo era um menino quando trocou a fria cidade de Viseu pela comospolita e sempre apressada Lisboa. Na capital, com 13 anos, juntou-se a outros rapazes na nova casa — o Estádio da Luz — e levava o sonho, comum a todos, de ser jogador profissional de futebol. Foi no Benfica que começou a dar nas vistas, mas até final da sua carreira seguir-se-iam mais sete clubes, todos europeus, e variados títulos, entre eles duas Taças dos Campeões Europeus e uma Taça Intercontinental.

Cabelo comprido, camisola encarnada e o número seis nas costas, juntando-lhe o olhar compenetrado no jogo — e sempre com a bola nos pés. Com apenas 17 anos, Paulo Manuel Carvalho Sousa estreou-se na equipa principal do Benfica e depressa ganhou a admiração das fãs (independentemente do clube) e dos adeptos “encarnados”. Dono e senhor da zona central do terreno, área que sempre privilegiou, ansiava por que a bola lhe voltasse aos pés para logo a devolver com passes geometricamente estudados e guiados a desmarcar os companheiros. Daí a alcunha do geómetra ou “regista”, como o tratariam anos mais tarde em Itália.

Para trás havia ficado a tristeza da solidão, as lágrimas pela ausência forçada dos pais e três títulos de campeão nacional (um de sub-16 e dois de sub-18). Titular no Benfica e a popularidade sempre a subir, o rapaz que queria ser professor da primária, não conseguia largar as primeiras páginas dos jornais. Talvez porque até num simples jogo contra o Boavista, no Bessa, Sousa tornou-o num excêntrico espectáculo de futebol: teve de substituir o guarda-redes benfiquista, entretanto expulso, e fez uma exibição notável de luvas calçadas: duas boas defesas evitaram a derrota dos “encarnados”.

O título da consagração viria no ano de 1991, o penúltimo da história do Benfica. A extensa lista de conquistas tinha aí começado: dois anos depois venceu a Taça de Portugal. No “Verão quente” de 1994, o ídolo dos benfiquistas viu riscado para sempre o seu nome da Luz. O presidente do rival Sporting, Sousa Cintra, consegue numa operação relâmpago ir buscá-lo ao Benfica e levá-lo para Alvalade.

Mas a casa sportinguista seria um mero trampolim para Paulo Sousa. Passada uma época, troca o futebol português pelo italiano. Assina um contrato com a Juventus, clube onde vence tudo o que existe para ganhar: Campeonato de Itália (1995), Taça de Itália (1995), Taça da Liga (1995) e Taça dos Campeões europeus (1996). Mas seria no “calcio” que as lesões começariam a atacar Sousa. Mais débil e sem o poder de recuperação de bolas que sempre identificou o jogador português, o número seis da Juventus começou um calvário que culminaria com o abandono da carreira.

Transferiu-se em 1996 para a Alemanha, onde alinhou um ano no Borussia Dortmund e, a espaços, quando conseguia fintar as lesões, ajudou o clube a conquistar a Taça dos Campeões, a Taça Intercontinental e a Supertaça da Alemanha. As passagens efémeras pelo Inter de Milão (1998/99), Parma (2000), Panathinaikos (2000/01) e Espanyol (2002) não trouxeram mais do que frustração.

Mas não foram só os clubes a terem o privilégio de albergar Paulo Sousa. Na selecção, o camisola 6 participou em 74 jogos, 51 pela equipa principal. Nas selecções foi vice-campeão da Europa de sub-18, campeão do Mundo de sub-19 e teve duas presenças na fase final do Europeus de 1996 e 2000, e uma presença na fase final do Mundial este ano. Filipe Escobar de Lima

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