"Ainda vamos ter saudades de FHC"

24-11-2002
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"Ainda Vamos Ter Saudades de FHC"

Terça-feira, 12 de Novembro de 2002 No auge da campanha eleitoral que elegeu Lula para a presidência, alguns destacados colunistas da impresa brasileira começavam a esquecer as críticas conjunturais e admitiam: "Ainda vamos ter saudades de FHC". Se para uma franja considerável do eleitorado da ala esquerda do PT Fernando Henrique Cardoso foi a personificação do mal, o retrato acabado da "dominação" capitalista, um exemplo cínico da complacência com a desigualdade, entre os militantes mais moderados suspeitou-se sempre que haverá no futuro próximo um antes e um depois de FHC. Ou seja, o presidente cessante deixará para o futuro uma marca indelével, daquelas que marcam um tempo e, por consequência, a História. Basta olhar a exemplar transição do poder para se constatar que a democracia no Brasil deixou de ser uma arena de lutas tribais fraticidas para se transformar numa sucessão natural de projectos políticos alternativos. A normalização de FHC significa para o Brasil o plano inclinado do caciquismo, o enterro definitivo da vergonha pública de Collor, a remissão definitiva para o campo da memória dos anos de chumbo da ditadura militar, o princípio do fim de uma ordem social com a qual a maioria da classe média se conformava como se essa fosse a ordem natural do mundo. Getúlio Vargas demoveu a velha república coronelista e mobilizou as massas, Juscelino Kubitschek fez os brasileiros sonhar com o progresso construindo Brasília, mas nunca algum presidente esteve tão sintonizado com as múltiplas dimensões do Brasil, país de dramas e de festas, de ricos e pobres, de modernidade e subdesenvolvimento, como Fernando Henrique. Um pouco como Lula, FHC fez um percurso comum a muitos intelectuais brasileiros da sua geração. Carioca de nascimento, foi em São Paulo que iniciou a sua carreira académica abruptamente suspensa pela expulsão do ensino pela ditadura. No exílio que o levou ao Chile, aos Estados Unidos, a Inglaterra e a França tornou-se um respeitado mentor da sociologia do desenvolvimento. Regressou ao Brasil no princípio da abertura do regime, em 1978, e entrou no combate político. Dez anos mais tarde estaria na origem da criação do Partido da Social Democracia Brasileira ao lado de personalidades destacadas como Hélio Jaguaribe ou Mário Covas. Cardoso contribuiu para remover a ditadura por dentro, elegendo-se senador pelo Movimento Democrático Brasileiro, juntou-se à onda de impaciêrcia que uniu milhões de brasileiros num clamor pelas eleições directas, em 1984, e chegou ao poder executivo depois da ferida aberta por Collor, quando Itamar Franco tentou reparar os danos causados pelo populismo e a corrupção a uma democracia ainda frágil. Começou aí a germinar o Plano Real, que faria baixar a inflação de uns dramáticos 2500 por cento ao ano para valores mais toleráveis. Começou aí a moldar-se o perfil de um presidente que se revelaria imbatível em 1994, que conseguiu consenso para alterar a Constituição de modo a reeleger-se em 1998 e que no final do ano deixa o Brasil com uma marca pessoal profunda. Por muitos erros que tenha cometido, haverá sem dúvida um antes e um depois de FHC no Brasil. %Manuel Carvalho a sua carreira académica abruptamente suspensa pela expulsão do ensino pela ditadura. No exílio que o levou ao Chile, aos Estados Unidos, a Inglaterra e a França tornou-se um respeitado mentor da sociologia do desenvolvimento. Regressou ao Brasil no princípio da abertura do regime, em 1978, e entrou no combate político. Dez anos mais tarde estaria na origem da criação do Partido da Social Democracia Brasileira ao lado de personalidades destacadas como Hélio Jaguaribe ou Mário Covas. Cardoso contribuiu para remover a ditadura por dentro, elegendo-se senador pelo Movimento Democrático Brasileiro, juntou-se à onda de impaciêrcia que uniu milhões de brasileiros num clamor pelas eleições directas, em 1984, e chegou ao poder executivo depois da ferida aberta por Collor, quando Itamar Franco tentou reparar os danos causados pelo populismo e a corrupção a uma democracia ainda frágil. Começou aí a germinar o Plano Real, que faria baixar a inflação de uns dramáticos 2500 por cento ao ano para valores mais toleráveis. Começou aí a moldar-se o perfil de um presidente que se revelaria imbatível em 1994, que conseguiu consenso para alterar a Constituição de modo a reeleger-se em 1998 e que no final do ano deixa o Brasil com uma marca pessoal profunda. Por muitos erros que tenha cometido, haverá sem dúvida um antes e um depois de FHC no Brasil. %Manuel Carvalho OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE No Brasil de hoje já não há margem para rupturas

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