Schroeder Questiona Legitimidade do Recurso à Guerra
Por HELENA FERRO DE GOUVEIA, Frankfurt
Quarta-feira, 19 de Março de 2003
Para o chanceler alemão, não existe nenhum motivo para suspender o processo de desarmamento em curso no Iraque e nada justifica uma guerra. Dirigindo-se ontem à nação alemã numa curta intervenção televisiva, Gerhard Schroeder afirmou: "A minha pergunta foi e continua a ser: a dimensão da ameaça proveniente do Iraque justifica que se desencadeie uma guerra que irá trazer a morte certa a milhares de homens, mulheres e crianças inocentes? A minha resposta foi e continua a ser não".Sem se referir directamente a Washington nem tecer criticas ao ultimato de George W. Bush, o chanceler sublinhou que, "por mais desejável que seja a partida do ditador, o objectivo da resolução 1441", adoptada pelo Conselho de Segurança a 8 de Novembro de 2002, por unanimidade, "é eliminar do Iraque as armas de destruição maciça". Na perspectiva do chefe de Governo alemão, " o Iraque é hoje um país controlado pela ONU" e os " passos para o desarmamento exigidos pelo Conselho de Segurança têm vindo a ser gradualmente cumpridos", não existindo por isso "qualquer motivo para interromper o processo de desarmamento em curso". "Sei que a minha posição coincide com a da grande maioria da nossa população, mas também com a maioria do Conselho de Segurança e com a dos povos do mundo, o que me sensibiliza muito", afirmou, concedendo todavia, "duvidar de que a paz tenha ainda uma oportunidade nas próximas horas".Após a intervenção televisiva , o chanceler reuniu-se com o Conselho Federal de Segurança e com líderes de bancada parlamentar dos partidos com assento no Bundestag para avaliar os desenvolvimentos da crise iraquiana e eventuais riscos para a segurança nacional alemã..Apesar de Schroeder ter optado por um comentário comedido ao ultimato, destacados membros do SPD esgrimiram um tom mais agreste. Gernot Erler, porta-voz dos sociais-democratas para as questões de Política Externa, afirmou estar"chocado" pela forma como Bush obliterou o monopólio do recurso à força às Nações Unidas e criticou os ataques do Presidente norte-americano ao Conselho de Segurança. Os últimos relatórios dos inspectores demonstram, segundo Erler, "que esta não é uma guerra sem alternativa".Patenteando, pela primeira vez, clareza nesta matéria, Angela Merkel, presidente do partido democrata-cristão CDU, declarou ontem apoiar incondicionalmente o ultimato norte-americano" até às últimas consequências". Todavia, no seio dos conservadores existe um conjunto de vozes discordantes, dilaceradas pelo dilema entre o vertebral atlantismo e a posição das Igrejas Católica e Evangélica.
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Schroeder Questiona Legitimidade do Recurso à Guerra
Por HELENA FERRO DE GOUVEIA, Frankfurt
Quarta-feira, 19 de Março de 2003
Para o chanceler alemão, não existe nenhum motivo para suspender o processo de desarmamento em curso no Iraque e nada justifica uma guerra. Dirigindo-se ontem à nação alemã numa curta intervenção televisiva, Gerhard Schroeder afirmou: "A minha pergunta foi e continua a ser: a dimensão da ameaça proveniente do Iraque justifica que se desencadeie uma guerra que irá trazer a morte certa a milhares de homens, mulheres e crianças inocentes? A minha resposta foi e continua a ser não".Sem se referir directamente a Washington nem tecer criticas ao ultimato de George W. Bush, o chanceler sublinhou que, "por mais desejável que seja a partida do ditador, o objectivo da resolução 1441", adoptada pelo Conselho de Segurança a 8 de Novembro de 2002, por unanimidade, "é eliminar do Iraque as armas de destruição maciça". Na perspectiva do chefe de Governo alemão, " o Iraque é hoje um país controlado pela ONU" e os " passos para o desarmamento exigidos pelo Conselho de Segurança têm vindo a ser gradualmente cumpridos", não existindo por isso "qualquer motivo para interromper o processo de desarmamento em curso". "Sei que a minha posição coincide com a da grande maioria da nossa população, mas também com a maioria do Conselho de Segurança e com a dos povos do mundo, o que me sensibiliza muito", afirmou, concedendo todavia, "duvidar de que a paz tenha ainda uma oportunidade nas próximas horas".Após a intervenção televisiva , o chanceler reuniu-se com o Conselho Federal de Segurança e com líderes de bancada parlamentar dos partidos com assento no Bundestag para avaliar os desenvolvimentos da crise iraquiana e eventuais riscos para a segurança nacional alemã..Apesar de Schroeder ter optado por um comentário comedido ao ultimato, destacados membros do SPD esgrimiram um tom mais agreste. Gernot Erler, porta-voz dos sociais-democratas para as questões de Política Externa, afirmou estar"chocado" pela forma como Bush obliterou o monopólio do recurso à força às Nações Unidas e criticou os ataques do Presidente norte-americano ao Conselho de Segurança. Os últimos relatórios dos inspectores demonstram, segundo Erler, "que esta não é uma guerra sem alternativa".Patenteando, pela primeira vez, clareza nesta matéria, Angela Merkel, presidente do partido democrata-cristão CDU, declarou ontem apoiar incondicionalmente o ultimato norte-americano" até às últimas consequências". Todavia, no seio dos conservadores existe um conjunto de vozes discordantes, dilaceradas pelo dilema entre o vertebral atlantismo e a posição das Igrejas Católica e Evangélica.