Os Meus Livros
Por PEDRO TAMEN, poeta e tradutor
Sábado, 23 de Novembro de 2002
1. - Qual foi o último livro que leu?
"Cartas de Veneza", de Robert Dessaix. Foi o último livro que li e um dos que mais me impressionaram nos últimos tempos: uma delicadíssima sensibilidade casada com uma excepcional mestria literária.
Agora ando entretido com uma paródia que não faz mal a ninguém: "Outono na Sertã", de Leonardo Ralha. Parece-me um livro divertido, talvez simplista (mas quem não está farto de livros complicadistas?) na sua irresistível evocação de um Boris Vian de aqui e agora. Irão seguir-se, entre muitos outros, os últimos de Manuel Alegre, de Lídia Jorge e de José Saramago.
2. - O último que abandonou a meio?
Têm sido tantos que já não sei qual foi o último. Abandono muitos livros a meio. Falta-me cada vez mais a paciência para o que decididamente não me interessa. Deixei de ler "por obrigação": direitos da idade, que alguns merecem ter.
3. - E o último que ofereceu?
Foi (e a mais que uma pessoa) "Adress Unknown" ("Desconhecido nesta Morada"), de Kressmann Taylor, um admirável jogo de inteligência e subtileza, cuja tradução portuguesa me parece ter passado injustamente despercebida.
4. - Lê vários ao mesmo tempo?
Muito raramente, embora aconteça uma ou outra vez. Tem isto a ver com um lado metódico, obstinado e estóico que me leva a fazer cada coisa de cada vez, resistindo (quase sempre!) à tentação de passar logo à ocupação que se segue, eventualmente mais apetecível.
5. - Como é que arruma os seus livros?
Como se depreende do que acabei de responder, muito metodicamente, por géneros, nacionalidades e autores. O facto de ser agora obrigado a guardar livros em dois locais diferentes, ainda mais me obrigou a apurar o método.
6. - Tem mais ficção, poesia, ensaio...?
Predomina a poesia, é claro, mas tenho muita ficção que, em boa verdade, leio cada vez menos, ou que, pelo menos, cada vez menos me apetece ler. E tenho uma proporcionalmente avultada secção de "livros de referência", que denuncia uma (aliás agradável) deformação "profissional" de tradutor.
7. - Onde é que prefere ler (cama, café, praia, etc.)?
Actualmente, pouco na cama, nunca no café, sempre na praia; mas, agora que vivo no campo, onde mais gosto de ler, quando o tempo o permite, é ao ar livre, comodamente sentado, com um belíssimo vale à minha frente...
8. - Que livro gostaria de ver traduzido em Portugal?
Talvez "La Vie d'Henri Brulard", talvez o "Lucien Leuwen", ambos de Stendhal. Dizem-me que já foram traduzidos, mas nunca encontrei as traduções no mercado. (Aliás, diga-se de passagem que hoje em dia é cada vez difícil encontrar nas nossas livrarias uma obra publicada há mais de seis meses...)
9. - Sublinha os livros, escreve nas margens, usa marcadores?
Fiz muito isso nos livros de estudo, sobretudo na universidade. Por arrastamento, algumas vezes (poucas) o fiz em outra espécie de livros, nesses tempos de juventude. Actualmente nunca. Não sou um fanático bibliófilo, mas amo demasiadamente o objecto livro para o desfigurar.
10. - Consegue escolher o livro da sua vida?
É claro que é difícil responder. Mas, como já me fizeram essa pergunta algumas vezes, tenho a resposta na ponta da língua: a "Guerra e Paz", de Tolstoi.
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Os Meus Livros
Por PEDRO TAMEN, poeta e tradutor
Sábado, 23 de Novembro de 2002
1. - Qual foi o último livro que leu?
"Cartas de Veneza", de Robert Dessaix. Foi o último livro que li e um dos que mais me impressionaram nos últimos tempos: uma delicadíssima sensibilidade casada com uma excepcional mestria literária.
Agora ando entretido com uma paródia que não faz mal a ninguém: "Outono na Sertã", de Leonardo Ralha. Parece-me um livro divertido, talvez simplista (mas quem não está farto de livros complicadistas?) na sua irresistível evocação de um Boris Vian de aqui e agora. Irão seguir-se, entre muitos outros, os últimos de Manuel Alegre, de Lídia Jorge e de José Saramago.
2. - O último que abandonou a meio?
Têm sido tantos que já não sei qual foi o último. Abandono muitos livros a meio. Falta-me cada vez mais a paciência para o que decididamente não me interessa. Deixei de ler "por obrigação": direitos da idade, que alguns merecem ter.
3. - E o último que ofereceu?
Foi (e a mais que uma pessoa) "Adress Unknown" ("Desconhecido nesta Morada"), de Kressmann Taylor, um admirável jogo de inteligência e subtileza, cuja tradução portuguesa me parece ter passado injustamente despercebida.
4. - Lê vários ao mesmo tempo?
Muito raramente, embora aconteça uma ou outra vez. Tem isto a ver com um lado metódico, obstinado e estóico que me leva a fazer cada coisa de cada vez, resistindo (quase sempre!) à tentação de passar logo à ocupação que se segue, eventualmente mais apetecível.
5. - Como é que arruma os seus livros?
Como se depreende do que acabei de responder, muito metodicamente, por géneros, nacionalidades e autores. O facto de ser agora obrigado a guardar livros em dois locais diferentes, ainda mais me obrigou a apurar o método.
6. - Tem mais ficção, poesia, ensaio...?
Predomina a poesia, é claro, mas tenho muita ficção que, em boa verdade, leio cada vez menos, ou que, pelo menos, cada vez menos me apetece ler. E tenho uma proporcionalmente avultada secção de "livros de referência", que denuncia uma (aliás agradável) deformação "profissional" de tradutor.
7. - Onde é que prefere ler (cama, café, praia, etc.)?
Actualmente, pouco na cama, nunca no café, sempre na praia; mas, agora que vivo no campo, onde mais gosto de ler, quando o tempo o permite, é ao ar livre, comodamente sentado, com um belíssimo vale à minha frente...
8. - Que livro gostaria de ver traduzido em Portugal?
Talvez "La Vie d'Henri Brulard", talvez o "Lucien Leuwen", ambos de Stendhal. Dizem-me que já foram traduzidos, mas nunca encontrei as traduções no mercado. (Aliás, diga-se de passagem que hoje em dia é cada vez difícil encontrar nas nossas livrarias uma obra publicada há mais de seis meses...)
9. - Sublinha os livros, escreve nas margens, usa marcadores?
Fiz muito isso nos livros de estudo, sobretudo na universidade. Por arrastamento, algumas vezes (poucas) o fiz em outra espécie de livros, nesses tempos de juventude. Actualmente nunca. Não sou um fanático bibliófilo, mas amo demasiadamente o objecto livro para o desfigurar.
10. - Consegue escolher o livro da sua vida?
É claro que é difícil responder. Mas, como já me fizeram essa pergunta algumas vezes, tenho a resposta na ponta da língua: a "Guerra e Paz", de Tolstoi.