Suplemento Mil Folhas

22-02-2003
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Breves

Sábado, 15 de Fevereiro de 2003

%Mário Santos

José Viale Moutinho

Saudades da ilha no país das lágrimas

O jornalista, poeta e ficcionista José Viale Moutinho - que tem no prelo a reunião dos seus livros de poemas publicados entre 1975 e 2000, a sair sob o título "Sombra de Cavaleiro Andante" - andou também revendo os seus três primeiros livros de ficção: "Natureza Morta Iluminada" (1968), "No País das Lágrimas" (1972) e "O Jogo do Sério" (1974). E o que ele "entendeu guardar dos conteúdos" desses três livros, a que juntou "dois ou três contos, que guardava inéditos desses velhos tempos", está agora reunido num único e pequeno volume que a Asa acaba de publicar: "No País das Lágrimas e Outros Contos" (sendo que, na verdade, tal colectânea tinha sido publicada por um clube do livro em 1989, com outro título). Anabela Dinis Branco de Oliveira, professora na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, diz no prefácio que o livro "é um intenso e polifónico baile de máscaras, localizado e intemporal, onde as identidades se subvertem, se escondem e se recriam".

Mas o autor de "Cenas da Vida de Um Minotauro" (livro que ganhou no ano passado o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco da Associação Portuguesa de Escritores) também andou fazendo trabalho de antólogo. E o resultado é o volume "Saudades da Ilha - Evocações Poéticas da Ilha da Madeira" (local onde o autor nasceu, em 1945) que a mesma editora Asa acaba de publicar na belíssima colecção Pequeno Formato. Trata-se de uma breve antologia de 36 poemas (excertos em alguns casos) de outros tantos poetas, seleccionados e apresentados por Viale Moutinho. Começa com Camões, prossegue com, entre outros, Gomes Leal, Nobre, Edmundo de Bettencourt, Carlos de Oliveira, Armando da Silva Carvalho e José Tolentino Mendonça, e termina com Jorge de Sousa Braga.

Nova antologia temática de poesia

"EnCantada Coimbra"

A Dom Quixote publicou em 2000 "Lisboa com Seus Poetas" e no ano seguinte "Ao Porto", duas antologias temáticas de poesia. Chegou agora a vez de Coimbra, com a publicação de "EnCantada Coimbra", uma colectânea de poemas sobre esta cidade, organizada por Adosinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira. Esta dupla foi já responsável pela organização da segunda das colectâneas citadas, sendo que Adosinda Providência Torgal co-organizou também a primeira (com Clotilde Correia Botelho). Em três centenas de páginas, "EnCantada Coimbra" colige 138 poemas de 86 poetas dos últimos dois séculos, desde Almeida Garrett e António Feliciano de Castilho até Luís Quintais e Valter Hugo Mãe. Passando por poetas óbvios como Antero de Quental, António Nobre, Camilo Pessanha, Eugénio de Castro, Teixeira de Pascoaes, José Régio, Vitorino Nemésio e Fernando Assis Pacheco e outros que só vão sobrevivendo em antologias deste género, como sejam Fausto Guedes Teixeira, Afonso Duarte, António de Sousa e Francisco Bugalho. Mas, justamente, talvez esteja aqui, na capacidade de recuperar poetas menores, uma virtude deste tipo de antologias. No caso de "EnCantada Coimbra", deve sublinhar-se ainda o facto de incluir poemas inéditos de, entre outros, Amadeu Baptista, Inês Lourenço, João Rui de Sousa e Jorge Velhote. Finalmente, e tendo em conta despeitos (equívocos?) recentes a propósito de uma outra antologia, "Século de Ouro", diga-se aqui o que pode ser notícia: "EnCantada Coimbra" não esqueceu nem Manuel Alegre nem Miguel Torga. Estes dois poetas estão mesmo entre aqueles com mais poemas incluídos nesta antologia, a par de Alberto de Monsaraz e Alberto de Oliveira.

Um guia para educar com arte

"Primeiro Olhar"

Despertar o interesse de educadores e crianças para as colecções do Museu Gulbenkian e do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (em Lisboa) e para a arte e a estética em geral, através do "contacto com materiais didácticos, especialmente concebidos" para o efeito - eis, resumidamente, o objectivo do "programa integrado de artes visuais" da Fundação Gulbenkian chamado "Primeiro Olhar". Este objectivo conta a partir de agora com um prestimoso instrumento pedagógico em forma de livro: trata-se de "Primeiro Olhar", da autoria de Rui Mário Gonçalves, João Pedro Fróis e Elisa Marques, que aquela Fundação acaba de publicar. Neste volume, que "deseja-se utilizável em vários ambientes", "o educador encontra um conjunto de propostas relativas à pedagogia das artes visuais e à educação em contexto dos museus de arte". Na primeira parte do livro (que se propõe como "Caderno do professor"), são apresentados oito "percursos visuais, sua descrição, justificação estética e pedagógica, incluindo as propostas de actividades respeitantes a cada um deles"; na segunda parte dão-se informações suplementares sobre as 34 obras estudadas (e pertencentes às colecções daqueles museus). Seja referido que os autores do livro acreditam que "o convívio com a arte é um dos modos mais eficazes para a formação da personalidade e para a integração do indivíduo nos valores superiores da humanidade".

Maria Manuel Baptista sobre Eduardo Lourenço

A paixão de compreender

A bibliografia passiva de Eduardo Lourenço conta a partir de agora com um título incontornável: trata-se de "Eduardo Lourenço: A Paixão de Compreender", de Maria Manuel Baptista, que começou por ser uma tese universitária e que a Asa acaba de publicar em forma de livro. A autora justifica o seu persistente e produtivo interesse pelo autor de "O Labirinto da Saudade" dizendo que "estamos realmente face à obra de um filósofo, constituída por reflexões de indubitável qualidade filosófica e rigor conceptual, e não apenas face a um 'crítico literário', ou 'ensaísta' ou mero 'comentador político'". E diz também: "Compreendíamos deste modo, em toda a sua extensão, a afirmação de José Gil ao sublinhar que 'Eduardo Lourenço tem um pensamento' e que 'um pensamento é coisa rara'. A nós, interessava-nos sobretudo a reflexão que, na área da filosofia da cultura, um tal 'pensamento' tem produzido." Eduardo Prado Coelho elogia no prefácio "a tentativa de compreender Eduardo Lourenço, que é em Maria Manuel Baptista uma verdadeira paixão" e sublinha a "investigação verdadeiramente impensável" que está na sua base: "Maria Manuel Baptista encontrou tudo o que Eduardo Lourenço terá publicado, incluindo alguns contos e mesmo curtos poemas [...]. Não sendo Eduardo Lourenço um modelo de organização do que ele próprio escreve, ficamos assim na interessante situação em que alguém sabe muito mais sobre o que o autor escreveu do que o próprio autor." Bastará talvez dizer aqui que a autora referencia 1500 textos do autor, um terço dos quais permanece praticamente inacessível e esquecido, pulverizado em publicações dispersas geográfica e temporalmente. Refira-se que Maria Manuel Baptista (n. 1964) é doutorada em Filosofia da Cultura pela Universidade de Aveiro, onde actualmente ensina.

Breves

Sábado, 15 de Fevereiro de 2003

%Mário Santos

José Viale Moutinho

Saudades da ilha no país das lágrimas

O jornalista, poeta e ficcionista José Viale Moutinho - que tem no prelo a reunião dos seus livros de poemas publicados entre 1975 e 2000, a sair sob o título "Sombra de Cavaleiro Andante" - andou também revendo os seus três primeiros livros de ficção: "Natureza Morta Iluminada" (1968), "No País das Lágrimas" (1972) e "O Jogo do Sério" (1974). E o que ele "entendeu guardar dos conteúdos" desses três livros, a que juntou "dois ou três contos, que guardava inéditos desses velhos tempos", está agora reunido num único e pequeno volume que a Asa acaba de publicar: "No País das Lágrimas e Outros Contos" (sendo que, na verdade, tal colectânea tinha sido publicada por um clube do livro em 1989, com outro título). Anabela Dinis Branco de Oliveira, professora na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, diz no prefácio que o livro "é um intenso e polifónico baile de máscaras, localizado e intemporal, onde as identidades se subvertem, se escondem e se recriam".

Mas o autor de "Cenas da Vida de Um Minotauro" (livro que ganhou no ano passado o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco da Associação Portuguesa de Escritores) também andou fazendo trabalho de antólogo. E o resultado é o volume "Saudades da Ilha - Evocações Poéticas da Ilha da Madeira" (local onde o autor nasceu, em 1945) que a mesma editora Asa acaba de publicar na belíssima colecção Pequeno Formato. Trata-se de uma breve antologia de 36 poemas (excertos em alguns casos) de outros tantos poetas, seleccionados e apresentados por Viale Moutinho. Começa com Camões, prossegue com, entre outros, Gomes Leal, Nobre, Edmundo de Bettencourt, Carlos de Oliveira, Armando da Silva Carvalho e José Tolentino Mendonça, e termina com Jorge de Sousa Braga.

Nova antologia temática de poesia

"EnCantada Coimbra"

A Dom Quixote publicou em 2000 "Lisboa com Seus Poetas" e no ano seguinte "Ao Porto", duas antologias temáticas de poesia. Chegou agora a vez de Coimbra, com a publicação de "EnCantada Coimbra", uma colectânea de poemas sobre esta cidade, organizada por Adosinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira. Esta dupla foi já responsável pela organização da segunda das colectâneas citadas, sendo que Adosinda Providência Torgal co-organizou também a primeira (com Clotilde Correia Botelho). Em três centenas de páginas, "EnCantada Coimbra" colige 138 poemas de 86 poetas dos últimos dois séculos, desde Almeida Garrett e António Feliciano de Castilho até Luís Quintais e Valter Hugo Mãe. Passando por poetas óbvios como Antero de Quental, António Nobre, Camilo Pessanha, Eugénio de Castro, Teixeira de Pascoaes, José Régio, Vitorino Nemésio e Fernando Assis Pacheco e outros que só vão sobrevivendo em antologias deste género, como sejam Fausto Guedes Teixeira, Afonso Duarte, António de Sousa e Francisco Bugalho. Mas, justamente, talvez esteja aqui, na capacidade de recuperar poetas menores, uma virtude deste tipo de antologias. No caso de "EnCantada Coimbra", deve sublinhar-se ainda o facto de incluir poemas inéditos de, entre outros, Amadeu Baptista, Inês Lourenço, João Rui de Sousa e Jorge Velhote. Finalmente, e tendo em conta despeitos (equívocos?) recentes a propósito de uma outra antologia, "Século de Ouro", diga-se aqui o que pode ser notícia: "EnCantada Coimbra" não esqueceu nem Manuel Alegre nem Miguel Torga. Estes dois poetas estão mesmo entre aqueles com mais poemas incluídos nesta antologia, a par de Alberto de Monsaraz e Alberto de Oliveira.

Um guia para educar com arte

"Primeiro Olhar"

Despertar o interesse de educadores e crianças para as colecções do Museu Gulbenkian e do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (em Lisboa) e para a arte e a estética em geral, através do "contacto com materiais didácticos, especialmente concebidos" para o efeito - eis, resumidamente, o objectivo do "programa integrado de artes visuais" da Fundação Gulbenkian chamado "Primeiro Olhar". Este objectivo conta a partir de agora com um prestimoso instrumento pedagógico em forma de livro: trata-se de "Primeiro Olhar", da autoria de Rui Mário Gonçalves, João Pedro Fróis e Elisa Marques, que aquela Fundação acaba de publicar. Neste volume, que "deseja-se utilizável em vários ambientes", "o educador encontra um conjunto de propostas relativas à pedagogia das artes visuais e à educação em contexto dos museus de arte". Na primeira parte do livro (que se propõe como "Caderno do professor"), são apresentados oito "percursos visuais, sua descrição, justificação estética e pedagógica, incluindo as propostas de actividades respeitantes a cada um deles"; na segunda parte dão-se informações suplementares sobre as 34 obras estudadas (e pertencentes às colecções daqueles museus). Seja referido que os autores do livro acreditam que "o convívio com a arte é um dos modos mais eficazes para a formação da personalidade e para a integração do indivíduo nos valores superiores da humanidade".

Maria Manuel Baptista sobre Eduardo Lourenço

A paixão de compreender

A bibliografia passiva de Eduardo Lourenço conta a partir de agora com um título incontornável: trata-se de "Eduardo Lourenço: A Paixão de Compreender", de Maria Manuel Baptista, que começou por ser uma tese universitária e que a Asa acaba de publicar em forma de livro. A autora justifica o seu persistente e produtivo interesse pelo autor de "O Labirinto da Saudade" dizendo que "estamos realmente face à obra de um filósofo, constituída por reflexões de indubitável qualidade filosófica e rigor conceptual, e não apenas face a um 'crítico literário', ou 'ensaísta' ou mero 'comentador político'". E diz também: "Compreendíamos deste modo, em toda a sua extensão, a afirmação de José Gil ao sublinhar que 'Eduardo Lourenço tem um pensamento' e que 'um pensamento é coisa rara'. A nós, interessava-nos sobretudo a reflexão que, na área da filosofia da cultura, um tal 'pensamento' tem produzido." Eduardo Prado Coelho elogia no prefácio "a tentativa de compreender Eduardo Lourenço, que é em Maria Manuel Baptista uma verdadeira paixão" e sublinha a "investigação verdadeiramente impensável" que está na sua base: "Maria Manuel Baptista encontrou tudo o que Eduardo Lourenço terá publicado, incluindo alguns contos e mesmo curtos poemas [...]. Não sendo Eduardo Lourenço um modelo de organização do que ele próprio escreve, ficamos assim na interessante situação em que alguém sabe muito mais sobre o que o autor escreveu do que o próprio autor." Bastará talvez dizer aqui que a autora referencia 1500 textos do autor, um terço dos quais permanece praticamente inacessível e esquecido, pulverizado em publicações dispersas geográfica e temporalmente. Refira-se que Maria Manuel Baptista (n. 1964) é doutorada em Filosofia da Cultura pela Universidade de Aveiro, onde actualmente ensina.

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