Segurança Domina Debate Sobre o Iraque
Por SÃO JOSÉ ALMEIDA E HELENA PEREIRA
Quarta-feira, 19 de Março de 2003
O primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, esclareceu, ontem, durante o debate mensal com os deputados na Assembleia da República, que Portugal, no que diz respeito à segurança e aos sistemas de informações, não está "na dependência" dos EUA, apesar de ter passado a ter mais informações, desde o momento em que o Governo teve uma atitude de apoio explícito aos Estados Unidos.
As questões relacionadas com a segurança e a defesa contra o terrorismo acabaram por dominar o debate de ontem em plenário com o primeiro-ministro e tornaram-se mesmo o aspecto mais inédito desta discussão entre a maioria de direita parlamentar e a oposição de esquerda, a propósito de um iminente ataque contra o Iraque.
Discutindo o assunto em plenário pela terceira vez, Durão Barroso acabou por esclarecer em resposta ao socialista Manuel Alegre: "Nunca disse que Portugal se coloca na dependência de seja de quem for em matéria de serviços de informações (...) [mas] não há defesa e segurança credíveis sem aliados credíveis."
A questão da segurança irrompeu no debate, logo na parte inicial pela mão do secretário-geral do PS, Eduardo Ferro Rodrigues. Acusando Durão de ter aceitado que a cimeira dos Açores se tornasse na "cimeira dos senhores da guerra", só para ganhar protagonismo, Ferro levou o terrorismo para cima da mesa da discussão: "Portugal não merece ficar no mapa do terrorismo internacional por causa das fotografias do senhor primeiro-ministro."
Refira-se ainda que Ferro Rodrigues - cujas intervenções foram mais incisivas do que é habitual - fez questão de criticar Durão por este ter afirmado ao país que a cimeira seria a "cimeira da paz", quando esta foi "um conselho de guerra de onde saiu um ultimato às Nações Unidas". E questionou: "O senhor foi enganado, não sabia ou o senhor enganou os portugueses?"
"UE não é ainda uma organização colectiva de segurança"
Durão não respondeu directamente a Ferro, mas, pouco depois, em resposta ao líder parlamentar do PSD, Guilherme Silva, que não falara do assunto, o primeiro-ministro recuperou o tema. "Sou a favor da Europa e da União Europeia, mas neste momento a UE não é ainda uma organização colectiva de segurança, poderá vir a ser", afirmou Durão, acrescentando: "A nossa segurança é garantida pela NATO, em que o principal aliado é os EUA. E quando tomámos esta opção ao lado dos nossos aliados (...) não estamos a pensar num ganho de natureza económico-financeira. E também nunca meterei à frente da segurança dos portugueses quaisquer fundos que venham de Bruxelas. Quem pode ajudar a garantir a nossa segurança na luta contra o terrorismo é a NATO e estes nossos aliados." E frisou: "Desde que anunciamos esta decisão aumentou em muito a colaboração com estes aliados, nomeadamente em matéria de informação. Hoje Portugal está mais preparado para lutar contra o terrorismo. A nossa opção é a que melhor garante a nossa segurança, não é pela abstenção que Portugal protege a segurança dos nossos cidadãos."
Foram estas palavras que levaram, o poeta-deputado Manuel a Alegre a questionar directamente Durão sobre se isto significava uma maior dependência dos serviços secretos portugueses. Ao que Durão respondeu que não havia dependência.
Alegre fez a defesa do PS, que fora acusado por Durão de ter mudado de opinião em relação ao que é a atitude deste partido em política internacional. E, acusando a duplicidade de critérios - "há ditadores que convém não derrubar" -, Alegre considerou que a administração Bush pode atacar o Iraque, mas sofreu uma "derrota moral" e não teve "força política" para fazer aprovar a resolução.
À parte as questões de segurança, o debate não passou de um repisar de argumentos, com Durão Barroso a frisar a legitimidade da guerra para defesa da democracia e fazendo até o paralelo com a legitimidade da acção dos aliados contra o nazismo - passando ao lado de que então a intervenção dos aliados foi provocada pelo facto de Hitler ter invadido e anexado a Polónia.
Quanto à restante oposição, o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, classificou a cimeira dos Açores de "uma fantochada, um cenário para fazer um ultimato à ONU" e considerou que "Portugal ficou associado a uma declaração de guerra". Já Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda, questionou Durão sobre se acha que há "alguma legalidade" na guerra que se anuncia.
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Segurança Domina Debate Sobre o Iraque
Por SÃO JOSÉ ALMEIDA E HELENA PEREIRA
Quarta-feira, 19 de Março de 2003
O primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, esclareceu, ontem, durante o debate mensal com os deputados na Assembleia da República, que Portugal, no que diz respeito à segurança e aos sistemas de informações, não está "na dependência" dos EUA, apesar de ter passado a ter mais informações, desde o momento em que o Governo teve uma atitude de apoio explícito aos Estados Unidos.
As questões relacionadas com a segurança e a defesa contra o terrorismo acabaram por dominar o debate de ontem em plenário com o primeiro-ministro e tornaram-se mesmo o aspecto mais inédito desta discussão entre a maioria de direita parlamentar e a oposição de esquerda, a propósito de um iminente ataque contra o Iraque.
Discutindo o assunto em plenário pela terceira vez, Durão Barroso acabou por esclarecer em resposta ao socialista Manuel Alegre: "Nunca disse que Portugal se coloca na dependência de seja de quem for em matéria de serviços de informações (...) [mas] não há defesa e segurança credíveis sem aliados credíveis."
A questão da segurança irrompeu no debate, logo na parte inicial pela mão do secretário-geral do PS, Eduardo Ferro Rodrigues. Acusando Durão de ter aceitado que a cimeira dos Açores se tornasse na "cimeira dos senhores da guerra", só para ganhar protagonismo, Ferro levou o terrorismo para cima da mesa da discussão: "Portugal não merece ficar no mapa do terrorismo internacional por causa das fotografias do senhor primeiro-ministro."
Refira-se ainda que Ferro Rodrigues - cujas intervenções foram mais incisivas do que é habitual - fez questão de criticar Durão por este ter afirmado ao país que a cimeira seria a "cimeira da paz", quando esta foi "um conselho de guerra de onde saiu um ultimato às Nações Unidas". E questionou: "O senhor foi enganado, não sabia ou o senhor enganou os portugueses?"
"UE não é ainda uma organização colectiva de segurança"
Durão não respondeu directamente a Ferro, mas, pouco depois, em resposta ao líder parlamentar do PSD, Guilherme Silva, que não falara do assunto, o primeiro-ministro recuperou o tema. "Sou a favor da Europa e da União Europeia, mas neste momento a UE não é ainda uma organização colectiva de segurança, poderá vir a ser", afirmou Durão, acrescentando: "A nossa segurança é garantida pela NATO, em que o principal aliado é os EUA. E quando tomámos esta opção ao lado dos nossos aliados (...) não estamos a pensar num ganho de natureza económico-financeira. E também nunca meterei à frente da segurança dos portugueses quaisquer fundos que venham de Bruxelas. Quem pode ajudar a garantir a nossa segurança na luta contra o terrorismo é a NATO e estes nossos aliados." E frisou: "Desde que anunciamos esta decisão aumentou em muito a colaboração com estes aliados, nomeadamente em matéria de informação. Hoje Portugal está mais preparado para lutar contra o terrorismo. A nossa opção é a que melhor garante a nossa segurança, não é pela abstenção que Portugal protege a segurança dos nossos cidadãos."
Foram estas palavras que levaram, o poeta-deputado Manuel a Alegre a questionar directamente Durão sobre se isto significava uma maior dependência dos serviços secretos portugueses. Ao que Durão respondeu que não havia dependência.
Alegre fez a defesa do PS, que fora acusado por Durão de ter mudado de opinião em relação ao que é a atitude deste partido em política internacional. E, acusando a duplicidade de critérios - "há ditadores que convém não derrubar" -, Alegre considerou que a administração Bush pode atacar o Iraque, mas sofreu uma "derrota moral" e não teve "força política" para fazer aprovar a resolução.
À parte as questões de segurança, o debate não passou de um repisar de argumentos, com Durão Barroso a frisar a legitimidade da guerra para defesa da democracia e fazendo até o paralelo com a legitimidade da acção dos aliados contra o nazismo - passando ao lado de que então a intervenção dos aliados foi provocada pelo facto de Hitler ter invadido e anexado a Polónia.
Quanto à restante oposição, o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, classificou a cimeira dos Açores de "uma fantochada, um cenário para fazer um ultimato à ONU" e considerou que "Portugal ficou associado a uma declaração de guerra". Já Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda, questionou Durão sobre se acha que há "alguma legalidade" na guerra que se anuncia.