Ligações da Compta ao PSD vêm do tempo de Cavaco Silva

27-10-2004
marcar artigo

Ligações da Compta ao PSD Vêm do Tempo de Cavaco Silva

Por JOSÉ ANTÓNIO CEREJO

Quinta-feira, 23 de Setembro de 2004

As ligações entre o universo empresarial da Compta e figuras de primeiro plano do Partido Social Democrata ultrapassam em muito os nomes do ex-ministros Couto dos Santos e Rui Machete, ontem referidos pelo PÚBLICO, e têm uma história que remonta aos primórdios do cavaquismo. No início dos anos 90, as cerca de duas dezenas de empresas então controladas por Vítor Assunção - o principal accionista do grupo, juntamente com o BCP e o BES - tinham nos seus órgãos sociais numerosos dirigentes do PSD entre os quais avultavam Eurico de Melo, Cardoso e Cunha, Leonor Beleza, Rui Carp, Pedro Campilho, Vítor Crespo e até Pinto Balsemão.

A ligação de "figuras públicas" ao grupo Compta não se tem limitado contudo ao PSD. Citados pela imprensa de finais de 1995, após a derrota eleitoral do PSD e a primeira vitória de Guterres, aparecem também nomes da área do PS como Veiga Simão, Norberto Pilar ou Machado Rodrigues.

"Desde sempre que os cargos de presidente do Conselho Fiscal e da Assembleia Geral são preenchidos por figuras públicas e não por pessoas da família", disse Vitor Assunção ao "Expresso", em Novembro de 1995. A presença de notáveis, em particular social-democratas, nas suas sociedades ultapassava porém o lado simbólico e de transmissão de influência e notoriedade conseguido através da sua colocação nos conselhos fiscais e assembleias gerais. Também pelos lugares executivos de administração têm passado muitos dos nomes referidos, sendo igualmente conhecidas as relações próximas que Vitor Assunção mantinha no início da década de 90 com Falcão e Cunha, antigo secretário-geral do PSD e com Amândio de Oliveira, secretário de Estado da Comunicação Social de Cavaco Silva.

O ex-ministro Marques Mendes foi também apontado pelo "Independente", em finais de 1995, como uma pessoa próxima do grupo, embora o então deputado tivesse negado ter uma avença da empresa na sua qualidade de advogado.

O sector da comunicação social do Estado, e em especial a RTP, para além das Contribuições e Impostos, da Educação e da Defesa, era um daqueles em que a Compta tinha um papel preponderante nesse tempo, sendo inclusive sócia da televisão pública em empresas como a Multidifusão. A natureza especialmente favorável para a Compta de alguns dos contratos que as suas empresas mantinham com a RTP, levou, aliás, a administração desta empresa pública, no tempo em que foi seu presidente o socialista Manuel Roque (já falecido), a pôr termo a muitos desses negócios através da rescisão dos contratos.

A sucessão de notícias, sobretudo no "Expresso" e no "Independente" de 1995, acerca do "Lobby da Compta" - chamando a atenção para as suas ligações ao poder laranja e para a sua proximidade com institutos públicos, como o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) e o Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (que foi presidido por Veiga Simão durante muitos anos) - levou mesmo a que o Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa abrisse um inquérito judicial, em Dezembro desse ano, cujas conclusões não são conhecidas.

Criada em 1972 pelas empresas Cimianto, Sorel e duas outras sociedades que deram origem à Portucel, a Compta tem Vítor Assunção como principal accionista (35 por cento do capital) desde o final dessa década e teve um crescimento exponencial nos dez anos em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro e em que se verificou uma explosão dos negócios em todo o sector informático. Em 1988 as suas acções passaram a ser cotadas na Bolsa de Lisboa e em 1995 o conjunto das empresas a ele ligadas facturava cerca de 15 milhões de contos, empregando mais de 340 pessoas.

Instalado sobretudo nas área das tecnologias de informação, o grupo tem tido também actividade noutros domínios como o dos estudos de impacte ambiental, por intermédio da Seia e da SE&O, em ambos os casos em associação com o IAPMEI - instituto cujo presidente da época (1995), Ramalho de Almeida, era administrador da Comptris, a sociedade de capital de risco de Vitor Assunção.

Ligações da Compta ao PSD Vêm do Tempo de Cavaco Silva

Por JOSÉ ANTÓNIO CEREJO

Quinta-feira, 23 de Setembro de 2004

As ligações entre o universo empresarial da Compta e figuras de primeiro plano do Partido Social Democrata ultrapassam em muito os nomes do ex-ministros Couto dos Santos e Rui Machete, ontem referidos pelo PÚBLICO, e têm uma história que remonta aos primórdios do cavaquismo. No início dos anos 90, as cerca de duas dezenas de empresas então controladas por Vítor Assunção - o principal accionista do grupo, juntamente com o BCP e o BES - tinham nos seus órgãos sociais numerosos dirigentes do PSD entre os quais avultavam Eurico de Melo, Cardoso e Cunha, Leonor Beleza, Rui Carp, Pedro Campilho, Vítor Crespo e até Pinto Balsemão.

A ligação de "figuras públicas" ao grupo Compta não se tem limitado contudo ao PSD. Citados pela imprensa de finais de 1995, após a derrota eleitoral do PSD e a primeira vitória de Guterres, aparecem também nomes da área do PS como Veiga Simão, Norberto Pilar ou Machado Rodrigues.

"Desde sempre que os cargos de presidente do Conselho Fiscal e da Assembleia Geral são preenchidos por figuras públicas e não por pessoas da família", disse Vitor Assunção ao "Expresso", em Novembro de 1995. A presença de notáveis, em particular social-democratas, nas suas sociedades ultapassava porém o lado simbólico e de transmissão de influência e notoriedade conseguido através da sua colocação nos conselhos fiscais e assembleias gerais. Também pelos lugares executivos de administração têm passado muitos dos nomes referidos, sendo igualmente conhecidas as relações próximas que Vitor Assunção mantinha no início da década de 90 com Falcão e Cunha, antigo secretário-geral do PSD e com Amândio de Oliveira, secretário de Estado da Comunicação Social de Cavaco Silva.

O ex-ministro Marques Mendes foi também apontado pelo "Independente", em finais de 1995, como uma pessoa próxima do grupo, embora o então deputado tivesse negado ter uma avença da empresa na sua qualidade de advogado.

O sector da comunicação social do Estado, e em especial a RTP, para além das Contribuições e Impostos, da Educação e da Defesa, era um daqueles em que a Compta tinha um papel preponderante nesse tempo, sendo inclusive sócia da televisão pública em empresas como a Multidifusão. A natureza especialmente favorável para a Compta de alguns dos contratos que as suas empresas mantinham com a RTP, levou, aliás, a administração desta empresa pública, no tempo em que foi seu presidente o socialista Manuel Roque (já falecido), a pôr termo a muitos desses negócios através da rescisão dos contratos.

A sucessão de notícias, sobretudo no "Expresso" e no "Independente" de 1995, acerca do "Lobby da Compta" - chamando a atenção para as suas ligações ao poder laranja e para a sua proximidade com institutos públicos, como o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) e o Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (que foi presidido por Veiga Simão durante muitos anos) - levou mesmo a que o Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa abrisse um inquérito judicial, em Dezembro desse ano, cujas conclusões não são conhecidas.

Criada em 1972 pelas empresas Cimianto, Sorel e duas outras sociedades que deram origem à Portucel, a Compta tem Vítor Assunção como principal accionista (35 por cento do capital) desde o final dessa década e teve um crescimento exponencial nos dez anos em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro e em que se verificou uma explosão dos negócios em todo o sector informático. Em 1988 as suas acções passaram a ser cotadas na Bolsa de Lisboa e em 1995 o conjunto das empresas a ele ligadas facturava cerca de 15 milhões de contos, empregando mais de 340 pessoas.

Instalado sobretudo nas área das tecnologias de informação, o grupo tem tido também actividade noutros domínios como o dos estudos de impacte ambiental, por intermédio da Seia e da SE&O, em ambos os casos em associação com o IAPMEI - instituto cujo presidente da época (1995), Ramalho de Almeida, era administrador da Comptris, a sociedade de capital de risco de Vitor Assunção.

marcar artigo