Passagem de nível de Santos já devia ter fechado

18-10-2002
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Passagem de Nível de Santos Já Devia Ter Fechado

Por CARLOS CIPRIANO

Quinta-feira, 10 de Outubro de 2002

Lisboa

A passagem de nível onde morreram seis jovens já deveria ter encerrado há mais de oito anos. A Rede Ferroviária Nacional insiste no fecho

A passagem de nível de Santos, onde na semana passada perderam a vida seis jovens, quando o carro em que seguiam foi colhido por um comboio, já deveria ter encerrado há mais de oito anos. Mas o então vereador da Câmara de Lisboa, Machado Rodrigues, opôs-se à decisão porque era necessário garantir o acesso dos camiões TIR ao parque de contentores na zona da Rocha do Conde Óbidos. Todavia, a autarquia admitia o encerramento da passagem quando houvesse uma melhoria na circulação rodoviária naquela área.

Pouco tempo antes, fora construído um viaduto em Pedrouços que eliminava uma passagem de nível. Mais tarde construiu-se um atravessamento pedonal sobre a via férrea em Belém que suprimiu uma outra passagem através da linha do comboio. A ponte sobre o caminho-de-ferro que dá continuidade à Avenida de Ceuta para a Avenida de Brasília ajudou também a criar condições para acabar com as últimas passagens de nível da Linha de Cascais dentro da cidade de Lisboa. Um processo que remonta a antes do 25 de Abril, quando se construiu a passagem superior em Alcântara, então designada de "provisória" - entretanto a Câmara de Lisboa, a Refer e a Administração do Porto de Lisboa já têm um projecto para a sua substituição por uma estrutura mais definitiva.

A única passagem de nível "sobrevivente" a este processo foi a de Santos, que não fechou, nem mesmo quando o parque de contentores da "ilha" da Rocha do Conde Óbidos foi completamente reformulado e o tráfego de pesados passou a ser feito essencialmente pela passagem desnivelada de Alcântara.

O ex-vereador Machado Rodrigues estranha por que razão a passagem de Santos ainda não foi fechada pois, recorda, ficou assente entre a Câmara de Lisboa, a Refer e a Administração do Porto de Lisboa, que tal aconteceria depois da reformulação - alargamento e introdução de dois sentidos de circulação - da rodovia junto à linha, ligando Alcântara ao terminal de contentores. "Já irá para uns dois anos que essa alteração foi feita, não percebo porque não fechou ainda aquela passagem de nível", disse ao PÚBLICO o ex-vereador do Trânsito.

Durante o consulado de João Soares o assunto acabaria, até, por ficar esquecido. Agora, depois do acidente, a Refer voltou a insistir junto da câmara para autorizar o fecho, uma vez que a empresa gestora das infra-estruturas ferroviárias não tem autonomia para o fazer sem o aval da autarquia. O pedido já foi feito por escrito pelo presidente da Refer, Cardoso dos Reis, a Pedro Santana Lopes.

Segundo Rui Reis, porta-voz da Refer, "depois do trágico acidente, as duas entidades (empresa e câmara) estão a tentar encontrar uma solução para a passagem de nível de Santos, que passa pela vontade de a suprimir". A mesma fonte, citada pela Lusa, justificou que o encerramento da travessia na passagem de nível não está a causar graves alterações no trânsito, que se tem feito com alguma normalidade pelos viadutos da Avenida Infante Santo e de Alcântara, em Lisboa.

Caixa:

$Os custos da passagem de nível

A passagem de nível automática de Santos tem sinalização luminosa e sonora que avisa da passagem dos comboios, bem como cancelas que se fecham alguns segundos antes da sua passagem. Apesar do sistema ser fiável (por exemplo, em caso de avaria ou de falha de energia as cancelas ficam imediatamente fechadas), a Refer mantém o local guarnecido com pessoal entre as 6h30 e as 21h30. Dois turnos a que corresponde um quadro de pessoal de três agentes, com custos que montam a 60 mil euros por ano. A conservação dos equipamentos custam à volta de 2500 euros por ano. Se a isto se juntar o valor das vidas perdidas não será difícil decidir o seu encerramento.

Passagem de Nível de Santos Já Devia Ter Fechado

Por CARLOS CIPRIANO

Quinta-feira, 10 de Outubro de 2002

Lisboa

A passagem de nível onde morreram seis jovens já deveria ter encerrado há mais de oito anos. A Rede Ferroviária Nacional insiste no fecho

A passagem de nível de Santos, onde na semana passada perderam a vida seis jovens, quando o carro em que seguiam foi colhido por um comboio, já deveria ter encerrado há mais de oito anos. Mas o então vereador da Câmara de Lisboa, Machado Rodrigues, opôs-se à decisão porque era necessário garantir o acesso dos camiões TIR ao parque de contentores na zona da Rocha do Conde Óbidos. Todavia, a autarquia admitia o encerramento da passagem quando houvesse uma melhoria na circulação rodoviária naquela área.

Pouco tempo antes, fora construído um viaduto em Pedrouços que eliminava uma passagem de nível. Mais tarde construiu-se um atravessamento pedonal sobre a via férrea em Belém que suprimiu uma outra passagem através da linha do comboio. A ponte sobre o caminho-de-ferro que dá continuidade à Avenida de Ceuta para a Avenida de Brasília ajudou também a criar condições para acabar com as últimas passagens de nível da Linha de Cascais dentro da cidade de Lisboa. Um processo que remonta a antes do 25 de Abril, quando se construiu a passagem superior em Alcântara, então designada de "provisória" - entretanto a Câmara de Lisboa, a Refer e a Administração do Porto de Lisboa já têm um projecto para a sua substituição por uma estrutura mais definitiva.

A única passagem de nível "sobrevivente" a este processo foi a de Santos, que não fechou, nem mesmo quando o parque de contentores da "ilha" da Rocha do Conde Óbidos foi completamente reformulado e o tráfego de pesados passou a ser feito essencialmente pela passagem desnivelada de Alcântara.

O ex-vereador Machado Rodrigues estranha por que razão a passagem de Santos ainda não foi fechada pois, recorda, ficou assente entre a Câmara de Lisboa, a Refer e a Administração do Porto de Lisboa, que tal aconteceria depois da reformulação - alargamento e introdução de dois sentidos de circulação - da rodovia junto à linha, ligando Alcântara ao terminal de contentores. "Já irá para uns dois anos que essa alteração foi feita, não percebo porque não fechou ainda aquela passagem de nível", disse ao PÚBLICO o ex-vereador do Trânsito.

Durante o consulado de João Soares o assunto acabaria, até, por ficar esquecido. Agora, depois do acidente, a Refer voltou a insistir junto da câmara para autorizar o fecho, uma vez que a empresa gestora das infra-estruturas ferroviárias não tem autonomia para o fazer sem o aval da autarquia. O pedido já foi feito por escrito pelo presidente da Refer, Cardoso dos Reis, a Pedro Santana Lopes.

Segundo Rui Reis, porta-voz da Refer, "depois do trágico acidente, as duas entidades (empresa e câmara) estão a tentar encontrar uma solução para a passagem de nível de Santos, que passa pela vontade de a suprimir". A mesma fonte, citada pela Lusa, justificou que o encerramento da travessia na passagem de nível não está a causar graves alterações no trânsito, que se tem feito com alguma normalidade pelos viadutos da Avenida Infante Santo e de Alcântara, em Lisboa.

Caixa:

$Os custos da passagem de nível

A passagem de nível automática de Santos tem sinalização luminosa e sonora que avisa da passagem dos comboios, bem como cancelas que se fecham alguns segundos antes da sua passagem. Apesar do sistema ser fiável (por exemplo, em caso de avaria ou de falha de energia as cancelas ficam imediatamente fechadas), a Refer mantém o local guarnecido com pessoal entre as 6h30 e as 21h30. Dois turnos a que corresponde um quadro de pessoal de três agentes, com custos que montam a 60 mil euros por ano. A conservação dos equipamentos custam à volta de 2500 euros por ano. Se a isto se juntar o valor das vidas perdidas não será difícil decidir o seu encerramento.

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