"Anfíbios Sistemas de Palavras" Ou a Poesia de Amor de Vitorino Nemésio
Sábado, 15 de Fevereiro de 2003
Ao todo são 125 poemas inéditos de um poeta maior, Vitorino Nemésio, fixados por Luiz Fagundes Duarte. "Caderno de Caligraphia e Outros Poemas a Marga" foi, ontem, apresentado em Lisboa.
%Vasco Graça Moura
Num poeta de quentes afectos humanos e familiares, em quem o funcionamento da memória comovida opera singulares transmutações do tempo e do espaço, dos seres e das coisas por uma inesgotável força verbal e anímica, ocorre agora uma espécie de vertigem erótica cuja tradução literária não era conhecida a não ser de alguns "happy few" (e, a propósito, recordo-me do modo entusiasmado como David Mourão-Ferreira me falou várias vezes destes poemas...).
Ao provocar essa vertigem na criação nemesiana entre 1973 e 1977, a musa não desestabiliza o estro poético, antes lhe dá novo impulso e o revigora, fazendo-o retomar e reutilizar todo o seu instrumental anterior, mas enriquecendo-o de singulares vibrações e perspectivas, oscilando variamente entre os registos do jogo da excitação genésica, da ternura e da intensa gravidade, do humor e da ansiedade, prolongando neles alguns aspectos característicos das obras anteriores do autor.
Novo, verdadeiramente novo, para além da intensidade obsessiva do envolvimento, é o sensual, o afrodisíaco, o sexual, o fálico, o vulvar, abordado em termos elevados ou corriqueiros, metafóricos ou directos, e também o divertida e sinceramente "descomposto" ou sabiamente desarrumado aqui e ali, isto para não dizer mesmo quase desbragado. Mas o que em Nemésio sente também "está pensando" e a estas formulações mais descontraídas por vezes liga-se, também, uma consideração atenta e reflexiva, uma vigilância dos processos que, volta e meia, acaba por ser ironizada enquanto tal. Assim se vão os textos desdobrando em metáforas arrojadas e em variações imprevistas, sem escamotear, o que é tão típico de Nemésio, a livre conjugação do elemento sensorial com a conceptualização em simultâneo do próprio fenómeno da escrita poética, numa mistura emblemática de termos abstractos e técnicos, substantivos concretos, alusões simbólicas e fragmentos de análise culta: "Venham os nomes tíbios,/ O vagar delgado e glúteo dos fonemas,/ Coroar delfins de sangue e sal, anfíbios/ Sistemas de palavras, os poemas."
De registar, também, as subtis inflexões do ritmo, a fugir ao metrónomo e a obedecer a uma lei da "respiração" íntima do verso, estofado por rimas internas, assonâncias, efeitos aliterativos, paronímias, hipálages, derivações, achados que levam, como que espontaneamente, a metáforas e a bruscas elipses e inflexões inesperadas que, muitas vezes, estão na base de outras metáforas. E também a recuperação da oralidade da tradição peninsular, a mistura de uma ingenuidade muito peculiar com alusões cultas retomadas dos primórdios da poesia portuguesa, em que acentos apaixonados e expressões de ternura se cruzam com notas de desnorte e desvario e em que, em certos momentos, de um magma visceral e anímico irrompe uma força metamórfica a transfigurar uma ideia de castigo físico no enlace erótico e este numa pulsão animal e quase mitológica. Frequentemente lançadas como que a brincar, as hipérboles amorosas abundam, com frequência na correspondência dos epítetos e no constante balancear entre o êxtase e a ternura.
"Merda em sangue dessa pobre alma em ferida"
A tudo isto, acrescem o meio e a paisagem açorianos, memórias de viagens, incidentes de vizinhança, outros fantasmas da biografia real da sua musa e lugares da vida dela ainda antes de a partilhar com o poeta, que ressurgem aqui e ali, de mistura com uma alusão frequente, e logo também no primeiro texto, a uma vida erótica trepidante que terá sido a de Margarida Vitória.
Nemésio diz o que tem a dizer com a maior das naturalidades, combinando a seu bel-prazer uma dicção elevada com uma linguagem terra à terra.
Nos seus "anfíbios sistemas de palavras", ele integra o que é da terra e do mar, da carne e da alma, do homem e da mulher, do real e do símbolo, da vida e do poema, por vezes quase extravagantemente no processo da sua escrita, fazendo gala de uma total descontracção técnica. Auto-interpela-se sem contemplações, como nos sucessivos jogos de palavras e rimas internas de "Pedra de Canto", em que às tantas exclama: "Tu, falazão de amor, que a amas e conheces.../ Amas a quem? Conheces quem? Pobre Hipocrene,/ Apolo de pataco, Camões binocular, poeta de merda,/ Embora merda em sangue dessa pobre alma em ferida,/ A dela e a tua (...)"
Nos textos escritos de Maio a Outubro de 1973, ligados a sentimentos de ausência e separação física agudizados pela solidão vivida no habitat de Margarida, o registo abandona um certo ludismo para se tornar mais grave, como nos poemas "teu só sossego aqui contigo ausente", ou "telepoema", ou "'business woman', és e isso me custa", e vários outros do "Caderno de Caligraphia. Pertencente à menina Margarida Victória q. lhe ofereçe o victorino nemésio". Esses andamentos mais meditativos e evocativos, e também, regra geral, mais extensos, reconduzem-se à grande poesia de Vitorino Nemésio na maneira como entrecruzam planos da memória e do presente, circunstâncias íntimas e notas da paisagem açoriana, voo lírico e emoção contida, elementos simbólicos e referências concretas à vida e aos objectos e circunstâncias artesanais de todos os dias, mesmo quando alguma pirueta vem re-situar o autor no enquadramento sentimental que pretende cantar.
Nemésio dispunha de uma poderosíssima faculdade de associação que era também uma forma de poética e de representação do mundo. Isto explica, aliás, a dificuldade de certas metáforas e de uma série de processos alusivos da sua poesia, por haver elipses e descontinuidades nessas associações, que às vezes não são apenas comandadas pelos "conteúdos" e se complicam devido à intervenção de aspectos formais, de aliteração, rima interna, jogo semântico.
Ora, em muitos destes seus poemas de amor, é exactamente isso que acontece. Nemésio deixa-se ir ao sabor do que lhe acorre à cabeça, interseccionando planos, dando saltos bruscos de umas coisas para as outras, prendendo muitas coisas à primeira vista afastadas entre si, uma evocação a outra evocação, uma imagem a outra imagem, uma expansão lírica a outra expansão lírica, uma passagem mais intensa a uma referência clássica, ou bíblica, ou moderna, ou a uma memória de infância, ou à ciência e à tecnologia, revertendo depois para o tema principal e fundindo tudo num ritmo interior que acaba por lhe moldar o verso.
O amor como uma insaciável apetência do mundo
Vai sem programa, sem grande apego às regras de escola e sem cerimónia, dentro do programa geral de falar obsessivamente da musa, de exprimir, quanto a ela, a paixão, o amor, a ternura, a excitação genésica e também entusiasmos fulgurantes e ciúmes retrospectivos, situações concretas de presença ou de ausência, recordações, sensações e surpresas, sem abdicar da própria consciência crítica do homem de "métier" literário. Incorpora tudo o que vai associando nesse processo e, como ele, "com medo de o perder" nomeia "o mundo", tudo pode acontecer nessas ousadas variações.
Por um lado, estamos longe das recordações intensamente comovidas da infância e da sua ilha incrustada no Atlântico, do investimento poético-filosófico e simbolista no Verbo de matriz heideggeriana, hölderliniana e rilkiana, das asceses incendiadas da vivência religiosa, das meditações científico-existenciais de "Limite de Idade", das reverberações da morte, numa palavra, de tudo o que foi sucessivamente constituindo os grandes núcleos temáticos da obra poética até aqui conhecida de Vitorino Nemésio.
Por outro lado, continuamos perto de muitos desses temas, reintroduzidos ou convocados pontualmente, revisitados ou aludidos em termos fragmentários, entretecidos na experiência amorosa ou combinados com ela, em textos que continuam a manter um forte parentesco com os processos estilísticos da obra anterior. Assim e sem perder a sua grande unidade, a obra nemesiana diversifica-se e enriquece-se.
Pode dizer-se que esta sua poesia exprime o amor como uma insaciável apetência do mundo, do mesmo mundo de que ele se torna motor, no sentido em que Dante o dizia, como forma de conhecimento, no sentido também cósmico em que Camões o formulou, e, "last but not least", enquanto dado existencial, a enlaçar a alma e o corpo com um sentido renovado da vida.
Dos textos agora publicados, apenas eram conhecidos dois, "Alarme nas Ilhas", incluído em "Sapateia Açoriana", e "Pedra de Canto", publicado no número 35 da revista "Colóquio/Letras".
Das circunstâncias em que os poemas surgiram, aguardaram publicação, foram organizados e surgem agora em livro, bem como dos critérios e fontes de fixação do texto, dá conta o minucioso trabalho de Luiz Fagundes Duarte, que assumiu a responsabilidade da edição e a quem ficará a glória de ter proporcionado à literatura portuguesa esta obra fora de série. E Margarida, Marga, a Macaca de Fogo, a Poldra ruiva, a Marquesinha, a filha de Aires Correia, a Corisca, a Samiguela, a "Pérola da Vitória, praia branca / Victorina de Santa Margarida", essa, entra, definitivamente, no glorioso gineceu das musas incontestadas da grande poesia ocidental.
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"Anfíbios Sistemas de Palavras" Ou a Poesia de Amor de Vitorino Nemésio
Sábado, 15 de Fevereiro de 2003
Ao todo são 125 poemas inéditos de um poeta maior, Vitorino Nemésio, fixados por Luiz Fagundes Duarte. "Caderno de Caligraphia e Outros Poemas a Marga" foi, ontem, apresentado em Lisboa.
%Vasco Graça Moura
Num poeta de quentes afectos humanos e familiares, em quem o funcionamento da memória comovida opera singulares transmutações do tempo e do espaço, dos seres e das coisas por uma inesgotável força verbal e anímica, ocorre agora uma espécie de vertigem erótica cuja tradução literária não era conhecida a não ser de alguns "happy few" (e, a propósito, recordo-me do modo entusiasmado como David Mourão-Ferreira me falou várias vezes destes poemas...).
Ao provocar essa vertigem na criação nemesiana entre 1973 e 1977, a musa não desestabiliza o estro poético, antes lhe dá novo impulso e o revigora, fazendo-o retomar e reutilizar todo o seu instrumental anterior, mas enriquecendo-o de singulares vibrações e perspectivas, oscilando variamente entre os registos do jogo da excitação genésica, da ternura e da intensa gravidade, do humor e da ansiedade, prolongando neles alguns aspectos característicos das obras anteriores do autor.
Novo, verdadeiramente novo, para além da intensidade obsessiva do envolvimento, é o sensual, o afrodisíaco, o sexual, o fálico, o vulvar, abordado em termos elevados ou corriqueiros, metafóricos ou directos, e também o divertida e sinceramente "descomposto" ou sabiamente desarrumado aqui e ali, isto para não dizer mesmo quase desbragado. Mas o que em Nemésio sente também "está pensando" e a estas formulações mais descontraídas por vezes liga-se, também, uma consideração atenta e reflexiva, uma vigilância dos processos que, volta e meia, acaba por ser ironizada enquanto tal. Assim se vão os textos desdobrando em metáforas arrojadas e em variações imprevistas, sem escamotear, o que é tão típico de Nemésio, a livre conjugação do elemento sensorial com a conceptualização em simultâneo do próprio fenómeno da escrita poética, numa mistura emblemática de termos abstractos e técnicos, substantivos concretos, alusões simbólicas e fragmentos de análise culta: "Venham os nomes tíbios,/ O vagar delgado e glúteo dos fonemas,/ Coroar delfins de sangue e sal, anfíbios/ Sistemas de palavras, os poemas."
De registar, também, as subtis inflexões do ritmo, a fugir ao metrónomo e a obedecer a uma lei da "respiração" íntima do verso, estofado por rimas internas, assonâncias, efeitos aliterativos, paronímias, hipálages, derivações, achados que levam, como que espontaneamente, a metáforas e a bruscas elipses e inflexões inesperadas que, muitas vezes, estão na base de outras metáforas. E também a recuperação da oralidade da tradição peninsular, a mistura de uma ingenuidade muito peculiar com alusões cultas retomadas dos primórdios da poesia portuguesa, em que acentos apaixonados e expressões de ternura se cruzam com notas de desnorte e desvario e em que, em certos momentos, de um magma visceral e anímico irrompe uma força metamórfica a transfigurar uma ideia de castigo físico no enlace erótico e este numa pulsão animal e quase mitológica. Frequentemente lançadas como que a brincar, as hipérboles amorosas abundam, com frequência na correspondência dos epítetos e no constante balancear entre o êxtase e a ternura.
"Merda em sangue dessa pobre alma em ferida"
A tudo isto, acrescem o meio e a paisagem açorianos, memórias de viagens, incidentes de vizinhança, outros fantasmas da biografia real da sua musa e lugares da vida dela ainda antes de a partilhar com o poeta, que ressurgem aqui e ali, de mistura com uma alusão frequente, e logo também no primeiro texto, a uma vida erótica trepidante que terá sido a de Margarida Vitória.
Nemésio diz o que tem a dizer com a maior das naturalidades, combinando a seu bel-prazer uma dicção elevada com uma linguagem terra à terra.
Nos seus "anfíbios sistemas de palavras", ele integra o que é da terra e do mar, da carne e da alma, do homem e da mulher, do real e do símbolo, da vida e do poema, por vezes quase extravagantemente no processo da sua escrita, fazendo gala de uma total descontracção técnica. Auto-interpela-se sem contemplações, como nos sucessivos jogos de palavras e rimas internas de "Pedra de Canto", em que às tantas exclama: "Tu, falazão de amor, que a amas e conheces.../ Amas a quem? Conheces quem? Pobre Hipocrene,/ Apolo de pataco, Camões binocular, poeta de merda,/ Embora merda em sangue dessa pobre alma em ferida,/ A dela e a tua (...)"
Nos textos escritos de Maio a Outubro de 1973, ligados a sentimentos de ausência e separação física agudizados pela solidão vivida no habitat de Margarida, o registo abandona um certo ludismo para se tornar mais grave, como nos poemas "teu só sossego aqui contigo ausente", ou "telepoema", ou "'business woman', és e isso me custa", e vários outros do "Caderno de Caligraphia. Pertencente à menina Margarida Victória q. lhe ofereçe o victorino nemésio". Esses andamentos mais meditativos e evocativos, e também, regra geral, mais extensos, reconduzem-se à grande poesia de Vitorino Nemésio na maneira como entrecruzam planos da memória e do presente, circunstâncias íntimas e notas da paisagem açoriana, voo lírico e emoção contida, elementos simbólicos e referências concretas à vida e aos objectos e circunstâncias artesanais de todos os dias, mesmo quando alguma pirueta vem re-situar o autor no enquadramento sentimental que pretende cantar.
Nemésio dispunha de uma poderosíssima faculdade de associação que era também uma forma de poética e de representação do mundo. Isto explica, aliás, a dificuldade de certas metáforas e de uma série de processos alusivos da sua poesia, por haver elipses e descontinuidades nessas associações, que às vezes não são apenas comandadas pelos "conteúdos" e se complicam devido à intervenção de aspectos formais, de aliteração, rima interna, jogo semântico.
Ora, em muitos destes seus poemas de amor, é exactamente isso que acontece. Nemésio deixa-se ir ao sabor do que lhe acorre à cabeça, interseccionando planos, dando saltos bruscos de umas coisas para as outras, prendendo muitas coisas à primeira vista afastadas entre si, uma evocação a outra evocação, uma imagem a outra imagem, uma expansão lírica a outra expansão lírica, uma passagem mais intensa a uma referência clássica, ou bíblica, ou moderna, ou a uma memória de infância, ou à ciência e à tecnologia, revertendo depois para o tema principal e fundindo tudo num ritmo interior que acaba por lhe moldar o verso.
O amor como uma insaciável apetência do mundo
Vai sem programa, sem grande apego às regras de escola e sem cerimónia, dentro do programa geral de falar obsessivamente da musa, de exprimir, quanto a ela, a paixão, o amor, a ternura, a excitação genésica e também entusiasmos fulgurantes e ciúmes retrospectivos, situações concretas de presença ou de ausência, recordações, sensações e surpresas, sem abdicar da própria consciência crítica do homem de "métier" literário. Incorpora tudo o que vai associando nesse processo e, como ele, "com medo de o perder" nomeia "o mundo", tudo pode acontecer nessas ousadas variações.
Por um lado, estamos longe das recordações intensamente comovidas da infância e da sua ilha incrustada no Atlântico, do investimento poético-filosófico e simbolista no Verbo de matriz heideggeriana, hölderliniana e rilkiana, das asceses incendiadas da vivência religiosa, das meditações científico-existenciais de "Limite de Idade", das reverberações da morte, numa palavra, de tudo o que foi sucessivamente constituindo os grandes núcleos temáticos da obra poética até aqui conhecida de Vitorino Nemésio.
Por outro lado, continuamos perto de muitos desses temas, reintroduzidos ou convocados pontualmente, revisitados ou aludidos em termos fragmentários, entretecidos na experiência amorosa ou combinados com ela, em textos que continuam a manter um forte parentesco com os processos estilísticos da obra anterior. Assim e sem perder a sua grande unidade, a obra nemesiana diversifica-se e enriquece-se.
Pode dizer-se que esta sua poesia exprime o amor como uma insaciável apetência do mundo, do mesmo mundo de que ele se torna motor, no sentido em que Dante o dizia, como forma de conhecimento, no sentido também cósmico em que Camões o formulou, e, "last but not least", enquanto dado existencial, a enlaçar a alma e o corpo com um sentido renovado da vida.
Dos textos agora publicados, apenas eram conhecidos dois, "Alarme nas Ilhas", incluído em "Sapateia Açoriana", e "Pedra de Canto", publicado no número 35 da revista "Colóquio/Letras".
Das circunstâncias em que os poemas surgiram, aguardaram publicação, foram organizados e surgem agora em livro, bem como dos critérios e fontes de fixação do texto, dá conta o minucioso trabalho de Luiz Fagundes Duarte, que assumiu a responsabilidade da edição e a quem ficará a glória de ter proporcionado à literatura portuguesa esta obra fora de série. E Margarida, Marga, a Macaca de Fogo, a Poldra ruiva, a Marquesinha, a filha de Aires Correia, a Corisca, a Samiguela, a "Pérola da Vitória, praia branca / Victorina de Santa Margarida", essa, entra, definitivamente, no glorioso gineceu das musas incontestadas da grande poesia ocidental.