Prémios APE de ensaio para Coimbra Martins e Alzira Seixo

24-11-2003
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Prémios APE de Ensaio para Coimbra Martins e Alzira Seixo

Por CARLOS CÂMARA LEME

Sábado, 15 de Novembro de 2003

António Coimbra Martins, com "Diogo do Couto, O Primeiro Soldado Prático" (ed. Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses) e Maria Alzira Seixo, com "Os Romances de António Lobo Antunes" (Publicações D. Quixote), foram distinguidos com o Grande Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores/Portugal Telecom, relativo, respectivamente, a 2001 e 2002.

Anunciado laconicamente, anteontem, através de um comunicado à imprensa - não se informando em que editoras saíram as obras premiadas nem o valor do prémio... -, os júris tomaram as duas decisões por unanimidade.

"Diogo do Couto, O Primeiro Soldado Prático", começa, o que é inédito neste prémio, por valorizar a fixação da edição crítica de "O Primeiro Soldado Prático" - pelas contundentes críticas que faz do funcionamento da administração portuguesa no Oriente, as observações de Diogo do Couto (n.1542?-1616) resultam de um conhecimento real das situações que viveu e relatou; o livro anda, noutro tom, muito próximo de "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto.

Não foi só o trabalho da edição crítica que valeu o voto unânime do júri. "Já isso era um trabalho notável", disse ao PÚBLICO José Carlos Seabra Pereira, professor da Faculdade de Letras de Coimbra e membro do júri. "Acontece que a introdução que Coimbra Martins faz pode e deve ser considerado uma obra verdadeiramente autónoma." Depois, diz ainda Seabra Pereira, "trata-de de um ensaio que, pela sua erudição produtiva e ágil, pela profundidade e rigor da investigação a que alia um elaboração pessoal que Combra Martins faz, estamos perante um trabalho de um verdadeiro 'scholar', o que vai rareando em Portugal".

O júri de 2002, pelo contrário, pôs de parte obras que tivessem por base edições críticas. Luiz Fagundes Duarte, professor do Departamento de Letras da Universidade Nova de Lisboa, explicou a importância do livro de Maria Alzira Seixo, "Os Romances de António Lobo Antunes", e a consequente decisão dos jurados.

"Desde logo, não é vulgar em Portugal", nota Fagundes Duarte, "que um livro de ensaio dê uma visão global sobre um autor contemporâneo." O também deputado do PS avança com mais duas razões que concorreram para que o livro de Maria Alzira Seixo tenha sido o eleito: "Por um lado, existe uma leitura sistemática de praticamente todas as obras de António Lobo Antunes; por outro, Alzira Seixo não só dá uma leitura de cada um dos livros como estabelece entre eles redes e relações de leitura." Há mais: "Sendo um ensaio que não se dirige para o grande pública é, em todo o caso, uma obra para a divulgação do romancista." (Ver no suplemento Mil Folhas a entrevista com António Lobo Antunes).

António Coimbra Martins nasceu em Lisboa, em 1927. Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, foi membro fundador do Partido Socialista Português, em 1973. Embaixador de Portugal em Paris (1974/79), são particularmente conhecidos os seus ensaios em torno de Luís de Camões, Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco.

Professora aposentada da Faculdade de Letras de Lisboa, Maria Alzira Seixo, 63 anos, é considerada a maior especialista mundial da obra de José Saramago. Doutorada em 1977, com uma tese (orientada por Jacinto do Prado Coelho e Roland Barthes), foi presidente da prestigiada Associação Internacional de Literatura Comparada. Os seus estudos, na maior dos casos de leitura obrigatória, percorrem grande parte da literatura portuguesa contemporânea, em torno de Saramago, José Cardoso Pires, António Lobo Antunes e, entre muitos outros romancistas, Augusto Abelaira.

Prémios APE de Ensaio para Coimbra Martins e Alzira Seixo

Por CARLOS CÂMARA LEME

Sábado, 15 de Novembro de 2003

António Coimbra Martins, com "Diogo do Couto, O Primeiro Soldado Prático" (ed. Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses) e Maria Alzira Seixo, com "Os Romances de António Lobo Antunes" (Publicações D. Quixote), foram distinguidos com o Grande Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores/Portugal Telecom, relativo, respectivamente, a 2001 e 2002.

Anunciado laconicamente, anteontem, através de um comunicado à imprensa - não se informando em que editoras saíram as obras premiadas nem o valor do prémio... -, os júris tomaram as duas decisões por unanimidade.

"Diogo do Couto, O Primeiro Soldado Prático", começa, o que é inédito neste prémio, por valorizar a fixação da edição crítica de "O Primeiro Soldado Prático" - pelas contundentes críticas que faz do funcionamento da administração portuguesa no Oriente, as observações de Diogo do Couto (n.1542?-1616) resultam de um conhecimento real das situações que viveu e relatou; o livro anda, noutro tom, muito próximo de "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto.

Não foi só o trabalho da edição crítica que valeu o voto unânime do júri. "Já isso era um trabalho notável", disse ao PÚBLICO José Carlos Seabra Pereira, professor da Faculdade de Letras de Coimbra e membro do júri. "Acontece que a introdução que Coimbra Martins faz pode e deve ser considerado uma obra verdadeiramente autónoma." Depois, diz ainda Seabra Pereira, "trata-de de um ensaio que, pela sua erudição produtiva e ágil, pela profundidade e rigor da investigação a que alia um elaboração pessoal que Combra Martins faz, estamos perante um trabalho de um verdadeiro 'scholar', o que vai rareando em Portugal".

O júri de 2002, pelo contrário, pôs de parte obras que tivessem por base edições críticas. Luiz Fagundes Duarte, professor do Departamento de Letras da Universidade Nova de Lisboa, explicou a importância do livro de Maria Alzira Seixo, "Os Romances de António Lobo Antunes", e a consequente decisão dos jurados.

"Desde logo, não é vulgar em Portugal", nota Fagundes Duarte, "que um livro de ensaio dê uma visão global sobre um autor contemporâneo." O também deputado do PS avança com mais duas razões que concorreram para que o livro de Maria Alzira Seixo tenha sido o eleito: "Por um lado, existe uma leitura sistemática de praticamente todas as obras de António Lobo Antunes; por outro, Alzira Seixo não só dá uma leitura de cada um dos livros como estabelece entre eles redes e relações de leitura." Há mais: "Sendo um ensaio que não se dirige para o grande pública é, em todo o caso, uma obra para a divulgação do romancista." (Ver no suplemento Mil Folhas a entrevista com António Lobo Antunes).

António Coimbra Martins nasceu em Lisboa, em 1927. Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, foi membro fundador do Partido Socialista Português, em 1973. Embaixador de Portugal em Paris (1974/79), são particularmente conhecidos os seus ensaios em torno de Luís de Camões, Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco.

Professora aposentada da Faculdade de Letras de Lisboa, Maria Alzira Seixo, 63 anos, é considerada a maior especialista mundial da obra de José Saramago. Doutorada em 1977, com uma tese (orientada por Jacinto do Prado Coelho e Roland Barthes), foi presidente da prestigiada Associação Internacional de Literatura Comparada. Os seus estudos, na maior dos casos de leitura obrigatória, percorrem grande parte da literatura portuguesa contemporânea, em torno de Saramago, José Cardoso Pires, António Lobo Antunes e, entre muitos outros romancistas, Augusto Abelaira.

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