"Afinal, a simpatia também rende votos..."

15-02-2005
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"Afinal, a Simpatia Também Rende Votos..."

Segunda-feira, 14 de Fevereiro de 2005

O oitavo dia de campanha de Jerónimo de Sousa, dedicado ao Ribatejo e Alentejo, terminou com o aviso: "Se o PS pensa fazer uma política neo-liberal será mais cedo que tarde derrotado.

Natália Fari

Boné na cabeça, apoiado numa esquina da antiga Praça da Jorna de Vale de Cavalos, na Chamusca, distrito de Santarém, José Nicola André, 83 anos, já esperava há quase uma hora quando o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa apareceu para distribuir cumprimentos. "Gosto do reportório dele. Tem melhor falar que o Carvalhas", comentava, mãos enfiadas nos bolsos das calças castanhas.

No final da visita, o ex-agricultor não deu o tempo por perdido. Mesmo se "para apertar a mão ao homem" tenha tido que obrigar o neto a transportá-lo até ao largo da aldeia e a mulher o almoço. "Parece bom rapaz. Era bom que conseguisse levar o PCP mais à frente", concluiu, já Jerónimo de Sousa tinha retomado o périplo do seu oitavo dia de campanha, inteiramente dedicado ao Ribatejo e Alentejo.

A passagem pelos distritos de Évora, Beja e Santarém (onde a CDU soma três deputados) foi de encontro com o eleitorado tradicional da coligação, numa região onde o país se mostra obsoleto, rural e envelhecido. E ainda com memórias profundas da ditadura fascista, que parecem alimentar a fidelidade ao voto no CDU. Satisfeito com a recepção, Jerónimo de Sousa haveria de comentar, já ao final da tarde, no comício de Beja: "Afinal, a simpatia também rende votos."

O dia arrancou no mercado de Santarém. O candidato gastou ali pouco mais de 20 minutos. Mas foi o tempo suficiente para levar com o pedido de uma idosa: "Não lave a roupa suja como os outros, que parecem vizinhas a discutir." Jerónimo de Sousa anuiu e seguiu caminho, já sem tempo para ouvir o lamento do casal que a cabeça de lista pelo distrito, Luísa Mesquita, deixou com um panfleto nas mãos. "Não sei o que isto diz. O mal do nosso país é a gente não saber ler", lamentavam.

Quilómetros à frente, na Chamusca, o líder do PCP ensaiou um passo de dança e subiu a uma carrinha para, diante de cerca de 30 pessoas, maioritariamente idosos, evocar a luta dos agricultores ribatejanos contra "a longa noite fascista". "Passados 30 anos, muitas das reivindicações e aspirações de Abril continuam por cumprir. Estas eleições são uma oportunidade para virar de página", apelou, desfiando o habitual rol de críticas contra "as reformas de miséria", "a ruína da agricultura", o "regresso do poder dos grandes senhores ao Ribatejo" e, por último, a "ameaça de privatização da Companhia das Lezírias".

"O PS quer é mãos livres

para governar à direita"

Durante o almoço, em Almeirim (que bateu o recorde de presenças, com quase 800 comensais), a deputada comunista Luísa Mesquita colou-se ao slogan publicitário para se atirar aos cabeças de lista do PS e do PSD, Jorge Lacão e Miguel Relvas, respectivamente. "Apetece dizer que eles falam, falam, falam.... e não os vemos fazer nada. E é verdade que, muito e cada vez mais, ficamos chateados, pois ficamos".

Jerónimo de Sousa caucionou esta tese e foi mais longe no ataque aos socialistas. "Li o folheto do PS para o distrito que afirma que vai colocar a regionalização na ordem do dia. É preciso ter lata, camaradas, num partido que, no seu programa, diz que nunca antes de 2010 a regionalização vai ser colocada", acusou, para reiterar a sua rejeição das políticas "que se preocupam apenas em beneficiar um grupo de cem famílias, que, como nababos, aparecem nas revistas da especialidade a disputarem os lucros".

No primeiro comício do dia, no Teatro Garcia de Resende, em Évora, o líder do PCP falou de improviso para rebater as críticas de um dirigente local do PS que acusou a CDU de ser uma voz do passado. "Valha-nos Abril, onde o PS devia encontrar inspiração, porque se houve acto moderno e avançado foi Abril, as suas conquistas e os seus direitos".Nem uma palavra para recordar Lino de Carvalho, o deputado que morreu o ano passado e que durante vários anos foi eleito por aquele círculo. Essa tarefa foi agora entregue a Abílio Fernandes, que, nas últimas autárquicas, perdeu a autarquia local para o PS.

Horas depois, já em Beja, Jerónimo de Sousa aproveitou para responder a António Costa, que na véspera tinha qualificado como má uma eventual parceria entre o PS e a CDU. "Seria má uma parceria em que defenderíamos uma nova política fiscal, através do combate à fraude e fuga fiscal, não da sardinha mas dessa grande rede que tem deixado passar os grandes tubarões?", questionou. E depois concluiu que o PS está é interessado em "ficar de mãos livres, com uma maioria absoluta, para realizar uma política que é um sucedâneo da seguida pelo PSD-CDS".

O comício terminou com um aviso final e claro quanto baste: "Se o PS pensa fazer uma política de cariz neo-liberal será mais cedo que tarde derrotado."

Positivo

Jerónimo de Sousa aprendeu a galvanizar as plateias, durante os comícios. Fala de improviso, engasga-se menos vezes, e sempre numa linguagem simples.

Negativo

Durante o almoço, em Almeirim, dezenas de militantes foram mandados embora sem direito ao almoço, pelo qual tinham pago 12 euros. A sala, com 740 lugares, não comportava mais gente. Os responsáveis locais do PCP garantiram que reembolsariam o dinheiro, mas não é a primeira vez que a organização subestima a adesão dos apoiantes.

"Afinal, a Simpatia Também Rende Votos..."

Segunda-feira, 14 de Fevereiro de 2005

O oitavo dia de campanha de Jerónimo de Sousa, dedicado ao Ribatejo e Alentejo, terminou com o aviso: "Se o PS pensa fazer uma política neo-liberal será mais cedo que tarde derrotado.

Natália Fari

Boné na cabeça, apoiado numa esquina da antiga Praça da Jorna de Vale de Cavalos, na Chamusca, distrito de Santarém, José Nicola André, 83 anos, já esperava há quase uma hora quando o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa apareceu para distribuir cumprimentos. "Gosto do reportório dele. Tem melhor falar que o Carvalhas", comentava, mãos enfiadas nos bolsos das calças castanhas.

No final da visita, o ex-agricultor não deu o tempo por perdido. Mesmo se "para apertar a mão ao homem" tenha tido que obrigar o neto a transportá-lo até ao largo da aldeia e a mulher o almoço. "Parece bom rapaz. Era bom que conseguisse levar o PCP mais à frente", concluiu, já Jerónimo de Sousa tinha retomado o périplo do seu oitavo dia de campanha, inteiramente dedicado ao Ribatejo e Alentejo.

A passagem pelos distritos de Évora, Beja e Santarém (onde a CDU soma três deputados) foi de encontro com o eleitorado tradicional da coligação, numa região onde o país se mostra obsoleto, rural e envelhecido. E ainda com memórias profundas da ditadura fascista, que parecem alimentar a fidelidade ao voto no CDU. Satisfeito com a recepção, Jerónimo de Sousa haveria de comentar, já ao final da tarde, no comício de Beja: "Afinal, a simpatia também rende votos."

O dia arrancou no mercado de Santarém. O candidato gastou ali pouco mais de 20 minutos. Mas foi o tempo suficiente para levar com o pedido de uma idosa: "Não lave a roupa suja como os outros, que parecem vizinhas a discutir." Jerónimo de Sousa anuiu e seguiu caminho, já sem tempo para ouvir o lamento do casal que a cabeça de lista pelo distrito, Luísa Mesquita, deixou com um panfleto nas mãos. "Não sei o que isto diz. O mal do nosso país é a gente não saber ler", lamentavam.

Quilómetros à frente, na Chamusca, o líder do PCP ensaiou um passo de dança e subiu a uma carrinha para, diante de cerca de 30 pessoas, maioritariamente idosos, evocar a luta dos agricultores ribatejanos contra "a longa noite fascista". "Passados 30 anos, muitas das reivindicações e aspirações de Abril continuam por cumprir. Estas eleições são uma oportunidade para virar de página", apelou, desfiando o habitual rol de críticas contra "as reformas de miséria", "a ruína da agricultura", o "regresso do poder dos grandes senhores ao Ribatejo" e, por último, a "ameaça de privatização da Companhia das Lezírias".

"O PS quer é mãos livres

para governar à direita"

Durante o almoço, em Almeirim (que bateu o recorde de presenças, com quase 800 comensais), a deputada comunista Luísa Mesquita colou-se ao slogan publicitário para se atirar aos cabeças de lista do PS e do PSD, Jorge Lacão e Miguel Relvas, respectivamente. "Apetece dizer que eles falam, falam, falam.... e não os vemos fazer nada. E é verdade que, muito e cada vez mais, ficamos chateados, pois ficamos".

Jerónimo de Sousa caucionou esta tese e foi mais longe no ataque aos socialistas. "Li o folheto do PS para o distrito que afirma que vai colocar a regionalização na ordem do dia. É preciso ter lata, camaradas, num partido que, no seu programa, diz que nunca antes de 2010 a regionalização vai ser colocada", acusou, para reiterar a sua rejeição das políticas "que se preocupam apenas em beneficiar um grupo de cem famílias, que, como nababos, aparecem nas revistas da especialidade a disputarem os lucros".

No primeiro comício do dia, no Teatro Garcia de Resende, em Évora, o líder do PCP falou de improviso para rebater as críticas de um dirigente local do PS que acusou a CDU de ser uma voz do passado. "Valha-nos Abril, onde o PS devia encontrar inspiração, porque se houve acto moderno e avançado foi Abril, as suas conquistas e os seus direitos".Nem uma palavra para recordar Lino de Carvalho, o deputado que morreu o ano passado e que durante vários anos foi eleito por aquele círculo. Essa tarefa foi agora entregue a Abílio Fernandes, que, nas últimas autárquicas, perdeu a autarquia local para o PS.

Horas depois, já em Beja, Jerónimo de Sousa aproveitou para responder a António Costa, que na véspera tinha qualificado como má uma eventual parceria entre o PS e a CDU. "Seria má uma parceria em que defenderíamos uma nova política fiscal, através do combate à fraude e fuga fiscal, não da sardinha mas dessa grande rede que tem deixado passar os grandes tubarões?", questionou. E depois concluiu que o PS está é interessado em "ficar de mãos livres, com uma maioria absoluta, para realizar uma política que é um sucedâneo da seguida pelo PSD-CDS".

O comício terminou com um aviso final e claro quanto baste: "Se o PS pensa fazer uma política de cariz neo-liberal será mais cedo que tarde derrotado."

Positivo

Jerónimo de Sousa aprendeu a galvanizar as plateias, durante os comícios. Fala de improviso, engasga-se menos vezes, e sempre numa linguagem simples.

Negativo

Durante o almoço, em Almeirim, dezenas de militantes foram mandados embora sem direito ao almoço, pelo qual tinham pago 12 euros. A sala, com 740 lugares, não comportava mais gente. Os responsáveis locais do PCP garantiram que reembolsariam o dinheiro, mas não é a primeira vez que a organização subestima a adesão dos apoiantes.

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