Santana Lopes deve voltar à Câmara de Lisboa

04-02-2005
marcar artigo

Santana Lopes Deve Voltar à Câmara de Lisboa

Por HELENA PEREIRA E EUNICE LOURENÇO

Quinta-feira, 03 de Fevereiro de 2005

Pedro Santana Lopes, primeiro-ministro demissionário e candidato do PSD, vai voltar a assumir a presidência da Câmara de Lisboa, caso perca as eleições legislativas de 20 de Fevereiro. De acordo com a lei e exemplos anteriores, o lugar pode ser assumido por Santana Lopes, que admite essa possibilidade.

A autarquia de Lisboa tem estado a ser gerida pelo número dois da equipa social-democrata, Carmona Rodrigues. O autarca já disse, em Novembro, em entrevista à Rádio Renascença/PÚBLICO que estava "completamente disponível para continuar, haja vontade política do partido" pelo qual foi eleito, como independente. Desde essa altura, a sua posição não mudou. Contudo, tem estado mais discreto nessa sua vontade, aguardando pelo que Santana tenciona fazer, se perder as eleições de dia 20.

Em declarações ao PÚBLICO, o presidente de câmara reafirmou a sua disponibilidade para ser candidato. "Já disse que estava empenhado e disponível", avisou. Por enquanto, fica por esta manifestação, lembrando que é independente e que tem que esperar pelo PSD. "Não me cabe tomar o primeiro passo", acrescentou.

Questionado sobre se está também à espera do resultado das eleições legislativas, começou por dizer que acredita que o líder do presidente vai ser eleito primeiro-ministro, mas admitiu que "é por isso" que não pode dizer mais nada neste momento.

As eleições autárquicas são em Outubro deste ano. Não é certo, contudo, que num cenário em que Santana volte à Câmara de Lisboa, queira recandidatar-se a esse mesmo lugar.

Os sociais-democratas próximos de Santana não abandonam a hipótese de este ainda queira entrar na corrida a Belém, campanha em que, aliás, o próprio estava empenhado antes de assumir o lugar de primeiro-ministro, a pedido de Durão Barroso.

Dentro do PSD, o "day after" das eleições legislativas alimenta várias discussões e já há alguns nomes perfilados. Os cavaquistas mantêm-se em silêncio até dia 20. Os críticos de Santana não querem dar munições ao candidato a primeiro-ministro para que este se volte contra eles durante a campanha eleitoral.

Há quem considera que Santana até poderá continuar na liderança do partido se o resultado não for desastroso, mas também há lembre que, num partido como o PSD, perder o poder é sempre um choque e que, isso só por si, levará à mudança de líder. De qualquer forma, a questão da sucessão há muito que entrou em debate, tendo sido mesmo assumida, em entrevistas, por um ministro, José Pedro Aguiar Branco, e um vice-presidente do partido, Rui Rio, que se perfilaram como eventuais candidatos.

A sucessão

Luís Marques Mendes

O candidato natural

É aceite no PSD como um candidato natural. Já concorreu à liderança do partido, em 2000, contra Durão Barroso e Pedro Santana Lopes. Obteve cerca de 15 por cento dos votos. No último congresso, em Novembro, deixou clara a linha de demarcação com o actual líder. E, desde então, - ou seja ainda antes da dissolução do Parlamento - tem vindo a ser contactado como um eventual sucessor. Logo depois da dissolução, disse que o tempo era de todos lutarem pelo melhor resultado do PSD. Por isso - preparando o seu próprio caminho e para que nunca venha a ser acusado de ajudar ao desastre e de não estar nos momentos difíceis - aceitou ser cabeça de lista por Aveiro, onde espera que o PSD tenha um resultado melhor do que a média nacional.

Mendes - que tem a seu favor uma vasta experiência de Governo - quer um congresso extraordinário do PSD depois das eleições, seja qual for o resultado eleitoral. Pedro Passos Coelho, que foi o seu candidato a secretário-geral em 2000, também já deu sinais de que quer que o PSD discuta o seu futuro depois das eleições. Desaparecido da vida política há uma série de anos, reapareceu em plena pré-campanha eleitoral. O mendismo é uma ala com pouca expressão no PSD, por enquanto. Apesar das ligações com o cavaquismo, não são considerados cavaquistas.

Nuno Morais Sarmento

O reduto barrosista

O ministro da Presidência tem repetido até à exaustão - dentro do PSD e à comunicação social - que não está interessado na disputa da liderança. Acima de tudo, a preocupação de Sarmento é a de não poder ser acusado pelo actual líder de falta de lealdade. O ganho desse capital poderá servir para uma maior legitimidade interna - acreditam os sociais-democratas que lhe são mais próximos (os chamados barrosistas) e que apostam numa candidatura de Sarmento à liderança do PSD contra Mendes ou contra alguém de fora do aparelho. Não é certo que Morais Sarmento esteja interessado em vir a liderar o PSD, na oposição. Na sequência da recente polémica da viagem a São Tomé e Princípe, ficou evidente nas suas palavras a vontade de voltar ao escritório de advocacia a que pertence: António Maria Pereira, Sáragga Leal, Oliveira Martins, Júdice e Associados.

António Borges e Manuela Ferreira Leite

As reservas cavaquistas

A hipótese de o economista António Borges vir a ser candidato à presidência do PSD é acarinhada por um núcleo de cavaquistas e por gestores ligados ao PSD. Em entrevista ao "Diário Económico" em Dezembro, o economista manifestou-se disponível para a luta partidária. "Nenhum de nós se pode alhear e estaria disposto a participar numa equipa que tivesse como missão renovar o PSD, desde que as pessoas fossem da minha confiança", afirmou Borges, acrescentando que "há a disponibilidade de muita gente para assumir um papel de responsabilidade" e que "isso tem de passar por uma grande renovação do PSD". Alexandre Relvas, ex-secretário de Estado do Turismo de Cavaco Silva, administrador da Logoplaste e também um dos mentores do Compromisso Portugal, é outro dos nomes falados nesta lógica de sucessão: a de alguém com perfil mais tecnocrata e que faça um corte com o funcionamento aparelhístico do PSD. Algumas destas pessoas sonham com um PSD organizado não em termos de distritais e divisão geográfica, mas por sectores de actividades. Se o PSD tiver um muito baixo resultado eleitoral, os apoiantes de Borges acreditam que os militantes vão querer fazer um corte com os dirigentes que conduziram o partido ao descalabro (seriam os barrosistas e os santanistas) para tentar recuperar o prestígio do PSD. Por sinal, Borges entrou no PSD pela mão de Durão Barroso, em 2001, participou na redacção do seu programa eleitoral e foi candidato autárquico em Fronteira.

O economista, que participou no passado fim-de-semana na campanha do PSD no distrito do Porto, reconhece, no entanto, que a falta de currículo partidário é um "handicap". "Não me parece que seja legítimo estar a falar em ser líder do partido quando não tenho currículo político nenhum, nunca estive em nenhum governo, nem em nenhum cargo partidário. Não posso agora dizer que vou liderar o PSD, mas estou muito disposto e interessado em ajudar dentro do PSD a trabalhar na renovação de que o país tanto precisa", disse Borges, que aproveitou para elogiar Aguiar Branco, ministro da Justiça e cabeça de lista pelo Porto, considerando ele tem capacidade de liderança.

Manuela Ferreira Leite é considerada, por muitos sociais-democratas, como uma reserva. Amiga pessoal de Cavaco Silva, poderá avançar, se a ala cavaquista não se vir representada em mais nenhum candidato. Não aceitou fazer parte das listas de candidatos a deputados do PSD nestas eleições. Regressou, desde que saiu de ministra das Finanças em Julho do ano passado, ao Banco de Portugal. Profissionalmente, não há obstáculos a uma eventual dedicação a tempo inteiro ao partido. Ferreira Leite - que foi ministra da Cavaco, Durão e líder parlamentar do PSD - sentiu-se maltratada por Santana Lopes.

Marcelo Rebelo de Sousa

De fora da corrida

O ex-presidente do PSD e ex-comentador político quer manter-se fora desta corrida. Teria aceitado ser primeiro-ministro em Julho, quando Durão foi embora, mas não está virado para voltar a disputar a liderança social-democrata. O facto de Mendes, sem amigo pessoal e que foi seu líder parlamentar, estar na corrida também é sinal disso. Marcelo sabe que tem um grande prestígio no país, mas que continua a ter muitos anticorpos no partido que liderou entre 1996 a 1999. O episódio da sua saída da TVI também não melhorou a sua imagem entre os sociais-democratas. Marcelo continua a fazer vida partidária, tendo participado na campanha das regionais e na num jantar em Celorico de Basto já nesta pré-campanha. Como o próprio Santana já salientou, numa entrevista na SIC-Notícias, "Marcelo Rebelo de Sousa tem um certa argúcia, tem uma certa experiência do partido e sabe que o partido nunca recompensa quem não está nas horas decisivas".

Santana Lopes Deve Voltar à Câmara de Lisboa

Por HELENA PEREIRA E EUNICE LOURENÇO

Quinta-feira, 03 de Fevereiro de 2005

Pedro Santana Lopes, primeiro-ministro demissionário e candidato do PSD, vai voltar a assumir a presidência da Câmara de Lisboa, caso perca as eleições legislativas de 20 de Fevereiro. De acordo com a lei e exemplos anteriores, o lugar pode ser assumido por Santana Lopes, que admite essa possibilidade.

A autarquia de Lisboa tem estado a ser gerida pelo número dois da equipa social-democrata, Carmona Rodrigues. O autarca já disse, em Novembro, em entrevista à Rádio Renascença/PÚBLICO que estava "completamente disponível para continuar, haja vontade política do partido" pelo qual foi eleito, como independente. Desde essa altura, a sua posição não mudou. Contudo, tem estado mais discreto nessa sua vontade, aguardando pelo que Santana tenciona fazer, se perder as eleições de dia 20.

Em declarações ao PÚBLICO, o presidente de câmara reafirmou a sua disponibilidade para ser candidato. "Já disse que estava empenhado e disponível", avisou. Por enquanto, fica por esta manifestação, lembrando que é independente e que tem que esperar pelo PSD. "Não me cabe tomar o primeiro passo", acrescentou.

Questionado sobre se está também à espera do resultado das eleições legislativas, começou por dizer que acredita que o líder do presidente vai ser eleito primeiro-ministro, mas admitiu que "é por isso" que não pode dizer mais nada neste momento.

As eleições autárquicas são em Outubro deste ano. Não é certo, contudo, que num cenário em que Santana volte à Câmara de Lisboa, queira recandidatar-se a esse mesmo lugar.

Os sociais-democratas próximos de Santana não abandonam a hipótese de este ainda queira entrar na corrida a Belém, campanha em que, aliás, o próprio estava empenhado antes de assumir o lugar de primeiro-ministro, a pedido de Durão Barroso.

Dentro do PSD, o "day after" das eleições legislativas alimenta várias discussões e já há alguns nomes perfilados. Os cavaquistas mantêm-se em silêncio até dia 20. Os críticos de Santana não querem dar munições ao candidato a primeiro-ministro para que este se volte contra eles durante a campanha eleitoral.

Há quem considera que Santana até poderá continuar na liderança do partido se o resultado não for desastroso, mas também há lembre que, num partido como o PSD, perder o poder é sempre um choque e que, isso só por si, levará à mudança de líder. De qualquer forma, a questão da sucessão há muito que entrou em debate, tendo sido mesmo assumida, em entrevistas, por um ministro, José Pedro Aguiar Branco, e um vice-presidente do partido, Rui Rio, que se perfilaram como eventuais candidatos.

A sucessão

Luís Marques Mendes

O candidato natural

É aceite no PSD como um candidato natural. Já concorreu à liderança do partido, em 2000, contra Durão Barroso e Pedro Santana Lopes. Obteve cerca de 15 por cento dos votos. No último congresso, em Novembro, deixou clara a linha de demarcação com o actual líder. E, desde então, - ou seja ainda antes da dissolução do Parlamento - tem vindo a ser contactado como um eventual sucessor. Logo depois da dissolução, disse que o tempo era de todos lutarem pelo melhor resultado do PSD. Por isso - preparando o seu próprio caminho e para que nunca venha a ser acusado de ajudar ao desastre e de não estar nos momentos difíceis - aceitou ser cabeça de lista por Aveiro, onde espera que o PSD tenha um resultado melhor do que a média nacional.

Mendes - que tem a seu favor uma vasta experiência de Governo - quer um congresso extraordinário do PSD depois das eleições, seja qual for o resultado eleitoral. Pedro Passos Coelho, que foi o seu candidato a secretário-geral em 2000, também já deu sinais de que quer que o PSD discuta o seu futuro depois das eleições. Desaparecido da vida política há uma série de anos, reapareceu em plena pré-campanha eleitoral. O mendismo é uma ala com pouca expressão no PSD, por enquanto. Apesar das ligações com o cavaquismo, não são considerados cavaquistas.

Nuno Morais Sarmento

O reduto barrosista

O ministro da Presidência tem repetido até à exaustão - dentro do PSD e à comunicação social - que não está interessado na disputa da liderança. Acima de tudo, a preocupação de Sarmento é a de não poder ser acusado pelo actual líder de falta de lealdade. O ganho desse capital poderá servir para uma maior legitimidade interna - acreditam os sociais-democratas que lhe são mais próximos (os chamados barrosistas) e que apostam numa candidatura de Sarmento à liderança do PSD contra Mendes ou contra alguém de fora do aparelho. Não é certo que Morais Sarmento esteja interessado em vir a liderar o PSD, na oposição. Na sequência da recente polémica da viagem a São Tomé e Princípe, ficou evidente nas suas palavras a vontade de voltar ao escritório de advocacia a que pertence: António Maria Pereira, Sáragga Leal, Oliveira Martins, Júdice e Associados.

António Borges e Manuela Ferreira Leite

As reservas cavaquistas

A hipótese de o economista António Borges vir a ser candidato à presidência do PSD é acarinhada por um núcleo de cavaquistas e por gestores ligados ao PSD. Em entrevista ao "Diário Económico" em Dezembro, o economista manifestou-se disponível para a luta partidária. "Nenhum de nós se pode alhear e estaria disposto a participar numa equipa que tivesse como missão renovar o PSD, desde que as pessoas fossem da minha confiança", afirmou Borges, acrescentando que "há a disponibilidade de muita gente para assumir um papel de responsabilidade" e que "isso tem de passar por uma grande renovação do PSD". Alexandre Relvas, ex-secretário de Estado do Turismo de Cavaco Silva, administrador da Logoplaste e também um dos mentores do Compromisso Portugal, é outro dos nomes falados nesta lógica de sucessão: a de alguém com perfil mais tecnocrata e que faça um corte com o funcionamento aparelhístico do PSD. Algumas destas pessoas sonham com um PSD organizado não em termos de distritais e divisão geográfica, mas por sectores de actividades. Se o PSD tiver um muito baixo resultado eleitoral, os apoiantes de Borges acreditam que os militantes vão querer fazer um corte com os dirigentes que conduziram o partido ao descalabro (seriam os barrosistas e os santanistas) para tentar recuperar o prestígio do PSD. Por sinal, Borges entrou no PSD pela mão de Durão Barroso, em 2001, participou na redacção do seu programa eleitoral e foi candidato autárquico em Fronteira.

O economista, que participou no passado fim-de-semana na campanha do PSD no distrito do Porto, reconhece, no entanto, que a falta de currículo partidário é um "handicap". "Não me parece que seja legítimo estar a falar em ser líder do partido quando não tenho currículo político nenhum, nunca estive em nenhum governo, nem em nenhum cargo partidário. Não posso agora dizer que vou liderar o PSD, mas estou muito disposto e interessado em ajudar dentro do PSD a trabalhar na renovação de que o país tanto precisa", disse Borges, que aproveitou para elogiar Aguiar Branco, ministro da Justiça e cabeça de lista pelo Porto, considerando ele tem capacidade de liderança.

Manuela Ferreira Leite é considerada, por muitos sociais-democratas, como uma reserva. Amiga pessoal de Cavaco Silva, poderá avançar, se a ala cavaquista não se vir representada em mais nenhum candidato. Não aceitou fazer parte das listas de candidatos a deputados do PSD nestas eleições. Regressou, desde que saiu de ministra das Finanças em Julho do ano passado, ao Banco de Portugal. Profissionalmente, não há obstáculos a uma eventual dedicação a tempo inteiro ao partido. Ferreira Leite - que foi ministra da Cavaco, Durão e líder parlamentar do PSD - sentiu-se maltratada por Santana Lopes.

Marcelo Rebelo de Sousa

De fora da corrida

O ex-presidente do PSD e ex-comentador político quer manter-se fora desta corrida. Teria aceitado ser primeiro-ministro em Julho, quando Durão foi embora, mas não está virado para voltar a disputar a liderança social-democrata. O facto de Mendes, sem amigo pessoal e que foi seu líder parlamentar, estar na corrida também é sinal disso. Marcelo sabe que tem um grande prestígio no país, mas que continua a ter muitos anticorpos no partido que liderou entre 1996 a 1999. O episódio da sua saída da TVI também não melhorou a sua imagem entre os sociais-democratas. Marcelo continua a fazer vida partidária, tendo participado na campanha das regionais e na num jantar em Celorico de Basto já nesta pré-campanha. Como o próprio Santana já salientou, numa entrevista na SIC-Notícias, "Marcelo Rebelo de Sousa tem um certa argúcia, tem uma certa experiência do partido e sabe que o partido nunca recompensa quem não está nas horas decisivas".

marcar artigo