EXPRESSO: Desporto

29-05-2002
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MIGUEL RIBEIRO TELLES, presidente da SAD do Sporting

«Temos de ser agressivos na políti ca de contratações»

Fotografias de João Carlos Santos «Num cenário que consideramos prudente, pensamos que é possível dentro de três a quatro anos a SAD equilibrar as contas»

O DESTINO do futebol do Sporting está nas mãos de Miguel Ribeiro Telles. Aos 44 anos, este advogado de profissão, casado e pai de três filhos, aceitou o repto de substituir o seu amigo pessoal Luís Duque, na presidência da SAD. Uma tarefa que confessa desempenhar em «part-time», mas com total rigor e objectivos bem traçados.

EXPRESSO — A princípio estava pouco receptivo em aceitar este cargo. O que o fez mudar?

RIBEIRO TELLES — É uma questão que tem a ver com a minha vida profissional. Fomos vendo em que medida é que era possível eu assumir a presidência da SAD e isso concretizou-se através da vinda de um administrador delegado, o dr. José Bettencourt, que estará em full-time ligado não só à SAD mas também às outras empresas do grupo Sporting.

EXP. — Praticou algum desporto?

R.T. — Muito novo joguei râguebi numa equipa de juvenis da Agronomia. Depois joguei muitos anos numa equipa do campeonato do CIF, chamada Pé Leve. Jogava contra outras de antigos futebolistas. Aliás, orgulho-me de dizer que uma vez joguei contra uma equipa onde jogavam o José Augusto, Eusébio, Torres e Simões, todo o ataque de Portugal em 1966. Como adversário também tinha o Dr Manuel Vilarinho que jogava noutra dessas equipas.

EXP. — Como é que surge a ligação ao Sporting?

R.T. — Sou sócio do Sporting há mais de 25 anos. Tenho o número 6 mil e tal. Desde que nasci que me habituei a ser do Sporting por razões familiares porque em minha casa toda a gente era do Sporting. Quanto a este projecto, fui convidado pelo Dr José Roquette e por Luís Duque em Novembro de 1999 e fiquei ligado provavelmente por uma amizade que tinha com o Luís Duque que se consumou com o convite dele para vir para a administração da SAD.

EXP — O que podem os sportinguistas esperar da sua gestão?

R.T. — Sobretudo rigor. Esta empresa tem uma missão com duas vertentes fundamentais: detectar talentos e formá-los, por isso tem um centro de formação; e, ter uma equipa altamente competitiva, e para isso temos que ser agressivos na política de contratações. É esta a ambição da nossa empresa e é esse o meu objectivo dentro dela.

EXP. — Essa agressividade na política de contratações passa por fazer já este ano um corte radical com o passado?

R.T. — O que é que chama um corte radical?

EXP. — Deixar de comprar quantidade e investir mais na qualidade...

R.T. — Há uma questão crucial. Para termos uma formação que possa ser efectivamente útil ao Sporting, é preciso haver uma estrutura que permita a entrada de novos talentos. Criar uma equipa através só da formação não dá resultado. A formação é bem sucedida se os formandos tiverem a recebê-los uma equipa experiente e disciplinada que os apoie.

EXP. — Afinal que jogadores vão adquirir?

R.T. — O diagnóstico está feito e temos várias possibilidades de escolha neste momento. Estão a ser analisados vários jogadores para as poucas posições em que achamos que a equipa precisa ser reforçada.

EXP. — Já tem nomes que possa revelar?

R.T. — Não.

EXP. — A aposta será feita no mercado interno ou externo? R.T. — Vamos apostar nos dois. Agora há o chavão de se dizer que são portugueses e comunitários, vamos ver.

EXP. — Tencionam continuar na senda dos argentinos?

R.T. — A senda dos argentinos não é má. Tivemos o Duscher, tivemos o Quiroga, um excelente jogador que pode voltar no fim da época, e temos grandes esperanças no Tello. Portanto, não excluímos o mercado argentino.

EXP. — A propósito do Tello, faz sentido um clube pagar cerca de 1,5 milhões de contos por um jogador que não é titular?

R.T. — O Rodrigo Tello tem 21 anos, é titular indiscutível da selecção do Chile, onde foi campeão e considerado o melhor da época. Antes de fazer o investimento tivemos o cuidado de colher profunda informação sobre quem ele era e quais as suas margens de progressão. Isso junto à circunstância de estar carenciado de um jogador no lado esquerdo, levou a que se fizesse a contratação.

EXP. — Antes do Pauleta ir para Bordéus, falou-se que o Sporting estava interessado, mas o negócio terá abortado porque ele custava cerca de 1,3 milhões de contos. Passado um tempo veio o Tello, por bastante mais...

R.T. — Não tenho conhecimento que o Pauleta estivesse à venda nem sei qual é o seu nível salarial. Não se pode dizer que vamos comprar o Pauleta porque custa o mesmo que Tello e não temos em conta o nível salarial de cada um. Tenho a certeza que o salário dele é mais elevado do que o do Tello.

R.T. — Há pouco falámos, que já tinhamos identificadas as carências da equipa de futebol, os lugares que consideramos serem necessários preencher, e que está a ser feita uma lista de jogadores para cada lugar para depois podermos tomar as opções que garantam maior rentabilidade desportiva e económica para o clube.

EXP. — Luís Duque deixou-lhe alguma pasta com as directrizes do caminho a seguir?

R.T. — Conversei várias vezes com ele sobre isso, mas como devem calcular é nesta altura que as coisas se começam a definir. Mas é evidente que sempre falámos e tenho a certeza que ele partilha desta necessidade de reduzir o plantel e de tentarmos diminuir os custos com o pessoal.

EXP. — Vai estabelecer algum tecto do estilo: só compramos até 2/3 milhões de contos?

R.T. — Isso com certeza que não.

EXP. — Mas uma política de contratações agressiva...

R.T. — Agressiva em termos de qualidade não é em termos de custos. Não é líquido que os jogadores dos três milhões resolvam todas as situações. Tentaremos contratar jogadores que «peguem de estaca» na equipa.

EXP. — Os seus antecessores já diziam o mesmo...

R.T. — Não digo que não. Mas alguma vez posso deixar de dizer isso? Posso dizer que não não quero contratar jogadores que sirvam? Seguramente não virão ao kilo. O Sporting tem um plantel que lhe permite fazer poucas aquisições este ano. É um dos méritos do investimento da época passada.

EXP. — Os reforços serão escolhidos já com vista à Liga dos Campeões, ou espera para ver e depois fará um ajuste?

R.T. — Não haverá nenhum ajuste. Formaremos um plantel que servirá para a Liga dos Campeões, Taça UEFA, campeonato nacional, etc. Mas temos fundadas esperanças de ir à Liga dos Campeões.

EXP. — Com o passivo que a SAD tem, como conseguirá montar uma equipa para a Europa, com salários que torram todo o dinheiro que entra?

R.T. — Os défices estruturais da SAD têm sido corrigidos ou compensados com a venda de jogadores. É considerado nos nossos balanços como resultados extraordinários, mas nesta fase da vida das SAD, tem que ser quase como uma actividade decorrente da empresa. Daí a importância da Liga dos Campeões. Se tiver uma receita acrescida de dois milhões de contos tenho maior facilidade de pagar os custos...

EXP. — A solução, portanto, é vender jogadores, resta saber quais.

R.T. — Onde está o drama de se ter que vender jogadores ou ceder o passe de jogadores? O Ajax viveu durante muitos anos assim, os grandes clubes europeus também vendem e compram passes de jogadores.

EXP. — Mas compram dos bons e mantêm-nos se querem ganhar as provas...

R.T. — Está bem mas o Barcelona, por exemplo, vendeu os seus direitos televisivos de cinco anos por 75 milhões de contos! Se entrarmos nesse tipo de comparação... claro que se pode segurar os melhores jogadores.

EXP. — Pedro Barbosa, Rui Jorge, Nelson, renovam? R.T. — A nossa esperança é que sim.

EXP. — E o Beto sempre vai ser vendido?

R.T. — Não temos nenhuma proposta, por enquanto, nem tivemos.

EXP. — Qual é a sua opinião sobre as novas regras das transferências?

R.T. — Em relação a um cenário que esteve no horizonte face às posições iniciais da UE, o resultado final da negociação entre a «Task Force» da FIFA, UEFA e da UE, é positivo, pois não compromete em termos absolutos os clubes que investem na formação. Embora estejam por definir exactamente a fórmula de cálculo final das indemnizações aos clubes formadores e das indemnizações depois dos períodos de protecção dos contratos, o que posso dizer é que o saldo é positivo.

EXP. — Dos jogadores que tem emprestados pensa recuperar alguns deles?

R.T. — Podem ter a certeza que se pudermos preencher um dos tais lugares diagnosticados com alguns desses jogadores o faremos. Essa é uma questão que cumpre exclusivamente ao departamento técnico que os acompanha e avalia no período em que estão emprestados.

EXP. — A lista de dispensas já está definida?

R.T. — Há jogadores com quem estabelecemos prioridades de renovação e há outros que vão ter de aguardar um pouco mais, até sabermos se o mercado nos compensa no sentido de melhorarmos a qualidade da equipa com a aquisição. Agora que vão ter de sair jogadores, claro que vão ter de sair.

EXP. — Pensa também encetar uma nova política de salários?

R.T. — Não necessariamente.

EXP. — Pinto da Costa afirmou que o FC Porto não paga mais de 140 mil contos/ano a nenhum jogador, quando no Sporting há vários a ganhar muito acima...

R.T. — Pois, mas vocês têm uma forma rápida de constatar o que são os salários de uma e outra equipa, se há diferenças abissais ou não. É fácil. Vão à rubrica dos custos com o pessoal, às contas das SAD’s, que são cotadas em bolsa, e vejam quais são os valores que estão num lado e no outro.

EXP. – Está a duvidar de Pinto da Costa?

R.T. – Se o senhor Pinto da Costa diz que só paga 140 mil contos/ano e que não há nenhum jogador que ganhe mais do que isso, não tenho nenhuma razão para duvidar dele... O que me preocupa fundamentalmente, é ter um plantel com 23/24 jogadores, para dessa forma reduzir os custos com o pessoal. E acho que vamos consegui-lo.

EXP. — Não acha que o Sporting está a pagar salários muito elevados para a realidade portuguesa e para os objectivos que o clube tem atingido?

R.T. — Vamos colocar dois parâmetros. Primeiro, acho que neste momento é possível reduzir os custos com o pessoal como é possível reduzir o número de jogadores. Mas não vamos esquecer uma coisa importante, a equipa tem que manter um nível competitivo elevado, porque não podemos ser acusados de duas situações diferentes. Uma é que os clubes portugueses cada vez se afundam mais na Europa e não conseguem resultados; e, outra, que os salários são muito altos. Estamos a competir com clubes com orçamentos incomparavelmente mais elevados que o nosso. Portanto, se a SAD não quer entrar numa carência total de receitas, seja a nível de entrada na Liga dos Campeões seja a nível das receitas de bilheteira, seja a nível dos direitos televisivos, tudo isto está ligado com uma boa performance desportiva, e para ter uma boa performance desportiva tem que ter valores de orçamento de custos com os jogadores mínimos. Ou seja, não se pode vir dizer que as SAD‘s gastam muito dinheiro com os jogadores e ao mesmo tempo dizer que os clubes portugueses cada vez se afundam mais na Europa. As coisas estão ligadas.

EXP. — Como explica o sucesso do Boavista, que tem um orçamento muito inferior ao dos três grandes?

R.T. — Mas o Boavista que eu saiba ainda não teve mais sucesso do que o Sporting na Europa. Está a ter provavelmente uma boa política de contratações e formação de jogadores, mas agora depara-se com o mesmo problema que nós. O Sporting o ano passado foi campeão e este ano não teve sucesso na Europa, e é aqui que a questão se coloca. Como sabem, hoje em dia o que é crucial é a presença nas competições europeias, e afirmar-se como um clube minimamente competitivo nesta altura de mudança do teatro europeu em termos de clubes.

EXP. — O que lhe sugere a investigação do fisco às contas dos clubes?

R.T. — O Sporting foi várias vezes investigado. É uma sociedade cotada na bolsa, com as contas certificadas pelo seu revisor oficial, tem os impostos em dia e portanto não tem nada a temer com eventuais inspecções do fisco.

EXP. — Qual vai ser o futuro da equipa B? Não seria útil injectá-la com jogadores da A?

R.T. — Temos falado muito com os técnicos e estamos a reequacionar tudo o que vai ser a equipa B. Não se deve chegar a um extremo de qualquer jogador da equipa A poder ir para a equipa B, mas esta pode servir para manter ritmo competitivo nalguns jogadores. Não em «grandes doses», mas gradualmente e quando se sentir que há necessidade. Não está nada decidido, estamos a repensar.

EXP. — Pode é haver quem se sinta despromovido...

R.T. — O sentido nunca vai ser o de dizer «agora vais para a equipa B de castigo», e sim o de proporcionar aos jogadores que jogam menos, designadamente por virem de lesões, ou porque tiveram por alguma razão o ritmo competitivo interrompido, readquiri-lo, eventualmente a espaços, na equipa B. Mas as coisas ainda não estão definidas, pensa-se que poderá vir a ser uma hipótese.

EXP. — Quando é que arranca, de facto, o centro de formação?

R.T. — A mudança de todo o futebol de formação e do futebol profissional do Sporting para o centro de formação é uma operação logística de grande envergadura e tem que ser preparada com todo o cuidado. Não vamos precipitar a ida para Alcochete apesar das obras estarem bastante adiantadas. Penso que um prazo optimista seria Setembro/Outubro e vamos fazer os possíveis para estar lá nessas datas.

EXP. — Quem vai dirigi-lo?

R.T. — Ainda não posso revelar.

EXP. — A SAD o ano passado apresentou um prejuízo de 2,3 milhões de contos já atenuado com as vendas do Duscher e Vidigal.

R.T. — Sim, mas também agravado com o número de aquisições.

EXP. — Este ano como vai ser?

R.T. — Poderá não andar muito longe desses valores. De qualquer maneira a SAD este ano tem um plano de negócios em que pretende estabilizar os seus resultados e acabar com os resultados negativos num determinado período de tempo.

EXP. — Refere-se ao plano de Luís Duque, no qual prometia que teria lucros ao fim de três anos?

R.T. — Num cenário que consideramos prudente, pensamos que é possível dentro de três a quatro anos a SAD equilibrar as suas contas. O que me parece importante é que se neste momento tivesse custos com pessoal substancialmente inferiores com uma equipa de nível qualitativo mais baixo, agravava os resultados negativos sucessivos, porque não tinha presença na Liga dos Campeões, não tinha bilheteira nem receitas de merchandising.

EXP. — Enquanto vice-presidente de Luís Duque, que visão tinha da gestão dele?

R.T. — Tal como toda a restante administração da SAD, tínhamos uma posição necessariamente solidária.

EXP. — Acha que tudo o que ele fez foi bom, não errou em demasiadas compras?

R.T. — Querem perguntar-me compra a compra? É facílimo dizer à posteriori se foram boas ou más. Penso que ele fundamentou todas as aquisições que fez, tinha uma razão para as fazer e uma ideia de rentabilidade desportiva e económica para o clube. Agora se todos resultam ou não... perguntem ao Inter se a aquisição do Ronaldo resultou ou ao Real Madrid pelo Anelka.

EXP. — O Ronaldo foi por questões de saúde...

R.T. — E o Anelka?

EXP. — Nesse aspecto o Sporting também teve a sua boa dose: Kmet, Gimenez, Hannuch, etc., etc.

R.T. — Eles fazem parte do risco do negócio do futebol quando se contrata e que tem a ver com a adaptação, com o jogador poder baixar o seu rendimento, e que acontece em todos os clubes do mundo. O Inter gasta milhões e milhões todos os anos e não passa do meio da tabela no campeonato italiano. Nós vamos tentar ser melhores, porque queremos seguir o exemplo daqueles que têm êxito.

EXP. — Obviamente tem carta branca para agir.

R.T. — Carta branca de quem?

EXP. — Do presidente da SGPS, por exemplo...

R.T. — O presidente da SGPS tem dito várias vezes que o enquadramento da SAD é o enquadramento do plano de negócios, e é esse que vou respeitar.

EXP. — É pago pela SAD?

R.T. — Prefiro não responder.

EXP. — Para quando um aumento de capital?

R.T. — O aumento de capital está relacionado com a entrada de parceiros estratégicos na SGPS. Decorre o processo de negociação com os quatro já conhecidos, mas eventualmente podem vir a ser mais.

EXP. — Tem sofrido muitas pressões?

R.T. — Já têm surgido algumas. Normalmente têm sempre a ver com os jogadores e com a opinião que as pessoas têm deles. Mas estou muito convicto daquilo que penso e da estratégia desta administração, e portanto não vai ser fácil ceder a quaisquer pressões.

EXP. — Há quem diga que o Sporting está nas mãos de José Veiga...

R.T. — Não sei porquê. Aqui há tempos os jornais noticiavam que tínhamos uma grande guerra com o José Veiga; agora que estamos nas mãos dele. Esta administração não tem nem vai ter nenhuma relação especial com qualquer empresário. Ele representa alguns dos nossos jogadores e respeitamos a escolha deles.

EXP. — E também lhe pagam grossa factura...

R.T. — A FIFA estabelece 5% como valor indicativo das comissões a pagar aos empresários desportivos e é esse valor que o Sporting paga.

EXP. — Há ou não promiscuidade entre empresários e dirigentes?

R.T. — No Sporting não existe com certeza. Os empresários são tratados de igual forma. Se existe ou não, sei o que leio no jornal.

EXP. — Tem apreciado o trabalho de Manuel Fernandes?

R.T. – Tenho.

EXP. — Está disposto a apostar nele até ao fim sejam quais forem os resultados?

R.T. — Numa estrutura como a da SAD, que depende dos resultados desportivos, um dos postos mais voláteis é o do treinador. Agora que o treinador principal nos satisfaz plenamente neste momento, que tem a personalidade que consideramos adequada ao lugar e que contamos com ele para cumprir o contrato, isso é indiscutível.

EXP. — Então ele arrisca que lhe aconteça o mesmo que a Inácio.

R.T. — Não sei se corre esse risco na minha administração... como explicar... segundo o Luís Duque, que tinha uma relação mais directa com o Inácio, de quem aliás, sou grande amigo, havia o risco de se degradar a posição até pessoal do Inácio em termos de Sporting e por isso eles entenderam que era a altura dele sair.

EXP. — O fantasma de Mourinho desapareceu?

R.T. — Absolutamente.

EXP. — Uma equipa virada para a Europa requer bom preparo físico. Regressa Fidalgo Antunes ou entra Angel Vilda?

R.T. — O Angel Vilda não é hipótese, nem tenho conhecimento que tenha sido equacionada nem vou equacioná-la. A única coisa que posso dizer em relação ao professor Fidalgo Antunes, é que é uma pessoa que tem óptima imagem de competência e seriedade nesta casa, mas neste momento não temos nenhum contrato com ele.

EXP. — Costuma ir ao balneário?

R.T. — Costumo, e já dei provas que não vou lá só nas vitórias.

EXP. — Já foi surpreendido com alguma reacção negativa dos jogadores?

R.T. — Não. O grupo de trabalho é muito solidário e amigo e se o Sporting tem alguma grande mais valia, é o balneário.

EXP. — O Sporting sempre vai aderir ao G-14?

R.T. — O G-14 tem um «manager commitment», que recebe as candidaturas, e neste momento está a preparar uma estratégia de alargamento, só em função dela é que se poderá ver quem são os futuros membros. O G-14 não é mais do que um agrupamento de clubes, que defende os seus interesses junto da UEFA, mas não vejo que dali venha a solução de nenhum problema do Sporting, Benfica ou FC Porto. Aliás, o FC Porto está lá desde o início e não resolveu nenhum problema por causa disso.

EXP. — Tem tido muitas noites de insónia?

R.T. — Algumas.

EXP. — Há algum clube no qual se inspire para gerir a própria SAD?

R.T. — Há vários modelos de gestão interessantes de clubes europeus. Obviamente o Manchester United, e penso que os clubes ingleses estão bastante desenvolvidos em termos de SAD, como por exemplo o Arsenal também. Mas o clube que tem a melhor gestão é sem dúvida o M. United. Tem as receitas, é ganhador, tem uma cultura de vitória, tem uns sócios completamente entregues à equipa, tem um merchandising fabuloso, agora, temos de ter em atenção que o Sporting tem 3 milhões de simpatizantes e o M. United terá 30 milhões pelo Mundo inteiro.

EXP. — É favorável ao intercâmbio de jogadores entre os grandes?

R.T. — À partida não tenho nada contra. Aliás, o Sporting já fez isso com o FC Porto. Defendo é que essas coisas se façam às claras, através de um diálogo franco entre os clubes. Mas neste momento não estou preocupado porque não tenho nenhum negócio em vista.

EXP. — Em relação às arbitragens, defende o sorteio ou nomeações?

R.T. — O Sporting fez parte da comissão de redacção que saiu das reuniões do G-18. E tendo feito parte dela, não pode deixar de estar solidário com as posições que se tomaram. Desde o tempo de José Roquette defendemos o caminho para a profissionalização dos árbitros.

EXP. — O Sporting já erradicou o fantasma do sistema?

R.T. — O Sporting está a trabalhar para mudar o sistema no seio do G-18. Salvo erro até o dr João Loureiro já disse que ia ser campeão contra o sistema... parece haver alguma unanimidade de que o sistema existe.

EXP. - Não sendo uma pessoa que estivesse ligada ao dirigismo desportivo o que é que o surpreendeu mais?

R.T. — Não tenho a opinião dos dirigentes desportivos que as pessoas normalmente têm, que o dirigente desportivo é por natureza alguém que está ligado ao sub-mundo e necessariamente ligado aos males do futebol português. Penso que é o espelho da sociedade portuguesa: tanto existem bons como maus em todo o lado.

EXP. — Que radiografia faz do futebol português?

R.T. — O problema principal reside na circunstância de não ser uma das maiores Ligas europeias. A saída que o futebol português tem é tornar-se mais competitivo a nível europeu e para isso acontecer terá que investir na formação e em equipas mais competitivas. Cada vez mais ganham mais vezes os clubes das grandes ligas e cada vez mais ganham menos vezes os clubes das pequenas ligas. Estamos a criar um fosso.

EXP. — Dê uma sugestão para melhorar o futebol português.

R.T. — Penso que há duas questões essenciais. A primeira é que a concorrência entre os clubes seja leal, e não digo mais nada. A segunda é que se melhore no capítulo da arbitragem porque o Sporting nos últimos anos foi muito castigado. Também julgo que menos clubes na I Liga tornariam o campeonato mais competitivo.

MIGUEL RIBEIRO TELLES, presidente da SAD do Sporting

«Temos de ser agressivos na políti ca de contratações»

Fotografias de João Carlos Santos «Num cenário que consideramos prudente, pensamos que é possível dentro de três a quatro anos a SAD equilibrar as contas»

O DESTINO do futebol do Sporting está nas mãos de Miguel Ribeiro Telles. Aos 44 anos, este advogado de profissão, casado e pai de três filhos, aceitou o repto de substituir o seu amigo pessoal Luís Duque, na presidência da SAD. Uma tarefa que confessa desempenhar em «part-time», mas com total rigor e objectivos bem traçados.

EXPRESSO — A princípio estava pouco receptivo em aceitar este cargo. O que o fez mudar?

RIBEIRO TELLES — É uma questão que tem a ver com a minha vida profissional. Fomos vendo em que medida é que era possível eu assumir a presidência da SAD e isso concretizou-se através da vinda de um administrador delegado, o dr. José Bettencourt, que estará em full-time ligado não só à SAD mas também às outras empresas do grupo Sporting.

EXP. — Praticou algum desporto?

R.T. — Muito novo joguei râguebi numa equipa de juvenis da Agronomia. Depois joguei muitos anos numa equipa do campeonato do CIF, chamada Pé Leve. Jogava contra outras de antigos futebolistas. Aliás, orgulho-me de dizer que uma vez joguei contra uma equipa onde jogavam o José Augusto, Eusébio, Torres e Simões, todo o ataque de Portugal em 1966. Como adversário também tinha o Dr Manuel Vilarinho que jogava noutra dessas equipas.

EXP. — Como é que surge a ligação ao Sporting?

R.T. — Sou sócio do Sporting há mais de 25 anos. Tenho o número 6 mil e tal. Desde que nasci que me habituei a ser do Sporting por razões familiares porque em minha casa toda a gente era do Sporting. Quanto a este projecto, fui convidado pelo Dr José Roquette e por Luís Duque em Novembro de 1999 e fiquei ligado provavelmente por uma amizade que tinha com o Luís Duque que se consumou com o convite dele para vir para a administração da SAD.

EXP — O que podem os sportinguistas esperar da sua gestão?

R.T. — Sobretudo rigor. Esta empresa tem uma missão com duas vertentes fundamentais: detectar talentos e formá-los, por isso tem um centro de formação; e, ter uma equipa altamente competitiva, e para isso temos que ser agressivos na política de contratações. É esta a ambição da nossa empresa e é esse o meu objectivo dentro dela.

EXP. — Essa agressividade na política de contratações passa por fazer já este ano um corte radical com o passado?

R.T. — O que é que chama um corte radical?

EXP. — Deixar de comprar quantidade e investir mais na qualidade...

R.T. — Há uma questão crucial. Para termos uma formação que possa ser efectivamente útil ao Sporting, é preciso haver uma estrutura que permita a entrada de novos talentos. Criar uma equipa através só da formação não dá resultado. A formação é bem sucedida se os formandos tiverem a recebê-los uma equipa experiente e disciplinada que os apoie.

EXP. — Afinal que jogadores vão adquirir?

R.T. — O diagnóstico está feito e temos várias possibilidades de escolha neste momento. Estão a ser analisados vários jogadores para as poucas posições em que achamos que a equipa precisa ser reforçada.

EXP. — Já tem nomes que possa revelar?

R.T. — Não.

EXP. — A aposta será feita no mercado interno ou externo? R.T. — Vamos apostar nos dois. Agora há o chavão de se dizer que são portugueses e comunitários, vamos ver.

EXP. — Tencionam continuar na senda dos argentinos?

R.T. — A senda dos argentinos não é má. Tivemos o Duscher, tivemos o Quiroga, um excelente jogador que pode voltar no fim da época, e temos grandes esperanças no Tello. Portanto, não excluímos o mercado argentino.

EXP. — A propósito do Tello, faz sentido um clube pagar cerca de 1,5 milhões de contos por um jogador que não é titular?

R.T. — O Rodrigo Tello tem 21 anos, é titular indiscutível da selecção do Chile, onde foi campeão e considerado o melhor da época. Antes de fazer o investimento tivemos o cuidado de colher profunda informação sobre quem ele era e quais as suas margens de progressão. Isso junto à circunstância de estar carenciado de um jogador no lado esquerdo, levou a que se fizesse a contratação.

EXP. — Antes do Pauleta ir para Bordéus, falou-se que o Sporting estava interessado, mas o negócio terá abortado porque ele custava cerca de 1,3 milhões de contos. Passado um tempo veio o Tello, por bastante mais...

R.T. — Não tenho conhecimento que o Pauleta estivesse à venda nem sei qual é o seu nível salarial. Não se pode dizer que vamos comprar o Pauleta porque custa o mesmo que Tello e não temos em conta o nível salarial de cada um. Tenho a certeza que o salário dele é mais elevado do que o do Tello.

R.T. — Há pouco falámos, que já tinhamos identificadas as carências da equipa de futebol, os lugares que consideramos serem necessários preencher, e que está a ser feita uma lista de jogadores para cada lugar para depois podermos tomar as opções que garantam maior rentabilidade desportiva e económica para o clube.

EXP. — Luís Duque deixou-lhe alguma pasta com as directrizes do caminho a seguir?

R.T. — Conversei várias vezes com ele sobre isso, mas como devem calcular é nesta altura que as coisas se começam a definir. Mas é evidente que sempre falámos e tenho a certeza que ele partilha desta necessidade de reduzir o plantel e de tentarmos diminuir os custos com o pessoal.

EXP. — Vai estabelecer algum tecto do estilo: só compramos até 2/3 milhões de contos?

R.T. — Isso com certeza que não.

EXP. — Mas uma política de contratações agressiva...

R.T. — Agressiva em termos de qualidade não é em termos de custos. Não é líquido que os jogadores dos três milhões resolvam todas as situações. Tentaremos contratar jogadores que «peguem de estaca» na equipa.

EXP. — Os seus antecessores já diziam o mesmo...

R.T. — Não digo que não. Mas alguma vez posso deixar de dizer isso? Posso dizer que não não quero contratar jogadores que sirvam? Seguramente não virão ao kilo. O Sporting tem um plantel que lhe permite fazer poucas aquisições este ano. É um dos méritos do investimento da época passada.

EXP. — Os reforços serão escolhidos já com vista à Liga dos Campeões, ou espera para ver e depois fará um ajuste?

R.T. — Não haverá nenhum ajuste. Formaremos um plantel que servirá para a Liga dos Campeões, Taça UEFA, campeonato nacional, etc. Mas temos fundadas esperanças de ir à Liga dos Campeões.

EXP. — Com o passivo que a SAD tem, como conseguirá montar uma equipa para a Europa, com salários que torram todo o dinheiro que entra?

R.T. — Os défices estruturais da SAD têm sido corrigidos ou compensados com a venda de jogadores. É considerado nos nossos balanços como resultados extraordinários, mas nesta fase da vida das SAD, tem que ser quase como uma actividade decorrente da empresa. Daí a importância da Liga dos Campeões. Se tiver uma receita acrescida de dois milhões de contos tenho maior facilidade de pagar os custos...

EXP. — A solução, portanto, é vender jogadores, resta saber quais.

R.T. — Onde está o drama de se ter que vender jogadores ou ceder o passe de jogadores? O Ajax viveu durante muitos anos assim, os grandes clubes europeus também vendem e compram passes de jogadores.

EXP. — Mas compram dos bons e mantêm-nos se querem ganhar as provas...

R.T. — Está bem mas o Barcelona, por exemplo, vendeu os seus direitos televisivos de cinco anos por 75 milhões de contos! Se entrarmos nesse tipo de comparação... claro que se pode segurar os melhores jogadores.

EXP. — Pedro Barbosa, Rui Jorge, Nelson, renovam? R.T. — A nossa esperança é que sim.

EXP. — E o Beto sempre vai ser vendido?

R.T. — Não temos nenhuma proposta, por enquanto, nem tivemos.

EXP. — Qual é a sua opinião sobre as novas regras das transferências?

R.T. — Em relação a um cenário que esteve no horizonte face às posições iniciais da UE, o resultado final da negociação entre a «Task Force» da FIFA, UEFA e da UE, é positivo, pois não compromete em termos absolutos os clubes que investem na formação. Embora estejam por definir exactamente a fórmula de cálculo final das indemnizações aos clubes formadores e das indemnizações depois dos períodos de protecção dos contratos, o que posso dizer é que o saldo é positivo.

EXP. — Dos jogadores que tem emprestados pensa recuperar alguns deles?

R.T. — Podem ter a certeza que se pudermos preencher um dos tais lugares diagnosticados com alguns desses jogadores o faremos. Essa é uma questão que cumpre exclusivamente ao departamento técnico que os acompanha e avalia no período em que estão emprestados.

EXP. — A lista de dispensas já está definida?

R.T. — Há jogadores com quem estabelecemos prioridades de renovação e há outros que vão ter de aguardar um pouco mais, até sabermos se o mercado nos compensa no sentido de melhorarmos a qualidade da equipa com a aquisição. Agora que vão ter de sair jogadores, claro que vão ter de sair.

EXP. — Pensa também encetar uma nova política de salários?

R.T. — Não necessariamente.

EXP. — Pinto da Costa afirmou que o FC Porto não paga mais de 140 mil contos/ano a nenhum jogador, quando no Sporting há vários a ganhar muito acima...

R.T. — Pois, mas vocês têm uma forma rápida de constatar o que são os salários de uma e outra equipa, se há diferenças abissais ou não. É fácil. Vão à rubrica dos custos com o pessoal, às contas das SAD’s, que são cotadas em bolsa, e vejam quais são os valores que estão num lado e no outro.

EXP. – Está a duvidar de Pinto da Costa?

R.T. – Se o senhor Pinto da Costa diz que só paga 140 mil contos/ano e que não há nenhum jogador que ganhe mais do que isso, não tenho nenhuma razão para duvidar dele... O que me preocupa fundamentalmente, é ter um plantel com 23/24 jogadores, para dessa forma reduzir os custos com o pessoal. E acho que vamos consegui-lo.

EXP. — Não acha que o Sporting está a pagar salários muito elevados para a realidade portuguesa e para os objectivos que o clube tem atingido?

R.T. — Vamos colocar dois parâmetros. Primeiro, acho que neste momento é possível reduzir os custos com o pessoal como é possível reduzir o número de jogadores. Mas não vamos esquecer uma coisa importante, a equipa tem que manter um nível competitivo elevado, porque não podemos ser acusados de duas situações diferentes. Uma é que os clubes portugueses cada vez se afundam mais na Europa e não conseguem resultados; e, outra, que os salários são muito altos. Estamos a competir com clubes com orçamentos incomparavelmente mais elevados que o nosso. Portanto, se a SAD não quer entrar numa carência total de receitas, seja a nível de entrada na Liga dos Campeões seja a nível das receitas de bilheteira, seja a nível dos direitos televisivos, tudo isto está ligado com uma boa performance desportiva, e para ter uma boa performance desportiva tem que ter valores de orçamento de custos com os jogadores mínimos. Ou seja, não se pode vir dizer que as SAD‘s gastam muito dinheiro com os jogadores e ao mesmo tempo dizer que os clubes portugueses cada vez se afundam mais na Europa. As coisas estão ligadas.

EXP. — Como explica o sucesso do Boavista, que tem um orçamento muito inferior ao dos três grandes?

R.T. — Mas o Boavista que eu saiba ainda não teve mais sucesso do que o Sporting na Europa. Está a ter provavelmente uma boa política de contratações e formação de jogadores, mas agora depara-se com o mesmo problema que nós. O Sporting o ano passado foi campeão e este ano não teve sucesso na Europa, e é aqui que a questão se coloca. Como sabem, hoje em dia o que é crucial é a presença nas competições europeias, e afirmar-se como um clube minimamente competitivo nesta altura de mudança do teatro europeu em termos de clubes.

EXP. — O que lhe sugere a investigação do fisco às contas dos clubes?

R.T. — O Sporting foi várias vezes investigado. É uma sociedade cotada na bolsa, com as contas certificadas pelo seu revisor oficial, tem os impostos em dia e portanto não tem nada a temer com eventuais inspecções do fisco.

EXP. — Qual vai ser o futuro da equipa B? Não seria útil injectá-la com jogadores da A?

R.T. — Temos falado muito com os técnicos e estamos a reequacionar tudo o que vai ser a equipa B. Não se deve chegar a um extremo de qualquer jogador da equipa A poder ir para a equipa B, mas esta pode servir para manter ritmo competitivo nalguns jogadores. Não em «grandes doses», mas gradualmente e quando se sentir que há necessidade. Não está nada decidido, estamos a repensar.

EXP. — Pode é haver quem se sinta despromovido...

R.T. — O sentido nunca vai ser o de dizer «agora vais para a equipa B de castigo», e sim o de proporcionar aos jogadores que jogam menos, designadamente por virem de lesões, ou porque tiveram por alguma razão o ritmo competitivo interrompido, readquiri-lo, eventualmente a espaços, na equipa B. Mas as coisas ainda não estão definidas, pensa-se que poderá vir a ser uma hipótese.

EXP. — Quando é que arranca, de facto, o centro de formação?

R.T. — A mudança de todo o futebol de formação e do futebol profissional do Sporting para o centro de formação é uma operação logística de grande envergadura e tem que ser preparada com todo o cuidado. Não vamos precipitar a ida para Alcochete apesar das obras estarem bastante adiantadas. Penso que um prazo optimista seria Setembro/Outubro e vamos fazer os possíveis para estar lá nessas datas.

EXP. — Quem vai dirigi-lo?

R.T. — Ainda não posso revelar.

EXP. — A SAD o ano passado apresentou um prejuízo de 2,3 milhões de contos já atenuado com as vendas do Duscher e Vidigal.

R.T. — Sim, mas também agravado com o número de aquisições.

EXP. — Este ano como vai ser?

R.T. — Poderá não andar muito longe desses valores. De qualquer maneira a SAD este ano tem um plano de negócios em que pretende estabilizar os seus resultados e acabar com os resultados negativos num determinado período de tempo.

EXP. — Refere-se ao plano de Luís Duque, no qual prometia que teria lucros ao fim de três anos?

R.T. — Num cenário que consideramos prudente, pensamos que é possível dentro de três a quatro anos a SAD equilibrar as suas contas. O que me parece importante é que se neste momento tivesse custos com pessoal substancialmente inferiores com uma equipa de nível qualitativo mais baixo, agravava os resultados negativos sucessivos, porque não tinha presença na Liga dos Campeões, não tinha bilheteira nem receitas de merchandising.

EXP. — Enquanto vice-presidente de Luís Duque, que visão tinha da gestão dele?

R.T. — Tal como toda a restante administração da SAD, tínhamos uma posição necessariamente solidária.

EXP. — Acha que tudo o que ele fez foi bom, não errou em demasiadas compras?

R.T. — Querem perguntar-me compra a compra? É facílimo dizer à posteriori se foram boas ou más. Penso que ele fundamentou todas as aquisições que fez, tinha uma razão para as fazer e uma ideia de rentabilidade desportiva e económica para o clube. Agora se todos resultam ou não... perguntem ao Inter se a aquisição do Ronaldo resultou ou ao Real Madrid pelo Anelka.

EXP. — O Ronaldo foi por questões de saúde...

R.T. — E o Anelka?

EXP. — Nesse aspecto o Sporting também teve a sua boa dose: Kmet, Gimenez, Hannuch, etc., etc.

R.T. — Eles fazem parte do risco do negócio do futebol quando se contrata e que tem a ver com a adaptação, com o jogador poder baixar o seu rendimento, e que acontece em todos os clubes do mundo. O Inter gasta milhões e milhões todos os anos e não passa do meio da tabela no campeonato italiano. Nós vamos tentar ser melhores, porque queremos seguir o exemplo daqueles que têm êxito.

EXP. — Obviamente tem carta branca para agir.

R.T. — Carta branca de quem?

EXP. — Do presidente da SGPS, por exemplo...

R.T. — O presidente da SGPS tem dito várias vezes que o enquadramento da SAD é o enquadramento do plano de negócios, e é esse que vou respeitar.

EXP. — É pago pela SAD?

R.T. — Prefiro não responder.

EXP. — Para quando um aumento de capital?

R.T. — O aumento de capital está relacionado com a entrada de parceiros estratégicos na SGPS. Decorre o processo de negociação com os quatro já conhecidos, mas eventualmente podem vir a ser mais.

EXP. — Tem sofrido muitas pressões?

R.T. — Já têm surgido algumas. Normalmente têm sempre a ver com os jogadores e com a opinião que as pessoas têm deles. Mas estou muito convicto daquilo que penso e da estratégia desta administração, e portanto não vai ser fácil ceder a quaisquer pressões.

EXP. — Há quem diga que o Sporting está nas mãos de José Veiga...

R.T. — Não sei porquê. Aqui há tempos os jornais noticiavam que tínhamos uma grande guerra com o José Veiga; agora que estamos nas mãos dele. Esta administração não tem nem vai ter nenhuma relação especial com qualquer empresário. Ele representa alguns dos nossos jogadores e respeitamos a escolha deles.

EXP. — E também lhe pagam grossa factura...

R.T. — A FIFA estabelece 5% como valor indicativo das comissões a pagar aos empresários desportivos e é esse valor que o Sporting paga.

EXP. — Há ou não promiscuidade entre empresários e dirigentes?

R.T. — No Sporting não existe com certeza. Os empresários são tratados de igual forma. Se existe ou não, sei o que leio no jornal.

EXP. — Tem apreciado o trabalho de Manuel Fernandes?

R.T. – Tenho.

EXP. — Está disposto a apostar nele até ao fim sejam quais forem os resultados?

R.T. — Numa estrutura como a da SAD, que depende dos resultados desportivos, um dos postos mais voláteis é o do treinador. Agora que o treinador principal nos satisfaz plenamente neste momento, que tem a personalidade que consideramos adequada ao lugar e que contamos com ele para cumprir o contrato, isso é indiscutível.

EXP. — Então ele arrisca que lhe aconteça o mesmo que a Inácio.

R.T. — Não sei se corre esse risco na minha administração... como explicar... segundo o Luís Duque, que tinha uma relação mais directa com o Inácio, de quem aliás, sou grande amigo, havia o risco de se degradar a posição até pessoal do Inácio em termos de Sporting e por isso eles entenderam que era a altura dele sair.

EXP. — O fantasma de Mourinho desapareceu?

R.T. — Absolutamente.

EXP. — Uma equipa virada para a Europa requer bom preparo físico. Regressa Fidalgo Antunes ou entra Angel Vilda?

R.T. — O Angel Vilda não é hipótese, nem tenho conhecimento que tenha sido equacionada nem vou equacioná-la. A única coisa que posso dizer em relação ao professor Fidalgo Antunes, é que é uma pessoa que tem óptima imagem de competência e seriedade nesta casa, mas neste momento não temos nenhum contrato com ele.

EXP. — Costuma ir ao balneário?

R.T. — Costumo, e já dei provas que não vou lá só nas vitórias.

EXP. — Já foi surpreendido com alguma reacção negativa dos jogadores?

R.T. — Não. O grupo de trabalho é muito solidário e amigo e se o Sporting tem alguma grande mais valia, é o balneário.

EXP. — O Sporting sempre vai aderir ao G-14?

R.T. — O G-14 tem um «manager commitment», que recebe as candidaturas, e neste momento está a preparar uma estratégia de alargamento, só em função dela é que se poderá ver quem são os futuros membros. O G-14 não é mais do que um agrupamento de clubes, que defende os seus interesses junto da UEFA, mas não vejo que dali venha a solução de nenhum problema do Sporting, Benfica ou FC Porto. Aliás, o FC Porto está lá desde o início e não resolveu nenhum problema por causa disso.

EXP. — Tem tido muitas noites de insónia?

R.T. — Algumas.

EXP. — Há algum clube no qual se inspire para gerir a própria SAD?

R.T. — Há vários modelos de gestão interessantes de clubes europeus. Obviamente o Manchester United, e penso que os clubes ingleses estão bastante desenvolvidos em termos de SAD, como por exemplo o Arsenal também. Mas o clube que tem a melhor gestão é sem dúvida o M. United. Tem as receitas, é ganhador, tem uma cultura de vitória, tem uns sócios completamente entregues à equipa, tem um merchandising fabuloso, agora, temos de ter em atenção que o Sporting tem 3 milhões de simpatizantes e o M. United terá 30 milhões pelo Mundo inteiro.

EXP. — É favorável ao intercâmbio de jogadores entre os grandes?

R.T. — À partida não tenho nada contra. Aliás, o Sporting já fez isso com o FC Porto. Defendo é que essas coisas se façam às claras, através de um diálogo franco entre os clubes. Mas neste momento não estou preocupado porque não tenho nenhum negócio em vista.

EXP. — Em relação às arbitragens, defende o sorteio ou nomeações?

R.T. — O Sporting fez parte da comissão de redacção que saiu das reuniões do G-18. E tendo feito parte dela, não pode deixar de estar solidário com as posições que se tomaram. Desde o tempo de José Roquette defendemos o caminho para a profissionalização dos árbitros.

EXP. — O Sporting já erradicou o fantasma do sistema?

R.T. — O Sporting está a trabalhar para mudar o sistema no seio do G-18. Salvo erro até o dr João Loureiro já disse que ia ser campeão contra o sistema... parece haver alguma unanimidade de que o sistema existe.

EXP. - Não sendo uma pessoa que estivesse ligada ao dirigismo desportivo o que é que o surpreendeu mais?

R.T. — Não tenho a opinião dos dirigentes desportivos que as pessoas normalmente têm, que o dirigente desportivo é por natureza alguém que está ligado ao sub-mundo e necessariamente ligado aos males do futebol português. Penso que é o espelho da sociedade portuguesa: tanto existem bons como maus em todo o lado.

EXP. — Que radiografia faz do futebol português?

R.T. — O problema principal reside na circunstância de não ser uma das maiores Ligas europeias. A saída que o futebol português tem é tornar-se mais competitivo a nível europeu e para isso acontecer terá que investir na formação e em equipas mais competitivas. Cada vez mais ganham mais vezes os clubes das grandes ligas e cada vez mais ganham menos vezes os clubes das pequenas ligas. Estamos a criar um fosso.

EXP. — Dê uma sugestão para melhorar o futebol português.

R.T. — Penso que há duas questões essenciais. A primeira é que a concorrência entre os clubes seja leal, e não digo mais nada. A segunda é que se melhore no capítulo da arbitragem porque o Sporting nos últimos anos foi muito castigado. Também julgo que menos clubes na I Liga tornariam o campeonato mais competitivo.

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