Governo na expectativa do desfecho do caso de Valentim Loureiro

31-05-2004
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Governo na Expectativa do Desfecho do Caso de Valentim Loureiro

Por HELENA PEREIRA

Sexta-feira, 23 de Abril de 2004 O Governo está na expectativa do desfecho do caso de Valentim Loureiro. Sem terem informações sobre o desenrolar do processo, membros do Governo ontem contactados pelo PÚBLICO mantinham a sensação de incomodidade que a detenção de dois dirigentes do PSD, Valentim Loureiro e José Oliveira, provocou junto do partido no poder. O primeiro-ministro Durão Barroso recusou ontem comentar a notícia do "Diário de Notícias", segundo a qual, alegadamente, Valentim Loureiro intercedeu junto do Governo a favor de um construtor civil. O porta-voz do PSD, Pedro Duarte, veio ontem manifestar solidariedade para com Valentim Loureiro e esse foi o único comentário público dos sociais-democratas. A ordem no PSD é o silêncio, mas os sociais-democratas estão preocupados com o efeito que o processo poderá vir a ter na opinião pública, uma vez que irá decorrer em plena campanha para as europeias. "Ninguém faz ideia do que efectivamente está em causa", disse ao PÚBLICO fonte partidária. Se Valentim Loureiro ficar detido, isso terá repercussões imediatas a nível da autarquia a que preside e nos outros cargos que ocupa, na empresa do Metro do Porto e na Junta Metropolitana. Um dirigente do PSD lembrou, aliás, que se o PS se comportar em relação a Loureiro como o seu partido (a distrital do Porto liderada por Marco António) fez com Fátima Felgueiras, a guerra será grande com a possibilidade de se estar a discutir a realização de eleições antecipadas. "Vamos aguardar com serenidade", considera um membro do Governo. Actualmente, está em discussão na Assembleia da República, a lei de bases do desporto em que uma das medidas propostas é a limitação de mandatos dos dirigentes desportivos, à semelhança do que vai acontecer com os cargos políticos. No PSD, a grande maioria considera que não é possível decretar uma separação dos dois campos (política e futebol) e que a regra deve ser a da transparência e da fiscalização da justiça. Esta semana, comentando a actual situação, o eurodeputado do PSD Pacheco Pereira afirmou à Rádio Renascença que acredita que o processo de investigação possa vir a ajudar a tornar mais transparente as relações entre política e futebol. "Há excesso de promiscuidade entre o futebol e a política em Portugal e há excesso de futebol na vida pública em geral", disse Pacheco Pereira, defendendo uma "maior clarificação" entre dirigentes desportivos e dirigentes políticos. Políticos dirigentes desportivos Nas equipas da primeira divisão, há vários dirigentes que são também dirigentes políticos. No PSD, é o caso de Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Gouveia, que é membro suplente da direcção da Académica, o secretário de Estado-adjunto do ministro da Presidência, Feliciano Barreiras Duarte, é presidente da assembleia geral do União de Leiria, Luís Cirilo, deputado do PSD e ex-governador de Braga, é secretário-geral do Vitória de Guimarães, o presidente da Câmara de Penafiel, Alberto Santos, é também presidente do clube de Penafiel. Também há casos entre os socialistas. O deputado José Lello é presidente do Conselho Fiscal do Boavista, o presidente da Câmara de Vila do Conde, Mário Almeida, é dirigente do Rio Ave, tal como o autarca de Matosinhos tem ligações ao Leixões. O presidente do Sporting, Dias da Cunha, é dirigente nacional do PS. O presidente da Câmara de Lisboa, Pedro Santana Lopes, por sua vez, já foi presidente do Sporting Clube de Portugal. A nível local, há vários casos de dirigentes políticos e desportivos. Ainda recentemente, o autarca de Sintra, Fernando Seara, foi desafiado para se candidatar à presidência do Benfica, tendo alimentado por algumas semanas essa dúvida. Fernando Seara comentou ontem ao PÚBLICO a detenção de Valentim Loureiro e outras 15 pessoas, dizendo que "os mecanismos de justiça e investigação são fundamentais num Estado de direito". O autarca sustenta que as "relações entre futebol e política são iguais às relações entre política e economia ou entre outros sectores da vida social", defendendo que "os mecanismos de controle" existem para todas estas situações. Seara recusou-se a divulgar a avaliação que faz da corrupção do meio do futebol e admitiu que a dimensão que processos como este e o da Casa Pia assumem na comunicação social contribuem para criar nas pessoas "uma ideia de maior promiscuidade". O tema do futebol dominou a campanha para as legislativas de 2002, altura em que se soube que Durão Barroso tinha recebido o presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, numa altura em que o clube queria beneficiar de um perdão fiscal das dívidas ao Estado. O autarca do Porto, eleito pelo PSD, Rui Rio critica a promiscuidade entre política e futebol e envolve-se numa guerra com o presidente do FC Porto, levando à suspensão das obras do novo estádio. Dirigentes do PSD chegam a culpar Rio pelo facto do PSD não ter conseguido chegar mais perto da maioria absoluta nessas eleições. Já quando Durão Barroso é primeiro-ministro, rebenta outra história: o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Vasco Valdez, tinha sido, antes de entrar para o Governo, advogado do Benfica e nessa qualidade teria precisamente tentado resolver as dívidas acumuladas ao fisco e à segurança social do clube. A ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, entretanto, aceita acções do Benfica SAD como penhora pelas dívidas e é chamada à Assembleia da República para dar explicações sobre essa situação. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Governo na expectativa do desfecho do caso de Valentim Loureiro

Valentim terá influenciado adjudicação de obras do Governo

O que diz a lei

Construtor referenciado pelo MP edificou prédios do Boavista

O caso hora a hora

Os arguidos

Suspensão de funções de Valentim pode levar a eleições intercalares na Liga

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Por HELENA PEREIRA

Sexta-feira, 23 de Abril de 2004 O Governo está na expectativa do desfecho do caso de Valentim Loureiro. Sem terem informações sobre o desenrolar do processo, membros do Governo ontem contactados pelo PÚBLICO mantinham a sensação de incomodidade que a detenção de dois dirigentes do PSD, Valentim Loureiro e José Oliveira, provocou junto do partido no poder. O primeiro-ministro Durão Barroso recusou ontem comentar a notícia do "Diário de Notícias", segundo a qual, alegadamente, Valentim Loureiro intercedeu junto do Governo a favor de um construtor civil. O porta-voz do PSD, Pedro Duarte, veio ontem manifestar solidariedade para com Valentim Loureiro e esse foi o único comentário público dos sociais-democratas. A ordem no PSD é o silêncio, mas os sociais-democratas estão preocupados com o efeito que o processo poderá vir a ter na opinião pública, uma vez que irá decorrer em plena campanha para as europeias. "Ninguém faz ideia do que efectivamente está em causa", disse ao PÚBLICO fonte partidária. Se Valentim Loureiro ficar detido, isso terá repercussões imediatas a nível da autarquia a que preside e nos outros cargos que ocupa, na empresa do Metro do Porto e na Junta Metropolitana. Um dirigente do PSD lembrou, aliás, que se o PS se comportar em relação a Loureiro como o seu partido (a distrital do Porto liderada por Marco António) fez com Fátima Felgueiras, a guerra será grande com a possibilidade de se estar a discutir a realização de eleições antecipadas. "Vamos aguardar com serenidade", considera um membro do Governo. Actualmente, está em discussão na Assembleia da República, a lei de bases do desporto em que uma das medidas propostas é a limitação de mandatos dos dirigentes desportivos, à semelhança do que vai acontecer com os cargos políticos. No PSD, a grande maioria considera que não é possível decretar uma separação dos dois campos (política e futebol) e que a regra deve ser a da transparência e da fiscalização da justiça. Esta semana, comentando a actual situação, o eurodeputado do PSD Pacheco Pereira afirmou à Rádio Renascença que acredita que o processo de investigação possa vir a ajudar a tornar mais transparente as relações entre política e futebol. "Há excesso de promiscuidade entre o futebol e a política em Portugal e há excesso de futebol na vida pública em geral", disse Pacheco Pereira, defendendo uma "maior clarificação" entre dirigentes desportivos e dirigentes políticos. Políticos dirigentes desportivos Nas equipas da primeira divisão, há vários dirigentes que são também dirigentes políticos. No PSD, é o caso de Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Gouveia, que é membro suplente da direcção da Académica, o secretário de Estado-adjunto do ministro da Presidência, Feliciano Barreiras Duarte, é presidente da assembleia geral do União de Leiria, Luís Cirilo, deputado do PSD e ex-governador de Braga, é secretário-geral do Vitória de Guimarães, o presidente da Câmara de Penafiel, Alberto Santos, é também presidente do clube de Penafiel. Também há casos entre os socialistas. O deputado José Lello é presidente do Conselho Fiscal do Boavista, o presidente da Câmara de Vila do Conde, Mário Almeida, é dirigente do Rio Ave, tal como o autarca de Matosinhos tem ligações ao Leixões. O presidente do Sporting, Dias da Cunha, é dirigente nacional do PS. O presidente da Câmara de Lisboa, Pedro Santana Lopes, por sua vez, já foi presidente do Sporting Clube de Portugal. A nível local, há vários casos de dirigentes políticos e desportivos. Ainda recentemente, o autarca de Sintra, Fernando Seara, foi desafiado para se candidatar à presidência do Benfica, tendo alimentado por algumas semanas essa dúvida. Fernando Seara comentou ontem ao PÚBLICO a detenção de Valentim Loureiro e outras 15 pessoas, dizendo que "os mecanismos de justiça e investigação são fundamentais num Estado de direito". O autarca sustenta que as "relações entre futebol e política são iguais às relações entre política e economia ou entre outros sectores da vida social", defendendo que "os mecanismos de controle" existem para todas estas situações. Seara recusou-se a divulgar a avaliação que faz da corrupção do meio do futebol e admitiu que a dimensão que processos como este e o da Casa Pia assumem na comunicação social contribuem para criar nas pessoas "uma ideia de maior promiscuidade". O tema do futebol dominou a campanha para as legislativas de 2002, altura em que se soube que Durão Barroso tinha recebido o presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, numa altura em que o clube queria beneficiar de um perdão fiscal das dívidas ao Estado. O autarca do Porto, eleito pelo PSD, Rui Rio critica a promiscuidade entre política e futebol e envolve-se numa guerra com o presidente do FC Porto, levando à suspensão das obras do novo estádio. Dirigentes do PSD chegam a culpar Rio pelo facto do PSD não ter conseguido chegar mais perto da maioria absoluta nessas eleições. Já quando Durão Barroso é primeiro-ministro, rebenta outra história: o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Vasco Valdez, tinha sido, antes de entrar para o Governo, advogado do Benfica e nessa qualidade teria precisamente tentado resolver as dívidas acumuladas ao fisco e à segurança social do clube. A ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, entretanto, aceita acções do Benfica SAD como penhora pelas dívidas e é chamada à Assembleia da República para dar explicações sobre essa situação. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Governo na expectativa do desfecho do caso de Valentim Loureiro

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