História Antiga de Vagos

04-01-2005
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Os povos de Vagos são de origem antiquíssima não havendo memória da primeira fundação desta terra. Segundo António Gomes da Rocha Madail., e outros escritores, diz a tradição que estes povos são descendentes dos fenícios, os quais são muito mais antigos que os romanos, e terá sido no tempo do Faraó Sezostres que estes foram expulsos do Egipto, onde tinham permanecido depois de Menes fundador da monarquia do Egipto, tendo sido chamados de pastores e, assolaram e destruíram todas as cidades do Egipto que se lhe opunham, sendo o seu número de 20000 mil homens, o seu primeiro ”Salteador” foi Salatis que guarneceu as fortalezas da parte oriental do Egipto, tendo governado 19 anos, depois deste reinou Bean que governou 44 anos, a seguir sucedeu-lhe Apacamas e outros que lhe foram sucedendo, e aí residiram cerca de 900 anos, tendo ficado este período conhecido pelo tempo dos reis pastores. Tal foi a devastação e pilhagem por estes povos provocada no Egipto, que aí ficaram sempre mal vistos, e daí a razão porque Jacob e sua família não quiseram passar ao Egipto, e só se sentiram seguros quando chegaram ao lugar de Gessen, e o rei Oro lhes deu segurança, conhecendo este a zanga e o ódio que os egipcíos tinham a pastores. Por fim, Sezostres depois de se fazer senhor do Egipto, expulsou todos os régulos das cidades e das províncias de Menfis, Tenaes, Fez, Elefantis, Tebas, e esta última absorveu todas as outras no seu domínio. Expulsos do Egipto, e saídos de Menfis, dirigiram-se para Norte entrando no rio Nilo, e mariando em direcção ao Norte, chegaram ao monte Atlas, onde embarcaram em canoas e navegaram pelo Atlântico seguindo a costa da Península Ibérica para Norte, até que chegaram à barra da antiga Mira, que hoje fica na grande lagoa próxima de “S.Tome Velho”, e depois de terem entrado pela terra a dentro, caminharam até onde hoje fica N.Sª. da Conceição de Vagos, pelo lado Nascente do “forte” de que ainda hoje há alguns vestígios, ou seja, umas paredes feitas de pedra e cal mandadas erguer por D.Sancho I, que segundo fontes eclesiásticas terá sido em 18 de Agosto de 1200, para certos escritores poderá terá sido por volta de 1202, embora haja outros que não lhe atribuem uma data certa, apontando somente para o reinado de D.Sancho I. Chegaram também ao porto de Gonçalo, e a um outro de nome “Miriaita”, perto de “Verdainho” e entre Vagos e Lombomião ao lugar da Cruz, e, “Laparinho” de onde vieram as “Agostinhas” de Ílhavo que habitavam no “curtido” do “Arnal”, e sendo estas terras uma ilha vaga, acharam um promontório onde poderiam viver em segurança, e assim povoaram e habitaram as terras de Vagos. Segundo António Gomes da Rocha Madail. era costume estes descendentes dos antigos fenícios terem sempre nas suas casas um recipiente com uma certa quantidade de água, uma fouce “ forneira”, e uma “pica”. Eram sempre muito fieis aos seus familiares e conterrâneos, mas eram desconfiados e pouco “fieis” em relação aos de fora, pois os Vaguenses como tinham andado homiziados e expatriados, tinham sempre medo de serem pilhados, e por tais razões, colocavam várias sentinelas e vigias para guardarem as suas terras e haveres, e daí vem o nome do lugar que hoje se chama Vigia. Dedicaram-se à vida de pescadores, dado terem a Ria pelo Nascente, e outro braço pelo Norte e Poente, e mais tarde, dedicaram-se à pastorícia de gados, pois tinha sido esta a sua antiga ocupação como pastores, e daí os seus descendentes se transformarem em lavradores. Tinham por características fisionómicas, o nariz abatatado, o cabelo eriçado e pele rugosa, a cor “trigueira” e os olhos envernizados, a unha rachada, tinham por costume comerem bem, eram de estatura baixa, e as mulheres, eram em geral magras, tinham a testa um pouco cumprida, o pescoço alto, e um pouco” secas”, e tinham como hábito gostarem muito de comer peixe frito, especialmente peixe “mugil” , ou” peixe cabra”, este último existindo em grande quantidade na Ria. Vagos era uma terra um pouco estéril, e apenas produzia em tempos remotos tremoços bravos e figos dados por algumas figueiras aí existentes. Era costume os habitantes de Vagos irem buscar água a terras vizinhas, pois as poucas fontes que existiam no centro da povoação, davam uma água um pouco salgada e não muito boa para se beber. «Esta Ria em tempos muito antigos era profundíssima, mariavam por ela naus de alto bordo até ao lugar de S. André, onde houve um convento de Monges Negros ,de que ainda hoje há uma capela com uma torre chamada S. André a uma légua de distância de Vagos». Havia também uma ponte perto de Cantanhede chamada Ponte de Vagos. Estes povos que se fixaram em Vagos, e descendentes de antigos fenícios expulsos do Egipto, dispersaram-se por toda a costa Atlântica, e fixaram-se principalmente na Antiga Gaia perto do Porto, onde hoje fica sensivelmente a povoação da Afurada. A cerca de dois quilómetros do centro desta vila, fica o antiquíssimo santuário de N. Sra. de Vagos, que segundo Pinho Leal, a história da imagem e da primeira capela é a seguinte: « No reinado de D. Sancho I, mas em ano que se ignora, um navio francês naufragou próximo ao sítio da Vagueira, e o capitão apenas pôde salvar uma imagem da SS. Virgem, que trazia a bordo». O mesmo autor, citando o que está escrito no tomo 4º, pág. 682, do Santuário Mariano, diz que o tal capitão, « escondeu-a em uma mata, chamada Soalhal, a uns 4 ou 5 quilómetros do mar, e logo com alguns companheiros partiu para a vila de Esgueira, (...), a dar parte ao pároco dela, para que, com a devoção que se devia à Senhora, tratasse de a ir buscar para a sua igreja». E assim, «o pároco da Esgueira acompanhado de muito povo, foi com muitos dos seus paroquianos, e com o tal capitão, á mata onde se havia escondido a dita imagem, mas não lhes foi possível encontrá-la». Entretanto, « soube isto D. Sancho I, que estava então em Viseu, e logo marchou para Vagos e, depois da busca mais rigorosa, deu com a imagem». Sem hesitações, o rei, « mandou imediatamente construir uma formosa ermida no sítio onde achara a Senhora, e perto dela, uma alterosa torre, para defender o santuário e os romeiros, das surpresas dos piratas berberescos, que com frequência invadiam as nossas costas, saqueando as povoações e levando cativos os seus habitantes». Para o culto da Virgem, D. Sancho I atribuiu várias rendas e o senhorio do Couto de S. Romão. Mais tarde, o fidalgo Estevão Coelho da vila de Sandomil, depois da sua cura milagrosa da lepra que padecia, e atribuindo o milagre à Virgem, deixou em testamento tudo o que possuía em Sandomil, e várias rendas que tinha em Vagos. Por doação de D.Sancho I, o santuário e todas as suas rendas, passaram a estar sob administração dos frades crúzios do mosteiro de Grijó, e o prior do mosteiro encarregava um frade e um beneficiado, para o exercício do culto à Virgem. Posteriormente, os reis D. Afonso II, D. Sancho II, e D. Manuel I completaram um vasto conjunto de doações para a continuidade do culto à Virgem. Durante cerca de 400 anos a ermida do santuário ficou no local primitivo, e ao fim deste tempo estava meia enterrada na areia, pelo que teve de ser transferida para o local onde ainda hoje se encontra, distando da primeira aproximadamente 800 metros. No dia da festa da padroeira, na Segunda-feira do Espírito Santo, acorrem peregrinos de terras distantes, além dos povos de Gandera e Bairrada, especialmente as gentes de Cantanhede, que ao santuário vêm fazer as suas promessas. No que respeita aos devotos das gentes de Cantanhede, existem várias lendas sobre a devoção e até mesmo uma hipotética posse temporária da imagem da Virgem, naquelas paragens. As gentes de Vagos nutrem um fervoroso sentimento de devoção à N. S.ra de Vagos. A importância de Vagos vem já desde a Idade Média, dado o facto de denominar-se de Vagos a porta das muralhas de Aveiro, e ter pertencido à antiga comarca de Esgueira, mais tarde, recebeu foral de D. Manuel I, datado de Lisboa, a 14 de Agosto de 1514,(Livro de Forais Novos da Estremadura, fl. 77 v., col. I), assim como chegou a fazer parte do extinto concelho de Sosa em 1840. Diz o Padre Carvalho (1708), que para além da ermida de N. Sra. De Vagos, existia a ermida de S. Sebastião, do Espírito Santo e casa da Misericórdia. No século XVIII Vagos era abundante em milho, feijão, cebola, bons melões e melancias, possuía um juiz ordinário, vereadores, um procurador do concelho, escrivão da Câmara, tinha também um juiz dos órfãos com o seu escrivão, dois tabeliães do judicial e notas, um alcaide e uma companhia de ordenança. Foi D. Fernando quem fez a primeira doação da vila de Vagos a Alice Gregório, tendo passado a breve trecho esta doação para senhorio dos Silvas, descendentes do rico homem Gonçalo Gomes da Silva, 1º senhor de Vagos, alcaide-mor de Montemor-o-Velho, embaixador ao Papa Urbano VI, tendo falecido em 1386, e dele e sua mulher D. Leonor Coutinho, descenderam todos os senhores de Vagos, assim como João Gomes da Silva o qual recebeu doação da vila de Vagos por parte do Mestre de Aviz quando ainda era defensor do reino em reconhecimento dos serviços por ele prestados, e quando já era rei, D. João I, converteu aquela doação de temporária em perpétua,. e destes Silvas, saíram muitas outras casas ilustres, tais como, os marqueses de Alegrete e de Nisa, os condes de S. Lourenço, de S. Tiago, de Unhão e de Tarouca, e em Espanha os duques de Hijar e de Pastrana. Destes antigos donatários ou senhores de Vagos, chegou-se a Diogo da Silva, e este casou com D. Margarida de Meneses, senhora de Aveiras, juntando-se deste modo as duas casas de Vagos e Aveiras. Deste consórcio matrimonial nasceu João da Silva Telo Meneses, a quem foi confirmada a doação de vagos por Alvará de 18 de Fevereiro de 1650, tornando-se no 11º senhor de Vagos, e foi 1º conde de Aveiras por carta de 24 de Fevereiro de 1640, governador do Algarve e de Mazagão, do Conselho de Estado, Regedor das Justiças, tendo este casado com D. Maria de Castro, irmã do 1º conde de Unhão, e segundo o Cadastro da Estremadura, tinha a vila de Vagos, 100 vizinhos dentro dela e 18 no termo, na aldeia de Covão do Lobo, e o seu termo estendia-se duas léguas para a parte de Cantanhede, “e dois tiros de besta” para o lado de Sosa, e o termo partia com o mar e com o rio que o cercava. Foram estes condes, 4ºs avós de Francisco da Silva Telo Meneses, que obteve do Príncipe Regente o título de 1º marquês de Vagos (carta de 14 de Novembro de 1802), atendendo aos serviços por ele prestados em vários postos militares até ao de general de artilharia e conselheiro de guerra, assim como o de ter sido no Paço mordomo-mor da princesa D. Maria Benedita, e também foi 6º conde de Aveiras, 16º senhor de Vagos e de Aveiras, tendo casado com D. Bárbara Mécia da Gama, filha dos 4ºs marqueses de Nisa, e segundo o Padre João Vieira Resende(1944), o 1º Marquês de Vagos e Conde de Aveiras, foi directo senhorio das quintas da Mó-do-Meio, do Marinhão, Chave e também do Preguiceiro, todas elas na Gafanha, e o duque de Lafões o foi igualmente do Preguiceiro. O filho deste, Nuno da Silva Telo Meneses, 2º marquês de Vagos e 8º conde de Aveiras, foi governador de Armas da Corte, no Rio de Janeiro, Marechal do Exército, Estribeiro-mor da rainha D. Maria I, e muitos outros cargos exerceu este nobre, tendo casado com D. Leonor Maria da Câmara, filha dos 5ºs condes da Ribeira Grande, e deles nasceu uma única filha, D.Joana Maria José da Silva Telo Meneses Corte Real, 3ª marquesa de Vagos, 9ª condessa de Aveiras, e herdeira de toda a restante casa de seu pai, tendo casado com D. José de Noronha. Mais ilustres descendentes se seguiram, até que em 1907 do casamento dos 6ºs marqueses de Vagos, nasceu o primogénito, D. Pedro José Maria do Rosário da Silva Telo de Noronha, usando o título de, e 13º conde de Aveiras. Com a implantação da República, estes nobres perderam o seu estatuto, e Vagos viu nascer de entre os seus filhos, figuras ilustres que deram o seu contributo para o desenvolvimento cultural e até político da região e do país, tal é o caso de João Grave, para não citar muitos outros. Segundo Oliveira Freire, em 1755 a vila de Vagos tinha 608 fogos com 1.561 habitantes, e em 1801, 731 fogos com 2.019 habitantes na vila e 363 fogos com 1.393 habitantes no seu termo, conforme o censo daquele ano. O movimento da população do concelho foi no censo de 1890 de 2.880 fogos e 10.844 habitantes, em 1911 de 3.365 fogos e 13.381 habitantes, em 1940 de 4.222 fogos e 18.135 habitantes, tendo nos últimos censos o total da população de Vagos sido de 22.934 habitantes, havendo um aumento significativo na última década, e distribuindo-se a população por 11 freguesias: Calvão, Covão do Lobo, Fonte de Angeão, Gafanha da Boa Hora, Ouca, Ponte de Vagos, Santa Catarina, Santo André de Vagos, Santo António de Vagos, Sosa, Vagos. (mapa) Hoje a bonita vila de Vagos, é constituída na sua maior parte por casas modestas ao longo da estrada Nacional 109, mas caiadas, aparecendo no centro grandes edifícios com blocos de apartamentos, e nos primeiros pisos lojas e outras instituições, que fazem transparecer os sinais do progresso e do constante desenvolvimento que se avizinha. Os paços do Concelho são a antiga casa dos viscondes de Valdemouro, do qual se abarca largo panorama sobre o braço terminal da ria e foz do rio Boco, e na praça junto ao mesmo, se situam o elegante edifício do Tribunal, a Igreja Matriz, e perto destes o novo Quartel dos Bombeiros . Parte dos seus habitantes exerce a sua actividade na fábrica de porcelana da Vista Alegre, e outros dedicam-se à agricultura dos campos rasos e férteis que a envolvem do lado poente, sobre a plataforma peninsular da Gafanha, havendo cada vez mais os que se dedicam aos serviços. É de admirar a faina dos campos e da pecuária em Sosa, Ouca e noutras freguesias do concelho, o desenvolvimento económico de Ponte de Vagos e Calvão, e o turismo sazonal e a companha na praia da Vagueira. A indústria floresce na zona industrial da mata da Vagueira, e por outros pontos do concelho, os empresários vão tentando dinamizar as suas firmas investindo na modernização e competitividade das mesmas. A nível do ensino e da cultura, Vagos possui uma nova Escola Secundária, uma Escola B.2+3, uma Escola Profissional de Agricultura, um Colégio em Calvão, enumeras escolas básicas e infantários por todo o concelho, lares da “terceira idade”, , assim como um imponente Pavilhão de Desportos, ranchos musicais, Orfeão, grupos de teatro amador, associações desportivas e culturais, e outras instituições congéneres. Da História antiga de Vagos para a actualidade, fica-nos o lema, “Vagos um paraíso à sua espera, sempre!”.

Os povos de Vagos são de origem antiquíssima não havendo memória da primeira fundação desta terra. Segundo António Gomes da Rocha Madail., e outros escritores, diz a tradição que estes povos são descendentes dos fenícios, os quais são muito mais antigos que os romanos, e terá sido no tempo do Faraó Sezostres que estes foram expulsos do Egipto, onde tinham permanecido depois de Menes fundador da monarquia do Egipto, tendo sido chamados de pastores e, assolaram e destruíram todas as cidades do Egipto que se lhe opunham, sendo o seu número de 20000 mil homens, o seu primeiro ”Salteador” foi Salatis que guarneceu as fortalezas da parte oriental do Egipto, tendo governado 19 anos, depois deste reinou Bean que governou 44 anos, a seguir sucedeu-lhe Apacamas e outros que lhe foram sucedendo, e aí residiram cerca de 900 anos, tendo ficado este período conhecido pelo tempo dos reis pastores. Tal foi a devastação e pilhagem por estes povos provocada no Egipto, que aí ficaram sempre mal vistos, e daí a razão porque Jacob e sua família não quiseram passar ao Egipto, e só se sentiram seguros quando chegaram ao lugar de Gessen, e o rei Oro lhes deu segurança, conhecendo este a zanga e o ódio que os egipcíos tinham a pastores. Por fim, Sezostres depois de se fazer senhor do Egipto, expulsou todos os régulos das cidades e das províncias de Menfis, Tenaes, Fez, Elefantis, Tebas, e esta última absorveu todas as outras no seu domínio. Expulsos do Egipto, e saídos de Menfis, dirigiram-se para Norte entrando no rio Nilo, e mariando em direcção ao Norte, chegaram ao monte Atlas, onde embarcaram em canoas e navegaram pelo Atlântico seguindo a costa da Península Ibérica para Norte, até que chegaram à barra da antiga Mira, que hoje fica na grande lagoa próxima de “S.Tome Velho”, e depois de terem entrado pela terra a dentro, caminharam até onde hoje fica N.Sª. da Conceição de Vagos, pelo lado Nascente do “forte” de que ainda hoje há alguns vestígios, ou seja, umas paredes feitas de pedra e cal mandadas erguer por D.Sancho I, que segundo fontes eclesiásticas terá sido em 18 de Agosto de 1200, para certos escritores poderá terá sido por volta de 1202, embora haja outros que não lhe atribuem uma data certa, apontando somente para o reinado de D.Sancho I. Chegaram também ao porto de Gonçalo, e a um outro de nome “Miriaita”, perto de “Verdainho” e entre Vagos e Lombomião ao lugar da Cruz, e, “Laparinho” de onde vieram as “Agostinhas” de Ílhavo que habitavam no “curtido” do “Arnal”, e sendo estas terras uma ilha vaga, acharam um promontório onde poderiam viver em segurança, e assim povoaram e habitaram as terras de Vagos. Segundo António Gomes da Rocha Madail. era costume estes descendentes dos antigos fenícios terem sempre nas suas casas um recipiente com uma certa quantidade de água, uma fouce “ forneira”, e uma “pica”. Eram sempre muito fieis aos seus familiares e conterrâneos, mas eram desconfiados e pouco “fieis” em relação aos de fora, pois os Vaguenses como tinham andado homiziados e expatriados, tinham sempre medo de serem pilhados, e por tais razões, colocavam várias sentinelas e vigias para guardarem as suas terras e haveres, e daí vem o nome do lugar que hoje se chama Vigia. Dedicaram-se à vida de pescadores, dado terem a Ria pelo Nascente, e outro braço pelo Norte e Poente, e mais tarde, dedicaram-se à pastorícia de gados, pois tinha sido esta a sua antiga ocupação como pastores, e daí os seus descendentes se transformarem em lavradores. Tinham por características fisionómicas, o nariz abatatado, o cabelo eriçado e pele rugosa, a cor “trigueira” e os olhos envernizados, a unha rachada, tinham por costume comerem bem, eram de estatura baixa, e as mulheres, eram em geral magras, tinham a testa um pouco cumprida, o pescoço alto, e um pouco” secas”, e tinham como hábito gostarem muito de comer peixe frito, especialmente peixe “mugil” , ou” peixe cabra”, este último existindo em grande quantidade na Ria. Vagos era uma terra um pouco estéril, e apenas produzia em tempos remotos tremoços bravos e figos dados por algumas figueiras aí existentes. Era costume os habitantes de Vagos irem buscar água a terras vizinhas, pois as poucas fontes que existiam no centro da povoação, davam uma água um pouco salgada e não muito boa para se beber. «Esta Ria em tempos muito antigos era profundíssima, mariavam por ela naus de alto bordo até ao lugar de S. André, onde houve um convento de Monges Negros ,de que ainda hoje há uma capela com uma torre chamada S. André a uma légua de distância de Vagos». Havia também uma ponte perto de Cantanhede chamada Ponte de Vagos. Estes povos que se fixaram em Vagos, e descendentes de antigos fenícios expulsos do Egipto, dispersaram-se por toda a costa Atlântica, e fixaram-se principalmente na Antiga Gaia perto do Porto, onde hoje fica sensivelmente a povoação da Afurada. A cerca de dois quilómetros do centro desta vila, fica o antiquíssimo santuário de N. Sra. de Vagos, que segundo Pinho Leal, a história da imagem e da primeira capela é a seguinte: « No reinado de D. Sancho I, mas em ano que se ignora, um navio francês naufragou próximo ao sítio da Vagueira, e o capitão apenas pôde salvar uma imagem da SS. Virgem, que trazia a bordo». O mesmo autor, citando o que está escrito no tomo 4º, pág. 682, do Santuário Mariano, diz que o tal capitão, « escondeu-a em uma mata, chamada Soalhal, a uns 4 ou 5 quilómetros do mar, e logo com alguns companheiros partiu para a vila de Esgueira, (...), a dar parte ao pároco dela, para que, com a devoção que se devia à Senhora, tratasse de a ir buscar para a sua igreja». E assim, «o pároco da Esgueira acompanhado de muito povo, foi com muitos dos seus paroquianos, e com o tal capitão, á mata onde se havia escondido a dita imagem, mas não lhes foi possível encontrá-la». Entretanto, « soube isto D. Sancho I, que estava então em Viseu, e logo marchou para Vagos e, depois da busca mais rigorosa, deu com a imagem». Sem hesitações, o rei, « mandou imediatamente construir uma formosa ermida no sítio onde achara a Senhora, e perto dela, uma alterosa torre, para defender o santuário e os romeiros, das surpresas dos piratas berberescos, que com frequência invadiam as nossas costas, saqueando as povoações e levando cativos os seus habitantes». Para o culto da Virgem, D. Sancho I atribuiu várias rendas e o senhorio do Couto de S. Romão. Mais tarde, o fidalgo Estevão Coelho da vila de Sandomil, depois da sua cura milagrosa da lepra que padecia, e atribuindo o milagre à Virgem, deixou em testamento tudo o que possuía em Sandomil, e várias rendas que tinha em Vagos. Por doação de D.Sancho I, o santuário e todas as suas rendas, passaram a estar sob administração dos frades crúzios do mosteiro de Grijó, e o prior do mosteiro encarregava um frade e um beneficiado, para o exercício do culto à Virgem. Posteriormente, os reis D. Afonso II, D. Sancho II, e D. Manuel I completaram um vasto conjunto de doações para a continuidade do culto à Virgem. Durante cerca de 400 anos a ermida do santuário ficou no local primitivo, e ao fim deste tempo estava meia enterrada na areia, pelo que teve de ser transferida para o local onde ainda hoje se encontra, distando da primeira aproximadamente 800 metros. No dia da festa da padroeira, na Segunda-feira do Espírito Santo, acorrem peregrinos de terras distantes, além dos povos de Gandera e Bairrada, especialmente as gentes de Cantanhede, que ao santuário vêm fazer as suas promessas. No que respeita aos devotos das gentes de Cantanhede, existem várias lendas sobre a devoção e até mesmo uma hipotética posse temporária da imagem da Virgem, naquelas paragens. As gentes de Vagos nutrem um fervoroso sentimento de devoção à N. S.ra de Vagos. A importância de Vagos vem já desde a Idade Média, dado o facto de denominar-se de Vagos a porta das muralhas de Aveiro, e ter pertencido à antiga comarca de Esgueira, mais tarde, recebeu foral de D. Manuel I, datado de Lisboa, a 14 de Agosto de 1514,(Livro de Forais Novos da Estremadura, fl. 77 v., col. I), assim como chegou a fazer parte do extinto concelho de Sosa em 1840. Diz o Padre Carvalho (1708), que para além da ermida de N. Sra. De Vagos, existia a ermida de S. Sebastião, do Espírito Santo e casa da Misericórdia. No século XVIII Vagos era abundante em milho, feijão, cebola, bons melões e melancias, possuía um juiz ordinário, vereadores, um procurador do concelho, escrivão da Câmara, tinha também um juiz dos órfãos com o seu escrivão, dois tabeliães do judicial e notas, um alcaide e uma companhia de ordenança. Foi D. Fernando quem fez a primeira doação da vila de Vagos a Alice Gregório, tendo passado a breve trecho esta doação para senhorio dos Silvas, descendentes do rico homem Gonçalo Gomes da Silva, 1º senhor de Vagos, alcaide-mor de Montemor-o-Velho, embaixador ao Papa Urbano VI, tendo falecido em 1386, e dele e sua mulher D. Leonor Coutinho, descenderam todos os senhores de Vagos, assim como João Gomes da Silva o qual recebeu doação da vila de Vagos por parte do Mestre de Aviz quando ainda era defensor do reino em reconhecimento dos serviços por ele prestados, e quando já era rei, D. João I, converteu aquela doação de temporária em perpétua,. e destes Silvas, saíram muitas outras casas ilustres, tais como, os marqueses de Alegrete e de Nisa, os condes de S. Lourenço, de S. Tiago, de Unhão e de Tarouca, e em Espanha os duques de Hijar e de Pastrana. Destes antigos donatários ou senhores de Vagos, chegou-se a Diogo da Silva, e este casou com D. Margarida de Meneses, senhora de Aveiras, juntando-se deste modo as duas casas de Vagos e Aveiras. Deste consórcio matrimonial nasceu João da Silva Telo Meneses, a quem foi confirmada a doação de vagos por Alvará de 18 de Fevereiro de 1650, tornando-se no 11º senhor de Vagos, e foi 1º conde de Aveiras por carta de 24 de Fevereiro de 1640, governador do Algarve e de Mazagão, do Conselho de Estado, Regedor das Justiças, tendo este casado com D. Maria de Castro, irmã do 1º conde de Unhão, e segundo o Cadastro da Estremadura, tinha a vila de Vagos, 100 vizinhos dentro dela e 18 no termo, na aldeia de Covão do Lobo, e o seu termo estendia-se duas léguas para a parte de Cantanhede, “e dois tiros de besta” para o lado de Sosa, e o termo partia com o mar e com o rio que o cercava. Foram estes condes, 4ºs avós de Francisco da Silva Telo Meneses, que obteve do Príncipe Regente o título de 1º marquês de Vagos (carta de 14 de Novembro de 1802), atendendo aos serviços por ele prestados em vários postos militares até ao de general de artilharia e conselheiro de guerra, assim como o de ter sido no Paço mordomo-mor da princesa D. Maria Benedita, e também foi 6º conde de Aveiras, 16º senhor de Vagos e de Aveiras, tendo casado com D. Bárbara Mécia da Gama, filha dos 4ºs marqueses de Nisa, e segundo o Padre João Vieira Resende(1944), o 1º Marquês de Vagos e Conde de Aveiras, foi directo senhorio das quintas da Mó-do-Meio, do Marinhão, Chave e também do Preguiceiro, todas elas na Gafanha, e o duque de Lafões o foi igualmente do Preguiceiro. O filho deste, Nuno da Silva Telo Meneses, 2º marquês de Vagos e 8º conde de Aveiras, foi governador de Armas da Corte, no Rio de Janeiro, Marechal do Exército, Estribeiro-mor da rainha D. Maria I, e muitos outros cargos exerceu este nobre, tendo casado com D. Leonor Maria da Câmara, filha dos 5ºs condes da Ribeira Grande, e deles nasceu uma única filha, D.Joana Maria José da Silva Telo Meneses Corte Real, 3ª marquesa de Vagos, 9ª condessa de Aveiras, e herdeira de toda a restante casa de seu pai, tendo casado com D. José de Noronha. Mais ilustres descendentes se seguiram, até que em 1907 do casamento dos 6ºs marqueses de Vagos, nasceu o primogénito, D. Pedro José Maria do Rosário da Silva Telo de Noronha, usando o título de, e 13º conde de Aveiras. Com a implantação da República, estes nobres perderam o seu estatuto, e Vagos viu nascer de entre os seus filhos, figuras ilustres que deram o seu contributo para o desenvolvimento cultural e até político da região e do país, tal é o caso de João Grave, para não citar muitos outros. Segundo Oliveira Freire, em 1755 a vila de Vagos tinha 608 fogos com 1.561 habitantes, e em 1801, 731 fogos com 2.019 habitantes na vila e 363 fogos com 1.393 habitantes no seu termo, conforme o censo daquele ano. O movimento da população do concelho foi no censo de 1890 de 2.880 fogos e 10.844 habitantes, em 1911 de 3.365 fogos e 13.381 habitantes, em 1940 de 4.222 fogos e 18.135 habitantes, tendo nos últimos censos o total da população de Vagos sido de 22.934 habitantes, havendo um aumento significativo na última década, e distribuindo-se a população por 11 freguesias: Calvão, Covão do Lobo, Fonte de Angeão, Gafanha da Boa Hora, Ouca, Ponte de Vagos, Santa Catarina, Santo André de Vagos, Santo António de Vagos, Sosa, Vagos. (mapa) Hoje a bonita vila de Vagos, é constituída na sua maior parte por casas modestas ao longo da estrada Nacional 109, mas caiadas, aparecendo no centro grandes edifícios com blocos de apartamentos, e nos primeiros pisos lojas e outras instituições, que fazem transparecer os sinais do progresso e do constante desenvolvimento que se avizinha. Os paços do Concelho são a antiga casa dos viscondes de Valdemouro, do qual se abarca largo panorama sobre o braço terminal da ria e foz do rio Boco, e na praça junto ao mesmo, se situam o elegante edifício do Tribunal, a Igreja Matriz, e perto destes o novo Quartel dos Bombeiros . Parte dos seus habitantes exerce a sua actividade na fábrica de porcelana da Vista Alegre, e outros dedicam-se à agricultura dos campos rasos e férteis que a envolvem do lado poente, sobre a plataforma peninsular da Gafanha, havendo cada vez mais os que se dedicam aos serviços. É de admirar a faina dos campos e da pecuária em Sosa, Ouca e noutras freguesias do concelho, o desenvolvimento económico de Ponte de Vagos e Calvão, e o turismo sazonal e a companha na praia da Vagueira. A indústria floresce na zona industrial da mata da Vagueira, e por outros pontos do concelho, os empresários vão tentando dinamizar as suas firmas investindo na modernização e competitividade das mesmas. A nível do ensino e da cultura, Vagos possui uma nova Escola Secundária, uma Escola B.2+3, uma Escola Profissional de Agricultura, um Colégio em Calvão, enumeras escolas básicas e infantários por todo o concelho, lares da “terceira idade”, , assim como um imponente Pavilhão de Desportos, ranchos musicais, Orfeão, grupos de teatro amador, associações desportivas e culturais, e outras instituições congéneres. Da História antiga de Vagos para a actualidade, fica-nos o lema, “Vagos um paraíso à sua espera, sempre!”.

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