Projectar as mulheres "para o topo"

12-11-2002
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Projectar as Mulheres "para o Topo"

Por S.J.A.

Sábado, 09 de Novembro de 2002

Helena Roseta é peremptória: "O problema para mim é, neste momento, não já as quotas, mas projectá-las para a frente, para o topo." A deputada que tem dedicado muita da sua intervenção política e do seu percurso político à defesa da causa da paridade, defende: "Actualmente, no PS e na esquerda o problema já não é, sobretudo, a questão das quotas, é criar condições para que apareçam candidatas à chefia de instituições partidárias e políticas do país, tem de haver mulheres a candidatar-se a secretárias-gerais, a primeiras-ministras e até à Presidência da República. E no partido tem que haver mulheres a candidatar-se à presidência das federações e das concelhias."

Usando a sua experiência, Helena Roseta fala do caminho percorrido desde o 25 de Abril e afirma: "O 'clic' na política portuguesa em relação à busca da paridade foi o Parlamento paritário, em 1992, organizado por Maria Belo, Maria Santos e Margarida Salema. Uma iniciativa que então foi apoiada por figuras como Almeida santos e combatida por personalidades como Pacheco Pereira."

Mas Roseta não deixa de considerar que, "no PS, o mérito da assunção da paridade é de António Guterres, mas não podemos esquecer que também foi Guterres o responsável por um dos maiores erros do PS nos últimos anos, que foi a omissão na questão do aborto."

Sobre a sua experiência e servindo-se do facto de ter sido fundadora do PPD diz que aí, nessa altura, "havia mais abertura às mulheres do que no PS de então". Helena Roseta exemplifica: "Lembro-me que no congresso do Coliseu, na fundação, a Leonor Beleza fez a defesa da despenalização do aborto. A seguir ao 25 de Abril, há abertura na sociedade, as coisas complicam-se mais tarde. A primeira vez que fui insultada por ser mulher, por ser emocional e chorar, foi, em 1982, na campanha do PSD para a Câmara de Cascais. Na década de 90, ainda como independente, vi que era normal no PS, quando as mulheres iam ao microfone, ouvir-se comentários como: 'lá vêm elas'. Só mudou com Guterres."

O protagonismo de Guterres é também salientado por Leonor Coutinho. "O PS foi marcado por dois secretários-gerais que não eram machistas: Vítor Constâncio e António Guterres." E recorda quando Constâncio inscreveu as quotas nos estatutos e "levou as mulheres para o secretariado - Elisa Damião, Ana Bettencourt e Maria do Céu Esteves - que era o único órgão que dependia só do secretário-geral".

Leonor Coutinho acha, porém, que a política e o PS ainda são um universo muito ocupado por homens. E pensa que o problema não é só a falta de mulheres em cargos políticos, mas a atitude que os homens assumem na política: "Portugal é uma sociedade com valores extremamente femininos, a capacidade de adaptação, de mediação, o acolhimento, a capacidade de análise. Enquanto é falha em valores masculinos, a capacidade de síntese, de disciplina de eficácia. Os homens são educados por mulheres, têm poucos valores femininos. E o problema é que há pouca complementariedade, porque os homens concorrem com as mulheres em vez de se ocuparem dos valores masculinos."

Projectar as Mulheres "para o Topo"

Por S.J.A.

Sábado, 09 de Novembro de 2002

Helena Roseta é peremptória: "O problema para mim é, neste momento, não já as quotas, mas projectá-las para a frente, para o topo." A deputada que tem dedicado muita da sua intervenção política e do seu percurso político à defesa da causa da paridade, defende: "Actualmente, no PS e na esquerda o problema já não é, sobretudo, a questão das quotas, é criar condições para que apareçam candidatas à chefia de instituições partidárias e políticas do país, tem de haver mulheres a candidatar-se a secretárias-gerais, a primeiras-ministras e até à Presidência da República. E no partido tem que haver mulheres a candidatar-se à presidência das federações e das concelhias."

Usando a sua experiência, Helena Roseta fala do caminho percorrido desde o 25 de Abril e afirma: "O 'clic' na política portuguesa em relação à busca da paridade foi o Parlamento paritário, em 1992, organizado por Maria Belo, Maria Santos e Margarida Salema. Uma iniciativa que então foi apoiada por figuras como Almeida santos e combatida por personalidades como Pacheco Pereira."

Mas Roseta não deixa de considerar que, "no PS, o mérito da assunção da paridade é de António Guterres, mas não podemos esquecer que também foi Guterres o responsável por um dos maiores erros do PS nos últimos anos, que foi a omissão na questão do aborto."

Sobre a sua experiência e servindo-se do facto de ter sido fundadora do PPD diz que aí, nessa altura, "havia mais abertura às mulheres do que no PS de então". Helena Roseta exemplifica: "Lembro-me que no congresso do Coliseu, na fundação, a Leonor Beleza fez a defesa da despenalização do aborto. A seguir ao 25 de Abril, há abertura na sociedade, as coisas complicam-se mais tarde. A primeira vez que fui insultada por ser mulher, por ser emocional e chorar, foi, em 1982, na campanha do PSD para a Câmara de Cascais. Na década de 90, ainda como independente, vi que era normal no PS, quando as mulheres iam ao microfone, ouvir-se comentários como: 'lá vêm elas'. Só mudou com Guterres."

O protagonismo de Guterres é também salientado por Leonor Coutinho. "O PS foi marcado por dois secretários-gerais que não eram machistas: Vítor Constâncio e António Guterres." E recorda quando Constâncio inscreveu as quotas nos estatutos e "levou as mulheres para o secretariado - Elisa Damião, Ana Bettencourt e Maria do Céu Esteves - que era o único órgão que dependia só do secretário-geral".

Leonor Coutinho acha, porém, que a política e o PS ainda são um universo muito ocupado por homens. E pensa que o problema não é só a falta de mulheres em cargos políticos, mas a atitude que os homens assumem na política: "Portugal é uma sociedade com valores extremamente femininos, a capacidade de adaptação, de mediação, o acolhimento, a capacidade de análise. Enquanto é falha em valores masculinos, a capacidade de síntese, de disciplina de eficácia. Os homens são educados por mulheres, têm poucos valores femininos. E o problema é que há pouca complementariedade, porque os homens concorrem com as mulheres em vez de se ocuparem dos valores masculinos."

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