Crise arrefece entusiasmo das televisões

15-08-2002
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Crise Arrefece Entusiasmo das Televisões

Sábado, 6 de Julho de 2002

O lugar do desporto-rei no pequeno ecrã já não é o que era. Nisso estão de acordo serviço público de televisão e operadores privados. Nem uns nem outros acreditam que, no actual quadro económico, se possam repetir preços com os do pico de 2000-2001 quando, pelos direitos de um único jogo, chegaram a ser pagas verbas superiores a cem mil contos (500 mil euros).

É que, se, por um lado, os valores dos direitos de transmissão de jogos atingiram valores exorbitantes, pouco condizentes com o cenário de crise desenhado pelo decréscimo do investimento publicitário, por outro, o interesse dos operadores de televisão na exibição de desafios parece agora menor porque a "rentabilização comercial da emissão de futebol [está] a tornar-se cada vez mais negativa", como refere fonte da RTP. E nem o facto de os grandes jogos ficarem sempre no "top" de audiências parece ser suficiente para inverter o percurso. Ainda que, como diz por exemplo João Salgado, do gabinete da presidência do Benfica, a TV mantém a função de "galinha dos ovos de ouro" do futebol.

Fonte da RTP lembra que "mercado de direitos de transmissão de jogos de futebol teve um 'boom' em 2000, o que se deveu a um avanço agressivo das TV privadas, com reflexos no primeiro semestre de 2001". Todavia, desde então, tem-se registado um decréscimo de entusiasmo.

João Carlos Silva, administrador cessante da estação pública, que detém parte dos jogos da principal prova futebolística nacional, não tem dúvidas de que, "embora seja inequívoco que há razões de serviço público que aconselham à existência de algum futebol em sinal aberto", haverá cada vez mais a tendência para a "redução das verbas orçamentais disponíveis" para aquele desporto.

Terminado o contrato para a transmissão da Taça de Portugal, a SIC mostra a intenção de fazer investimentos mais "cautelosos e adaptados à situação económica e financeira". "Não acredito que, neste momento, haja compradores para aqueles preços", afirma Gualdino Paredes, subdirector de programas da SIC. O canal tem pendente o caso da ruptura de contrato por parte do Benfica e queixa-se de ter custos sem receitas - pagamento feito por jogos que acabou por não poder transmitir.

Já a TVI, que se assume como TV destinada sobretudo às mulheres, admite que o futebol não é uma prioridade. Ainda assim, o canal do grupo Media Capital tem para si os jogos da União de Leiria devido à participação na SAD do clube, a que soma eventuais torneios e jogos particulares.

Só a Sport TV, porque opera com contratos de longa duração, conforme explica o director do canal, Bessa Tavares, e porque na sua grelha não há outros produtos a fazerem sombra ao desporto-rei, fica de fora desta convulsão. "A Sport TV não serve de paradigma. Os seus contratos, ao contrário das televisões de sinal aberto, que compram jogos 'à peça', são de longa duração e, por isso, não se repercutem imediatamente em termos de direitos de transmissão", afirma Bessa Tavares. Além do mais, trata-se de um canal pago e, por isso, com uma audiência fidelizada.

De qualquer modo, reconhece que, em toda a Europa, "os valores dos direitos do futebol atingiram uma dimensão extraordinária". E isso não será estranho ao colapso que se abateu sobre os gigantes que negociavam esses direitos, como a recém-falida Kirch. O grupo alemão teve mesmo bastante dificuldade em negociar os direitos do recente Mundial.

Na Inglaterra, o colapso da ITV Digital, lançara, desde Abril, a preocupação nos clubes. Mas o interesse da Sky acabou por salvar a situação: por cerca de 144 milhões de euros - verbas inferiores às do acordo com o falido operador - o canal por satélite assegurou ontem os direitos para transmissão em directo de mais de 300 jogos nos próximos quatro anos.

No caso de Portugal, Bessa Tavares diz que só após ser conhecido o desfecho do próximo concurso para a Taça de Portugal - detidos nas duas últimas épocas pela SIC - se "poderá inferir a tendência concreta que será seguida em Portugal". Mas, acredita, tudo aponta para um abaixamento dos valores praticados. A mesma previsão é partilhada por Álvaro Alvim, da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que organiza a Taça. Em declarações ao PÚBLICO, o responsável federativo admite que a actual conjuntura de retracção do sector televisivo face ao futebol pode ter efeitos em Portugal: "Estamos preocupados", adianta Álvaro Alvim, que admite ser "natural que venha a haver um abaixamento das verbas" envolvidas na negociação dos direitos dos jogos.

Elisabete Vilar, com T.F. e J.M.R.

Crise Arrefece Entusiasmo das Televisões

Sábado, 6 de Julho de 2002

O lugar do desporto-rei no pequeno ecrã já não é o que era. Nisso estão de acordo serviço público de televisão e operadores privados. Nem uns nem outros acreditam que, no actual quadro económico, se possam repetir preços com os do pico de 2000-2001 quando, pelos direitos de um único jogo, chegaram a ser pagas verbas superiores a cem mil contos (500 mil euros).

É que, se, por um lado, os valores dos direitos de transmissão de jogos atingiram valores exorbitantes, pouco condizentes com o cenário de crise desenhado pelo decréscimo do investimento publicitário, por outro, o interesse dos operadores de televisão na exibição de desafios parece agora menor porque a "rentabilização comercial da emissão de futebol [está] a tornar-se cada vez mais negativa", como refere fonte da RTP. E nem o facto de os grandes jogos ficarem sempre no "top" de audiências parece ser suficiente para inverter o percurso. Ainda que, como diz por exemplo João Salgado, do gabinete da presidência do Benfica, a TV mantém a função de "galinha dos ovos de ouro" do futebol.

Fonte da RTP lembra que "mercado de direitos de transmissão de jogos de futebol teve um 'boom' em 2000, o que se deveu a um avanço agressivo das TV privadas, com reflexos no primeiro semestre de 2001". Todavia, desde então, tem-se registado um decréscimo de entusiasmo.

João Carlos Silva, administrador cessante da estação pública, que detém parte dos jogos da principal prova futebolística nacional, não tem dúvidas de que, "embora seja inequívoco que há razões de serviço público que aconselham à existência de algum futebol em sinal aberto", haverá cada vez mais a tendência para a "redução das verbas orçamentais disponíveis" para aquele desporto.

Terminado o contrato para a transmissão da Taça de Portugal, a SIC mostra a intenção de fazer investimentos mais "cautelosos e adaptados à situação económica e financeira". "Não acredito que, neste momento, haja compradores para aqueles preços", afirma Gualdino Paredes, subdirector de programas da SIC. O canal tem pendente o caso da ruptura de contrato por parte do Benfica e queixa-se de ter custos sem receitas - pagamento feito por jogos que acabou por não poder transmitir.

Já a TVI, que se assume como TV destinada sobretudo às mulheres, admite que o futebol não é uma prioridade. Ainda assim, o canal do grupo Media Capital tem para si os jogos da União de Leiria devido à participação na SAD do clube, a que soma eventuais torneios e jogos particulares.

Só a Sport TV, porque opera com contratos de longa duração, conforme explica o director do canal, Bessa Tavares, e porque na sua grelha não há outros produtos a fazerem sombra ao desporto-rei, fica de fora desta convulsão. "A Sport TV não serve de paradigma. Os seus contratos, ao contrário das televisões de sinal aberto, que compram jogos 'à peça', são de longa duração e, por isso, não se repercutem imediatamente em termos de direitos de transmissão", afirma Bessa Tavares. Além do mais, trata-se de um canal pago e, por isso, com uma audiência fidelizada.

De qualquer modo, reconhece que, em toda a Europa, "os valores dos direitos do futebol atingiram uma dimensão extraordinária". E isso não será estranho ao colapso que se abateu sobre os gigantes que negociavam esses direitos, como a recém-falida Kirch. O grupo alemão teve mesmo bastante dificuldade em negociar os direitos do recente Mundial.

Na Inglaterra, o colapso da ITV Digital, lançara, desde Abril, a preocupação nos clubes. Mas o interesse da Sky acabou por salvar a situação: por cerca de 144 milhões de euros - verbas inferiores às do acordo com o falido operador - o canal por satélite assegurou ontem os direitos para transmissão em directo de mais de 300 jogos nos próximos quatro anos.

No caso de Portugal, Bessa Tavares diz que só após ser conhecido o desfecho do próximo concurso para a Taça de Portugal - detidos nas duas últimas épocas pela SIC - se "poderá inferir a tendência concreta que será seguida em Portugal". Mas, acredita, tudo aponta para um abaixamento dos valores praticados. A mesma previsão é partilhada por Álvaro Alvim, da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que organiza a Taça. Em declarações ao PÚBLICO, o responsável federativo admite que a actual conjuntura de retracção do sector televisivo face ao futebol pode ter efeitos em Portugal: "Estamos preocupados", adianta Álvaro Alvim, que admite ser "natural que venha a haver um abaixamento das verbas" envolvidas na negociação dos direitos dos jogos.

Elisabete Vilar, com T.F. e J.M.R.

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