Fim do namoro do futebol e da televisão em Espanha

14-08-2002
marcar artigo

Fim do Namoro do Futebol e da Televisão em Espanha

Sábado, 6 de Julho de 2002

Depois de anos de um romance tão intenso que o casamento perpétuo parecia inevitável, a televisão e o futebol em Espanha partem em direcções contrárias: as cadeias procurando não continuar a perder dinheiro e os clubes já na busca desesperada de uma solução que evite dramáticos problemas financeiros. Como os actuais contratos terminam em Junho de 2003, tudo se joga nos próximos seis meses.

Na passada quarta-feira, na cidade basca de Vitória, a Liga de Futebol Profissional de Espanha (LFP) tentou a "quadratura do círculo": juntar à mesma mesa os grandes emblemas e os de menor dimensão. Em causa está o facto de, até à época 2008-2009, Real Madrid e Barcelona terem subscrito com a sociedade Audiovisual Sport contratos individuais para a transmissão dos seus jogos de, respectivamente, 54 e 50 milhões de euros anuais. Aquela empresa, que gere os direitos das transmissões desportivas no sistema "pay per view" - pagar para ver - alega que anualmente perdeu 72 milhões de euros porque o que pagava aos clubes não era compensado, na esmagadora maioria dos emblemas, por espectadores de televisão. E, claro, a taxa de rentabilidade só esteve assegurada quando o Real da capital espanhola e o "Barça", os históricos do futebol espanhol, entravam em liça. Também desejando contratos individuais estão o Valência, que quer logicamente rentabilizar o título alcançado este ano, e o Desportivo da Corunha, transformado na "equipa em voga" em Espanha. Quer os de Valência quer os galegos também sabem que, se não conseguirem este tratamento preferencial, as suas receitas por direitos de transmissão vão diminuir.

É essa a proposta inicial que a Audiovisual Sport tem em cima da mesa: baixar os 180 milhões de euros que pagará até Junho do próximo ano, o que, com os contratos individuais assinados com os madrilistas e os catalães, reduziria a quota dos outros clubes. Da reunião da LFP de Vitória, para além da imagem de ruptura entre os clubes, saiu uma ameaça: caso não haja acordo, os restantes emblemas, após a revisão dos estatutos da Liga, não autorizarão as transmissões dos seus encontros com o Real Madrid e o Barcelona, pelo que a Audiovisual ficaria sujeita apenas à transmissão dos jogos que os dois "grandes de Espanha" disputem entre si. Para tanto, e para suprir a falta dos dinheiros televisivos, a LFP estaria em negociações com uma entidade financeira para a concessão de um crédito que permitisse resistir financeiramente a um ano sem direito a TV. Até porque, garante a Liga, das cinco grandes competições do futebol europeu - Inglaterra, Itália, Alemanha, França e Espanha - a espanhola foi a que menos recebeu pelas transmissões televisivas: 240 milhões de euros, contra os 937 milhões em Inglaterra ou os 385 milhões de euros em Itália.

Nuno Ribeiro, Madrid

Fim do Namoro do Futebol e da Televisão em Espanha

Sábado, 6 de Julho de 2002

Depois de anos de um romance tão intenso que o casamento perpétuo parecia inevitável, a televisão e o futebol em Espanha partem em direcções contrárias: as cadeias procurando não continuar a perder dinheiro e os clubes já na busca desesperada de uma solução que evite dramáticos problemas financeiros. Como os actuais contratos terminam em Junho de 2003, tudo se joga nos próximos seis meses.

Na passada quarta-feira, na cidade basca de Vitória, a Liga de Futebol Profissional de Espanha (LFP) tentou a "quadratura do círculo": juntar à mesma mesa os grandes emblemas e os de menor dimensão. Em causa está o facto de, até à época 2008-2009, Real Madrid e Barcelona terem subscrito com a sociedade Audiovisual Sport contratos individuais para a transmissão dos seus jogos de, respectivamente, 54 e 50 milhões de euros anuais. Aquela empresa, que gere os direitos das transmissões desportivas no sistema "pay per view" - pagar para ver - alega que anualmente perdeu 72 milhões de euros porque o que pagava aos clubes não era compensado, na esmagadora maioria dos emblemas, por espectadores de televisão. E, claro, a taxa de rentabilidade só esteve assegurada quando o Real da capital espanhola e o "Barça", os históricos do futebol espanhol, entravam em liça. Também desejando contratos individuais estão o Valência, que quer logicamente rentabilizar o título alcançado este ano, e o Desportivo da Corunha, transformado na "equipa em voga" em Espanha. Quer os de Valência quer os galegos também sabem que, se não conseguirem este tratamento preferencial, as suas receitas por direitos de transmissão vão diminuir.

É essa a proposta inicial que a Audiovisual Sport tem em cima da mesa: baixar os 180 milhões de euros que pagará até Junho do próximo ano, o que, com os contratos individuais assinados com os madrilistas e os catalães, reduziria a quota dos outros clubes. Da reunião da LFP de Vitória, para além da imagem de ruptura entre os clubes, saiu uma ameaça: caso não haja acordo, os restantes emblemas, após a revisão dos estatutos da Liga, não autorizarão as transmissões dos seus encontros com o Real Madrid e o Barcelona, pelo que a Audiovisual ficaria sujeita apenas à transmissão dos jogos que os dois "grandes de Espanha" disputem entre si. Para tanto, e para suprir a falta dos dinheiros televisivos, a LFP estaria em negociações com uma entidade financeira para a concessão de um crédito que permitisse resistir financeiramente a um ano sem direito a TV. Até porque, garante a Liga, das cinco grandes competições do futebol europeu - Inglaterra, Itália, Alemanha, França e Espanha - a espanhola foi a que menos recebeu pelas transmissões televisivas: 240 milhões de euros, contra os 937 milhões em Inglaterra ou os 385 milhões de euros em Itália.

Nuno Ribeiro, Madrid

marcar artigo