Redução de custos e mais gestão

08-07-2002
marcar artigo

Redução de Custos e Mais Gestão

Por JOSÉ AUGUSTO MOREIRA

Sábado, 6 de Julho de 2002

Recuperação financeira passa pela valorização do espectáculo, mas também pela ameaça de desemprego para muitos futebolistas

Mais gestão e menos, muito menos, paixão. O futebol está definitivamente convertido numa actividade industrial e é nessa perspectiva que a vida dos clubes deve ser encarada. "A paixão que arrasta as multidões do futebol (e também alguns investidores) leva muitas vezes a decisões que não têm natureza comercial. Muitos clubes têm sido geridos por homens ricos, quer pelo gosto do futebol, quer para alimentarem o próprio ego. É um tipo de dinâmica que leva a que mesmo clubes cotados na bolsa façam tentativas desesperadas para adquirir ou segurar os jogadores mais cotados".

A ideia, que vem expressa num recente trabalho da revista "The Economist", serve para ilustrar o que deve mudar no modelo de gestão dos clubes. Outros exemplos duma lógica anticomercial e contrária ao desenvolvimento desta indústria, são dados pela controvérsia instalada no Brasil com o patrocínio da Nike no Mundial de França - os brasileiros entendiam que se tratava de uma forma de prostituir a selecção/símbolo nacional -, ou ainda pelo facto de o Barcelona rejeitar patrocínio (10 milhões de euros) nas camisolas porque, alegadamente, são um símbolo da região. Mas talvez o maior exemplo deste impulso anticomercial, diz a "The Economist", seja o próprio Mundial de futebol, onde "clubes de todo o mundo têm que ceder às selecções os milhões que valem os seus jogadores sem qualquer encargo".

Em Portugal, além de uma rigorosa lógica de gestão, é também necessário apostar na formação de jogadores e no desenvolvimento do negócio futebol, que está numa fase ainda incipiente. "Mais que o incremento de receitas, é preciso pensar já em reduzir custos", diz José Guilherme Aguiar, o homem que na última década foi director executivo da Liga de Clubes. "O aumento brutal das receitas de televisão serviu apenas para enriquecer os agentes dos jogadores e aumentar as despesas dos clubes", diz, para explicar que a solução passa pela negociação conjunta (pela Liga) desses direitos. Não só porque ganha força negocial, e permite maiores receitas para as equipas mais pequenas, mas também como forma de disciplinar o mercado ao impedir que os clubes gastem adiantado o que recebem das televisões para vários anos de contrato. Foi o que aconteceu em França e Inglaterra, onde o crescimento tem sido mais equilibrado, ao contrário de Espanha e Itália, e também de Portugal, onde os clubes foram aliciados com contratos de vários anos e aplicando a totalidade de verbas em contratos com jogadores, o que fez com que menos de dez anos depois "estejam quase todos brutalmente endividados", explica Guilherme Aguiar, para reafirmar que o caminho tem que passar, antes, pela redução dos custos, pela diminuição dos plantéis, e também por uma nova situação de desemprego para muitos futebolistas. "É duro, mas é preciso que se diga", frisa Aguiar, gracejando que foi talvez por isso que não conseguiu levar até ao fim a sua candidatura à presidência da Liga. "Ofereci dificuldades. Assustei os dirigentes", conclui.

Hélder Varandas, da consultora Delloitte & Touche, perspectiva igualmente uma onda de desemprego decorrente da diminução dos plantéis, mas diz que é preciso mais. "Como não se pode diminuir aos salários, penso que a solução é que passem a ter uma componente fixa e outra variável, que podia ir até metade, dependendo não dos resultados desportivos, mas da 'perfomance' financeira do clube". Uma forma de implicar os jogadores na promoção e valorização do espectáculo, que é outro dos caminhos apontados para novas receitas. Gulherme Aguiar preconiza mesmo que "não estaremos já muito longe do tempo em que os jogadores estarão ligados aos clubes por uma espécie de "renting", em que o clube pagará apenas uma mensalidade pelo aluguer dos seus serviços". Seja como for, o futuro parece passar necessariamente pela diminuição dos custos com jogadores, mas também pela valorização do espectáculo. O Euro 2004 vai trazer muito melhores condições nos estádios, mas é preciso também valorizar e credibilizar o espectáculo. "Tudo ao contrário do que se faz actualmente, de que é exemplo a tentativa de protecção a João Pinto." A defesa e promoção do espectáculo "passa também pela firme condenação deste tipo de comportamento; os jogadores serão os primeiros a lucrar com isso", conclui Guilherme Aguiar.

Redução de Custos e Mais Gestão

Por JOSÉ AUGUSTO MOREIRA

Sábado, 6 de Julho de 2002

Recuperação financeira passa pela valorização do espectáculo, mas também pela ameaça de desemprego para muitos futebolistas

Mais gestão e menos, muito menos, paixão. O futebol está definitivamente convertido numa actividade industrial e é nessa perspectiva que a vida dos clubes deve ser encarada. "A paixão que arrasta as multidões do futebol (e também alguns investidores) leva muitas vezes a decisões que não têm natureza comercial. Muitos clubes têm sido geridos por homens ricos, quer pelo gosto do futebol, quer para alimentarem o próprio ego. É um tipo de dinâmica que leva a que mesmo clubes cotados na bolsa façam tentativas desesperadas para adquirir ou segurar os jogadores mais cotados".

A ideia, que vem expressa num recente trabalho da revista "The Economist", serve para ilustrar o que deve mudar no modelo de gestão dos clubes. Outros exemplos duma lógica anticomercial e contrária ao desenvolvimento desta indústria, são dados pela controvérsia instalada no Brasil com o patrocínio da Nike no Mundial de França - os brasileiros entendiam que se tratava de uma forma de prostituir a selecção/símbolo nacional -, ou ainda pelo facto de o Barcelona rejeitar patrocínio (10 milhões de euros) nas camisolas porque, alegadamente, são um símbolo da região. Mas talvez o maior exemplo deste impulso anticomercial, diz a "The Economist", seja o próprio Mundial de futebol, onde "clubes de todo o mundo têm que ceder às selecções os milhões que valem os seus jogadores sem qualquer encargo".

Em Portugal, além de uma rigorosa lógica de gestão, é também necessário apostar na formação de jogadores e no desenvolvimento do negócio futebol, que está numa fase ainda incipiente. "Mais que o incremento de receitas, é preciso pensar já em reduzir custos", diz José Guilherme Aguiar, o homem que na última década foi director executivo da Liga de Clubes. "O aumento brutal das receitas de televisão serviu apenas para enriquecer os agentes dos jogadores e aumentar as despesas dos clubes", diz, para explicar que a solução passa pela negociação conjunta (pela Liga) desses direitos. Não só porque ganha força negocial, e permite maiores receitas para as equipas mais pequenas, mas também como forma de disciplinar o mercado ao impedir que os clubes gastem adiantado o que recebem das televisões para vários anos de contrato. Foi o que aconteceu em França e Inglaterra, onde o crescimento tem sido mais equilibrado, ao contrário de Espanha e Itália, e também de Portugal, onde os clubes foram aliciados com contratos de vários anos e aplicando a totalidade de verbas em contratos com jogadores, o que fez com que menos de dez anos depois "estejam quase todos brutalmente endividados", explica Guilherme Aguiar, para reafirmar que o caminho tem que passar, antes, pela redução dos custos, pela diminuição dos plantéis, e também por uma nova situação de desemprego para muitos futebolistas. "É duro, mas é preciso que se diga", frisa Aguiar, gracejando que foi talvez por isso que não conseguiu levar até ao fim a sua candidatura à presidência da Liga. "Ofereci dificuldades. Assustei os dirigentes", conclui.

Hélder Varandas, da consultora Delloitte & Touche, perspectiva igualmente uma onda de desemprego decorrente da diminução dos plantéis, mas diz que é preciso mais. "Como não se pode diminuir aos salários, penso que a solução é que passem a ter uma componente fixa e outra variável, que podia ir até metade, dependendo não dos resultados desportivos, mas da 'perfomance' financeira do clube". Uma forma de implicar os jogadores na promoção e valorização do espectáculo, que é outro dos caminhos apontados para novas receitas. Gulherme Aguiar preconiza mesmo que "não estaremos já muito longe do tempo em que os jogadores estarão ligados aos clubes por uma espécie de "renting", em que o clube pagará apenas uma mensalidade pelo aluguer dos seus serviços". Seja como for, o futuro parece passar necessariamente pela diminuição dos custos com jogadores, mas também pela valorização do espectáculo. O Euro 2004 vai trazer muito melhores condições nos estádios, mas é preciso também valorizar e credibilizar o espectáculo. "Tudo ao contrário do que se faz actualmente, de que é exemplo a tentativa de protecção a João Pinto." A defesa e promoção do espectáculo "passa também pela firme condenação deste tipo de comportamento; os jogadores serão os primeiros a lucrar com isso", conclui Guilherme Aguiar.

marcar artigo