EXPRESSO: Cartaz

02-09-2002
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1/9/2001

RECENSÕES

Afectos de Alma Judite Jorge (Dom Quixote, 2001, 195 págs., 1980$00, 10,88 euros) Trata-se da história de Maria Polley, que, no início do século XX, partiu do Pico rumo à América em busca do sonho açoriano: ganhar dinheiro para mandar aos seus. Pelas interrogações de João de Melo na Antologia Panorâmica do Conto Açoriano, e bem a propósito de uma realidade circunscrita às ilhas — a da emigração para os Estados Unidos —, «vai sendo cada vez mais comum surpreender no interior da açorianeidade, mais do que os pontos afins, os graus de ruptura com a Literatura dita continental». É Judite Jorge quem agora nos traz essa diferença, faça ela ou não parte de uma voz de ruptura. A questão não é linear, muito menos essencial para a fruição de uma poética inconfundível nas marcas que, por vezes, a insularidade transporta ou ultrapassa. A força de Nemésio e Natália bastariam como argumento. Mais há. Afectos de Alma traça um retrato simultaneamente atento ao universo de afeições, sofrimentos que tece a emigração, sendo exímio no que respeita à sinuosidade das palavras, sobretudo aquelas cujo significado não foi nunca exportado para além do território das ilhas. Trata-se da história de Maria Polley, que, no início do século XX, partiu do Pico rumo à América em busca do sonho açoriano: ganhar dinheiro para mandar aos seus. Pelas interrogações de João de Melo na, e bem a propósito de uma realidade circunscrita às ilhas — a da emigração para os Estados Unidos —, «vai sendo cada vez mais comum surpreender no interior da açorianeidade, mais do que os pontos afins, os graus de ruptura com a Literatura dita continental». É Judite Jorge quem agora nos traz essa diferença, faça ela ou não parte de uma voz de ruptura. A questão não é linear, muito menos essencial para a fruição de uma poética inconfundível nas marcas que, por vezes, a insularidade transporta ou ultrapassa. A força de Nemésio e Natália bastariam como argumento. Mais há.traça um retrato simultaneamente atento ao universo de afeições, sofrimentos que tece a emigração, sendo exímio no que respeita à sinuosidade das palavras, sobretudo aquelas cujo significado não foi nunca exportado para além do território das ilhas. Ana Paula Costa

Rumores Hugo Clauss (Asa, 2001, trad. de Ana Maria Carvalho, 192 págs., 2250$00, 11,22 euros) Nascido em Bruges, em 1929, Hugo Clauss é um dos mais importantes e representativos autores belgas da actualidade. O Desgosto da Bélgica, altamente aclamado, bem como A Caça aos Patos, premiado largamente, ambos traduzidos nesta chancela, constituem dois marcos da sua produção. A chegada a uma pacata vilória de um antigo combatente mercenário em África desencadeia uma série de estranhas e inquietantes mortes. Ninguém parece saber o que se passa realmente, e o falatório, as suspeições, as intrigas e as memórias, que recuam até ao tempo da ocupação nazi, saltam para primeiro plano. A vida tal como ela é, conformista, toma a configuração de uma epidemia que ameaça as próprias fundações da convivência social. Escrito com uma mestria assinalável, Rumores é uma autópsia de uma pequena comunidade que se assemelha ao grande mundo, e por isso se torna numa fábula negra onde todos parecem encerrados nos seus pequenos casulos esperando que a tempestade passe. A peste está às portas, mas ninguém sabe quem é o emissário da desgraça. Nascido em Bruges, em 1929, Hugo Clauss é um dos mais importantes e representativos autores belgas da actualidade., altamente aclamado, bem como, premiado largamente, ambos traduzidos nesta chancela, constituem dois marcos da sua produção. A chegada a uma pacata vilória de um antigo combatente mercenário em África desencadeia uma série de estranhas e inquietantes mortes. Ninguém parece saber o que se passa realmente, e o falatório, as suspeições, as intrigas e as memórias, que recuam até ao tempo da ocupação nazi, saltam para primeiro plano. A vida tal como ela é, conformista, toma a configuração de uma epidemia que ameaça as próprias fundações da convivência social. Escrito com uma mestria assinalável,é uma autópsia de uma pequena comunidade que se assemelha ao grande mundo, e por isso se torna numa fábula negra onde todos parecem encerrados nos seus pequenos casulos esperando que a tempestade passe. A peste está às portas, mas ninguém sabe quem é o emissário da desgraça. José Guardado Moreira

Chega com a Chuva Alvaro Mutis (Dom Quixote, 2001, trad. de Maria do Carmo Abreu, 158 págs., 1980$00, 9,88 euros) O colombiano Alvaro Mutis é, a seguir ao seu amigo e conterrâneo Gabriel García Márquez, o escritor latino-americano mais conhecido nas Américas do Norte e do Sul e na Europa, sendo também um dos mais galardoados. Nasceu aristocrata na Bogotá dos anos 20, fez-se poeta, um dia exilou-se no México (onde vive ainda), odeia multidões, embora goste de viajar, e desde os seus 16 anos que se entrega religiosamente à arte da escrita. Os franceses adoram-no, publicam-no em força e não lhe poupam elogios. Há mesmo quem diga que a sua obra é comparável à de Joseph Conrad, mas para tirar eventuais dúvidas não há nada como ler os seus livros. Chega com a Chuva (história de mar e marinheiros, desenrascanços e mulheres, amor e amizade) é, seguramente, uma boa maneira de se começar a gostar de Mutis, tanto mais que a Dom Quixote já tinha publicado duas das suas obras mais conhecidas, A Neve do Almirante e Un Bel Morir, permitindo uma razoável aproximação em língua portuguesa ao universo do escritor. O colombiano Alvaro Mutis é, a seguir ao seu amigo e conterrâneo Gabriel García Márquez, o escritor latino-americano mais conhecido nas Américas do Norte e do Sul e na Europa, sendo também um dos mais galardoados. Nasceu aristocrata na Bogotá dos anos 20, fez-se poeta, um dia exilou-se no México (onde vive ainda), odeia multidões, embora goste de viajar, e desde os seus 16 anos que se entrega religiosamente à arte da escrita. Os franceses adoram-no, publicam-no em força e não lhe poupam elogios. Há mesmo quem diga que a sua obra é comparável à de Joseph Conrad, mas para tirar eventuais dúvidas não há nada como ler os seus livros.(história de mar e marinheiros, desenrascanços e mulheres, amor e amizade) é, seguramente, uma boa maneira de se começar a gostar de Mutis, tanto mais que a Dom Quixote já tinha publicado duas das suas obras mais conhecidas,, permitindo uma razoável aproximação em língua portuguesa ao universo do escritor. Vítor Quelhas

Arte y Parte Editor: Fernando FrancésDirector: Fernando Huici (Ed. Arte y Parte, S.L., Nº 34, 176 págs., 2195$00, 10,82 euros) Portugal tem presença esporádica nas revistas de arte, como é natural. «Arte y Parte», que se publica em Madrid, com vocação descentralizadora, incluiu-o na sua área de cobertura e difusão, que recentemente se alargou à «Iberoamérica». Logo no nº 1, em 96, a revista, com formato de livro, adoptou um modelo jornalístico que concede o espaço principal a um roteiro de exposições organizado por regiões de Espanha e por países. A dimensão crítica esbate-se nos escritos por antecipação, mas será esse o preço a pagar pela actualidade da informação. As nótulas portuguesas, nos últimos números, são da autoria de Sandra Vieira, Lúcia Marques e Celso Martins, e a mais recente edição (nº 34, Agosto/Setembro) antecipa várias exposições da próxima temporada, fazendo eco do programa de Serralves. Nas páginas galegas, entretanto, dá-se conta da antologia de Alberto Carneiro que se apresenta em Santiago de Compostela até dia 16. A abrir cada edição, alguns textos mais longos, mais ou menos coerentes entre si (na última, o tema é mestiçagem e multiculturalismo), dão mais peso reflexivo à revista. Portugal tem presença esporádica nas revistas de arte, como é natural. «Arte y Parte», que se publica em Madrid, com vocação descentralizadora, incluiu-o na sua área de cobertura e difusão, que recentemente se alargou à «Iberoamérica». Logo no nº 1, em 96, a revista, com formato de livro, adoptou um modelo jornalístico que concede o espaço principal a um roteiro de exposições organizado por regiões de Espanha e por países. A dimensão crítica esbate-se nos escritos por antecipação, mas será esse o preço a pagar pela actualidade da informação. As nótulas portuguesas, nos últimos números, são da autoria de Sandra Vieira, Lúcia Marques e Celso Martins, e a mais recente edição (nº 34, Agosto/Setembro) antecipa várias exposições da próxima temporada, fazendo eco do programa de Serralves. Nas páginas galegas, entretanto, dá-se conta da antologia de Alberto Carneiro que se apresenta em Santiago de Compostela até dia 16. A abrir cada edição, alguns textos mais longos, mais ou menos coerentes entre si (na última, o tema é mestiçagem e multiculturalismo), dão mais peso reflexivo à revista. Alexandre Pomar

Dialéctica Erística Arthur Schopenhauer (Campo das Letras, 2001, trad. de Isabel Vaz Ponce de Leão e Wlodzimierz Jozef Szymaniak, 101 págs., 1995$00, 10,95 euros) Publicado quatro anos após a morte do autor (1788-1860), a Dialéctica Erística — «uma arte de discutir de forma a ter sempre razão, per fas et nefas (usando todos os meios legítimos ou ilícitos)» (pág. 39) — anuncia um tema que, muito actual, exige a máxima atenção: o carácter sedutor da argumentação. Articulando a observação da realidade e o conhecimento da retórica clássica, o filósofo alemão oferece-nos neste pequeno compêndio 38 estratagemas ou defesas contra os truques que frequentemente acodem o fundamentar e refutar de teses. E lembra ser «fundamental distinguir claramente entre a pesquisa da verdade absoluta e a arte de forçar os seus argumentos como verídicos» (pág. 44). A Dialéctica Erística comprova, como Parerge e Paralipomena (1851), o interesse do autor de O Mundo como Vontade e Representação (1819) pelas questões práticas da vida. Esta edição é enriquecida por um texto introdutório que assinala a influência do niilismo schopenhaueriano na literatura portuguesa. Publicado quatro anos após a morte do autor (1788-1860), a— «uma arte de discutir de forma a ter sempre razão, per fas et nefas (usando todos os meios legítimos ou ilícitos)» (pág. 39) — anuncia um tema que, muito actual, exige a máxima atenção: o carácter sedutor da argumentação. Articulando a observação da realidade e o conhecimento da retórica clássica, o filósofo alemão oferece-nos neste pequeno compêndio 38 estratagemas ou defesas contra os truques que frequentemente acodem o fundamentar e refutar de teses. E lembra ser «fundamental distinguir claramente entre a pesquisa da verdade absoluta e a arte de forçar os seus argumentos como verídicos» (pág. 44). Acomprova, como(1851), o interesse do autor de(1819) pelas questões práticas da vida. Esta edição é enriquecida por um texto introdutório que assinala a influência do niilismo schopenhaueriano na literatura portuguesa. Maria João Cabrita

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RECENSÕES

Afectos de Alma Judite Jorge (Dom Quixote, 2001, 195 págs., 1980$00, 10,88 euros) Trata-se da história de Maria Polley, que, no início do século XX, partiu do Pico rumo à América em busca do sonho açoriano: ganhar dinheiro para mandar aos seus. Pelas interrogações de João de Melo na Antologia Panorâmica do Conto Açoriano, e bem a propósito de uma realidade circunscrita às ilhas — a da emigração para os Estados Unidos —, «vai sendo cada vez mais comum surpreender no interior da açorianeidade, mais do que os pontos afins, os graus de ruptura com a Literatura dita continental». É Judite Jorge quem agora nos traz essa diferença, faça ela ou não parte de uma voz de ruptura. A questão não é linear, muito menos essencial para a fruição de uma poética inconfundível nas marcas que, por vezes, a insularidade transporta ou ultrapassa. A força de Nemésio e Natália bastariam como argumento. Mais há. Afectos de Alma traça um retrato simultaneamente atento ao universo de afeições, sofrimentos que tece a emigração, sendo exímio no que respeita à sinuosidade das palavras, sobretudo aquelas cujo significado não foi nunca exportado para além do território das ilhas. Trata-se da história de Maria Polley, que, no início do século XX, partiu do Pico rumo à América em busca do sonho açoriano: ganhar dinheiro para mandar aos seus. Pelas interrogações de João de Melo na, e bem a propósito de uma realidade circunscrita às ilhas — a da emigração para os Estados Unidos —, «vai sendo cada vez mais comum surpreender no interior da açorianeidade, mais do que os pontos afins, os graus de ruptura com a Literatura dita continental». É Judite Jorge quem agora nos traz essa diferença, faça ela ou não parte de uma voz de ruptura. A questão não é linear, muito menos essencial para a fruição de uma poética inconfundível nas marcas que, por vezes, a insularidade transporta ou ultrapassa. A força de Nemésio e Natália bastariam como argumento. Mais há.traça um retrato simultaneamente atento ao universo de afeições, sofrimentos que tece a emigração, sendo exímio no que respeita à sinuosidade das palavras, sobretudo aquelas cujo significado não foi nunca exportado para além do território das ilhas. Ana Paula Costa

Rumores Hugo Clauss (Asa, 2001, trad. de Ana Maria Carvalho, 192 págs., 2250$00, 11,22 euros) Nascido em Bruges, em 1929, Hugo Clauss é um dos mais importantes e representativos autores belgas da actualidade. O Desgosto da Bélgica, altamente aclamado, bem como A Caça aos Patos, premiado largamente, ambos traduzidos nesta chancela, constituem dois marcos da sua produção. A chegada a uma pacata vilória de um antigo combatente mercenário em África desencadeia uma série de estranhas e inquietantes mortes. Ninguém parece saber o que se passa realmente, e o falatório, as suspeições, as intrigas e as memórias, que recuam até ao tempo da ocupação nazi, saltam para primeiro plano. A vida tal como ela é, conformista, toma a configuração de uma epidemia que ameaça as próprias fundações da convivência social. Escrito com uma mestria assinalável, Rumores é uma autópsia de uma pequena comunidade que se assemelha ao grande mundo, e por isso se torna numa fábula negra onde todos parecem encerrados nos seus pequenos casulos esperando que a tempestade passe. A peste está às portas, mas ninguém sabe quem é o emissário da desgraça. Nascido em Bruges, em 1929, Hugo Clauss é um dos mais importantes e representativos autores belgas da actualidade., altamente aclamado, bem como, premiado largamente, ambos traduzidos nesta chancela, constituem dois marcos da sua produção. A chegada a uma pacata vilória de um antigo combatente mercenário em África desencadeia uma série de estranhas e inquietantes mortes. Ninguém parece saber o que se passa realmente, e o falatório, as suspeições, as intrigas e as memórias, que recuam até ao tempo da ocupação nazi, saltam para primeiro plano. A vida tal como ela é, conformista, toma a configuração de uma epidemia que ameaça as próprias fundações da convivência social. Escrito com uma mestria assinalável,é uma autópsia de uma pequena comunidade que se assemelha ao grande mundo, e por isso se torna numa fábula negra onde todos parecem encerrados nos seus pequenos casulos esperando que a tempestade passe. A peste está às portas, mas ninguém sabe quem é o emissário da desgraça. José Guardado Moreira

Chega com a Chuva Alvaro Mutis (Dom Quixote, 2001, trad. de Maria do Carmo Abreu, 158 págs., 1980$00, 9,88 euros) O colombiano Alvaro Mutis é, a seguir ao seu amigo e conterrâneo Gabriel García Márquez, o escritor latino-americano mais conhecido nas Américas do Norte e do Sul e na Europa, sendo também um dos mais galardoados. Nasceu aristocrata na Bogotá dos anos 20, fez-se poeta, um dia exilou-se no México (onde vive ainda), odeia multidões, embora goste de viajar, e desde os seus 16 anos que se entrega religiosamente à arte da escrita. Os franceses adoram-no, publicam-no em força e não lhe poupam elogios. Há mesmo quem diga que a sua obra é comparável à de Joseph Conrad, mas para tirar eventuais dúvidas não há nada como ler os seus livros. Chega com a Chuva (história de mar e marinheiros, desenrascanços e mulheres, amor e amizade) é, seguramente, uma boa maneira de se começar a gostar de Mutis, tanto mais que a Dom Quixote já tinha publicado duas das suas obras mais conhecidas, A Neve do Almirante e Un Bel Morir, permitindo uma razoável aproximação em língua portuguesa ao universo do escritor. O colombiano Alvaro Mutis é, a seguir ao seu amigo e conterrâneo Gabriel García Márquez, o escritor latino-americano mais conhecido nas Américas do Norte e do Sul e na Europa, sendo também um dos mais galardoados. Nasceu aristocrata na Bogotá dos anos 20, fez-se poeta, um dia exilou-se no México (onde vive ainda), odeia multidões, embora goste de viajar, e desde os seus 16 anos que se entrega religiosamente à arte da escrita. Os franceses adoram-no, publicam-no em força e não lhe poupam elogios. Há mesmo quem diga que a sua obra é comparável à de Joseph Conrad, mas para tirar eventuais dúvidas não há nada como ler os seus livros.(história de mar e marinheiros, desenrascanços e mulheres, amor e amizade) é, seguramente, uma boa maneira de se começar a gostar de Mutis, tanto mais que a Dom Quixote já tinha publicado duas das suas obras mais conhecidas,, permitindo uma razoável aproximação em língua portuguesa ao universo do escritor. Vítor Quelhas

Arte y Parte Editor: Fernando FrancésDirector: Fernando Huici (Ed. Arte y Parte, S.L., Nº 34, 176 págs., 2195$00, 10,82 euros) Portugal tem presença esporádica nas revistas de arte, como é natural. «Arte y Parte», que se publica em Madrid, com vocação descentralizadora, incluiu-o na sua área de cobertura e difusão, que recentemente se alargou à «Iberoamérica». Logo no nº 1, em 96, a revista, com formato de livro, adoptou um modelo jornalístico que concede o espaço principal a um roteiro de exposições organizado por regiões de Espanha e por países. A dimensão crítica esbate-se nos escritos por antecipação, mas será esse o preço a pagar pela actualidade da informação. As nótulas portuguesas, nos últimos números, são da autoria de Sandra Vieira, Lúcia Marques e Celso Martins, e a mais recente edição (nº 34, Agosto/Setembro) antecipa várias exposições da próxima temporada, fazendo eco do programa de Serralves. Nas páginas galegas, entretanto, dá-se conta da antologia de Alberto Carneiro que se apresenta em Santiago de Compostela até dia 16. A abrir cada edição, alguns textos mais longos, mais ou menos coerentes entre si (na última, o tema é mestiçagem e multiculturalismo), dão mais peso reflexivo à revista. Portugal tem presença esporádica nas revistas de arte, como é natural. «Arte y Parte», que se publica em Madrid, com vocação descentralizadora, incluiu-o na sua área de cobertura e difusão, que recentemente se alargou à «Iberoamérica». Logo no nº 1, em 96, a revista, com formato de livro, adoptou um modelo jornalístico que concede o espaço principal a um roteiro de exposições organizado por regiões de Espanha e por países. A dimensão crítica esbate-se nos escritos por antecipação, mas será esse o preço a pagar pela actualidade da informação. As nótulas portuguesas, nos últimos números, são da autoria de Sandra Vieira, Lúcia Marques e Celso Martins, e a mais recente edição (nº 34, Agosto/Setembro) antecipa várias exposições da próxima temporada, fazendo eco do programa de Serralves. Nas páginas galegas, entretanto, dá-se conta da antologia de Alberto Carneiro que se apresenta em Santiago de Compostela até dia 16. A abrir cada edição, alguns textos mais longos, mais ou menos coerentes entre si (na última, o tema é mestiçagem e multiculturalismo), dão mais peso reflexivo à revista. Alexandre Pomar

Dialéctica Erística Arthur Schopenhauer (Campo das Letras, 2001, trad. de Isabel Vaz Ponce de Leão e Wlodzimierz Jozef Szymaniak, 101 págs., 1995$00, 10,95 euros) Publicado quatro anos após a morte do autor (1788-1860), a Dialéctica Erística — «uma arte de discutir de forma a ter sempre razão, per fas et nefas (usando todos os meios legítimos ou ilícitos)» (pág. 39) — anuncia um tema que, muito actual, exige a máxima atenção: o carácter sedutor da argumentação. Articulando a observação da realidade e o conhecimento da retórica clássica, o filósofo alemão oferece-nos neste pequeno compêndio 38 estratagemas ou defesas contra os truques que frequentemente acodem o fundamentar e refutar de teses. E lembra ser «fundamental distinguir claramente entre a pesquisa da verdade absoluta e a arte de forçar os seus argumentos como verídicos» (pág. 44). A Dialéctica Erística comprova, como Parerge e Paralipomena (1851), o interesse do autor de O Mundo como Vontade e Representação (1819) pelas questões práticas da vida. Esta edição é enriquecida por um texto introdutório que assinala a influência do niilismo schopenhaueriano na literatura portuguesa. Publicado quatro anos após a morte do autor (1788-1860), a— «uma arte de discutir de forma a ter sempre razão, per fas et nefas (usando todos os meios legítimos ou ilícitos)» (pág. 39) — anuncia um tema que, muito actual, exige a máxima atenção: o carácter sedutor da argumentação. Articulando a observação da realidade e o conhecimento da retórica clássica, o filósofo alemão oferece-nos neste pequeno compêndio 38 estratagemas ou defesas contra os truques que frequentemente acodem o fundamentar e refutar de teses. E lembra ser «fundamental distinguir claramente entre a pesquisa da verdade absoluta e a arte de forçar os seus argumentos como verídicos» (pág. 44). Acomprova, como(1851), o interesse do autor de(1819) pelas questões práticas da vida. Esta edição é enriquecida por um texto introdutório que assinala a influência do niilismo schopenhaueriano na literatura portuguesa. Maria João Cabrita

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