Família tradicional está fora da campanha eleitoral

04-02-2005
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Família Tradicional Está Fora da Campanha Eleitoral

Por ANA SÁ LOPES

Quinta-feira, 03 de Fevereiro de 2005

Candidatos a primeiro-ministro divorciados (José Sócrates e Santana Lopes), solteiros (Paulo Portas) ou a viver em união de facto (Francisco Louçã). Só o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, é legalmente casado. A família tradicional não entra nesta campanha: "Na América isto não passava", afirma o sociólogo António Barreto.

A onda de boatos que invadiu a campanha eleitoral pode prefigurar uma "campanha negra" que António Barreto defende que devia ser encarada de frente. Para o sociólogo, é natural que, em conjunto com a declaração de rendimentos, a fé religiosa, o estado civil, o cadastro, o número de filhos, as habilitações académicas, os candidatos declarem a sua orientação sexual: "As opções relativamente à vida sexual não são para mim nem mais difíceis nem mais íntimas do que a opção relativamente a ser crente ou não ser crente", defende António Barreto, para quem "é indiferente que um candidato a primeiro-ministro seja homossexual ou heterossexual".

No entanto, Barreto assume que a sua defesa de que um candidato declare a sua orientação sexual não é um direito seu, nem um dever do candidato e que há, nesta matéria, "uma zona de imperfeições" "O facto de a opinião pública querer saber não obriga um político a dizê-lo", admite.

Mas, apesar da "imperfeição" do território, António Barreto é, claramente, a favor da máxima transparência mesmo neste terreno. O sociólogo admite que um político que tenha uma vida religiosa, financeira ou sexual oculta "é passível de chantagens, pressões indevidas, gestos politicamente menos racionais do que pessoas que não têm uma vida clandestina". Enfatiza não estar a "falar do ponto de vista moral, mas do ponto de vista político". Ou seja, segundo Barreto, um político "tem o direito de defender a sua privacidade, mas corre o risco de 'pagar as favas'" - ficar mais "frágil do ponto de vista político".

O sociólogo considera que o facto de um candidato fazer parte de uma família tradicional é, em Portugal, uma questão "muito marginal do ponto de vista político". Sá Carneiro, que vivia em união de facto com Snu Abecasis apesar de não ser ainda divorciado, "ajudou a quebrar o tabu". De resto, Barreto assinala que foi a própria Igreja Católica a apelar ao voto em Sá Carneiro em 1979.

Em contraste com a América, onde domina o puritanismo protestante, António Barreto considera que o facto de Portugal ser "um país maioritariamente católico " é favorável à pouca importância que a ortodoxia familiar assume na vida pública: "O catolicismo também é a confissão e o perdão dos pecados. Acaba por ser um maior estímulo ao pecado" que outras religiões.

De resto, Barreto acha "absolutamente odioso que os homens usem as mulheres em campanha eleitoral ou as mulheres usem os homens e todos usem as crianças". Se fosse candidato a Presidente da República o que faria, perguntou o PÚBLICO. António Barreto: "Declarava que sou ateu, casado, não tenho filhos, fui casado várias vezes, declarava a minha situação financeira, não utilizava a minha mulher na campanha eleitoral".

Família Tradicional Está Fora da Campanha Eleitoral

Por ANA SÁ LOPES

Quinta-feira, 03 de Fevereiro de 2005

Candidatos a primeiro-ministro divorciados (José Sócrates e Santana Lopes), solteiros (Paulo Portas) ou a viver em união de facto (Francisco Louçã). Só o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, é legalmente casado. A família tradicional não entra nesta campanha: "Na América isto não passava", afirma o sociólogo António Barreto.

A onda de boatos que invadiu a campanha eleitoral pode prefigurar uma "campanha negra" que António Barreto defende que devia ser encarada de frente. Para o sociólogo, é natural que, em conjunto com a declaração de rendimentos, a fé religiosa, o estado civil, o cadastro, o número de filhos, as habilitações académicas, os candidatos declarem a sua orientação sexual: "As opções relativamente à vida sexual não são para mim nem mais difíceis nem mais íntimas do que a opção relativamente a ser crente ou não ser crente", defende António Barreto, para quem "é indiferente que um candidato a primeiro-ministro seja homossexual ou heterossexual".

No entanto, Barreto assume que a sua defesa de que um candidato declare a sua orientação sexual não é um direito seu, nem um dever do candidato e que há, nesta matéria, "uma zona de imperfeições" "O facto de a opinião pública querer saber não obriga um político a dizê-lo", admite.

Mas, apesar da "imperfeição" do território, António Barreto é, claramente, a favor da máxima transparência mesmo neste terreno. O sociólogo admite que um político que tenha uma vida religiosa, financeira ou sexual oculta "é passível de chantagens, pressões indevidas, gestos politicamente menos racionais do que pessoas que não têm uma vida clandestina". Enfatiza não estar a "falar do ponto de vista moral, mas do ponto de vista político". Ou seja, segundo Barreto, um político "tem o direito de defender a sua privacidade, mas corre o risco de 'pagar as favas'" - ficar mais "frágil do ponto de vista político".

O sociólogo considera que o facto de um candidato fazer parte de uma família tradicional é, em Portugal, uma questão "muito marginal do ponto de vista político". Sá Carneiro, que vivia em união de facto com Snu Abecasis apesar de não ser ainda divorciado, "ajudou a quebrar o tabu". De resto, Barreto assinala que foi a própria Igreja Católica a apelar ao voto em Sá Carneiro em 1979.

Em contraste com a América, onde domina o puritanismo protestante, António Barreto considera que o facto de Portugal ser "um país maioritariamente católico " é favorável à pouca importância que a ortodoxia familiar assume na vida pública: "O catolicismo também é a confissão e o perdão dos pecados. Acaba por ser um maior estímulo ao pecado" que outras religiões.

De resto, Barreto acha "absolutamente odioso que os homens usem as mulheres em campanha eleitoral ou as mulheres usem os homens e todos usem as crianças". Se fosse candidato a Presidente da República o que faria, perguntou o PÚBLICO. António Barreto: "Declarava que sou ateu, casado, não tenho filhos, fui casado várias vezes, declarava a minha situação financeira, não utilizava a minha mulher na campanha eleitoral".

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