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07-09-2003
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António Costa Reconhece Inabilidade do PS nas Questões da Imigração e Segurança

Por RAPOSO ANTUNES

Quinta-feira, 6 de Junho de 2002

Debate no Porto com militantes

Líder parlamentar do PS tem orgulho em ter tantos ex-governantes na sua bancada

O líder parlamentar do PS, António Costa, reconheceu anteontem à noite, num debate no PS-Porto, a inabilidade dos socialistas para abordarem os problemas da segurança e da imigração, o que se está a traduzir em derrotas eleitorais da esquerda em diversos países europeus. Classificando a questão da imigração como "crítica em toda a Europa e particularmente para a esquerda", o ex-ministro da Justiça reconheceu que o Governo socialista não soube desmontar a ideia instalada na população de que há uma correlação entre imigração e insegurança. Ora, defendeu, "está provado que essa relação não existe".

Falando para uma apreciável plateia de militantes socialistas, pontuada ainda por alguns independentes, o novo líder parlamentar do PS enumerou depois uma série de situações que, essas sim, têm uma relação directa com o sentimento de insegurança que parece estar instalado na sociedade: "Vão do receio da perda do emprego ao medo da ruptura da Segurança Social, aos problemas ambientais e até a questões relacionadas com a qualidade alimentar".

Mas as questões internas do PS acabariam por dominar o debate com os militantes. Por entender ser necessário "ter memória" daquilo que "não correu bem" nos governos socialistas de Guterres, o ex-ministro da Justiça disse que o PS tem agora tempo de, "sem dramas", procurar encontrar os mecanismos que permitam corrigir no futuro a articulação partido/Governo/grupo parlamentar, articulação essa que os socialistas "não souberam fazer bem".

Em resposta a um militante, o líder parlamentar não se mostrou preocupado por ter uma "bancada governamentalizada", explicando: "É um motivo de orgulho para o PS que pessoas que exerceram funções governativas não terem ido tratar da vidinha após terem terminado os seus cargos. Todos aqueles [ex-governantes] que foram eleitos deputados estão lá". Por outro lado, rebateu a ideia - expressa por um militante no debate - de que só meia dúzia de deputados é que falam. Reconhecendo a necessidade de "diversificar e de dar espaço para todos falarem", garantiu, porém, que desde o início desta legislatura mais de 50 deputados do PS tinham efectuado intervenções.

Também numa réplica a um outro militante, o ex-ministro socialista contrariou a ideia de o PS ter tido uma actuação frouxa como principal partido da oposição no debate do programa do Governo. "Estamos numa fase em que se é preso por ter cão e por não ter: se o ex-ministro das Finanças fala, é porque fala; se não fala, é porque não fala", afirmou, acrescentando que "nunca tinha visto em todo o Mundo uma oposição ganhar um debate sobre o programa do Governo".

Numa clara mensagem para o interior do partido, disse que os socialistas tinham de ter a humildade de saber que perderam as eleições e, por isso, têm de perceber que "o novo Governo é que tem a iniciativa do jogo". Isso não quer dizer, segundo o líder parlamentar do PS, que os socialistas não exerçam oposição a Durão Barroso. E prometem fazê-lo no registo que o Governo "fixar". "O primeiro-ministro falou no Parlamento num tom inimaginável num país civilizado. A bancada do PS responderá no tom em que o Governo se dirija à Assembleia da República", sublinhou, numa aparente referência às críticas que lhe foram dirigidas pela sua contundência verbal no debate do programa do Governo. "Quem vai à guerra dá e leva", concluiu.

A frase

A "Gaffe" do Pão

Quinta-feira, 6 de Junho de 2002

António Costa afirmou no debate que os portugueses vão pagar mais dois por cento pelo pão que comprarem, em consequência do aumento do IVA. O líder parlamentar do PS pretendia criticar o aumento da taxa máxima de IVA de 17 para 19 por cento, mas utilizou como exemplo um bem essencial que continuará a ser taxado a cinco por cento. A "gaffe" de António Costa não passou despercebida aos militantes, que a comentaram em surdina, para não perturbar a intervenção do ex-ministro da Justiça.

Sócrates Preocupado com "Ideia Cega de Cortar em Todo o Lado"

Quinta-feira, 6 de Junho de 2002

Co-incineração recordada no Dia Mundial do Ambiente

O ex-ministro foi convidado a definir as prioridades ambientais para a próxima década e acabou por lamentar as orientações do Governo

O Dia Mundial do Ambiente não podia ter sido passado de melhor forma para o ex-ministro da área, José Sócrates. Convidado a proferir uma palestra intitulada "Política de Ambiente em Portugal - desafios para a próxima década", na Universidade de Aveiro, o actual deputado do PS sucumbiu ao que não hesitou em designar de "recaída ambiental". Sócrates recordou a evolução do país nesta matéria, enumerou as solicitadas prioridades para o futuro, e não resistiu a comentar as orientações definidas pelo actual Governo. Afinal, até o Ambiente parece ter cor política.

Desengane-se quem pensa que o Ambiente não tem partido. "Não é bem assim", defende o ex-responsável pela pasta, para quem "o Ambiente não está fora da política e não é uma coisa neutra". Pelo contrário, "as diferentes famílias políticas têm diferentes visões", diz José Sócrates, justificando a afirmação com o exemplo simples do papel do Estado nesta matéria, que para algumas "famílias" deve ser "reduzido ao mínimo" enquanto para outras será de "carácter mais interventor". E preconiza: "O mercado não pode comandar esta questão porque não tem uma visão de longo prazo. Só o Estado tem uma perspectiva de futuro".

Por isso, Sócrates está "preocupado" com "a ideia cega (do actual Governo PSD/CDS-PP) de cortar em todo o lado". "É preciso escolher, saber onde o Estado vai gastar mais dinheiro e ter mais funcionários", sustenta, salientando que "só há progresso em políticas de Ambiente com organização do Estado". E, por falar em Estado, a inevitável co-incineração ou, por outras palavras, o "momento de política rasteira". No dia consagrado à Natureza, o deputado socialista não queria falar "em coisas tristes", mas acabou por recordar a história da queima de resíduos em algumas "pinceladas", e sentenciou: "Foi um momento de baixo nível, uma tentativa de construção de uma ciência oficial, um mau momento de politiquice, em que a ciência cedeu ao preconceito".

Temendo que o chamado "síndrome da banana (bild absolutly nothing anywhere near anybody)" se instale no seio da gestão do executivo de Durão Barroso, José Sócrates lamentou ainda o recuo na demolição das torres de Ofir e deixou claro preferir que o ministério tutelado por Isaltino Morais se chamasse "do Ambiente, Ordenamento e Cidades". Pois o ordenamento do território é uma das cinco prioridades que elege para a política ambiental dos próximos dez anos. A esta área, o ex-ministro acrescenta o saneamento básico ambiental, a integração ao abrigo da ratificação do protocolo de Quioto, a cidade, e a aplicação geral de leis, mostrando "grande confiança no homem e em Portugal". P.C.M.

António Costa Reconhece Inabilidade do PS nas Questões da Imigração e Segurança

Por RAPOSO ANTUNES

Quinta-feira, 6 de Junho de 2002

Debate no Porto com militantes

Líder parlamentar do PS tem orgulho em ter tantos ex-governantes na sua bancada

O líder parlamentar do PS, António Costa, reconheceu anteontem à noite, num debate no PS-Porto, a inabilidade dos socialistas para abordarem os problemas da segurança e da imigração, o que se está a traduzir em derrotas eleitorais da esquerda em diversos países europeus. Classificando a questão da imigração como "crítica em toda a Europa e particularmente para a esquerda", o ex-ministro da Justiça reconheceu que o Governo socialista não soube desmontar a ideia instalada na população de que há uma correlação entre imigração e insegurança. Ora, defendeu, "está provado que essa relação não existe".

Falando para uma apreciável plateia de militantes socialistas, pontuada ainda por alguns independentes, o novo líder parlamentar do PS enumerou depois uma série de situações que, essas sim, têm uma relação directa com o sentimento de insegurança que parece estar instalado na sociedade: "Vão do receio da perda do emprego ao medo da ruptura da Segurança Social, aos problemas ambientais e até a questões relacionadas com a qualidade alimentar".

Mas as questões internas do PS acabariam por dominar o debate com os militantes. Por entender ser necessário "ter memória" daquilo que "não correu bem" nos governos socialistas de Guterres, o ex-ministro da Justiça disse que o PS tem agora tempo de, "sem dramas", procurar encontrar os mecanismos que permitam corrigir no futuro a articulação partido/Governo/grupo parlamentar, articulação essa que os socialistas "não souberam fazer bem".

Em resposta a um militante, o líder parlamentar não se mostrou preocupado por ter uma "bancada governamentalizada", explicando: "É um motivo de orgulho para o PS que pessoas que exerceram funções governativas não terem ido tratar da vidinha após terem terminado os seus cargos. Todos aqueles [ex-governantes] que foram eleitos deputados estão lá". Por outro lado, rebateu a ideia - expressa por um militante no debate - de que só meia dúzia de deputados é que falam. Reconhecendo a necessidade de "diversificar e de dar espaço para todos falarem", garantiu, porém, que desde o início desta legislatura mais de 50 deputados do PS tinham efectuado intervenções.

Também numa réplica a um outro militante, o ex-ministro socialista contrariou a ideia de o PS ter tido uma actuação frouxa como principal partido da oposição no debate do programa do Governo. "Estamos numa fase em que se é preso por ter cão e por não ter: se o ex-ministro das Finanças fala, é porque fala; se não fala, é porque não fala", afirmou, acrescentando que "nunca tinha visto em todo o Mundo uma oposição ganhar um debate sobre o programa do Governo".

Numa clara mensagem para o interior do partido, disse que os socialistas tinham de ter a humildade de saber que perderam as eleições e, por isso, têm de perceber que "o novo Governo é que tem a iniciativa do jogo". Isso não quer dizer, segundo o líder parlamentar do PS, que os socialistas não exerçam oposição a Durão Barroso. E prometem fazê-lo no registo que o Governo "fixar". "O primeiro-ministro falou no Parlamento num tom inimaginável num país civilizado. A bancada do PS responderá no tom em que o Governo se dirija à Assembleia da República", sublinhou, numa aparente referência às críticas que lhe foram dirigidas pela sua contundência verbal no debate do programa do Governo. "Quem vai à guerra dá e leva", concluiu.

A frase

A "Gaffe" do Pão

Quinta-feira, 6 de Junho de 2002

António Costa afirmou no debate que os portugueses vão pagar mais dois por cento pelo pão que comprarem, em consequência do aumento do IVA. O líder parlamentar do PS pretendia criticar o aumento da taxa máxima de IVA de 17 para 19 por cento, mas utilizou como exemplo um bem essencial que continuará a ser taxado a cinco por cento. A "gaffe" de António Costa não passou despercebida aos militantes, que a comentaram em surdina, para não perturbar a intervenção do ex-ministro da Justiça.

Sócrates Preocupado com "Ideia Cega de Cortar em Todo o Lado"

Quinta-feira, 6 de Junho de 2002

Co-incineração recordada no Dia Mundial do Ambiente

O ex-ministro foi convidado a definir as prioridades ambientais para a próxima década e acabou por lamentar as orientações do Governo

O Dia Mundial do Ambiente não podia ter sido passado de melhor forma para o ex-ministro da área, José Sócrates. Convidado a proferir uma palestra intitulada "Política de Ambiente em Portugal - desafios para a próxima década", na Universidade de Aveiro, o actual deputado do PS sucumbiu ao que não hesitou em designar de "recaída ambiental". Sócrates recordou a evolução do país nesta matéria, enumerou as solicitadas prioridades para o futuro, e não resistiu a comentar as orientações definidas pelo actual Governo. Afinal, até o Ambiente parece ter cor política.

Desengane-se quem pensa que o Ambiente não tem partido. "Não é bem assim", defende o ex-responsável pela pasta, para quem "o Ambiente não está fora da política e não é uma coisa neutra". Pelo contrário, "as diferentes famílias políticas têm diferentes visões", diz José Sócrates, justificando a afirmação com o exemplo simples do papel do Estado nesta matéria, que para algumas "famílias" deve ser "reduzido ao mínimo" enquanto para outras será de "carácter mais interventor". E preconiza: "O mercado não pode comandar esta questão porque não tem uma visão de longo prazo. Só o Estado tem uma perspectiva de futuro".

Por isso, Sócrates está "preocupado" com "a ideia cega (do actual Governo PSD/CDS-PP) de cortar em todo o lado". "É preciso escolher, saber onde o Estado vai gastar mais dinheiro e ter mais funcionários", sustenta, salientando que "só há progresso em políticas de Ambiente com organização do Estado". E, por falar em Estado, a inevitável co-incineração ou, por outras palavras, o "momento de política rasteira". No dia consagrado à Natureza, o deputado socialista não queria falar "em coisas tristes", mas acabou por recordar a história da queima de resíduos em algumas "pinceladas", e sentenciou: "Foi um momento de baixo nível, uma tentativa de construção de uma ciência oficial, um mau momento de politiquice, em que a ciência cedeu ao preconceito".

Temendo que o chamado "síndrome da banana (bild absolutly nothing anywhere near anybody)" se instale no seio da gestão do executivo de Durão Barroso, José Sócrates lamentou ainda o recuo na demolição das torres de Ofir e deixou claro preferir que o ministério tutelado por Isaltino Morais se chamasse "do Ambiente, Ordenamento e Cidades". Pois o ordenamento do território é uma das cinco prioridades que elege para a política ambiental dos próximos dez anos. A esta área, o ex-ministro acrescenta o saneamento básico ambiental, a integração ao abrigo da ratificação do protocolo de Quioto, a cidade, e a aplicação geral de leis, mostrando "grande confiança no homem e em Portugal". P.C.M.

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