Único frente-a-frente entre líderes do PS e do PSD

05-02-2005
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Único Frente-a-frente Entre Líderes do PS e do PSD

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sexta-feira, 04 de Fevereiro de 2005

O debate de ontem entre Pedro Santana Lopes e José Sócrates - único que os portugueses verão - revelou-se equilibrado. Só que, dada a desvantagem com que o líder do PSD partia no campo das expectativas, esse equilíbrio acabou por favorecê-lo. Nessa exacta medida, acabou por negativo para o líder do PS. O primeiro-ministro fez baixar as expectativas nas últimas semanas (ou mesmo meses) à custa de sucessivas polémicas mas ontem revelou-se melhor preparado do que se esperaria, nomeadamente nas questões económicas. José Sócrates, pelo seu lado, mostrou-se igual a si próprio, expondo o seu discurso sem novidades - só que deixando-se tomar por vezes por alguma irritação, transmitindo nervosismo,

O debate, promovido pela SIC e pelo Clube dos Jornalistas, começou por onde se esperava: a polémica dos "boatos". Sócrates voltou a dizer que foi alvo de "alusões absolutamente brejeiras" por parte de Santana, a quem acusou de ter "aproveitado" - numa campanha "indigna da democracia" e que "não está à altura da história do PSD" - os "boatos mentirosos, repito, mentirosos" que foram postos a circular. "Isto [a campanha do PSD] será julgado pelos portugueses."

Santana voltou a negar ter feito "insinuações", insistiu no argumento de ele é próprio é vitima de boatos "há 20 anos", garantiu que não é homofóbico ("tenho amigos homossexuais") e explicou que quando disse que Sócrates tinha "outros colos" se referia a empresas de sondagens ("[Sócrates] tem sido levado ao colo por sectores da vida política, nomeadamente empresas de sondagens") .

Refutou, por outro lado, que uma campanha negativa seja um exclusivo de Portugal - "acontece nos Estados Unidos, na Espanha, na generalidade dos países europeus"-, disse que não foi o PSD quem levantou a questão dos casamentos homossexuais ("foi a JS") e, face a uma pergunta quanto à importância da vida privada na carreira dos políticos, afirmou que "deve apenas contar para avaliar a coerência". E acrescentou: "Respeito a opção dos que não querem revelar [a sua vida privada]. Se a pessoa não quiser revelar não é relevante."

Consenso na política fiscal

No campo das propostas fiscais, Santana e Sócrates revelaram discursos muitos parecidos. Ambos garantem que não os aumentarão, sendo que Santana promete baixar o imposto automóvel, para "desonerar os orçamentos familiares". Aqui, na matéria dos impostos, Sócrates não perdeu a oportunidade para atirar contra Santana as promessas de baixar os impostos feitas por Durão Barroso em 2002 dizendo que "há um julgamento a fazer" pelo facto de o choque fiscal não ter sido cumprido. Santana contra-argumentou que o choque fiscal não pôde ser cumprido porque as finanças públicas estavam muito piores do que esperava.

No capítulo da segurança social, Santana assumiu que é necessário aumentar a idade de reforma, mas garantindo que isso só acontecerá para quem ainda não tenha entrado na carreira contributiva. Sócrates, por seu turno, afirmou tal decisão só poderá ser tomada depois de um novo estudo sobre a sustentabilidade do sistema. O debate também passou pela questão do emprego, explicando Sócrates que o objectivo dos 150 mil empregos é só isso mesmo ("um objectivo, não uma promessa"), tendo Santana respondido que o líder do PS não podia prometer o que não está ao alcance do Governo, só das empresas.

Na segunda parte, o frente-a-frente ainda voltou aos chamados "temas de civilização" (casamentos dos homossexuais, eutanásia, clonagem humana, aborto), comprometendo-se Santana com referendos. O líder do PS respondeu acusando o adversário de querer "inverter a agenda" para desfocar as atenções das "questões essenciais". Ao fim de uma hora e meia o debate terminou. Cá fora, falando aos jornalistas, nem um nem outro reclamaram vitória.

Único Frente-a-frente Entre Líderes do PS e do PSD

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sexta-feira, 04 de Fevereiro de 2005

O debate de ontem entre Pedro Santana Lopes e José Sócrates - único que os portugueses verão - revelou-se equilibrado. Só que, dada a desvantagem com que o líder do PSD partia no campo das expectativas, esse equilíbrio acabou por favorecê-lo. Nessa exacta medida, acabou por negativo para o líder do PS. O primeiro-ministro fez baixar as expectativas nas últimas semanas (ou mesmo meses) à custa de sucessivas polémicas mas ontem revelou-se melhor preparado do que se esperaria, nomeadamente nas questões económicas. José Sócrates, pelo seu lado, mostrou-se igual a si próprio, expondo o seu discurso sem novidades - só que deixando-se tomar por vezes por alguma irritação, transmitindo nervosismo,

O debate, promovido pela SIC e pelo Clube dos Jornalistas, começou por onde se esperava: a polémica dos "boatos". Sócrates voltou a dizer que foi alvo de "alusões absolutamente brejeiras" por parte de Santana, a quem acusou de ter "aproveitado" - numa campanha "indigna da democracia" e que "não está à altura da história do PSD" - os "boatos mentirosos, repito, mentirosos" que foram postos a circular. "Isto [a campanha do PSD] será julgado pelos portugueses."

Santana voltou a negar ter feito "insinuações", insistiu no argumento de ele é próprio é vitima de boatos "há 20 anos", garantiu que não é homofóbico ("tenho amigos homossexuais") e explicou que quando disse que Sócrates tinha "outros colos" se referia a empresas de sondagens ("[Sócrates] tem sido levado ao colo por sectores da vida política, nomeadamente empresas de sondagens") .

Refutou, por outro lado, que uma campanha negativa seja um exclusivo de Portugal - "acontece nos Estados Unidos, na Espanha, na generalidade dos países europeus"-, disse que não foi o PSD quem levantou a questão dos casamentos homossexuais ("foi a JS") e, face a uma pergunta quanto à importância da vida privada na carreira dos políticos, afirmou que "deve apenas contar para avaliar a coerência". E acrescentou: "Respeito a opção dos que não querem revelar [a sua vida privada]. Se a pessoa não quiser revelar não é relevante."

Consenso na política fiscal

No campo das propostas fiscais, Santana e Sócrates revelaram discursos muitos parecidos. Ambos garantem que não os aumentarão, sendo que Santana promete baixar o imposto automóvel, para "desonerar os orçamentos familiares". Aqui, na matéria dos impostos, Sócrates não perdeu a oportunidade para atirar contra Santana as promessas de baixar os impostos feitas por Durão Barroso em 2002 dizendo que "há um julgamento a fazer" pelo facto de o choque fiscal não ter sido cumprido. Santana contra-argumentou que o choque fiscal não pôde ser cumprido porque as finanças públicas estavam muito piores do que esperava.

No capítulo da segurança social, Santana assumiu que é necessário aumentar a idade de reforma, mas garantindo que isso só acontecerá para quem ainda não tenha entrado na carreira contributiva. Sócrates, por seu turno, afirmou tal decisão só poderá ser tomada depois de um novo estudo sobre a sustentabilidade do sistema. O debate também passou pela questão do emprego, explicando Sócrates que o objectivo dos 150 mil empregos é só isso mesmo ("um objectivo, não uma promessa"), tendo Santana respondido que o líder do PS não podia prometer o que não está ao alcance do Governo, só das empresas.

Na segunda parte, o frente-a-frente ainda voltou aos chamados "temas de civilização" (casamentos dos homossexuais, eutanásia, clonagem humana, aborto), comprometendo-se Santana com referendos. O líder do PS respondeu acusando o adversário de querer "inverter a agenda" para desfocar as atenções das "questões essenciais". Ao fim de uma hora e meia o debate terminou. Cá fora, falando aos jornalistas, nem um nem outro reclamaram vitória.

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