Direcção do "Expresso" veta eleição de Maria José Morgado

02-12-2002
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Direcção do "Expresso" Veta Eleição de Maria José Morgado

Por ADELINO GOMES

Sábado, 30 de Novembro de 2002 Escolha de Figura Nacional do Ano Redacção escolheu a magistrada, mas a direcção, numa decisão inédita, eliminou o nome e exigiu votação secreta A direcção do "Expresso" vetou o nome de Maria José Morgado, eleito pela redacção como Figura Nacional do Ano num plenário realizado segunda-feira passada em Lisboa e no Porto, com o argumento de que a escolha "não se enquadra na linha editorial" do semanário. A direcção impôs a realização de uma votação secreta, três dias depois, para eleição de uma personalidade entre quatro que figuravam numa lista, na qual não constava o nome da magistrada. Leonor Matos, mãe de Eduardo Silva, o jovem português desaparecido há um ano em Angola, acabou por sair vencedora da eleição secreta, com mais um voto do que Durão Barroso e Paulo Portas e tantos quantos os 14 boletins nulos entrados na urna. A decisão de vetar uma eleição é inédita na história do "Expresso". A redacção do semanário elege, anualmente, a figuras e os factos que se destacaram nesse ano. No ano passado foram escolhidos Jaime Pacheco e Osama bin Laden como figuras nacional e internacional do ano. O director adjunto do "Expresso", José António Lima - por impossibilidade do director José António Saraiva, retido numa cerimónia de homenagem ao pai, António José Saraiva, em Leiria -, disse ao PÚBLICO que o veto foi utilizado pelos cinco membros da direcção "para acautelar a imagem do jornal junto dos seus leitores". Escolhendo Maria José Morgado como Figura do Ano, o semanário "apareceria colado a uma figura que [neste momento] é bandeira de luta partidária". Da acção da magistrada na Polícia Judiciária (PJ), "não se pode dizer que houve uma ruptura e um salto qualitativo no combate à corrupção", para além de que o inquérito parlamentar à PJ "não foi conclusivo sobre quem mentia ou quem dizia verdade", sustentou Lima. Falando em nome pessoal, uma vez que o conselho de redacção (CR), de que faz parte, só para a semana se deve reunir, o fotógrafo António Pedro Ferreira disse ao PÚBLICO que compreende o receio da direcção de que os leitores do jornal interpretassem a eleição como "tomada de posição política". No entanto, e invocando outras escolhas no passado, acrescentou que as figuras são eleitas anualmente "porque se destacaram pelo que fizeram ou pela polémica que causaram", independentemente do carácter positivo ou negativo das suas acções e das respectivas posições político-partidárias. Um outro membro eleito do CR, porém, considera "absolutamente inaceitável" a atitude da direcção "do ponto de vista da democraticidade que deve existir em qualquer órgão de comunicação e em particular num jornal como o 'Expresso'". "É um atestado de menoridade profissional e cívica, é como o povo de um país votar e vir alguém dizer-lhe que não quer [aquele resultado]", acrescentou. Este elemento do CR, que pediu o anonimato devido a um alegado "clima difícil" prevalecente na empresa, concluiu: "Só há uma escolha válida como Figura do Ano 2002: Maria José Morgado. A outra é a segunda figura." À frente de Portas e Durão No plenário de segunda-feira - no qual participaram com direito a voto, como é tradição do "Expresso", os directores e os jornalistas do quadro (que incluem fotógrafos, infográficos e gráficos) - o nome de Maria José Morgado, sugerido pela redacção, recolheu o maior número de votos, à frente de uma lista apresentada pela direcção, em que figuravam os nomes de Paulo Portas, Durão Barroso, Leonor Matos e Bagão Félix. Na segunda volta da eleição de segunda-feira, na qual já só participaram os dois nomes mais sufragados - Paulo Portas obteve 23 votos, contra 28 de Maria José Morgado. Inconformada com o resultado, a direcção do semanário decidiu utilizar o direito de veto, "recurso formalmente instituído desde 1995", e marcou para quinta-feira passada uma votação em urna e com boletins de voto. Em nota enviada na véspera aos jornalistas, anunciava-se que estariam em votação os "quatro restantes nomes que participaram no sufrágio", ficando portanto eliminado o nome de Maria José Morgado. A eleição das Figuras e Acontecimentos do Ano "constitui uma tradição marcante e prestigiada" junto dos leitores do jornal "com reflexos importantes na imagem pública do jornal e na afirmação da sua linha editorial", escrevia-se na nota. A escolha "deve resultar de um consenso, democraticamente obtido, entre a redacção e a direcção", pelo que "nem a direcção deve querer impor o debate e as propostas ou ditar as suas escolhas", nem os elementos da redacção devem querer impor uma nomeação que a direcção "considere ser prejudicial para a imagem do 'Expresso' ou contrária à sua orientação editorial". Ora, concluía a direcção, foi esse o caso, pelo que "essa escolha não se enquadra na linha editorial do 'Expresso'". OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Direcção do "Expresso" veta eleição de Maria José Morgado

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