$Aparelho do PS com Ferro

20-07-2003
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$Aparelho do PS com Ferro

Por LEONETE BOTELHO

Segunda-feira, 14 de Julho de 2003 Se calhar há mais nitidez na análise da realidade política do PS quando ela é feita a partir de Ferreira do Alentejo. O respectivo presidente da câmara, Luís Pita Ameixa, que é também presidente do PS de Beja pergunta (e responde logo): "Há muita intriga no PS? Eu acho que não. Já vi muito pior." Esta opinião sintetiza o sentido global das respostas dos "patrões" distritais a um inquérito do PÚBLICO - respondido pela maioria desses dirigentes - sobre a "saúde" da liderança socialista. Das respostas só se pode concluir que Ferro está seguro no posto de secretário-geral. Apesar de todas as imensas dificuldades que o "caso Pedroso" lhe colocou no caminho. Ascenso Simões, presidente da Federação de Vila Real, faz uma análise crua da situação do partido, reportando-se a um "trauma" que ainda está patente no aparelho: "O PS nunca tinha estado numa fase como esta, de passagem à oposição, porque das outras vezes esteve no poder por períodos relativamente curtos". Considerando que o PS "só esteve realmente no poder, pela primeira vez, nestes últimos seis anos", Ascenso Simões constata que nesta "primeira passagem à oposição" ainda não houve capacidade para "descolar" do passado. "Vivemos um ano debaixo de um ataque constante, que passa facilmente: Vocês foram-se embora, abandonaram o Governo", sublinha. Neste contexto, e como o grupo parlamentar é "quase totalmente constituído por pessoas que estiveram ligadas ao Governo", entende que o partido "passou mais tempo a tentar justificar o passado do que a encontrar alternativas para o futuro". Ou, como acrescenta Pita Ameixa, "o início dos períodos de oposição são sempre muito difíceis". "Eu lembro-me como foi com António Guterres e Durão Barroso." A nível local, a situação é do mesmo tipo, " pois muitos dos protagonistas tinham passado pela administração pública, tinham experimentado uma situação de preferência no sentido do acesso privilegiado à informação". "Estamos todos a reaprender a fazer oposição, mas ainda estamos mais na fase de olhar para trás do que para a frente", afirma. Na mesma linha, Henrique Santos Cabral, dirigente distrital da Guarda, considera que "alguns militantes socialistas padecem de angústias muito grandes: quando estão no poder pensam que nunca o perderão, quando passam à oposição pensam que nunca mais saem dela". E José Junqueiro, líder do PS-Viseu, corrobora em certa medida este pouco à-vontade no novo papel, ao dizer que "internamente, no PS, há um pouco mais de pessimismo que na opinião pública, o que é motivo de apreensão". Se a prisão de Paulo Pedroso marcou o pico mais baixo dos ânimos socialistas, esta não foi a única baixa entre os pesos pesados do partido, como sublinha Mota Andrade, de Bragança, recordando o afastamento por doença, quase na mesma altura, de Jorge Coelho, "que estava a fazer um óptimo trabalho nas autarquias". Alberto Souto, líder do PS-Aveiro, não esconde que a prisão de Pedroso foi "um momento muito triste para todos", mas considera que "as primeiras reacções de Ferro Rodrigues são "naturais" e os portugueses compreendem-nas, ao contrário do que se ele tivesse sido frio e calculista". "Hoje Ferro revela a serenidade e a combatividade que todos esperamos", sublinha, resumindo a posição dos seus camaradas. Ultrapassado o choque inicial, os dirigentes federativos defendem que a questão deve agora ser relegada para o seu "espaço próprio", o da justiça. E preferem focar atenções na acção política, na esperança de que "as nuvens se dissipem", apesar dos receios do que ainda possa vir a acontecer. "Isto é tudo tão volátil, não sei o que vai acontecer em Setembro", desabafa Mota Andrade, dirigente socialista de Bragança. A imagem de um partido doente, senão mesmo ferido de morte na sua liderança - como o vai apresentando grande parte da "opinião publicada" - parece não ser um reflexo perfeito do que pensam as bases socialistas e a opinião pública. "O PS na actual conjuntura não podia ter feito melhor do que fez", sublinham Joaquim Barreto, de Braga, e Mota Andrade. "Este ano verificou-se um grande reforço de confiança do eleitorado no PS, como revelam as sondagens, o que equivale a uma credibilização de Ferro Rodrigues, o único político que manteve nota positiva junto dos portugueses ao longo deste ano", sublinha por seu turno José Junqueiro. "Dos estudos de opinião conclui-se que as pessoas sabem distinguir os problemas e que a opinião publicada não coincide com a opinião pública", remata, condensando a opinião de vários outros líderes federativos, para quem a comunicação social - "o grande intermediário com a opinião pública", nas palavras de Henrique Santos Cabral, da Guarda - tem ignorado a acção política de Ferro Rodrigues e do PS para só dar "atenção a aspectos laterais". De pedra e cal O sentimento geral é o de que o líder está para ficar, deve cumprir o mandato até ao fim e os seus opositores devem reservar-se para o próximo Congresso. À força do "choque vitamínico" das sondagens, os líderes das federações distritais revelam, aliás, uma confiança sem limites no secretário-geral, a quem não poupam adjectivos elogiosos, preferindo atacar os que o atacam, de forma aberta ou velada. "O PS tem quadros políticos importantes, embora hoje haja muitos protagonistas quase ao mesmo nível e muito pouca gente apareça a falar em "on", porque quando alguém, o faz toda a gente o tenta abater. Há é demasiada gente a falar em "off", considera Ascenso Simões. Em defesa de Ferro Rodrigues, contesta quem acha que o líder do partido se mexe "em pequenos círculos", afirmando que isso é reincidir em argumentos antigos: "Disse-se o mesmo de Mário Soares em 1981, de Jorge Sampaio e de António Guterres, ignorando que os líderes têm de ter o seu próprio círculo de aconselhamento". "O PS tem de ser um partido estruturado e organizado, os militantes têm de olhar para o secretário-geral como alguém que está no topo e não estar à espera que ele esteja sempre a telefonar-lhes." A favor da estabilidade na liderança afirma-se Francisco Assis, líder do PS-Porto, para quem "um ano e meio é muito pouco tempo para se apreciar o desempenho de um líder, ainda mais quando foi um período de grandes adversidades". Realçando a "grande tenacidade, espírito de luta e capacidade de reagir às adversidades" de Ferro Rodrigues, Assis defende que deve haver contenção neste tipo de discussões: "Estar constantemente a discutir a liderança fragiliza-a", acentua. Recorrendo à metáfora da "chicotada psicológica", Henrique Santos Cabral é peremptório: "Não devemos seguir a lógica futeboleira de mudar de treinador". Rui Solheiro, seu congénere de Viana do Castelo, vai no mesmo sentido: "Não é altura de pôr em causa a liderança do partido, mais que nunca devemos estar unidos. Haverá sempre divergências, mas o PS está unido no essencial". Para alguns, como Vítor Baptista (PS-Coimbra), esta liderança nem sequer se deve cingir ao prazo de um mandato: "Ferro está para durar à frente do PS e acredito que ainda será primeiro-ministro", apesar das intervenções de alguns responsáveis partidários, que "têm sido feitas numa lógica de posicionamento no partido". "Ferro enquanto pessoa séria, honesta, coerente, determinada, corajosa, a sua atitude política causa grande empatia na sociedade e nos militantes, o que está reflectido nas sondagens", acrescenta Joaquim Barreto, frisando o trabalho político que a actual direcção tem feito. "Pela primeira vez estão a fazer-se reuniões nos distritos, continuamos a apresentar propostas no Parlamento que a maioria chumba sem alternativa (como o cartão único do cidadão) e a denunciar políticas como a criação de concelhos à la carte". Bandeiras e novos protagonistas Ultrapassar a crise não só é possível como já está a acontecer, acreditam os líderes distritais, uma vez mais recorrendo ao alento das sondagens. Ainda assim, apontam a "reentrée" como o momento para voltar a assumir o leme da oposição. "Depois das férias, o PS tem de encontrar três ou quatro bandeiras e respectivos protagonistas para as defenderem, de preferência pessoas que não tenham estado no Governo ou, tendo estado, assumindo áreas diferentes e rodeando-se de novas figuras", defende Ascenso Simões, o líder de Vila Real. Como bandeiras, sugere as reformas do Estado, da economia e do ambiente e desenvolvimento regional. Quanto aos novos protagonistas, frisa que "pessoas novas há sempre, mesmo dentro do grupo parlamentar, é possível pôr pessoas competentes a tratar de temas aos quais não estiveram ligados no Governo". Por exemplo, "José Sócrates e António Costa podem brilhar em qualquer área, mas têm de deixar de falar das pastas a que estiveram ligadas". "Ter estado no Governo não é nenhum crime", riposta Rui Solheiro, de Viana, embora admita que "o partido precisa facilitar a participação dos seus melhores quadros, quer tenham estado no Governo ou não". Na sua opinião, "interessam mais as boas ideias que a descoberta de novos protagonistas à força, até porque já apareceram muitos meteoros na política portuguesa e esses não trazem grande valor acrescentado". "Quando se renova, é porque se renova, quando não se faz, é porque não se faz", reage por seu lado Vítor Baptista, afirmando que "o secretário-geral tem apostado na renovação, ela é bem-vinda numa lógica construtiva, de credibilização do partido". A propósito, comenta as declarações de José Lello, na semana passada, a propósito das "pessoas que rodeiam o líder": "Ninguém esconde que há um conjunto de elementos do secretariado de gente nova, com poucos anos de experiência e pouco conhecimento do partido. Mas são pessoas competentes que aprendem depressa". Para o dirigente de Coimbra, o PS deve apostar na "marcação" corpo-a-corpo com o Governo, sobretudo a nível económico, onde "é previsível que as coisas não melhorem, tendo em conta a análise do Banco de Portugal, que pôs completamente em causa aquilo que a ministra Ferreira Leite disse há um mês". Em seu entender, "a culpa é do Governo e do discurso de Durão Barroso há um ano, o discurso do país de tanga: hoje a economia funciona por expectativas, e o primeiro-ministro arruinou-as, aquela expressão teve consequências graves ao nível dos agentes económicos". No mesmo sentido, o aveirense Alberto Souto defende a crítica constante ao Governo, cuja prestação qualifica de "muito má, pois somos o único país em recessão económica, com esta situação de desemprego, o défice sem controlo do lado da despesa, o aumento de impostos e o ataque ao poder autárquicos sem igual desde o 25 de Abril". Joaquim Barreto, de Braga, acrescenta que o PS deve apostar "numa nova forma de fazer política, diferente da do marketing através da comunicação social" do Governo. "Temos de ir ao encontro dos problemas das populações, ajudando a resolvê-los em todos os sectores e denunciando abusos". E Mota Andrade, de Bragança, aponta como aposta estratégica a organização da administração do território, "com outros olhos para o interior, já que Durão prometeu muito e está a fazer o contrário, a retirar o pouco que havia". Para quando o teste? Parece assim certo - tendo em conta estas opiniões - que Ferro Rodrigues sobreviverá até às eleições europeias, dentro de um ano. Mas até que ponto estas eleições poderão servir de teste? Fernando Serrasqueiro, presidente do PS de Castelo Branco (e dirigente tido como muito próximo de José Sócrates), acha (numa opinião partilhada por vários outros dirigentes distritais) que as eleições europeias são "muito pouco fiáveis". A abstenção é, por norma, bastante elevada e em 2004 até poderá ser maior do que a do costume porque nessa altura o país estará em delírio com o Europeu de futebol. Além do mais, nas europeias, o PSD e o CDS/PP apresentar-se-ão coligados, o que diminui ao PS a possibilidade de vencer. Serrasqueiro afirma, portanto, "que o teste decisivo será as eleições legislativas." Por outras palavras: se Ferro falhar o seu objectivo primordial - ser primeiro-ministro - então aí sim deverá ponderar-se a sua substituição. Já perdeu (embora "honrosamente") umas legislativas, não pode perder duas. Seja como for, as europeias podem não ser "fiáveis" mas não se poderão ignorar em absoluto. No final desse ano o PS voltará a reunir em Congresso. Ferro Rodrigues voltará a ir a votos no seu partido. "Os resultados das europeias - diz José Miguel Medeiros, do PS de Leiria - serão um 'apport' para esse congresso." Como sintetiza José Augusto Carvalho, presidente da federação do PS da região Oeste (tem sede em Torres Vedras), "ainda não é tempo de começar as críticas". Por outras palavras: "Não é seguro que outros tivessem feito melhor." OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE $Aparelho do PS com Ferro

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Segunda-feira, 14 de Julho de 2003 Se calhar há mais nitidez na análise da realidade política do PS quando ela é feita a partir de Ferreira do Alentejo. O respectivo presidente da câmara, Luís Pita Ameixa, que é também presidente do PS de Beja pergunta (e responde logo): "Há muita intriga no PS? Eu acho que não. Já vi muito pior." Esta opinião sintetiza o sentido global das respostas dos "patrões" distritais a um inquérito do PÚBLICO - respondido pela maioria desses dirigentes - sobre a "saúde" da liderança socialista. Das respostas só se pode concluir que Ferro está seguro no posto de secretário-geral. Apesar de todas as imensas dificuldades que o "caso Pedroso" lhe colocou no caminho. Ascenso Simões, presidente da Federação de Vila Real, faz uma análise crua da situação do partido, reportando-se a um "trauma" que ainda está patente no aparelho: "O PS nunca tinha estado numa fase como esta, de passagem à oposição, porque das outras vezes esteve no poder por períodos relativamente curtos". Considerando que o PS "só esteve realmente no poder, pela primeira vez, nestes últimos seis anos", Ascenso Simões constata que nesta "primeira passagem à oposição" ainda não houve capacidade para "descolar" do passado. "Vivemos um ano debaixo de um ataque constante, que passa facilmente: Vocês foram-se embora, abandonaram o Governo", sublinha. Neste contexto, e como o grupo parlamentar é "quase totalmente constituído por pessoas que estiveram ligadas ao Governo", entende que o partido "passou mais tempo a tentar justificar o passado do que a encontrar alternativas para o futuro". Ou, como acrescenta Pita Ameixa, "o início dos períodos de oposição são sempre muito difíceis". "Eu lembro-me como foi com António Guterres e Durão Barroso." A nível local, a situação é do mesmo tipo, " pois muitos dos protagonistas tinham passado pela administração pública, tinham experimentado uma situação de preferência no sentido do acesso privilegiado à informação". "Estamos todos a reaprender a fazer oposição, mas ainda estamos mais na fase de olhar para trás do que para a frente", afirma. Na mesma linha, Henrique Santos Cabral, dirigente distrital da Guarda, considera que "alguns militantes socialistas padecem de angústias muito grandes: quando estão no poder pensam que nunca o perderão, quando passam à oposição pensam que nunca mais saem dela". E José Junqueiro, líder do PS-Viseu, corrobora em certa medida este pouco à-vontade no novo papel, ao dizer que "internamente, no PS, há um pouco mais de pessimismo que na opinião pública, o que é motivo de apreensão". Se a prisão de Paulo Pedroso marcou o pico mais baixo dos ânimos socialistas, esta não foi a única baixa entre os pesos pesados do partido, como sublinha Mota Andrade, de Bragança, recordando o afastamento por doença, quase na mesma altura, de Jorge Coelho, "que estava a fazer um óptimo trabalho nas autarquias". Alberto Souto, líder do PS-Aveiro, não esconde que a prisão de Pedroso foi "um momento muito triste para todos", mas considera que "as primeiras reacções de Ferro Rodrigues são "naturais" e os portugueses compreendem-nas, ao contrário do que se ele tivesse sido frio e calculista". "Hoje Ferro revela a serenidade e a combatividade que todos esperamos", sublinha, resumindo a posição dos seus camaradas. Ultrapassado o choque inicial, os dirigentes federativos defendem que a questão deve agora ser relegada para o seu "espaço próprio", o da justiça. E preferem focar atenções na acção política, na esperança de que "as nuvens se dissipem", apesar dos receios do que ainda possa vir a acontecer. "Isto é tudo tão volátil, não sei o que vai acontecer em Setembro", desabafa Mota Andrade, dirigente socialista de Bragança. A imagem de um partido doente, senão mesmo ferido de morte na sua liderança - como o vai apresentando grande parte da "opinião publicada" - parece não ser um reflexo perfeito do que pensam as bases socialistas e a opinião pública. "O PS na actual conjuntura não podia ter feito melhor do que fez", sublinham Joaquim Barreto, de Braga, e Mota Andrade. "Este ano verificou-se um grande reforço de confiança do eleitorado no PS, como revelam as sondagens, o que equivale a uma credibilização de Ferro Rodrigues, o único político que manteve nota positiva junto dos portugueses ao longo deste ano", sublinha por seu turno José Junqueiro. "Dos estudos de opinião conclui-se que as pessoas sabem distinguir os problemas e que a opinião publicada não coincide com a opinião pública", remata, condensando a opinião de vários outros líderes federativos, para quem a comunicação social - "o grande intermediário com a opinião pública", nas palavras de Henrique Santos Cabral, da Guarda - tem ignorado a acção política de Ferro Rodrigues e do PS para só dar "atenção a aspectos laterais". De pedra e cal O sentimento geral é o de que o líder está para ficar, deve cumprir o mandato até ao fim e os seus opositores devem reservar-se para o próximo Congresso. À força do "choque vitamínico" das sondagens, os líderes das federações distritais revelam, aliás, uma confiança sem limites no secretário-geral, a quem não poupam adjectivos elogiosos, preferindo atacar os que o atacam, de forma aberta ou velada. "O PS tem quadros políticos importantes, embora hoje haja muitos protagonistas quase ao mesmo nível e muito pouca gente apareça a falar em "on", porque quando alguém, o faz toda a gente o tenta abater. Há é demasiada gente a falar em "off", considera Ascenso Simões. Em defesa de Ferro Rodrigues, contesta quem acha que o líder do partido se mexe "em pequenos círculos", afirmando que isso é reincidir em argumentos antigos: "Disse-se o mesmo de Mário Soares em 1981, de Jorge Sampaio e de António Guterres, ignorando que os líderes têm de ter o seu próprio círculo de aconselhamento". "O PS tem de ser um partido estruturado e organizado, os militantes têm de olhar para o secretário-geral como alguém que está no topo e não estar à espera que ele esteja sempre a telefonar-lhes." A favor da estabilidade na liderança afirma-se Francisco Assis, líder do PS-Porto, para quem "um ano e meio é muito pouco tempo para se apreciar o desempenho de um líder, ainda mais quando foi um período de grandes adversidades". Realçando a "grande tenacidade, espírito de luta e capacidade de reagir às adversidades" de Ferro Rodrigues, Assis defende que deve haver contenção neste tipo de discussões: "Estar constantemente a discutir a liderança fragiliza-a", acentua. Recorrendo à metáfora da "chicotada psicológica", Henrique Santos Cabral é peremptório: "Não devemos seguir a lógica futeboleira de mudar de treinador". Rui Solheiro, seu congénere de Viana do Castelo, vai no mesmo sentido: "Não é altura de pôr em causa a liderança do partido, mais que nunca devemos estar unidos. Haverá sempre divergências, mas o PS está unido no essencial". Para alguns, como Vítor Baptista (PS-Coimbra), esta liderança nem sequer se deve cingir ao prazo de um mandato: "Ferro está para durar à frente do PS e acredito que ainda será primeiro-ministro", apesar das intervenções de alguns responsáveis partidários, que "têm sido feitas numa lógica de posicionamento no partido". "Ferro enquanto pessoa séria, honesta, coerente, determinada, corajosa, a sua atitude política causa grande empatia na sociedade e nos militantes, o que está reflectido nas sondagens", acrescenta Joaquim Barreto, frisando o trabalho político que a actual direcção tem feito. "Pela primeira vez estão a fazer-se reuniões nos distritos, continuamos a apresentar propostas no Parlamento que a maioria chumba sem alternativa (como o cartão único do cidadão) e a denunciar políticas como a criação de concelhos à la carte". Bandeiras e novos protagonistas Ultrapassar a crise não só é possível como já está a acontecer, acreditam os líderes distritais, uma vez mais recorrendo ao alento das sondagens. Ainda assim, apontam a "reentrée" como o momento para voltar a assumir o leme da oposição. "Depois das férias, o PS tem de encontrar três ou quatro bandeiras e respectivos protagonistas para as defenderem, de preferência pessoas que não tenham estado no Governo ou, tendo estado, assumindo áreas diferentes e rodeando-se de novas figuras", defende Ascenso Simões, o líder de Vila Real. Como bandeiras, sugere as reformas do Estado, da economia e do ambiente e desenvolvimento regional. Quanto aos novos protagonistas, frisa que "pessoas novas há sempre, mesmo dentro do grupo parlamentar, é possível pôr pessoas competentes a tratar de temas aos quais não estiveram ligados no Governo". Por exemplo, "José Sócrates e António Costa podem brilhar em qualquer área, mas têm de deixar de falar das pastas a que estiveram ligadas". "Ter estado no Governo não é nenhum crime", riposta Rui Solheiro, de Viana, embora admita que "o partido precisa facilitar a participação dos seus melhores quadros, quer tenham estado no Governo ou não". Na sua opinião, "interessam mais as boas ideias que a descoberta de novos protagonistas à força, até porque já apareceram muitos meteoros na política portuguesa e esses não trazem grande valor acrescentado". "Quando se renova, é porque se renova, quando não se faz, é porque não se faz", reage por seu lado Vítor Baptista, afirmando que "o secretário-geral tem apostado na renovação, ela é bem-vinda numa lógica construtiva, de credibilização do partido". A propósito, comenta as declarações de José Lello, na semana passada, a propósito das "pessoas que rodeiam o líder": "Ninguém esconde que há um conjunto de elementos do secretariado de gente nova, com poucos anos de experiência e pouco conhecimento do partido. Mas são pessoas competentes que aprendem depressa". Para o dirigente de Coimbra, o PS deve apostar na "marcação" corpo-a-corpo com o Governo, sobretudo a nível económico, onde "é previsível que as coisas não melhorem, tendo em conta a análise do Banco de Portugal, que pôs completamente em causa aquilo que a ministra Ferreira Leite disse há um mês". Em seu entender, "a culpa é do Governo e do discurso de Durão Barroso há um ano, o discurso do país de tanga: hoje a economia funciona por expectativas, e o primeiro-ministro arruinou-as, aquela expressão teve consequências graves ao nível dos agentes económicos". No mesmo sentido, o aveirense Alberto Souto defende a crítica constante ao Governo, cuja prestação qualifica de "muito má, pois somos o único país em recessão económica, com esta situação de desemprego, o défice sem controlo do lado da despesa, o aumento de impostos e o ataque ao poder autárquicos sem igual desde o 25 de Abril". Joaquim Barreto, de Braga, acrescenta que o PS deve apostar "numa nova forma de fazer política, diferente da do marketing através da comunicação social" do Governo. "Temos de ir ao encontro dos problemas das populações, ajudando a resolvê-los em todos os sectores e denunciando abusos". E Mota Andrade, de Bragança, aponta como aposta estratégica a organização da administração do território, "com outros olhos para o interior, já que Durão prometeu muito e está a fazer o contrário, a retirar o pouco que havia". Para quando o teste? Parece assim certo - tendo em conta estas opiniões - que Ferro Rodrigues sobreviverá até às eleições europeias, dentro de um ano. Mas até que ponto estas eleições poderão servir de teste? Fernando Serrasqueiro, presidente do PS de Castelo Branco (e dirigente tido como muito próximo de José Sócrates), acha (numa opinião partilhada por vários outros dirigentes distritais) que as eleições europeias são "muito pouco fiáveis". A abstenção é, por norma, bastante elevada e em 2004 até poderá ser maior do que a do costume porque nessa altura o país estará em delírio com o Europeu de futebol. Além do mais, nas europeias, o PSD e o CDS/PP apresentar-se-ão coligados, o que diminui ao PS a possibilidade de vencer. Serrasqueiro afirma, portanto, "que o teste decisivo será as eleições legislativas." Por outras palavras: se Ferro falhar o seu objectivo primordial - ser primeiro-ministro - então aí sim deverá ponderar-se a sua substituição. Já perdeu (embora "honrosamente") umas legislativas, não pode perder duas. Seja como for, as europeias podem não ser "fiáveis" mas não se poderão ignorar em absoluto. No final desse ano o PS voltará a reunir em Congresso. Ferro Rodrigues voltará a ir a votos no seu partido. "Os resultados das europeias - diz José Miguel Medeiros, do PS de Leiria - serão um 'apport' para esse congresso." Como sintetiza José Augusto Carvalho, presidente da federação do PS da região Oeste (tem sede em Torres Vedras), "ainda não é tempo de começar as críticas". Por outras palavras: "Não é seguro que outros tivessem feito melhor." OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE $Aparelho do PS com Ferro

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