EXPRESSO: País

22-10-2002
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«No PSD, são lobos vestidos de capuchinho vermelho, dos quais apenas se ouve que, se forem governo, vão parar, suspender, travar e liquidar»

«No PSD, são lobos vestidos de capuchinho vermelho, dos quais apenas se ouve que, se forem governo, vão parar, suspender, travar e liquidar» Ferro Rodrigues «Sei que já andam jovens a visitar ministérios, para ver qual o gabinete em que se vão sentar»

idem «O PSD quer impor a política da opressão, cujo chicote já anda no ar, mas o povo já não aceita o chicote»

Medeiros Ferreira

Apelo da «desgraça» mobiliza socialistas Os dirigentes socialistas adoptaram o discurso da mobilização por Ferro Rodrigues Luiz Carvalho Jorge Coelho com Ferro Rodrigues: já há mais «desgraçados» na campanha do líder do PS DEPOIS de Jorge Coelho ter alertado para os poucos «desgraçados» que andavam com Ferro Rodrigues na estrada e para a falta de empenho, o discurso parece ter sido adoptado pela maioria dos dirigentes socialistas. Até mesmo quando se trata de falar para uma sala a abarrotar de gente. Foi o que sucedeu na quinta-feira à noite, no jantar-comício em Lisboa. Ao som de «Charriots of fire» dos Vangelis, Ferro irrompeu pelo armazém Terlis entusiasticamente aplaudido pelos cerca de dois mil apoiantes lisboetas, que responderam ao convite do candidato do PS para jantar. DEPOIS de Jorge Coelho ter alertado para os poucosque andavam com Ferro Rodrigues na estrada e para a falta de empenho, o discurso parece ter sido adoptado pela maioria dos dirigentes socialistas. Até mesmo quando se trata de falar para uma sala a abarrotar de gente. Foi o que sucedeu na quinta-feira à noite, no jantar-comício em Lisboa. Ao som de «Charriots of fire» dos Vangelis, Ferro irrompeu pelo armazém Terlis entusiasticamente aplaudido pelos cerca de dois mil apoiantes lisboetas, que responderam ao convite do candidato do PS para jantar. E a sala não foi suficiente para abrigar da forte chuva todos aqueles que queriam ouvir o seu líder. Ainda assim, a palavra de ordem dos dirigentes socialistas foi... «mobilização, mobilização, mobilização». Jorge Coelho inflamou a assistência com um discurso de verdadeira arregimentação. «Vamos bater-nos rua a rua, freguesia a freguesia e dizer que o futuro do país está com o PS e com Ferro Rodrigues» apelou o ex-braço-direito de António Guterres. Para, logo em seguida, se dirigir ao candidato socialista a primeiro-ministro: «Tens o PS em bloco contigo. Tens as pessoas mobilizadas e é para nós um orgulho combater ao teu lado». «Nesta luta não é só o Ferro que tem de dar a cara, todos temos de dar», sublinhava pouco depois Manuel Alegre - candidato por Lisboa - denunciando que existe uma «tentativa de calar e intimidar os socialistas» mas «o PS não tem medo e vai lutar para ganhar». Ferro Rodrigues acusou o PSD de querer destruir a Função Pública, voltando a criticar o «choque fiscal» dos sociais-democratas e os «três verbos preferidos» de Durão Barroso para o país: «parar, travar e suspender». Enquanto uma plateia entusiasmada com bandeiras na mão e dedo polegar esticado ouvia atentamente o discurso do líder do PS, também na mesa de honra muitos notáveis socialistas seguiam as palavras de Ferro, como Jaime Gama, Vera Jardim, João Soares, Edite Estrela e António José Seguro. Tal como os independentes candidatos por Lisboa, Vicente Jorge Silva e Mega Ferreira. No dia seguinte, ontem, o líder do PS rumou a Leiria - o distrito onde quis de forma simbólica iniciar a campanha, por ter sido aquele que o elegeu em 1999. Ferro assinou um «contrato de acção» com empresários e personalidades da região, em que assume, além da construção do aeroporto da Ota, o compromisso de realizar vários projectos de desenvolvimento para o distrito: a conclusão da A8, a ligação Peniche/Santarém, novos tribunais em Leiria e Caldas da Rainha, um julgado de paz na Batalha e a definição de uma rede ferroviária de alta velocidade, com ligações a partir do distrito. Ferro autonomista Ainda em pré-campanha, na sua passagem pelos Açores, quarta-feira, Ferro Rodrigues fez marcação cerrada aos «compromissos» para com a Autonomia deixados por Durão Barroso três dias antes. Da competição «autonomista» entre Ferro e Durão resultou uma discussão que promete dominar a campanha açoriana até às eleições. Ferro tirou bom partido do peso institucional do PS na Região Autónoma. Na «fotografia» para as televisões, e não só, teve sempre à sua direita Carlos César em vez do cabeça-de-lista Medeiros Ferreira. Em S. Miguel, o ex-ministro visitou a «Alternativa», uma IPSS de intervenção junto de toxicodependentes. E no Faial, foi recebido no Centro de Promoção da Reconstrução, onde ouviu uma exaustiva descrição do processo de recuperação do sismo de 1998. No fim, Ferro afirmou que se sentia com forças e ânimo redobrados para a luta que tem pela frente (qual sismo pelo que o seu partido tenha passado). O candidato do PS terminou em grande a sua visita aos Açores, com um comício-festa na ilha mais rosa do arquipélago, a Terceira.

Ana Paula Azevedo e Sofia Rainho, com Estêvão Gago da Câmara, correspondente nos Açores

Positivo As estruturas partidárias do PS começaram a reagir ao «choque eleitoral» das autárquicas. O clima não é de euforia, mas a mobilização dos militantes é notória, convencidos de que, apesar do 'cartão amarelo' de 16 de Dezembro, os portugueses não estavam à espera de com isso derrubarem o Governo. Nas próximas se verá se o objectivo é alcançado: conseguir uma segunda oportunidade

Negativo Não se pode esperar que Ferro Rodrigues renegue o passado e diga que não teve nada a ver com a governação de António Guterres. Mas o novo líder do PS tem dedicado demasiado do seu discurso a justificar o passado e a relembrar que ele é a 'parte boa' da governação socialista (ou seja, as políticas sociais), em vez de mostrar de forma clara para onde pretende levar o país

António Costa à conquista do deputado do PP Luiz Carvalho António Costa: o ministro vestiu a bata para poder visitar uma conserveira em Peniche DENTRO do carro do partido, António Costa veste por momentos a pele de ministro e aproveita para fazer uns telefonemas. E assim vai controlando à distância os assuntos da Justiça, enquanto segue pelo concelho de Alcobaça, rumo a uma cerâmica de sucesso, a Sofal. Segue-se uma visita à Câmara de Peniche e a uma empresa conserveira local, a Sardinal. DENTRO do carro do partido, António Costa veste por momentos a pele de ministro e aproveita para fazer uns telefonemas. E assim vai controlando à distância os assuntos da Justiça, enquanto segue pelo concelho de Alcobaça, rumo a uma cerâmica de sucesso, a Sofal. Segue-se uma visita à Câmara de Peniche e a uma empresa conserveira local, a Sardinal. Aqui, o ministro mais habituado nos últimos tempos aos ambientes calmos dos tribunais acata com humor a ordem para vestir uma bata, se quiser visitar um local onde a especialidade é receber sardinhas e enlatá-las em grupos de cinco, carregadas de molho de tomate - uma indústria que já teve melhores dias e que vai sobrevivendo. Ao fim de quase um quarto de hora de espera, Costa entra finalmente na conserveira e dá de caras com um grupo de trabalhadoras, à espera do toque da campainha para saírem: «Então agora é que chega? Tem de vir ver-nos é a trabalhar!». O candidato lamenta, promete que fica para outro dia, mas leva até ao fim a visita, fustigado pelo frio e pelo cheiro intenso a peixe. E dali segue para o porto de Peniche, para se inteirar das obras no sector de pesca que aí decorrem. O dia-a-dia do ministro que lhe coube em sorte ser candidato em Leiria tem sido assim desde o dia 18. A federação socialista local achou que o melhor mesmo era assumir o desconhecimento da região e colocar António Costa, 41 anos, a fazer uma ronda de apresentação pelas chamadas forças vivas do distrito: 16 presidentes de câmara, empresas, fábricas e organismos da Administração Pública. E a todas o candidato vai, bem disposto e de sorriso na cara, ouvindo atentamente e distribuindo apertos de mão, deitando para trás das costas o facto de estar num distrito tradicionalmente adverso - em que o PSD tem 5 deputados, o PS 4 e o PP um, e com os sociais-democratas a liderar 12 das 16 câmaras municipais. Nestas eleições, Costa tem como adversários Ferreira do Amaral (cabeça-de-lista do PSD), Celeste Cardona (do PP) e José Augusto Esteves (PCP). A fisionomia do candidato só se altera quando confrontado com a possibilidade de abandonar a pasta que ocupa: «Irritar-me-ia muito não acabar este trabalho na Justiça», confessa. Fumador, foi obrigado a reduzir drasticamente o tabaco e a andar com pastilhas para a garganta, depois de ter ficado subitamente afónico, a meio de um debate na rádio. «Temos mesmo de lhes 'ir às fuças'» Ainda por cima, coube à estrutura partidária de Leiria preparar o comício inaugural da volta de Ferro Rodrigues pelo país. A máquina está preparada, mas é preciso tratar dos pormenores de sempre: carros com megafone a percorrer o vasto distrito, cartas aos militantes e camionetas para os transportar ao comício. Ainda por cima, coube à estrutura partidária de Leiria preparar o comício inaugural da volta de Ferro Rodrigues pelo país. A máquina está preparada, mas é preciso tratar dos pormenores de sempre: carros com megafone a percorrer o vasto distrito, cartas aos militantes e camionetas para os transportar ao comício. O dia de terça-feira terminou nas Caldas da Rainha, num jantar com militantes, em que se aproveitou para ver o frente-a-frente televisivo Ferro-Durão. Os olhos de Costa não despregaram do televisor e deixa transparecer agrado pela forma como o debate corre. No intervalo, o presidente do PS-Leiria, José Miguel Medeiros, interroga-o: «Não está a correr mal, pois não?». «Está a correr muito bem», responde o ministro. Um assessor mostra-se mais cauteloso: preocupa-o Ferro ter assumido que o Governo se deixou tolher está tudo em aberto. Como dizia o António Guterres, temos mesmo de ir às fuças da direita... no bom sentido, é claro». Costa segue o mote: «Há muito ainda a disputar. O adversário pode fazer grande pose, mas não convence. As pessoas estavam descontentes com o PS, mostraram um cartão amarelo, mas não imaginaram as consequências. Agora, estão a ver se arrepiamos caminho. Temos de ir para a rua e convencê-las. Não me canso de dizer que aqui em Leiria existem 20 mil votos que, numa situação de bipolarização, tanto podem dar mais um deputado ao PSD como ao PS. E a nós basta-nos convencer aqueles 5 mil que se perderam nestes anos para a abstenção».

A.P.A.

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idem «O PSD quer impor a política da opressão, cujo chicote já anda no ar, mas o povo já não aceita o chicote»

Medeiros Ferreira

Apelo da «desgraça» mobiliza socialistas Os dirigentes socialistas adoptaram o discurso da mobilização por Ferro Rodrigues Luiz Carvalho Jorge Coelho com Ferro Rodrigues: já há mais «desgraçados» na campanha do líder do PS DEPOIS de Jorge Coelho ter alertado para os poucos «desgraçados» que andavam com Ferro Rodrigues na estrada e para a falta de empenho, o discurso parece ter sido adoptado pela maioria dos dirigentes socialistas. Até mesmo quando se trata de falar para uma sala a abarrotar de gente. Foi o que sucedeu na quinta-feira à noite, no jantar-comício em Lisboa. Ao som de «Charriots of fire» dos Vangelis, Ferro irrompeu pelo armazém Terlis entusiasticamente aplaudido pelos cerca de dois mil apoiantes lisboetas, que responderam ao convite do candidato do PS para jantar. DEPOIS de Jorge Coelho ter alertado para os poucosque andavam com Ferro Rodrigues na estrada e para a falta de empenho, o discurso parece ter sido adoptado pela maioria dos dirigentes socialistas. Até mesmo quando se trata de falar para uma sala a abarrotar de gente. Foi o que sucedeu na quinta-feira à noite, no jantar-comício em Lisboa. Ao som de «Charriots of fire» dos Vangelis, Ferro irrompeu pelo armazém Terlis entusiasticamente aplaudido pelos cerca de dois mil apoiantes lisboetas, que responderam ao convite do candidato do PS para jantar. E a sala não foi suficiente para abrigar da forte chuva todos aqueles que queriam ouvir o seu líder. Ainda assim, a palavra de ordem dos dirigentes socialistas foi... «mobilização, mobilização, mobilização». Jorge Coelho inflamou a assistência com um discurso de verdadeira arregimentação. «Vamos bater-nos rua a rua, freguesia a freguesia e dizer que o futuro do país está com o PS e com Ferro Rodrigues» apelou o ex-braço-direito de António Guterres. Para, logo em seguida, se dirigir ao candidato socialista a primeiro-ministro: «Tens o PS em bloco contigo. Tens as pessoas mobilizadas e é para nós um orgulho combater ao teu lado». «Nesta luta não é só o Ferro que tem de dar a cara, todos temos de dar», sublinhava pouco depois Manuel Alegre - candidato por Lisboa - denunciando que existe uma «tentativa de calar e intimidar os socialistas» mas «o PS não tem medo e vai lutar para ganhar». Ferro Rodrigues acusou o PSD de querer destruir a Função Pública, voltando a criticar o «choque fiscal» dos sociais-democratas e os «três verbos preferidos» de Durão Barroso para o país: «parar, travar e suspender». Enquanto uma plateia entusiasmada com bandeiras na mão e dedo polegar esticado ouvia atentamente o discurso do líder do PS, também na mesa de honra muitos notáveis socialistas seguiam as palavras de Ferro, como Jaime Gama, Vera Jardim, João Soares, Edite Estrela e António José Seguro. Tal como os independentes candidatos por Lisboa, Vicente Jorge Silva e Mega Ferreira. No dia seguinte, ontem, o líder do PS rumou a Leiria - o distrito onde quis de forma simbólica iniciar a campanha, por ter sido aquele que o elegeu em 1999. Ferro assinou um «contrato de acção» com empresários e personalidades da região, em que assume, além da construção do aeroporto da Ota, o compromisso de realizar vários projectos de desenvolvimento para o distrito: a conclusão da A8, a ligação Peniche/Santarém, novos tribunais em Leiria e Caldas da Rainha, um julgado de paz na Batalha e a definição de uma rede ferroviária de alta velocidade, com ligações a partir do distrito. Ferro autonomista Ainda em pré-campanha, na sua passagem pelos Açores, quarta-feira, Ferro Rodrigues fez marcação cerrada aos «compromissos» para com a Autonomia deixados por Durão Barroso três dias antes. Da competição «autonomista» entre Ferro e Durão resultou uma discussão que promete dominar a campanha açoriana até às eleições. Ferro tirou bom partido do peso institucional do PS na Região Autónoma. Na «fotografia» para as televisões, e não só, teve sempre à sua direita Carlos César em vez do cabeça-de-lista Medeiros Ferreira. Em S. Miguel, o ex-ministro visitou a «Alternativa», uma IPSS de intervenção junto de toxicodependentes. E no Faial, foi recebido no Centro de Promoção da Reconstrução, onde ouviu uma exaustiva descrição do processo de recuperação do sismo de 1998. No fim, Ferro afirmou que se sentia com forças e ânimo redobrados para a luta que tem pela frente (qual sismo pelo que o seu partido tenha passado). O candidato do PS terminou em grande a sua visita aos Açores, com um comício-festa na ilha mais rosa do arquipélago, a Terceira.

Ana Paula Azevedo e Sofia Rainho, com Estêvão Gago da Câmara, correspondente nos Açores

Positivo As estruturas partidárias do PS começaram a reagir ao «choque eleitoral» das autárquicas. O clima não é de euforia, mas a mobilização dos militantes é notória, convencidos de que, apesar do 'cartão amarelo' de 16 de Dezembro, os portugueses não estavam à espera de com isso derrubarem o Governo. Nas próximas se verá se o objectivo é alcançado: conseguir uma segunda oportunidade

Negativo Não se pode esperar que Ferro Rodrigues renegue o passado e diga que não teve nada a ver com a governação de António Guterres. Mas o novo líder do PS tem dedicado demasiado do seu discurso a justificar o passado e a relembrar que ele é a 'parte boa' da governação socialista (ou seja, as políticas sociais), em vez de mostrar de forma clara para onde pretende levar o país

António Costa à conquista do deputado do PP Luiz Carvalho António Costa: o ministro vestiu a bata para poder visitar uma conserveira em Peniche DENTRO do carro do partido, António Costa veste por momentos a pele de ministro e aproveita para fazer uns telefonemas. E assim vai controlando à distância os assuntos da Justiça, enquanto segue pelo concelho de Alcobaça, rumo a uma cerâmica de sucesso, a Sofal. Segue-se uma visita à Câmara de Peniche e a uma empresa conserveira local, a Sardinal. DENTRO do carro do partido, António Costa veste por momentos a pele de ministro e aproveita para fazer uns telefonemas. E assim vai controlando à distância os assuntos da Justiça, enquanto segue pelo concelho de Alcobaça, rumo a uma cerâmica de sucesso, a Sofal. Segue-se uma visita à Câmara de Peniche e a uma empresa conserveira local, a Sardinal. Aqui, o ministro mais habituado nos últimos tempos aos ambientes calmos dos tribunais acata com humor a ordem para vestir uma bata, se quiser visitar um local onde a especialidade é receber sardinhas e enlatá-las em grupos de cinco, carregadas de molho de tomate - uma indústria que já teve melhores dias e que vai sobrevivendo. Ao fim de quase um quarto de hora de espera, Costa entra finalmente na conserveira e dá de caras com um grupo de trabalhadoras, à espera do toque da campainha para saírem: «Então agora é que chega? Tem de vir ver-nos é a trabalhar!». O candidato lamenta, promete que fica para outro dia, mas leva até ao fim a visita, fustigado pelo frio e pelo cheiro intenso a peixe. E dali segue para o porto de Peniche, para se inteirar das obras no sector de pesca que aí decorrem. O dia-a-dia do ministro que lhe coube em sorte ser candidato em Leiria tem sido assim desde o dia 18. A federação socialista local achou que o melhor mesmo era assumir o desconhecimento da região e colocar António Costa, 41 anos, a fazer uma ronda de apresentação pelas chamadas forças vivas do distrito: 16 presidentes de câmara, empresas, fábricas e organismos da Administração Pública. E a todas o candidato vai, bem disposto e de sorriso na cara, ouvindo atentamente e distribuindo apertos de mão, deitando para trás das costas o facto de estar num distrito tradicionalmente adverso - em que o PSD tem 5 deputados, o PS 4 e o PP um, e com os sociais-democratas a liderar 12 das 16 câmaras municipais. Nestas eleições, Costa tem como adversários Ferreira do Amaral (cabeça-de-lista do PSD), Celeste Cardona (do PP) e José Augusto Esteves (PCP). A fisionomia do candidato só se altera quando confrontado com a possibilidade de abandonar a pasta que ocupa: «Irritar-me-ia muito não acabar este trabalho na Justiça», confessa. Fumador, foi obrigado a reduzir drasticamente o tabaco e a andar com pastilhas para a garganta, depois de ter ficado subitamente afónico, a meio de um debate na rádio. «Temos mesmo de lhes 'ir às fuças'» Ainda por cima, coube à estrutura partidária de Leiria preparar o comício inaugural da volta de Ferro Rodrigues pelo país. A máquina está preparada, mas é preciso tratar dos pormenores de sempre: carros com megafone a percorrer o vasto distrito, cartas aos militantes e camionetas para os transportar ao comício. Ainda por cima, coube à estrutura partidária de Leiria preparar o comício inaugural da volta de Ferro Rodrigues pelo país. A máquina está preparada, mas é preciso tratar dos pormenores de sempre: carros com megafone a percorrer o vasto distrito, cartas aos militantes e camionetas para os transportar ao comício. O dia de terça-feira terminou nas Caldas da Rainha, num jantar com militantes, em que se aproveitou para ver o frente-a-frente televisivo Ferro-Durão. Os olhos de Costa não despregaram do televisor e deixa transparecer agrado pela forma como o debate corre. No intervalo, o presidente do PS-Leiria, José Miguel Medeiros, interroga-o: «Não está a correr mal, pois não?». «Está a correr muito bem», responde o ministro. Um assessor mostra-se mais cauteloso: preocupa-o Ferro ter assumido que o Governo se deixou tolher está tudo em aberto. Como dizia o António Guterres, temos mesmo de ir às fuças da direita... no bom sentido, é claro». Costa segue o mote: «Há muito ainda a disputar. O adversário pode fazer grande pose, mas não convence. As pessoas estavam descontentes com o PS, mostraram um cartão amarelo, mas não imaginaram as consequências. Agora, estão a ver se arrepiamos caminho. Temos de ir para a rua e convencê-las. Não me canso de dizer que aqui em Leiria existem 20 mil votos que, numa situação de bipolarização, tanto podem dar mais um deputado ao PSD como ao PS. E a nós basta-nos convencer aqueles 5 mil que se perderam nestes anos para a abstenção».

A.P.A.

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Carlos Carvalhas clandestino

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