Uma manhã a "caçar" um caçador furtivo

18-10-2002
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Uma Manhã a "Caçar" Um Caçador Furtivo

Por REPORTAGEM DE RUI TIBÉRIO (TEXTO) E RUI GAUDÊNCIO (FOTO)

Segunda-feira, 7 de Outubro de 2002 No primeiro dia de caça aos coelhos e às lebres, foram as perdizes vermelhas a espécie mais falada. Isto porque a brigada da Guarda Florestal que o PÚBLICO acompanhou lançou-se numa busca, afinal infrutífera, de um caçador furtivo que andava a disparar em zona de reserva. José Manuel Ribeiro, João Varela e Manuel Baião, guardas florestais do sub-núcleo do Alto Oeste, estavam a ter um dia calmo. Enquanto patrulhavam a zona do Arelho, junto à Lagoa de Óbidos, nada de anormal havia a registar - os caçadores abordados tinham a documentação em ordem e até as quantidades de caça que carregavam neste dia de abertura da caça ao coelho e à lebre estava dentro do permitido, o que, segundo os próprios guardas, não é habitual. "Hoje o dia está a ser fraco porque a chuva afastou muitos caçadores", justificam. De repente - e alterando o plano da manhã, que previa uma incursão na zona protegida da lagoa - uma denúncia arrastou a brigada para Salir de Matos, no concelho vizinho das Caldas da Rainha. Alguém vira um caçador furtivo no "santuário" de perdiz vermelha daquela freguesia rural, uma zona de reserva ferozmente protegida pela população local. A partir daí o resto da manhã seria marcado pelo ambiente de perseguição e pela escolha da táctica mais eficaz para apanhar o alegado infractor. "Pelo que me disseram, está no cabeço do pomar", dizia o "mestre" José Manuel Ribeiro, guarda fiscal há 35 anos, enquanto acelerava no velho jipe. Entre atalhos e servidões, Manuel Baião sugeria o trajecto mais adequado à captura do suposto infractor, pela experiência de mais de 15 anos de serviço. Ao longe, por entre o extenso pomar, um vulto parecia afastar-se ao avistar a patrulha. "Ele está a esconder a arma e a ir-se embora", relatava o mestre. "Se arrancarmos agora ainda o conseguimos apanhar", indicava Manuel Baião. Começou então a "caça ao homem", que, apesar de todos os esforços, viria a revelar-se infrutífera. Mais uma vez, os pequenos e lamacentos atalhos encurtavam a distância. As marcas de pneus de jipe e de botas, "aí número 37", provavam que a zona tinha sido invadida por um caçador que não respeitou a reserva de perdizes vermelhas. A população confirmava a presença de um carro estranho e o som de tiros no "santuário". À medida que a brigada procurava, os pormenores que os habitantes de Salir do Porto forneciam correspondiam à figura de "um homem aí dos seus cinquenta anos, careca e sem roupa de caçador" - descrição avalizada mais tarde pela pessoa que há duas horas fizera a denúncia. Pelo meio da correria ainda houve tempo de pedir documentação a três caçadores que circulavam numa zona de caça associativa. Um deles mostrou-se bastante agastado, não pela visita da autoridade, mas porque o dia lhe correu mal. "Falhei todas hoje, vou sem nada para casa", lamentava. Já no final do turno, a brigada terminava o seu serviço, mostrando um enorme desalento pela frustrante jornada. Tinham abordado 33 caçadores e registaram quatro perdizes e dois coelhos caçados. Não foi preciso fazer qualquer comunicação ao Ministério Público, um expediente utilizado quando um caçador não tem licença de caça ou de porte de arma, ou ainda quando excede a quantidade máxima permitida de caça. "Depois da comunicação dizem-nos se deixamos ir o indivíduo ou se fica detido para ser presente ao juiz", explica José Manuel Ribeiro, que faz questão de salientar: "Nunca ninguém me faltou ao respeito." Já Manuel Baião conta que "os caçadores hoje são pessoas com menos princípios e mais mal-educadas, em especial as pessoas com mais instrução". O sub-núcleo do Alto Oeste conta com quatro brigadas, apesar de uma estar inactiva, porque os seus elementos estão de baixa ou foram transferidos. Patrulham 150 mil hectares, ao longo de sete concelhos - Caldas da Rainha, Óbidos, Alcobaça, Nazaré, Bombarral, Peniche e Cadaval. "Para fazermos um trabalho em condições precisamos de mais seis homens e de melhores meios", afirma José Manuel Ribeiro, que lembra nunca ter sido reposto o carro que deixou de estar ao serviço depois de um seu colega ter um acidente. "Não podemos fazer milagres, porque sem omeletes não há ovos", remata. Mas, garantem, todos os dados recolhidos na busca de ontem irão servir, numa próxima oportunidade, para apanhar o "malandro" que andava a caçar perdizes em zona proibida. OUTROS TÍTULOS EM SOCIEDADE Inspectores de veículos denunciam "pressões" e ilegalidades

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PESSOAS

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