Amigos da Casa do Gaiato acusam Estado de querer destruir a obra

12-01-2005
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Amigos da Casa do Gaiato Acusam Estado de Querer Destruir a Obra

Por LUIS BRANCO BARROS

Domingo, 19 de Dezembro de 2004

"Não incomodem e não estraguem a Casa do Gaiato". O pedido foi ontem feito por Zita Seabra durante uma visita à sede da Obra de Rua em Paço de Sousa, Penafiel. A representante da futura liga de amigos daquela instituição devolveu ao Estado as críticas que a auditoria da Segurança Social fez na recente auditoria à Casa do Gaiato.

Um grupo de personalidades amigas da Casa do Gaiato - entre as quais o professor universitário Nuno Grande, o chefe de cozinha Hélio Loureiro e os deputados José Manuel Pavão e António Pinheiro Torres, ambos da bancada social-democrata - visitou ontem à tarde a sede da instituição, em Paço de Sousa, para lançar uma "onda de solidariedade". "A ideia é criar uma espécie de muralha que impeça que esta obra seja destruída", diz Zita Seabra. "Isto é uma onda imparável". Agustina Bessa Luís, Rosa Mota, Maria João Avillez, Marcelo Rebelo de Sousa, Carlos Queirós já farão parte deste grupo de amigos que inclui ainda ex-"gaiatos".

"O Estado trata pessimamente das suas obras sociais", quer sejam espaços de reabilitação ou "escolas públicas do ensino secundário", afirmou Zita Seabra, que defendeu a obra fundada pelo padre Américo Aguiar há seis décadas: "É uma obra notável, que vive sem depender do Estado e na qual teríamos todos de pôr os olhos", considera. Mas que, "de repente, é objecto de um ataque que não tem nenhuma explicação, a não ser a incapacidade do Estado em gerir as suas próprias obras". Segundo Nuno Grande, também presente na visita, "a cultura da independência paga-se cara".

"Misturas" injustas

com a Casa Pia

Para a ex-deputada, a revelação do recente relatório da Segurança Social sobre a instituição criada pelo padre Américo tem a ver com o processo Casa Pia: "Toda a gente sabe qual é a causa: cada vez que há um avanço ou um recuo no processo Casa Pia, a Casa do Gaiato é misturada, o que é uma injustiça brutal para as pessoas que aqui estão há muitos anos", disse. E afirmou que o país está "doente" se "não sabe ter gratidão para quem trata daqueles que são os marginalizados reais da sociedade".

Lamentando que o relatório da Segurança Social não seja conhecido publicamente, nem sequer pela própria instituição, Zita Seabra considera também uma "injustiça" não se fazerem avaliações em algumas escolas secundárias do Estado de acordo com os mesmos princípios. "Se forem seguidos os mesmos critérios, certamente fecham muitas", opina. E voltando à Casa do Gaiato, acusou: "Muitas destas obras, tal como os lares de terceira idade, são um negócio e haverá muita gente que tem interesse em que saiam daqui rapazes para irem para obras que têm de ser rentáveis. São obras financiadas pelo Estado; logo, para funcionarem e para darem garantia de emprego às pessoas que lá estão, têm que ter mais rapazes. É um mecanismo absolutamente perverso e perigoso".

O padre Acílio Fernandes gostou do "conforto que vem do alto" e defendeu que o "projecto educativo não deve morrer quando ainda está de pé". Afirmando desconhecer o relatório, do qual nem sequer se pode defender, disse ter já sido alvo de 11 processos em tribunal, "todos arquivados". E lamenta a dificuldade em "arranjar gente que dê amor", que sejam "mãe e pai daqueles que não os têm".

Po seu lado, um ex-"gaiato", hoje com 55 anos, lembrou ter passado oito anos da sua vida na Casa de Setúbal onde, entre mais de trezentos rapazes, "apenas um saiu ovelha ranhosa". "Criticamos o que está mal, mas não apresentamos soluções", disse ainda o ex-"gaiato". "Haverá sítio melhor para colocar as cerca de 500 crianças que estão na Casa do Gaiato?", perguntou.

Amigos da Casa do Gaiato Acusam Estado de Querer Destruir a Obra

Por LUIS BRANCO BARROS

Domingo, 19 de Dezembro de 2004

"Não incomodem e não estraguem a Casa do Gaiato". O pedido foi ontem feito por Zita Seabra durante uma visita à sede da Obra de Rua em Paço de Sousa, Penafiel. A representante da futura liga de amigos daquela instituição devolveu ao Estado as críticas que a auditoria da Segurança Social fez na recente auditoria à Casa do Gaiato.

Um grupo de personalidades amigas da Casa do Gaiato - entre as quais o professor universitário Nuno Grande, o chefe de cozinha Hélio Loureiro e os deputados José Manuel Pavão e António Pinheiro Torres, ambos da bancada social-democrata - visitou ontem à tarde a sede da instituição, em Paço de Sousa, para lançar uma "onda de solidariedade". "A ideia é criar uma espécie de muralha que impeça que esta obra seja destruída", diz Zita Seabra. "Isto é uma onda imparável". Agustina Bessa Luís, Rosa Mota, Maria João Avillez, Marcelo Rebelo de Sousa, Carlos Queirós já farão parte deste grupo de amigos que inclui ainda ex-"gaiatos".

"O Estado trata pessimamente das suas obras sociais", quer sejam espaços de reabilitação ou "escolas públicas do ensino secundário", afirmou Zita Seabra, que defendeu a obra fundada pelo padre Américo Aguiar há seis décadas: "É uma obra notável, que vive sem depender do Estado e na qual teríamos todos de pôr os olhos", considera. Mas que, "de repente, é objecto de um ataque que não tem nenhuma explicação, a não ser a incapacidade do Estado em gerir as suas próprias obras". Segundo Nuno Grande, também presente na visita, "a cultura da independência paga-se cara".

"Misturas" injustas

com a Casa Pia

Para a ex-deputada, a revelação do recente relatório da Segurança Social sobre a instituição criada pelo padre Américo tem a ver com o processo Casa Pia: "Toda a gente sabe qual é a causa: cada vez que há um avanço ou um recuo no processo Casa Pia, a Casa do Gaiato é misturada, o que é uma injustiça brutal para as pessoas que aqui estão há muitos anos", disse. E afirmou que o país está "doente" se "não sabe ter gratidão para quem trata daqueles que são os marginalizados reais da sociedade".

Lamentando que o relatório da Segurança Social não seja conhecido publicamente, nem sequer pela própria instituição, Zita Seabra considera também uma "injustiça" não se fazerem avaliações em algumas escolas secundárias do Estado de acordo com os mesmos princípios. "Se forem seguidos os mesmos critérios, certamente fecham muitas", opina. E voltando à Casa do Gaiato, acusou: "Muitas destas obras, tal como os lares de terceira idade, são um negócio e haverá muita gente que tem interesse em que saiam daqui rapazes para irem para obras que têm de ser rentáveis. São obras financiadas pelo Estado; logo, para funcionarem e para darem garantia de emprego às pessoas que lá estão, têm que ter mais rapazes. É um mecanismo absolutamente perverso e perigoso".

O padre Acílio Fernandes gostou do "conforto que vem do alto" e defendeu que o "projecto educativo não deve morrer quando ainda está de pé". Afirmando desconhecer o relatório, do qual nem sequer se pode defender, disse ter já sido alvo de 11 processos em tribunal, "todos arquivados". E lamenta a dificuldade em "arranjar gente que dê amor", que sejam "mãe e pai daqueles que não os têm".

Po seu lado, um ex-"gaiato", hoje com 55 anos, lembrou ter passado oito anos da sua vida na Casa de Setúbal onde, entre mais de trezentos rapazes, "apenas um saiu ovelha ranhosa". "Criticamos o que está mal, mas não apresentamos soluções", disse ainda o ex-"gaiato". "Haverá sítio melhor para colocar as cerca de 500 crianças que estão na Casa do Gaiato?", perguntou.

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