EXPRESSO: Desporto

18-10-2002
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Atletismo endividado

A Federação enfrenta uma crise financeira que, se não for ultrapassada em breve, comprometerá a presença no próximo Europeu

Lusa Rui Silva conquistou, no ano passado, a medalha de ouro nos Mundiais de Pista coberta, realizados em Lisboa, mas só há pouco tempo é que recebeu o prémio monetário por esse feito

A PRESENÇA de 18 atletas portugueses nos Europeus de Pista Coberta em atletismo, que desde ontem decorrem em Viena de Áustria, só foi possível devido à boa vontade da agência de viagens e de uma série de abastecedores da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA). De facto, segundo apurou o EXPRESSO, a FPA deve dinheiro a atletas, treinadores, associações e fornecedores, devido a uma crise financeira que, se não for debelada a curto prazo, pode colocar em risco a ida ao próximo Europeu de pista ao ar livre.

Este cenário aflitivo não terá sido criado por má gestão da FPA, mas sim pelo facto do Governo não ter ainda pago cerca de 350 mil contos que lhe foram imputados, relativos à organização do Mundial de Pista Coberta, realizado há cerca de um ano, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa.

Recorde-se que a FPA apresentou um orçamento global na ordem dos 656 mil contos, que incluía a aquisição de uma pista e respectivo apetrechamento, estimado em 245 mil contos. Só que, enquanto o contrato-programa para a pista foi concretizado, o mesmo não se passou em relação à verba directamente ligada à organização. Entretanto, já passou um ano.

Instado a pronunciar-se sobre o porquê deste atraso, o ministro da Juventude e do Desporto, José Lello, começou por explicar que, em 2001, tinha no seu orçamento «apenas 500 mil contos para eventos internacionais, num ano em que, entre outras organizações havia também a dos Mundiais de Ciclismo».

O ministro resolveu então encaminhar a FPA para a área do Turismo «para ver se, devido à importância mediática do evento, haveria a hipótese daquele sector colmatar a diferença», resume Lello.

Mas a verdade é que até agora «não tem sido possível que o plano operacional de economia enquadre essa candidatura, por razões técnicas», admite, embora tenha efectuado «algumas diligências» nesse sentido.

Em declarações ao EXPRESSO, o presidente da FPA, Fernando Mota, começa por explicar que «para evitar situações dramáticas» a federação tem vindo a fazer uma «enorme ginástica financeira, deslocando verbas de outras rubricas, para ir pagando a alguns fornecedores, e não só».

Carlos Calado, por exemplo, só esta semana é que recebeu os prémios referentes às duas medalhas de bronze conquistadas nos Mundiais realizados em 2001.

A situação está a atingir proporções tais que a FPA «tem de ser ressarcida destes encargos, urgentemente», sob pena de lhe «serem movidas acções judiciais e/ou ter que suspender parcialmente as suas actividades».

José Lello, porém, assegura que continua a não ter aqueles 350 mil contos consignados no seu orçamento. E deixando transparecer a incomodidade que este assunto lhe causa desabafou: «Em relação a essa matéria, o que posso dizer, por agora, é que não trato dos assuntos em praça pública e não deixa de ser interessante que esse assunto venha à baila nesta altura, antes da campanha».

Munique em risco

Mehdi Fedouach/Lusa Carla Sacramento quer ficar no pódio

Fernando Mota, manifestou uma opinião completamente diferente ao considerar que

O presidente da FPA garante que a presença nestes Europeus só foi possível, por um lado, porque a federação não quis «introduzir incapacidade financeira ou ausência de liquidez para deixar em terra uma série de atletas que lutaram por estar em Viena» e por outro, porque a agência de viagens com quem trabalham «tem sido quase um patrocinador». E lembra que «se o problema não for resolvido a presença no Europeu de Munique pode ficar em perigo».

A questão promete alguma polémica, até porque a opinião deste dois responsáveis em relação ao orçamento dos mundiais diverge radicalmente.

Enquanto Mota considera que o evento foi «extraordinariamente económico», tendo em conta vários factores entre eles, por exemplo, o número de pessoas envolvidas (140 países, mais de 600 atletas, cerca de 900 acreditações para os «media», etc.); para José Lello, o orçamento apresentado foi exorbitante: «Quiseram tudo designadamente até comprar a pista, que está neste momento armazenada. Não havendo dinheiro, tinham a possibilidade de ir buscar a pista de Espinho, mas quiseram ter esta que é mais bonita... só que os dinheiros públicos são escassos».

A verdade é que para a Tennis Masters Cup, onde estiveram presentes oito atletas estrangeiros, a administração pública despendeu mais de um milhão de contos para uma organização que ultrapassou os dois milhões.

E o presidente da FPA faz questão de sublinhar, mais uma vez, o reconhecido sucesso dos mundiais de Lisboa «que serviram até de catarse da tragédia de Entre-os-Rios, ocorrida dias antes, não só pela qualidade organizativa como pelas medalhas conquistadas por atletas portugueses» (ouro de Rui Silva e bronze de Carlos Calado).

Atletismo endividado

A Federação enfrenta uma crise financeira que, se não for ultrapassada em breve, comprometerá a presença no próximo Europeu

Lusa Rui Silva conquistou, no ano passado, a medalha de ouro nos Mundiais de Pista coberta, realizados em Lisboa, mas só há pouco tempo é que recebeu o prémio monetário por esse feito

A PRESENÇA de 18 atletas portugueses nos Europeus de Pista Coberta em atletismo, que desde ontem decorrem em Viena de Áustria, só foi possível devido à boa vontade da agência de viagens e de uma série de abastecedores da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA). De facto, segundo apurou o EXPRESSO, a FPA deve dinheiro a atletas, treinadores, associações e fornecedores, devido a uma crise financeira que, se não for debelada a curto prazo, pode colocar em risco a ida ao próximo Europeu de pista ao ar livre.

Este cenário aflitivo não terá sido criado por má gestão da FPA, mas sim pelo facto do Governo não ter ainda pago cerca de 350 mil contos que lhe foram imputados, relativos à organização do Mundial de Pista Coberta, realizado há cerca de um ano, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa.

Recorde-se que a FPA apresentou um orçamento global na ordem dos 656 mil contos, que incluía a aquisição de uma pista e respectivo apetrechamento, estimado em 245 mil contos. Só que, enquanto o contrato-programa para a pista foi concretizado, o mesmo não se passou em relação à verba directamente ligada à organização. Entretanto, já passou um ano.

Instado a pronunciar-se sobre o porquê deste atraso, o ministro da Juventude e do Desporto, José Lello, começou por explicar que, em 2001, tinha no seu orçamento «apenas 500 mil contos para eventos internacionais, num ano em que, entre outras organizações havia também a dos Mundiais de Ciclismo».

O ministro resolveu então encaminhar a FPA para a área do Turismo «para ver se, devido à importância mediática do evento, haveria a hipótese daquele sector colmatar a diferença», resume Lello.

Mas a verdade é que até agora «não tem sido possível que o plano operacional de economia enquadre essa candidatura, por razões técnicas», admite, embora tenha efectuado «algumas diligências» nesse sentido.

Em declarações ao EXPRESSO, o presidente da FPA, Fernando Mota, começa por explicar que «para evitar situações dramáticas» a federação tem vindo a fazer uma «enorme ginástica financeira, deslocando verbas de outras rubricas, para ir pagando a alguns fornecedores, e não só».

Carlos Calado, por exemplo, só esta semana é que recebeu os prémios referentes às duas medalhas de bronze conquistadas nos Mundiais realizados em 2001.

A situação está a atingir proporções tais que a FPA «tem de ser ressarcida destes encargos, urgentemente», sob pena de lhe «serem movidas acções judiciais e/ou ter que suspender parcialmente as suas actividades».

José Lello, porém, assegura que continua a não ter aqueles 350 mil contos consignados no seu orçamento. E deixando transparecer a incomodidade que este assunto lhe causa desabafou: «Em relação a essa matéria, o que posso dizer, por agora, é que não trato dos assuntos em praça pública e não deixa de ser interessante que esse assunto venha à baila nesta altura, antes da campanha».

Munique em risco

Mehdi Fedouach/Lusa Carla Sacramento quer ficar no pódio

Fernando Mota, manifestou uma opinião completamente diferente ao considerar que

O presidente da FPA garante que a presença nestes Europeus só foi possível, por um lado, porque a federação não quis «introduzir incapacidade financeira ou ausência de liquidez para deixar em terra uma série de atletas que lutaram por estar em Viena» e por outro, porque a agência de viagens com quem trabalham «tem sido quase um patrocinador». E lembra que «se o problema não for resolvido a presença no Europeu de Munique pode ficar em perigo».

A questão promete alguma polémica, até porque a opinião deste dois responsáveis em relação ao orçamento dos mundiais diverge radicalmente.

Enquanto Mota considera que o evento foi «extraordinariamente económico», tendo em conta vários factores entre eles, por exemplo, o número de pessoas envolvidas (140 países, mais de 600 atletas, cerca de 900 acreditações para os «media», etc.); para José Lello, o orçamento apresentado foi exorbitante: «Quiseram tudo designadamente até comprar a pista, que está neste momento armazenada. Não havendo dinheiro, tinham a possibilidade de ir buscar a pista de Espinho, mas quiseram ter esta que é mais bonita... só que os dinheiros públicos são escassos».

A verdade é que para a Tennis Masters Cup, onde estiveram presentes oito atletas estrangeiros, a administração pública despendeu mais de um milhão de contos para uma organização que ultrapassou os dois milhões.

E o presidente da FPA faz questão de sublinhar, mais uma vez, o reconhecido sucesso dos mundiais de Lisboa «que serviram até de catarse da tragédia de Entre-os-Rios, ocorrida dias antes, não só pela qualidade organizativa como pelas medalhas conquistadas por atletas portugueses» (ouro de Rui Silva e bronze de Carlos Calado).

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