Nomeação do padre Vaz Pinto cria mal-estar na Igreja

08-07-2002
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Nomeação do Padre Vaz Pinto Cria Mal-estar na Igreja

Por ANTÓNIO MARUJO

Sábado, 6 de Julho de 2002 Em causa cargo de confiança política Novo alto comissário quer ser porta-voz dos imigrantes em Portugal e porta-voz da nação perante os imigrantes A nomeação do padre jesuíta António Vaz Pinto para o Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), anunciada na semana passada pelo primeiro-ministro Durão Barroso, está a gerar mal-estar na Igreja Católica. O PÚBLICO sabe que o patriarca de Lisboa, enquanto presidente da Conferência Episcopal, não gostou muito da ideia, apesar de ter acabado por anuir, os organismos católicos ligados ao trabalho com imigrantes ficaram descontentes por não terem sido consultados e vários padres e bispos também não acham bem. Há diferentes responsáveis a insistir na tecla: é o terceiro padre que, no espaço de poucos anos, é nomeado para um cargo de confiança política, depois de Victor Feytor Pinto no Projecto Vida e de Vítor Melícias no Comissariado para Timor-Leste (ver caixa). O bispo que preside à Comissão Episcopal das Migrações, D. Januário Torgal Ferreira, diz mesmo que a nomeação de um padre pode revelar "trejeitos de um regime de cristandade" por parte de quem toma a decisão. Dá a sensação, acrescenta, "que cada Governo tem que ter o seu padre". Também o padre Rui Pedro, director da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM), diz que este é um cargo político que "compromete a Igreja". Até porque surge num momento em que várias organizações católicas que trabalham com imigrantes, incluindo a OCPM, aparecem a público a contestar as intenções do Governo para esta área. O que leva o padre Rui Pedro a desejar que António Vaz Pinto se torne, no ACIME, "um bom porta-voz do humanismo que as organizações católicas têm vindo a pedir aos governos". Mesmo com essa esperança, Rui Pedro diz que a notícia foi recebida no interior da Igreja com "surpresa": "Para nós, que andamos nestas andanças, é uma pessoa desconhecida, pois não me recordo de me ter cruzado com ele em trabalhos com imigrantes." O futuro alto comissário aceita que o critiquem mas diz que não chegou agora à imigração, tendo já criado dois centros de apoio a estudantes estrangeiros e a imigrantes de Leste. Em declarações ao PÚBLICO, António Vaz Pinto, que chegou anteontem de Timor-Leste, diz que "ocupando a Igreja Católica o lugar que ocupa no campo da imigração, tem sentido ser um padre" a ser escolhido para este cargo. Até pode "haver vantagens", pela "maior isenção e humanidade" que um padre pode dar a um cargo destes. "Não se pode cair no erro de associar o lugar a um partido", uma vez que este é um problema "nacional e europeu", defende. Foi, aliás, para evitar clivagens partidárias que Vaz Pinto teve o cuidado de falar com o secretário-geral do PS, para saber se Ferro Rodrigues tinha "algum impedimento" ao seu nome. Para esse problema alerta o bispo Torgal Ferreira, para quem este cargo deveria ser "um serviço de cidadania, como o entendeu o anterior alto-comissário [José Leitão], e não um lugar partidário". D. Januário faz questão, aliás, de lamentar que José Leitão, um militante do PS reconhecido como católico, não continue no lugar, uma vez que demonstrou uma grande "capacidade de diálogo". Uma ideia repetida pelo padre Rui Pedro, que elogia a virtude do anterior alto-comissário no diálogo com as associações, os bairros e as instituições de apoio a imigrantes. "Não gosto que haja formas de cumplicidade entre a Igreja e o Estado, porque o Estado é laico", acrescenta ainda o bispo Torgal Ferreira. Uma nota repetida mesmo entre colegas de Vaz Pinto na Companhia de Jesus e em outros responsáveis eclesiásticos. As reservas são comuns a outras instituições católicas de apoio a imigrantes, que ainda esta semana divulgaram um documento muito crítico com as intenções do Governo em matéria de imigração. O futuro alto-comissário não se assusta com essas críticas. "Espero falar com toda a gente, com as associações, com os partidos e, perante cada caso, tomarei decisões." O processo de nomeação de António Vaz Pinto acabou por não ter a discordância de nenhum dos seus responsáveis directos: o provincial dos jesuítas em Portugal perguntou para Roma a opinião do padre geral da Companhia de Jesus. Este terá respondido que não seria contra se o patriarca de Lisboa, actual presidente da Conferência Episcopal,não fosse contra. O patriarca não quis vetar. E, assim, a nomeação teve o fumo branco dos responsáveis da Igreja. Para adjunto, o padre Vaz Pinto espera trazer Rui Marques, que agora está em Timor. Numa entrevista à PÚBLICA que sairá amanhã, dada no início de Junho, em Díli, a Adelino Gomes, Rui Marques apontava a imigração como um tema decisivo no futuro próximo e uma causa a que se poderia dedicar. OUTROS TÍTULOS EM SOCIEDADE Cinco mortes em 2001 devido ao consumo de "ecstasy"

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BREVES

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