Gargalhadas ecoam na Maia

18-10-2002
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Gargalhadas Ecoam na Maia

Quinta-feira, 17 de Outubro de 2002

Até domingo

Festival Internacional de Teatro Cómico mantém orçamento do ano passado, apesar dos apertares de cinto

Ana Cristina Pereira

O que Cláudia Sofia, 16 anos, e Maria Antónia, menos um, queriam - mesmo, mesmo - era ver o trágico "Romeu e Julieta" de Shakespeare transfigurado em hilariante comédia. Mas a Companhia do Chapitô só tomava conta do palco por volta das 23h30 e o dia seguinte era de escola. As duas raparigas tiveram de ficar-se por "O Barrete dos Guizos", do Teatro das Beiras. E, a avaliar pelas gargalhadas que soltaram durante o espectáculo, não se sentiram mal servidas. "Ai de quem morrer no coração de outro!"

O Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia vai já na oitava edição. E, apesar da crise que morde pelo país, mantém um orçamento rigorosamente igual ao do ano passado - 120 mil euros (24 mil contos). "Não se pode cortar em investimentos que representam o futuro", sustenta o vereador responsável pelo pelouro da Cultura, Mário Nuno Neves. "Cortar na cultura e na formação dos jovens, num país com tão baixas qualificações, é dar um tiro no pé", volta, alegando que este sector "não pode andar ao sabor das circunstâncias".

Desde sexta feira, pelos diversos palcos do Forum da Maia, passaram mais de duas dezenas de espectáculos. Cláudia Sofia e Maria Antónia procuram no programa o nome certo do que tanto as encantou no sábado. Acabam por assinalar, por entre risos de embaraço, "Os Velhos non Deben de Namorarsse", peça de Afonso Castelao, trazida pelo Teatro Morcego (Galiza). Boa escolha. A farsa, emblemática do teatro galego, retrata os amores de três idosos por outras tantas jovens viçosas. Todos mortos à conta desse enamoramento. Um, o mais bafejado pela sorte, até morre de felicidade!

O público forma fila para a bilheteira enquanto os Kabong encetam a sua "Sinfonia Celestial". Os bilhetes são "sociais", como frisa o director do Art'imagem - responsável artístico e técnico pelo certame -, José Leitão. Custam menos do que um bilhete de cinema: 2,5 euros para os espectáculos das 21h30; 1, 75 euros para os das 23h30, "borlas" para o resto. Há famílias a comprar bilhetes para vários dias, para afastar a hipótese de ficarem sem lugar. "É a qualidade do programa e a acessibilidade dos bilhetes que explica a adesão", diz, apontando para 10 mil presenças no local ao longo desta semana de riso.

Leitão recorre ao surreal "Olé - The Flamen Comedy Show", de Paulo Moroco, para exemplificar a qualidade da programação: "É um dos nomes mais importantes da chamada "comedy" inglesa e esteve aqui, no domingo". Ao festival da Maia vêm géneros teatrais que "não encontram espaço noutros festivais, como o teatro gestual ou o teatro mímico", frisa.

Para não variar, Leitão lamentou o olhar pouco edificante que muitas companhias lançam ao teatro cómico. "Em Portugal, há a ideia de que o cómico é popular e o popular logo se transforma em popularucho e o popularucho em chunga", logo, "as grandes companhias" tendem a fugir deste género diz. Mas, sublinha, "os grandes ditadores sempre tiveram medo do riso; o teatro que diverte também pode perturbar e alertar".

Fátima Silva, 30 anos, é uma viciada neste festival. Olha para o programa e abana a cabeça. Todos os dias têm coisas que gosta de ver. Também, diz, "não admira", gosta tanto de teatro que até se inscreveu na oficina.

A Oficina de Teatro da Maia é "a prova de que o festival não é efémero", atesta José Leitão. Ao longo do ano, o Art'Imagem dá uma formação a pequenos e graúdos que resulta em espectáculos, mas, sobretudo, em públicos atentos de teatro. "Não tenho conhecimento de nenhum grupo de teatro amador que tenha surgido na sequência desta formação informal, mas sei de pelo menos uma dezena de pessoas que participaram nestas oficinas e que foram estudar artes do espectáculo para o Porto", diz Leitão. Este ano, cerca de "100 pessoas" participaram, frisa, para logo apontar a importância disto na criação do gosto pela cultura. "É um investimento que não se vê, como uma ponte ou uma estrada, mas essencial à vida", entende Mário Nuno Neves.

Caixa

O que ainda falta

O Forum da Maia acolhe esta noite uma estreia absoluta e uma estreia nacional. "Abaixo de Cão", de Óscar Branco e Jorge Sousa Braga, pretende retratar o "non-sense" dos tempos que correm. E "The Swinging Marionettes", do checo Pavel Vangelis, resgata a energia do jazz e do swing dos anos 30. Isto tudo numa noite a inaugurar por um breve espectáculo de rua de "Os Sete Magníficos Mais Um" (Galiza).

Amanhã, Adelaide Teixeira abre a noite com "A Noiva". Logo a seguir, mesmo a calhar, o grupo brasileiro Ideias Ideais leva a cena "Toda a Donzela tem um Pai que é uma Fera". Uma peça irreverente interpretada por nomes bem conhecidos dos espectadores de telenovelas, como Marcos Antoneli, André Segatti e Marcelo Mansfield. A fechar a noite, "Capitain Mierden", trazida por Loco Brusca (Argentina). Destaque, ainda, para "Recitália", de Marcantónio Del Carlo e André Gago, no Sábado. No Domingo, atenção a "Stingo" , da Yllana (Madrid), e a "Itzzz...Some Sing", de Bernard Massuir (Bélgica).

Gargalhadas Ecoam na Maia

Quinta-feira, 17 de Outubro de 2002

Até domingo

Festival Internacional de Teatro Cómico mantém orçamento do ano passado, apesar dos apertares de cinto

Ana Cristina Pereira

O que Cláudia Sofia, 16 anos, e Maria Antónia, menos um, queriam - mesmo, mesmo - era ver o trágico "Romeu e Julieta" de Shakespeare transfigurado em hilariante comédia. Mas a Companhia do Chapitô só tomava conta do palco por volta das 23h30 e o dia seguinte era de escola. As duas raparigas tiveram de ficar-se por "O Barrete dos Guizos", do Teatro das Beiras. E, a avaliar pelas gargalhadas que soltaram durante o espectáculo, não se sentiram mal servidas. "Ai de quem morrer no coração de outro!"

O Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia vai já na oitava edição. E, apesar da crise que morde pelo país, mantém um orçamento rigorosamente igual ao do ano passado - 120 mil euros (24 mil contos). "Não se pode cortar em investimentos que representam o futuro", sustenta o vereador responsável pelo pelouro da Cultura, Mário Nuno Neves. "Cortar na cultura e na formação dos jovens, num país com tão baixas qualificações, é dar um tiro no pé", volta, alegando que este sector "não pode andar ao sabor das circunstâncias".

Desde sexta feira, pelos diversos palcos do Forum da Maia, passaram mais de duas dezenas de espectáculos. Cláudia Sofia e Maria Antónia procuram no programa o nome certo do que tanto as encantou no sábado. Acabam por assinalar, por entre risos de embaraço, "Os Velhos non Deben de Namorarsse", peça de Afonso Castelao, trazida pelo Teatro Morcego (Galiza). Boa escolha. A farsa, emblemática do teatro galego, retrata os amores de três idosos por outras tantas jovens viçosas. Todos mortos à conta desse enamoramento. Um, o mais bafejado pela sorte, até morre de felicidade!

O público forma fila para a bilheteira enquanto os Kabong encetam a sua "Sinfonia Celestial". Os bilhetes são "sociais", como frisa o director do Art'imagem - responsável artístico e técnico pelo certame -, José Leitão. Custam menos do que um bilhete de cinema: 2,5 euros para os espectáculos das 21h30; 1, 75 euros para os das 23h30, "borlas" para o resto. Há famílias a comprar bilhetes para vários dias, para afastar a hipótese de ficarem sem lugar. "É a qualidade do programa e a acessibilidade dos bilhetes que explica a adesão", diz, apontando para 10 mil presenças no local ao longo desta semana de riso.

Leitão recorre ao surreal "Olé - The Flamen Comedy Show", de Paulo Moroco, para exemplificar a qualidade da programação: "É um dos nomes mais importantes da chamada "comedy" inglesa e esteve aqui, no domingo". Ao festival da Maia vêm géneros teatrais que "não encontram espaço noutros festivais, como o teatro gestual ou o teatro mímico", frisa.

Para não variar, Leitão lamentou o olhar pouco edificante que muitas companhias lançam ao teatro cómico. "Em Portugal, há a ideia de que o cómico é popular e o popular logo se transforma em popularucho e o popularucho em chunga", logo, "as grandes companhias" tendem a fugir deste género diz. Mas, sublinha, "os grandes ditadores sempre tiveram medo do riso; o teatro que diverte também pode perturbar e alertar".

Fátima Silva, 30 anos, é uma viciada neste festival. Olha para o programa e abana a cabeça. Todos os dias têm coisas que gosta de ver. Também, diz, "não admira", gosta tanto de teatro que até se inscreveu na oficina.

A Oficina de Teatro da Maia é "a prova de que o festival não é efémero", atesta José Leitão. Ao longo do ano, o Art'Imagem dá uma formação a pequenos e graúdos que resulta em espectáculos, mas, sobretudo, em públicos atentos de teatro. "Não tenho conhecimento de nenhum grupo de teatro amador que tenha surgido na sequência desta formação informal, mas sei de pelo menos uma dezena de pessoas que participaram nestas oficinas e que foram estudar artes do espectáculo para o Porto", diz Leitão. Este ano, cerca de "100 pessoas" participaram, frisa, para logo apontar a importância disto na criação do gosto pela cultura. "É um investimento que não se vê, como uma ponte ou uma estrada, mas essencial à vida", entende Mário Nuno Neves.

Caixa

O que ainda falta

O Forum da Maia acolhe esta noite uma estreia absoluta e uma estreia nacional. "Abaixo de Cão", de Óscar Branco e Jorge Sousa Braga, pretende retratar o "non-sense" dos tempos que correm. E "The Swinging Marionettes", do checo Pavel Vangelis, resgata a energia do jazz e do swing dos anos 30. Isto tudo numa noite a inaugurar por um breve espectáculo de rua de "Os Sete Magníficos Mais Um" (Galiza).

Amanhã, Adelaide Teixeira abre a noite com "A Noiva". Logo a seguir, mesmo a calhar, o grupo brasileiro Ideias Ideais leva a cena "Toda a Donzela tem um Pai que é uma Fera". Uma peça irreverente interpretada por nomes bem conhecidos dos espectadores de telenovelas, como Marcos Antoneli, André Segatti e Marcelo Mansfield. A fechar a noite, "Capitain Mierden", trazida por Loco Brusca (Argentina). Destaque, ainda, para "Recitália", de Marcantónio Del Carlo e André Gago, no Sábado. No Domingo, atenção a "Stingo" , da Yllana (Madrid), e a "Itzzz...Some Sing", de Bernard Massuir (Bélgica).

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