EXPRESSO: Desporto

08-09-2002
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Jogadores municipais

Os salários da equipa de futebol do Académico de Viseu são suportados pela Câmara

Sérgio Granadeiro Os atletas viseenses têm a garantia de que não haverá mais salários em atraso e prometem dedicar as vitórias ao presidente da autarquia

Com largos meses de ordenados em atraso e perante uma ameaça de greve, Fernando Ruas comprometeu-se a entregar pessoalmente três mil contos por mês à direcção do clube, cujo presidente, Acácio Braguês, empenhou a sua palavra de que o dinheiro seria de imediato depositado na conta dos atletas. O acordo entre a Câmara e o Académico de Viseu recolheu o apoio de toda a vereação, incluindo o do socialista Alexandre Rodrigues, candidato nas próximas eleições.

A entrega do primeiro cheque - no valor de seis mil contos e referente aos meses de Maio e Outubro - foi feita, há um mês, no salão nobre dos Paços do Concelho, cerimónia que contou com a presença da equipa de futebol.

«Os jogadores são os principais protagonistas do espectáculo e, como tal, devem ser os primeiros a receber», afirma Ruas, justificando assim a inusitada alteração na sua política de subsídios ao futebol. Até à presente época, a Câmara doava ao clube um subsídio anual de 30 mil contos, «verba paga em duas prestaçõesmas sem maneira de controlar para onde ia», diz o autarca do PSD, que garante que a partir de agora será diferente.

«Gosto muito de futebol e conheço bem alguns jogadores. Pedi-lhes que me vão dizendo se os ordenados estão em dia, senão suspendo os subsídios», adverte Ruas, assegurando que os três mil contos chegam - no clube dizem que não - para pagar os vencimentos.

A preocupação do autarca «laranja», além de ter sido do agrado das gentes de Viseu, deixou satisfeitos, sobretudo, os atletas e o técnico Luís Almeida, que prometem no futuro dedicar as vitórias ao presidente da edilidade. Apesar de ter tomado em mãos a tutela financeira da equipa de futebol, Fernando Ruas nega pretender retirar dividendos eleitorais com a nova política de subsídios. «Fiz tudo com transparência e com a aprovação de todos. Não aumentei um tostão ao subsídio e engana-se quem pensar que estou a fazer política em nome do Académico», explica, afirmando que os «atletas não têm culpa das dificuldades de quem os contratou».

Passivo ascende a 300 mil contos

As agruras de tesouraria do clube arrastam-se desde meados da década de 90. Em 1996 aderiu ao Plano Mateus, para amortizar uma dívida ao Estado de mais de 40 mil contos, comprometendo-se a pagar a partir de então 500 contos/mês de encargos com o Fisco e Segurança Social. Segundo um antigo dirigente, o clube voltou de seguida a entrar em incumprimento, «já que nunca conseguiu gerar um fluxo de receitas que lhe permita pagar os juros das dívidas atrasadas e as contas correntes».

Não é por acaso que o Académico, que conta com quatro presenças na I Divisão e hoje segue em quarto lugar da Zona Centro da II B, tem sido um dos clubes invariavelmente citados nas intimações públicas por dívidas ao Estado, embora a ameaça de penhoras nunca tenham passado do papel. Com um passivo global de 300 mil contos, já acumulou, desde 1996, quase 65 mil contos de dívidas à Segurança Social, situação que obriga a Câmara ou o clube a pagar ao Estado uma fatia de 25% de todas as receitas.

Este não é, contudo, o entendimento de Fernando Ruas, que se recusa a reter 750 contos mensais do subsídio ao clube para pagar dívidas. «Tratando-se de uma verba proveniente do Orçamento de Estado, não faz sentido que se volte a dá-la ao Estado por outra via. Se fosse outro tipo de receita, tudo bem que se desconte os 25%, pois o clube está em situação faltosa», comenta Ruas.

O Académico, a pedido do autarca, já fez seguir para o Ministério do Trabalho e Solidariedade um pedido de esclarecimento sobre a matéria. Enquanto o parecer não chega, a Câmara manterá o subsídio nos moldes actuais - «é um risco calculado» - , mas o seu presidente equaciona estancar o envio de verbas ao Académico caso seja obrigado a pagar os 750 contos à Segurança Social.

Segundo fonte ministerial, o parecer «será sempre no sentido de fazer cumprir a legislação», o que colide com as pretensões do clube que solicitou que a amortização da dívida incidisse apenas sobre as receitas dos jogos.

Para Acácio Braguês, a complicada situação financeira deve-se à «negligência das anteriores direcções» no pagamento das dívidas ao Estado, que só começaram a ser parcialmente líquidas há dois anos, quando tomou posse. «A solução passa pela constituição de uma SAD, estando em estudo dois modelos que serão em breve apresentados aos sócios», esclarece Braguês.

Mas de acordo com José Junqueiro, presidente da Distrital do PS de Viseu, o problema reside na instrumentalização política a que o clube foi sujeito por parte da Câmara e do PSD local. «A promiscuidade é tal que se chegou ao ponto de estarmos perante uma situação de municipalização do clube», observa Junqueiro.

Jogadores municipais

Os salários da equipa de futebol do Académico de Viseu são suportados pela Câmara

Sérgio Granadeiro Os atletas viseenses têm a garantia de que não haverá mais salários em atraso e prometem dedicar as vitórias ao presidente da autarquia

Com largos meses de ordenados em atraso e perante uma ameaça de greve, Fernando Ruas comprometeu-se a entregar pessoalmente três mil contos por mês à direcção do clube, cujo presidente, Acácio Braguês, empenhou a sua palavra de que o dinheiro seria de imediato depositado na conta dos atletas. O acordo entre a Câmara e o Académico de Viseu recolheu o apoio de toda a vereação, incluindo o do socialista Alexandre Rodrigues, candidato nas próximas eleições.

A entrega do primeiro cheque - no valor de seis mil contos e referente aos meses de Maio e Outubro - foi feita, há um mês, no salão nobre dos Paços do Concelho, cerimónia que contou com a presença da equipa de futebol.

«Os jogadores são os principais protagonistas do espectáculo e, como tal, devem ser os primeiros a receber», afirma Ruas, justificando assim a inusitada alteração na sua política de subsídios ao futebol. Até à presente época, a Câmara doava ao clube um subsídio anual de 30 mil contos, «verba paga em duas prestaçõesmas sem maneira de controlar para onde ia», diz o autarca do PSD, que garante que a partir de agora será diferente.

«Gosto muito de futebol e conheço bem alguns jogadores. Pedi-lhes que me vão dizendo se os ordenados estão em dia, senão suspendo os subsídios», adverte Ruas, assegurando que os três mil contos chegam - no clube dizem que não - para pagar os vencimentos.

A preocupação do autarca «laranja», além de ter sido do agrado das gentes de Viseu, deixou satisfeitos, sobretudo, os atletas e o técnico Luís Almeida, que prometem no futuro dedicar as vitórias ao presidente da edilidade. Apesar de ter tomado em mãos a tutela financeira da equipa de futebol, Fernando Ruas nega pretender retirar dividendos eleitorais com a nova política de subsídios. «Fiz tudo com transparência e com a aprovação de todos. Não aumentei um tostão ao subsídio e engana-se quem pensar que estou a fazer política em nome do Académico», explica, afirmando que os «atletas não têm culpa das dificuldades de quem os contratou».

Passivo ascende a 300 mil contos

As agruras de tesouraria do clube arrastam-se desde meados da década de 90. Em 1996 aderiu ao Plano Mateus, para amortizar uma dívida ao Estado de mais de 40 mil contos, comprometendo-se a pagar a partir de então 500 contos/mês de encargos com o Fisco e Segurança Social. Segundo um antigo dirigente, o clube voltou de seguida a entrar em incumprimento, «já que nunca conseguiu gerar um fluxo de receitas que lhe permita pagar os juros das dívidas atrasadas e as contas correntes».

Não é por acaso que o Académico, que conta com quatro presenças na I Divisão e hoje segue em quarto lugar da Zona Centro da II B, tem sido um dos clubes invariavelmente citados nas intimações públicas por dívidas ao Estado, embora a ameaça de penhoras nunca tenham passado do papel. Com um passivo global de 300 mil contos, já acumulou, desde 1996, quase 65 mil contos de dívidas à Segurança Social, situação que obriga a Câmara ou o clube a pagar ao Estado uma fatia de 25% de todas as receitas.

Este não é, contudo, o entendimento de Fernando Ruas, que se recusa a reter 750 contos mensais do subsídio ao clube para pagar dívidas. «Tratando-se de uma verba proveniente do Orçamento de Estado, não faz sentido que se volte a dá-la ao Estado por outra via. Se fosse outro tipo de receita, tudo bem que se desconte os 25%, pois o clube está em situação faltosa», comenta Ruas.

O Académico, a pedido do autarca, já fez seguir para o Ministério do Trabalho e Solidariedade um pedido de esclarecimento sobre a matéria. Enquanto o parecer não chega, a Câmara manterá o subsídio nos moldes actuais - «é um risco calculado» - , mas o seu presidente equaciona estancar o envio de verbas ao Académico caso seja obrigado a pagar os 750 contos à Segurança Social.

Segundo fonte ministerial, o parecer «será sempre no sentido de fazer cumprir a legislação», o que colide com as pretensões do clube que solicitou que a amortização da dívida incidisse apenas sobre as receitas dos jogos.

Para Acácio Braguês, a complicada situação financeira deve-se à «negligência das anteriores direcções» no pagamento das dívidas ao Estado, que só começaram a ser parcialmente líquidas há dois anos, quando tomou posse. «A solução passa pela constituição de uma SAD, estando em estudo dois modelos que serão em breve apresentados aos sócios», esclarece Braguês.

Mas de acordo com José Junqueiro, presidente da Distrital do PS de Viseu, o problema reside na instrumentalização política a que o clube foi sujeito por parte da Câmara e do PSD local. «A promiscuidade é tal que se chegou ao ponto de estarmos perante uma situação de municipalização do clube», observa Junqueiro.

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