EXPRESSO: País

01-09-2002
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Co-incineração segue exemplo de Foz Côa

Durão promete acabar com a co-incineração, como Guterres acabou com a barragem

Paulo Novais/Lusa Durão Barroso com Carlos Encarnação: um governo PSD optará pela incineração dedicada

A CO-INCINERAÇÃO estará para um eventual Governo do PSD como as gravuras rupestres de Foz Côa estiveram para o Governo de António Guterres: se em 1995 uma das primeiras medidas socialistas foi cancelar os planos da barragem que iria submergir as gravuras, em 2002, se o PSD ganhar as eleições, uma das suas prioridades será revogar a decisão de co-incinerar os resíduos industriais perigosos nas cimenteiras de Souselas e do Outão.

Por isso, o ministro do Ambiente, José Sócrates, já acusou o líder do PSD, Durão Barroso, de «total irresponsabilidade» e desafiou-o a apresentar alternativas. «O PSD não propõe nada ao país, a não ser desfazer o trabalho que os outros fizeram», disse o governante, lamentando ainda que Barroso «ceda com facilidade a demagogias» e lembrando que a co-incineração foi «a decisão política mais fundamentada cientificamente».

Incineradora dedicada contra co-incineração

Os sociais-democratas devolvem as acusações: o ministro, dizem, quis «impor a cura sem conhecer sequer a doença». E defendem um caminho diferente: a construção de aterros de resíduos industriais banais (ou seja, não perigosos), a obrigatoriedade legal de certos resíduos (como os plásticos, os óleos e os solventes) serem regenerados, bem como a criação de planos de apoio financeiros e fiscais a esse tratamento. Só em último lugar é que o PSD considera a hipótese de avaliar uma solução de valorização energética, por destruição térmica dos resíduos - e aí prometem que irão sempre preferir a construção de uma incineradora dedicada, contra o método da co-incineração nas cimenteiras.

«As declarações do ministro José Sócrates são tristes e risíveis, no mínimo. Seis anos depois, a única solução que encontrou é a co-incineração, que nem sequer está aplicada», afirma José Eduardo Martins, deputado e porta-voz do partido para as questões do Ambiente. Os sociais-democratas mantêm que o método da co-incineração «só resolve o problema de tratamento de 3% dos resíduos perigosos» - e prometem que a sua primeira medida, caso sejam Governo, será «promover de imediato uma caracterização completa da situação, para saber que tipo de resíduos produzimos, em que quantidade e onde».

Em termos de medidas, o PSD identifica três prioridades. A primeira é a construção de aterros para os resíduos industriais banais, ou seja, todos os que são considerados não perigosos - o que, segundo José Eduardo Martins, resolveria 4/5 do problema, além de aliviar os aterros do lixo doméstico que neste momento «estão a ficar esgotados em metade do tempo previsto, porque tudo vai para lá».

Em segundo lugar, os sociais-democratas propõem-se «tornar obrigatória, por lei, a regeneração de resíduos, como os plásticos, os óleos e os solventes». Finalmente, o PSD promete estimular e apoiar fiscal e financeiramente «soluções de diminuição da produção de resíduos, bem como do seu tratamento no local em que são produzidos».

E «só depois disto tudo é que vamos ver se é preciso uma solução de valorização energética - sendo certo que nunca optaremos pela co-incineração, mas sim pela construção de uma incineradora dedicada». Tratar-se-ia de uma estação construída de raiz, que permitiria queimar todos os tipos de resíduos (inclusivamente os plásticos e os resíduos hospitalares, bem como as farinhas contaminadas com BSE), aproveitando a energia térmica assim gerada para a produção de energia eléctrica. Além do aproveitamento energético, os sociais-democratas encontram outra vantagem: as cinzas seriam inertizadas, ao contrário das cinzas da co-incineração, que são integradas como matéria-prima no cimento produzido.

José Eduardo Martins deixa um desafio a Sócrates: esclarecer o país sobre os custos que terá a revogação da atribuição da co-incineração às cimenteiras. E isto porque «o ministro sempre disse que a co-incineração podia, a qualquer momento, ser parada por outro Governo, mas nunca esclareceu se existe ou não uma cláusula de rescisão nos contratos com as cimenteiras».

Co-incineração segue exemplo de Foz Côa

Durão promete acabar com a co-incineração, como Guterres acabou com a barragem

Paulo Novais/Lusa Durão Barroso com Carlos Encarnação: um governo PSD optará pela incineração dedicada

A CO-INCINERAÇÃO estará para um eventual Governo do PSD como as gravuras rupestres de Foz Côa estiveram para o Governo de António Guterres: se em 1995 uma das primeiras medidas socialistas foi cancelar os planos da barragem que iria submergir as gravuras, em 2002, se o PSD ganhar as eleições, uma das suas prioridades será revogar a decisão de co-incinerar os resíduos industriais perigosos nas cimenteiras de Souselas e do Outão.

Por isso, o ministro do Ambiente, José Sócrates, já acusou o líder do PSD, Durão Barroso, de «total irresponsabilidade» e desafiou-o a apresentar alternativas. «O PSD não propõe nada ao país, a não ser desfazer o trabalho que os outros fizeram», disse o governante, lamentando ainda que Barroso «ceda com facilidade a demagogias» e lembrando que a co-incineração foi «a decisão política mais fundamentada cientificamente».

Incineradora dedicada contra co-incineração

Os sociais-democratas devolvem as acusações: o ministro, dizem, quis «impor a cura sem conhecer sequer a doença». E defendem um caminho diferente: a construção de aterros de resíduos industriais banais (ou seja, não perigosos), a obrigatoriedade legal de certos resíduos (como os plásticos, os óleos e os solventes) serem regenerados, bem como a criação de planos de apoio financeiros e fiscais a esse tratamento. Só em último lugar é que o PSD considera a hipótese de avaliar uma solução de valorização energética, por destruição térmica dos resíduos - e aí prometem que irão sempre preferir a construção de uma incineradora dedicada, contra o método da co-incineração nas cimenteiras.

«As declarações do ministro José Sócrates são tristes e risíveis, no mínimo. Seis anos depois, a única solução que encontrou é a co-incineração, que nem sequer está aplicada», afirma José Eduardo Martins, deputado e porta-voz do partido para as questões do Ambiente. Os sociais-democratas mantêm que o método da co-incineração «só resolve o problema de tratamento de 3% dos resíduos perigosos» - e prometem que a sua primeira medida, caso sejam Governo, será «promover de imediato uma caracterização completa da situação, para saber que tipo de resíduos produzimos, em que quantidade e onde».

Em termos de medidas, o PSD identifica três prioridades. A primeira é a construção de aterros para os resíduos industriais banais, ou seja, todos os que são considerados não perigosos - o que, segundo José Eduardo Martins, resolveria 4/5 do problema, além de aliviar os aterros do lixo doméstico que neste momento «estão a ficar esgotados em metade do tempo previsto, porque tudo vai para lá».

Em segundo lugar, os sociais-democratas propõem-se «tornar obrigatória, por lei, a regeneração de resíduos, como os plásticos, os óleos e os solventes». Finalmente, o PSD promete estimular e apoiar fiscal e financeiramente «soluções de diminuição da produção de resíduos, bem como do seu tratamento no local em que são produzidos».

E «só depois disto tudo é que vamos ver se é preciso uma solução de valorização energética - sendo certo que nunca optaremos pela co-incineração, mas sim pela construção de uma incineradora dedicada». Tratar-se-ia de uma estação construída de raiz, que permitiria queimar todos os tipos de resíduos (inclusivamente os plásticos e os resíduos hospitalares, bem como as farinhas contaminadas com BSE), aproveitando a energia térmica assim gerada para a produção de energia eléctrica. Além do aproveitamento energético, os sociais-democratas encontram outra vantagem: as cinzas seriam inertizadas, ao contrário das cinzas da co-incineração, que são integradas como matéria-prima no cimento produzido.

José Eduardo Martins deixa um desafio a Sócrates: esclarecer o país sobre os custos que terá a revogação da atribuição da co-incineração às cimenteiras. E isto porque «o ministro sempre disse que a co-incineração podia, a qualquer momento, ser parada por outro Governo, mas nunca esclareceu se existe ou não uma cláusula de rescisão nos contratos com as cimenteiras».

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