Durão Barroso entrega

03-08-2004
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Durão Barroso Entrega

Sexta-feira, 02 de Julho de 2004

a Santana Lopes

um partido unido

Foi um líder esperado num momento inesperado. Agora também é de surpresa que Durão deixa a presidência do PSD. A Santana lega um partido mais unido e pacificado. Balanço breve de cinco anos de barrosismo à frente do PSD. Por Helena Pereira e Eunice Lourenço

"Durão, o líder vigiado", era o título do PÚBLICO no dia seguinte à eleição de José Manuel Durão Barroso para líder do PSD, a de Maio de 1999. A demissão de Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência do caso Moderna e do falhanço da Alternativa Democrática, que tinha construído com Paulo Portas, precipitara a eleição do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, que, desde 1995, espreitava a oportunidade.

Herdeiro esperado, num momento inesperado, Durão chegou ao congresso que o elegeu depois de já ter actuado como líder. Devido aos prazos apertado para a formalização das candidaturas ao Parlamento Europeu, o novo líder fez as listas ainda antes de ser eleito e levou-as ao conselho nacional do partido.

Durão Barroso herdou o partido de Marcelo, mas sobretudo o grupo parlamentar de Marcelo, onde a liderança de Marques Mendes marcava pontos no combate ao PS. Nos debates parlamentares, era arrasado por Guterres, que, logo no primeiro embate, lhe disse que não havia segunda oportunidade para causa uma primeira boa impressão. O novo líder do PSD chegava mesmo a ser ofuscado pelo líder da sua bancada. Isto além de o presidente do CDS/PP, Paulo Portas, chegar a ser chamado de "verdadeiro líder da oposição".

O presidente do PSD ia sobrevivendo, acossado, com poucos fiéis. No início eram só mesmo José Luís Arnaut, Miguel Relvas, Feliciano Barreiras Duarte, Morais Sarmento e José Cesário. Era arrasado na imprensa. Escrevia-se que nunca chegaria a primeiro-ministro, mas Durão acreditava que esse era o seu destino. Só não sabia quando.

Aguentou as primeiras eleições com derrotas honrosas. Nas europeias o seu cabeça de lista, Pacheco Pereira, bateu-se com Mário Soares, que liderava os candidatos do PS. Os socialistas elegeram 12 eurodeputados, mas o PSD chegou aos 11. Nas legislativas de Outubro de 1999, Guterres não conseguiu a maioria absoluta que poderia ter à queda de Durão Barroso.

Reconciliação decisiva

Depois dessas legislativas, muda o líder parlamentar, que passa a ser António Capucho (seria mais tarde substituído por Manuela Ferreira Leite), mas aquela ainda não é a sua bancada. Só nas legislativas de 2002 teria condições partidárias para a "limpeza das listas", que poria lá os seus homens. Entretanto, recuado para a quinta fila, Marques Mendes continua a expor-lhe as fraquezas nas reuniões do grupo parlamentar e nem o congresso de Viseu, em que venceu Mendes e Santana, acalmou o partido, onde o barrosismo ia ganhando espaço, mas lentamente.

As presidenciais de 2001 permitem outra derrota honrosa. Ninguém esperaria que a candidatura de Ferreira do Amaral beliscasse a vitória de Jorge Sampaio. A prova de fogo ia ser as autárquicas de 2001. E, aí, a história é conhecida: o PSD ganha, Guterres, demite-se, Portas salva-se à tangente. Março de 2002, eleições antecipadas. O PSD ganha, Durão faz a aliança contra a qual tinha lutado nos tempos de Marcelo e constitui um governo onde há lugar para cavaquistas, santanistas e até para marques Mendes. O momento decisivo para a pacificação do partido foi, contudo, as pazes com Santana Lopes, ainda em 2001. O ex-rival entra para a direcção e juntos têm a larguíssima maioria do conselho nacional. É esse mesmo momento que faz com que, agora, Durão possa entregar a Santana um partido unido e pacificado, como não recebeu de Marcelo. Agora caberá ao eterno candidato, finalmente eleito presidente, a gestão desse equilibrio de forças.

Durão Barroso Entrega

Sexta-feira, 02 de Julho de 2004

a Santana Lopes

um partido unido

Foi um líder esperado num momento inesperado. Agora também é de surpresa que Durão deixa a presidência do PSD. A Santana lega um partido mais unido e pacificado. Balanço breve de cinco anos de barrosismo à frente do PSD. Por Helena Pereira e Eunice Lourenço

"Durão, o líder vigiado", era o título do PÚBLICO no dia seguinte à eleição de José Manuel Durão Barroso para líder do PSD, a de Maio de 1999. A demissão de Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência do caso Moderna e do falhanço da Alternativa Democrática, que tinha construído com Paulo Portas, precipitara a eleição do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, que, desde 1995, espreitava a oportunidade.

Herdeiro esperado, num momento inesperado, Durão chegou ao congresso que o elegeu depois de já ter actuado como líder. Devido aos prazos apertado para a formalização das candidaturas ao Parlamento Europeu, o novo líder fez as listas ainda antes de ser eleito e levou-as ao conselho nacional do partido.

Durão Barroso herdou o partido de Marcelo, mas sobretudo o grupo parlamentar de Marcelo, onde a liderança de Marques Mendes marcava pontos no combate ao PS. Nos debates parlamentares, era arrasado por Guterres, que, logo no primeiro embate, lhe disse que não havia segunda oportunidade para causa uma primeira boa impressão. O novo líder do PSD chegava mesmo a ser ofuscado pelo líder da sua bancada. Isto além de o presidente do CDS/PP, Paulo Portas, chegar a ser chamado de "verdadeiro líder da oposição".

O presidente do PSD ia sobrevivendo, acossado, com poucos fiéis. No início eram só mesmo José Luís Arnaut, Miguel Relvas, Feliciano Barreiras Duarte, Morais Sarmento e José Cesário. Era arrasado na imprensa. Escrevia-se que nunca chegaria a primeiro-ministro, mas Durão acreditava que esse era o seu destino. Só não sabia quando.

Aguentou as primeiras eleições com derrotas honrosas. Nas europeias o seu cabeça de lista, Pacheco Pereira, bateu-se com Mário Soares, que liderava os candidatos do PS. Os socialistas elegeram 12 eurodeputados, mas o PSD chegou aos 11. Nas legislativas de Outubro de 1999, Guterres não conseguiu a maioria absoluta que poderia ter à queda de Durão Barroso.

Reconciliação decisiva

Depois dessas legislativas, muda o líder parlamentar, que passa a ser António Capucho (seria mais tarde substituído por Manuela Ferreira Leite), mas aquela ainda não é a sua bancada. Só nas legislativas de 2002 teria condições partidárias para a "limpeza das listas", que poria lá os seus homens. Entretanto, recuado para a quinta fila, Marques Mendes continua a expor-lhe as fraquezas nas reuniões do grupo parlamentar e nem o congresso de Viseu, em que venceu Mendes e Santana, acalmou o partido, onde o barrosismo ia ganhando espaço, mas lentamente.

As presidenciais de 2001 permitem outra derrota honrosa. Ninguém esperaria que a candidatura de Ferreira do Amaral beliscasse a vitória de Jorge Sampaio. A prova de fogo ia ser as autárquicas de 2001. E, aí, a história é conhecida: o PSD ganha, Guterres, demite-se, Portas salva-se à tangente. Março de 2002, eleições antecipadas. O PSD ganha, Durão faz a aliança contra a qual tinha lutado nos tempos de Marcelo e constitui um governo onde há lugar para cavaquistas, santanistas e até para marques Mendes. O momento decisivo para a pacificação do partido foi, contudo, as pazes com Santana Lopes, ainda em 2001. O ex-rival entra para a direcção e juntos têm a larguíssima maioria do conselho nacional. É esse mesmo momento que faz com que, agora, Durão possa entregar a Santana um partido unido e pacificado, como não recebeu de Marcelo. Agora caberá ao eterno candidato, finalmente eleito presidente, a gestão desse equilibrio de forças.

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