EXPRESSO: País

08-05-2002
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Canas diz não às autárquicas

O boicote às eleições é a face mais visível de uma luta permanente onde não faltam cartas-bombas e ameaças em surdina

Enquanto Luís Pinheiro e Rui Neves esgrimem argumentos a favor e contra a criação do município, a vila vai-se enchendo de cartazes dando boas-vindas ao concelho sonhado

O MACHADO de guerra volta a ser desenterrado em Canas de Senhorim. A população, reunida em plenário a semana passada, decidiu uma vez mais boicotar as eleições autárquicas de 16 de Dezembro., afirma Luís Pinheiro, presidente do Movimento para a Restauração do Concelho de Canas.

«Nós estamos convencidos de que haverá batota. Tenho razões para crer que Canas vai votar na segunda volta, depois de conhecidos os resultados da primeira, e assim poder dar a vitória ao PSD», contrapõe Rui Neves, vice-presidente da Câmara de Nelas a que Canas pertence e não quer permanecer ligada. A autarquia é dirigida pelo Partido Socialista e é claramente contrária à pretensão da criação do concelho canense. Esta refrega no campo eleitoral é a face imediata e mais visível de uma luta que continua em surdina, onde não faltam cartas-bombas e outras ameaças.

Conflito agrava-se

Rui Neves

Os dados estão de novo lançados para reacender uma querela política entre duas povoações separadas por escassos três quilómetros. O conflito dura há século e meio, mais precisamente desde que as reformas liberais de Mouzinho da Silveira retiraram a Canas o estatuto de concelho.

As partes abrem nova frente de batalha dizendo respeitar-se mutuamente. «Que fique bem claro! Não estamos contra a população de Nelas! O que temos é o direito de governar a nossa terra», afirma Luís Pinheiro, que além de professor de música na escola de Canas, onde estudam 600 jovens, faz parte da banda Festa Brava, que de há 26 anos a esta parte anima os arraiais da terra.

Os responsáveis pela autarquia acusam o PSD de estar por detrás do que consideram ser apenas uma manobra partidária. «Chegam as eleições, agita-se Canas de Senhorim», declara Rui Neves. A notícia do EXPRESSO da semana passada de que o deputado do PSD José Cesário, membro da mesa da Assembleia da República e casado em Canas, tinha recebido uma carta-bomba parece desmenti-lo . «Confirmo ter recebido essa carta e outras com ameaças várias a que não tenho prestado atenção», diz José Cesário.

Também Luís Pinheiro foi destinatário de uma encomenda-bomba, mais uma carta com pó branco, que deitou fora, e missivas com ameaças diversas, enviadas de Nelas. Uma delas, reproduzindo o brasão da Vila e a fachada da Câmara, é assinada por alguém em nome do Modec (Movimento de Defesa do Concelho de Nelas), com um postal de Canas rasgado e dizendo: « Quem com ferros mata, com ferros morre!»

Luís Pinheiro

O vice-presidente Rui Neves nega a existência de qualquer organização:. Apesar desta negação, há um documento presumivelmente datado de 1998 a apelar à criação do Modec, que teria, entre outras, a missão dede Nelas.

Esta é uma fogueira que arde aparentemente sem se ver, mas para onde todos vão lançando achas. A Câmara, no início do actual mandato, prosseguiu uma estratégia - confirmada por Rui Neves - de desinvestir em Canas de Senhorim. «Com o projecto de elevação de Canas a concelho, do deputado José Cesário, e a perspectiva da sua criação próxima, não fazia sentido continuar a investir em Canas», diz

Esta decisão acirrou ainda mais os ânimos. «Há aqui esta piscina. Foi feita com o dinheiro dos canenses. A Câmara não meteu cá um tostão», grita-se em Canas, a título de exemplo.

As lutas de vizinhança ou locais têm, as mais das vezes, fortes doses de «coração». «Vou algumas vezes por semana a Nelas e de preferência nenhuma», remata Luís Pinheiro. Ele reivindica uma cultura canense própria, distinta da do resto do concelho, alicerçada numa forte concentração operária em zona de predominância rural.

Base operária

As minas de urânio da Urgeiriça, praticamente desactivadas, e a Companhia de Fornos Eléctricos, já extinta, davam emprego a 1200 pessoas de uma população de 4500 almas. «Aqui, os cafés fecham às duas horas da manhã. Isso não acontece em zonas rurais», diz Luís Pinheiro.

Entretanto, nas gavetas do Parlamento repousam, esquecidas, propostas do PSD e do Bloco de Esquerda insistindo na nova autarquia. Canas não tem os dez mil habitantes exigidos por lei para ser concelho, mas a Comissão de Coordenação da Região Centro diz que responde positivamente a todos os outros requisitos, tais como viabilidade financeira e vontade das freguesias consultadas.

Canas diz não às autárquicas

O boicote às eleições é a face mais visível de uma luta permanente onde não faltam cartas-bombas e ameaças em surdina

Enquanto Luís Pinheiro e Rui Neves esgrimem argumentos a favor e contra a criação do município, a vila vai-se enchendo de cartazes dando boas-vindas ao concelho sonhado

O MACHADO de guerra volta a ser desenterrado em Canas de Senhorim. A população, reunida em plenário a semana passada, decidiu uma vez mais boicotar as eleições autárquicas de 16 de Dezembro., afirma Luís Pinheiro, presidente do Movimento para a Restauração do Concelho de Canas.

«Nós estamos convencidos de que haverá batota. Tenho razões para crer que Canas vai votar na segunda volta, depois de conhecidos os resultados da primeira, e assim poder dar a vitória ao PSD», contrapõe Rui Neves, vice-presidente da Câmara de Nelas a que Canas pertence e não quer permanecer ligada. A autarquia é dirigida pelo Partido Socialista e é claramente contrária à pretensão da criação do concelho canense. Esta refrega no campo eleitoral é a face imediata e mais visível de uma luta que continua em surdina, onde não faltam cartas-bombas e outras ameaças.

Conflito agrava-se

Rui Neves

Os dados estão de novo lançados para reacender uma querela política entre duas povoações separadas por escassos três quilómetros. O conflito dura há século e meio, mais precisamente desde que as reformas liberais de Mouzinho da Silveira retiraram a Canas o estatuto de concelho.

As partes abrem nova frente de batalha dizendo respeitar-se mutuamente. «Que fique bem claro! Não estamos contra a população de Nelas! O que temos é o direito de governar a nossa terra», afirma Luís Pinheiro, que além de professor de música na escola de Canas, onde estudam 600 jovens, faz parte da banda Festa Brava, que de há 26 anos a esta parte anima os arraiais da terra.

Os responsáveis pela autarquia acusam o PSD de estar por detrás do que consideram ser apenas uma manobra partidária. «Chegam as eleições, agita-se Canas de Senhorim», declara Rui Neves. A notícia do EXPRESSO da semana passada de que o deputado do PSD José Cesário, membro da mesa da Assembleia da República e casado em Canas, tinha recebido uma carta-bomba parece desmenti-lo . «Confirmo ter recebido essa carta e outras com ameaças várias a que não tenho prestado atenção», diz José Cesário.

Também Luís Pinheiro foi destinatário de uma encomenda-bomba, mais uma carta com pó branco, que deitou fora, e missivas com ameaças diversas, enviadas de Nelas. Uma delas, reproduzindo o brasão da Vila e a fachada da Câmara, é assinada por alguém em nome do Modec (Movimento de Defesa do Concelho de Nelas), com um postal de Canas rasgado e dizendo: « Quem com ferros mata, com ferros morre!»

Luís Pinheiro

O vice-presidente Rui Neves nega a existência de qualquer organização:. Apesar desta negação, há um documento presumivelmente datado de 1998 a apelar à criação do Modec, que teria, entre outras, a missão dede Nelas.

Esta é uma fogueira que arde aparentemente sem se ver, mas para onde todos vão lançando achas. A Câmara, no início do actual mandato, prosseguiu uma estratégia - confirmada por Rui Neves - de desinvestir em Canas de Senhorim. «Com o projecto de elevação de Canas a concelho, do deputado José Cesário, e a perspectiva da sua criação próxima, não fazia sentido continuar a investir em Canas», diz

Esta decisão acirrou ainda mais os ânimos. «Há aqui esta piscina. Foi feita com o dinheiro dos canenses. A Câmara não meteu cá um tostão», grita-se em Canas, a título de exemplo.

As lutas de vizinhança ou locais têm, as mais das vezes, fortes doses de «coração». «Vou algumas vezes por semana a Nelas e de preferência nenhuma», remata Luís Pinheiro. Ele reivindica uma cultura canense própria, distinta da do resto do concelho, alicerçada numa forte concentração operária em zona de predominância rural.

Base operária

As minas de urânio da Urgeiriça, praticamente desactivadas, e a Companhia de Fornos Eléctricos, já extinta, davam emprego a 1200 pessoas de uma população de 4500 almas. «Aqui, os cafés fecham às duas horas da manhã. Isso não acontece em zonas rurais», diz Luís Pinheiro.

Entretanto, nas gavetas do Parlamento repousam, esquecidas, propostas do PSD e do Bloco de Esquerda insistindo na nova autarquia. Canas não tem os dez mil habitantes exigidos por lei para ser concelho, mas a Comissão de Coordenação da Região Centro diz que responde positivamente a todos os outros requisitos, tais como viabilidade financeira e vontade das freguesias consultadas.

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