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09-04-2003
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Boas notícias para o PS Por entre o turbilhão de relatos da guerra, ainda é possível surgirem algumas pequenas notícias animadoras, que ajudam a contrariar o pessimismo instalado. E num partido momentaneamente irreconhecível no seu radicalismo oratório e frentista, como o PS, ainda há pequenos acontecimentos a demonstrar que nem tudo está perdido. É o caso da inesperada derrota de um dos mais persistentes símbolos do aparelhismo partidário, Narciso Miranda, na eleição para a federação do Porto do PS, a maior do país. Narciso Miranda é, há longos anos, uma das figuras emblemáticas do sistema ou do modelo aparelhístico que domina a vida política portuguesa. Por um lado, naquilo que o aparelhismo partidário tem de positivo, como a combatividade de que sempre deu provas, o espírito de sacrifício da vida pessoal e a dedicação ao partido, a capacidade de organização ou a continuidade de trabalho e de participação nos bons e nos maus momentos, nas vitórias e nas derrotas. Narciso Miranda é, há longos anos, uma das figuras emblemáticas do sistema ou do modelo aparelhístico que domina a vida política portuguesa. Por um lado, naquilo que o aparelhismo partidário tem de positivo, como a combatividade de que sempre deu provas, o espírito de sacrifício da vida pessoal e a dedicação ao partido, a capacidade de organização ou a continuidade de trabalho e de participação nos bons e nos maus momentos, nas vitórias e nas derrotas. Mas, por outro lado, Narciso Miranda é, também, uma das faces mais cristalizadas daquilo que o aparelhismo tem de pior e de mais nocivo para o funcionamento da democracia. Os aparelhos dos partidos -- o seu corpo de funcionários e múltiplos dirigentes, a nível nacional, regional e local -- vivem, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar. Mas, por outro lado, Narciso Miranda é, também, uma das faces mais cristalizadas daquilo que o aparelhismo tem de pior e de mais nocivo para o funcionamento da democracia. Os aparelhos dos partidos -- o seu corpo de funcionários e múltiplos dirigentes, a nível nacional, regional e local -- vivem, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar. Nas concelhias, nas federações, nas listas para deputados são sempre os mesmos, com mais uns tios, primos, filhos e afilhados, a dividir os lugares e o poder, com raras alternâncias entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. É este sistema que, no momento da ascensão dos partidos ao poder, dá origem aos «jobs for the boys» ou aos privilégios para quem possui «cartão laranja». Nas concelhias, nas federações, nas listas para deputados são sempre os mesmos, com mais uns tios, primos, filhos e afilhados, a dividir os lugares e o poder, com raras alternâncias entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. É este sistema que, no momento da ascensão dos partidos ao poder, dá origem aos «jobs for the boys» ou aos privilégios para quem possui «cartão laranja». Mas o aparelhismo dos partidos tem outras componentes perversas, como o mundo obscuro dos financiamentos partidários ou a teia de interesses comprometedores que estabelece com empreiteiros, empresários, especuladores imobiliários, pequenos e grandes patrões do futebol, etc. Com o consequente tráfico de influências de que se alimenta essa teia. Mas o aparelhismo dos partidos tem outras componentes perversas, como o mundo obscuro dos financiamentos partidários ou a teia de interesses comprometedores que estabelece com empreiteiros, empresários, especuladores imobiliários, pequenos e grandes patrões do futebol, etc. Com o consequente tráfico de influências de que se alimenta essa teia. Daí que se saúde este sinal de mudança no poderoso aparelho da federação socialista do Porto. Não que a vitória de Francisco Assis represente um corte radical com os hábitos e interesses instalados (basta lembrar que, entre os seus apoiantes, se contam nomes como o de Orlando Gaspar, outro dinossauro do aparelhismo partidário e um dos principais responsáveis pelo descrédito em que há muito caiu a organização socialista no Porto). Mas porque a derrota de Narciso Miranda constitui uma oportunidade para a renovação, um virar de página, uma lufada de ar fresco num aparelho quase irrespirável. Daí que se saúde este sinal de mudança no poderoso aparelho da federação socialista do Porto. Não que a vitória de Francisco Assis represente um corte radical com os hábitos e interesses instalados (basta lembrar que, entre os seus apoiantes, se contam nomes como o de Orlando Gaspar, outro dinossauro do aparelhismo partidário e um dos principais responsáveis pelo descrédito em que há muito caiu a organização socialista no Porto). Mas porque a derrota de Narciso Miranda constitui uma oportunidade para a renovação, um virar de página, uma lufada de ar fresco num aparelho quase irrespirável. Narciso Miranda é, aliás, e coerentemente, um dos mais destacados opositores, dentro do PS, à proposta de limitação de mandatos dos autarcas e de outros cargos políticos. Proposta que, como é natural, tem suscitado ferozes resistências no interior de todos os partidos, do PS ao PSD, do PCP ao CDS. Os aparelhos reagem com vigor sempre que o seu poder é ameaçado ou posto em causa. Tal como tem acontecido como as repetidas intenções e propostas de revisão do sistema eleitoral ou de redução do número de deputados -- sempre boicotadas e inviabilizadas, à partida, no interior dos próprios partidos. Narciso Miranda é, aliás, e coerentemente, um dos mais destacados opositores, dentro do PS, à proposta de limitação de mandatos dos autarcas e de outros cargos políticos. Proposta que, como é natural, tem suscitado ferozes resistências no interior de todos os partidos, do PS ao PSD, do PCP ao CDS. Os aparelhos reagem com vigor sempre que o seu poder é ameaçado ou posto em causa. Tal como tem acontecido como as repetidas intenções e propostas de revisão do sistema eleitoral ou de redução do número de deputados -- sempre boicotadas e inviabilizadas, à partida, no interior dos próprios partidos. Veremos até onde chega, agora, esta proposta da limitação de mandatos, a começar pelas cúpulas do PS e do PSD. E se, a exemplo da derrota de Narciso Miranda, é de uma viragem ou de mera continuidade que se trata. Veremos até onde chega, agora, esta proposta da limitação de mandatos, a começar pelas cúpulas do PS e do PSD. E se, a exemplo da derrota de Narciso Miranda, é de uma viragem ou de mera continuidade que se trata. P. S. -- José Barros Moura era um dos raros políticos cuja independência de espírito e coragem de atitudes sempre constituiram um incómodo para os aparelhos partidários. Foi perseguido e preso pela ditadura, expulso do PCP por afrontar a cegueira da ortodoxia vigente e afastado de cargos dirigentes e até do lugar de deputado no PS por denunciar a corrupção na Câmara de Felgueiras e as conivências do aparelho do partido. Um percurso invejável de intransigência nos princípios, de liberdade de pensamento e de opinião e de integridade de comportamento. P. S. -- José Barros Moura era um dos raros políticos cuja independência de espírito e coragem de atitudes sempre constituiram um incómodo para os aparelhos partidários. Foi perseguido e preso pela ditadura, expulso do PCP por afrontar a cegueira da ortodoxia vigente e afastado de cargos dirigentes e até do lugar de deputado no PS por denunciar a corrupção na Câmara de Felgueiras e as conivências do aparelho do partido. Um percurso invejável de intransigência nos princípios, de liberdade de pensamento e de opinião e de integridade de comportamento. 27 Março 2003

Boas notícias para o PS Por entre o turbilhão de relatos da guerra, ainda é possível surgirem algumas pequenas notícias animadoras, que ajudam a contrariar o pessimismo instalado. E num partido momentaneamente irreconhecível no seu radicalismo oratório e frentista, como o PS, ainda há pequenos acontecimentos a demonstrar que nem tudo está perdido. É o caso da inesperada derrota de um dos mais persistentes símbolos do aparelhismo partidário, Narciso Miranda, na eleição para a federação do Porto do PS, a maior do país. Narciso Miranda é, há longos anos, uma das figuras emblemáticas do sistema ou do modelo aparelhístico que domina a vida política portuguesa. Por um lado, naquilo que o aparelhismo partidário tem de positivo, como a combatividade de que sempre deu provas, o espírito de sacrifício da vida pessoal e a dedicação ao partido, a capacidade de organização ou a continuidade de trabalho e de participação nos bons e nos maus momentos, nas vitórias e nas derrotas. Narciso Miranda é, há longos anos, uma das figuras emblemáticas do sistema ou do modelo aparelhístico que domina a vida política portuguesa. Por um lado, naquilo que o aparelhismo partidário tem de positivo, como a combatividade de que sempre deu provas, o espírito de sacrifício da vida pessoal e a dedicação ao partido, a capacidade de organização ou a continuidade de trabalho e de participação nos bons e nos maus momentos, nas vitórias e nas derrotas. Mas, por outro lado, Narciso Miranda é, também, uma das faces mais cristalizadas daquilo que o aparelhismo tem de pior e de mais nocivo para o funcionamento da democracia. Os aparelhos dos partidos -- o seu corpo de funcionários e múltiplos dirigentes, a nível nacional, regional e local -- vivem, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar. Mas, por outro lado, Narciso Miranda é, também, uma das faces mais cristalizadas daquilo que o aparelhismo tem de pior e de mais nocivo para o funcionamento da democracia. Os aparelhos dos partidos -- o seu corpo de funcionários e múltiplos dirigentes, a nível nacional, regional e local -- vivem, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar. Nas concelhias, nas federações, nas listas para deputados são sempre os mesmos, com mais uns tios, primos, filhos e afilhados, a dividir os lugares e o poder, com raras alternâncias entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. É este sistema que, no momento da ascensão dos partidos ao poder, dá origem aos «jobs for the boys» ou aos privilégios para quem possui «cartão laranja». Nas concelhias, nas federações, nas listas para deputados são sempre os mesmos, com mais uns tios, primos, filhos e afilhados, a dividir os lugares e o poder, com raras alternâncias entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. É este sistema que, no momento da ascensão dos partidos ao poder, dá origem aos «jobs for the boys» ou aos privilégios para quem possui «cartão laranja». Mas o aparelhismo dos partidos tem outras componentes perversas, como o mundo obscuro dos financiamentos partidários ou a teia de interesses comprometedores que estabelece com empreiteiros, empresários, especuladores imobiliários, pequenos e grandes patrões do futebol, etc. Com o consequente tráfico de influências de que se alimenta essa teia. Mas o aparelhismo dos partidos tem outras componentes perversas, como o mundo obscuro dos financiamentos partidários ou a teia de interesses comprometedores que estabelece com empreiteiros, empresários, especuladores imobiliários, pequenos e grandes patrões do futebol, etc. Com o consequente tráfico de influências de que se alimenta essa teia. Daí que se saúde este sinal de mudança no poderoso aparelho da federação socialista do Porto. Não que a vitória de Francisco Assis represente um corte radical com os hábitos e interesses instalados (basta lembrar que, entre os seus apoiantes, se contam nomes como o de Orlando Gaspar, outro dinossauro do aparelhismo partidário e um dos principais responsáveis pelo descrédito em que há muito caiu a organização socialista no Porto). Mas porque a derrota de Narciso Miranda constitui uma oportunidade para a renovação, um virar de página, uma lufada de ar fresco num aparelho quase irrespirável. Daí que se saúde este sinal de mudança no poderoso aparelho da federação socialista do Porto. Não que a vitória de Francisco Assis represente um corte radical com os hábitos e interesses instalados (basta lembrar que, entre os seus apoiantes, se contam nomes como o de Orlando Gaspar, outro dinossauro do aparelhismo partidário e um dos principais responsáveis pelo descrédito em que há muito caiu a organização socialista no Porto). Mas porque a derrota de Narciso Miranda constitui uma oportunidade para a renovação, um virar de página, uma lufada de ar fresco num aparelho quase irrespirável. Narciso Miranda é, aliás, e coerentemente, um dos mais destacados opositores, dentro do PS, à proposta de limitação de mandatos dos autarcas e de outros cargos políticos. Proposta que, como é natural, tem suscitado ferozes resistências no interior de todos os partidos, do PS ao PSD, do PCP ao CDS. Os aparelhos reagem com vigor sempre que o seu poder é ameaçado ou posto em causa. Tal como tem acontecido como as repetidas intenções e propostas de revisão do sistema eleitoral ou de redução do número de deputados -- sempre boicotadas e inviabilizadas, à partida, no interior dos próprios partidos. Narciso Miranda é, aliás, e coerentemente, um dos mais destacados opositores, dentro do PS, à proposta de limitação de mandatos dos autarcas e de outros cargos políticos. Proposta que, como é natural, tem suscitado ferozes resistências no interior de todos os partidos, do PS ao PSD, do PCP ao CDS. Os aparelhos reagem com vigor sempre que o seu poder é ameaçado ou posto em causa. Tal como tem acontecido como as repetidas intenções e propostas de revisão do sistema eleitoral ou de redução do número de deputados -- sempre boicotadas e inviabilizadas, à partida, no interior dos próprios partidos. Veremos até onde chega, agora, esta proposta da limitação de mandatos, a começar pelas cúpulas do PS e do PSD. E se, a exemplo da derrota de Narciso Miranda, é de uma viragem ou de mera continuidade que se trata. Veremos até onde chega, agora, esta proposta da limitação de mandatos, a começar pelas cúpulas do PS e do PSD. E se, a exemplo da derrota de Narciso Miranda, é de uma viragem ou de mera continuidade que se trata. P. S. -- José Barros Moura era um dos raros políticos cuja independência de espírito e coragem de atitudes sempre constituiram um incómodo para os aparelhos partidários. Foi perseguido e preso pela ditadura, expulso do PCP por afrontar a cegueira da ortodoxia vigente e afastado de cargos dirigentes e até do lugar de deputado no PS por denunciar a corrupção na Câmara de Felgueiras e as conivências do aparelho do partido. Um percurso invejável de intransigência nos princípios, de liberdade de pensamento e de opinião e de integridade de comportamento. P. S. -- José Barros Moura era um dos raros políticos cuja independência de espírito e coragem de atitudes sempre constituiram um incómodo para os aparelhos partidários. Foi perseguido e preso pela ditadura, expulso do PCP por afrontar a cegueira da ortodoxia vigente e afastado de cargos dirigentes e até do lugar de deputado no PS por denunciar a corrupção na Câmara de Felgueiras e as conivências do aparelho do partido. Um percurso invejável de intransigência nos princípios, de liberdade de pensamento e de opinião e de integridade de comportamento. 27 Março 2003

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