Abandono de António Costa provoca alguma incomodidade

24-11-2002
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Abandono de António Costa Provoca Alguma Incomodidade

Por FILOMENA FONTES E RAPOSO ANTUNES

Sexta-feira, 08 de Novembro de 2002 Liderança da bancada PS Deputados socialistas questionam "timing" das declarações do líder parlamentar, mas compreendem a ambição política A intenção manifestada por António Costa de abandonar a liderança do grupo parlamentar do PS, provavelmente a meio do mandato, está a provocar alguma incomodidade junto dos deputados socialistas. Esse é, pelo menos, o sentimento expresso por alguns parlamentares, numa ronda que o PÚBLICO efectuou a propósito das recentes declarações do ex-ministro da Justiça sobre o cargo que actualmente desempenha e as expectativas quanto ao seu futuro político. O momento escolhido por António Costa para confessar que a liderança parlamentar é apenas uma etapa na sua carreira e que só se sente preenchido politicamente com um cargo de carácter executivo levanta alguma perplexidade. "Não há razões objectivas para António Costa se sentir mal na gestão da bancada socialista. Penso que são questões pessoais que o levam a abandonar", afirma José Lello, deputado eleito pelo Porto. Essa ausência de razões objectivas leva um outro parlamentar socialista a reconhecer que "quem tem ambições políticas não pode estar sempre de faca afiada, como ele é obrigado a estar por causa do cargo que ocupa". Este mesmo deputado entende, no entanto, que foi um erro político para quem parece estar a posicionar-se num cenário pós-Ferro vir expor publicamente "o seu estado de alma" da forma que como António Costa o fez na entrevista ao PÚBLICO. Um outro deputado eleito pelo Porto considera que as declarações do ex-ministro da Justiça foram um sinal claro de distanciamento em relação à actual liderança de Ferro Rodrigues. "António Costa é um excelente líder parlamentar e tem tido uma postura de combate muito forte. É um dos poucos homens com futuro no PS", diz a este propósito o deputado José Saraiva, reconhecendo que "os militantes gostam muito dele", até porque "ele tem uma qualidade superior e é dos poucos que causa embaraço à direita pela firmeza e rigor com que a enfrenta no Parlamento". Sem querer tirar mérito "à forma sóbria e eficaz como Ferro Rodrigues tem conduzido o partido", Saraiva vai dizendo que a dupla Costa/Sócrates funciona excelentemente e utiliza mesmo a linguagem futebolística para os classificar: "É uma dupla de arietes de ouro". Fazendo questão de deixar claro o respeito que deve merecer a anunciada decisão de António Costa, o deputado Jorge Strecht deixa escapar uma crítica velada à oportunidade escolhida pelo líder parlamentar. "Provavelmente o tempo que ele escolheu para confessar as suas opções pode ter causado alguma perturbação". Mas lembra também que, à excepção de Salgado Zenha e de Francisco Assis, nenhum outro chefe da bancada do PS cumpriu a legislatura. Apesar da perturbação, Strecht encara a substituição de Costa sem dramatismos. "Se ele acha que não é talhado para este tipo de actividade, também é verdade que não ficamos descalços. Há quatro ou cinco claras possibilidades dentro do PS para liderar a bancada e a escolha deve ser feita em conjugação com Ferro Rodrigues", diz, recusando, porém, avançar nomes, tal como, aliás, aconteceu com os outros deputados ouvidos pelo PÚBLICO. Confrontado com o "timing" da saída de Costa, Strecht adverte para necessidade de o PS se reconstruir como alternativa ao governo de maioria de direita. "O PS vai ter que rever sua estratégia de médio prazo. Temos o dever de, no quadro da legislatura, apresentar alternativas políticas para reconquistar a confiança do eleitorado". Em suma, sublinha o deputado, o PS tem que surgir como uma alternativa e não apenas como o partido da alternância no poder em relação ao PSD. Sem sentimento de orfandade O ex-líder parlamentar, Francisco Assis, desdramatiza o quadro criado pelas declarações de António Costa. "Não vejo que isso debilite o PS. A decisão do líder parlamentar não se traduz num desinvestimento dele no combate político. António Costa tem dirigido a bancada com estoicismo, tem enfrentado enormes dificuldades", observa. Tal como Strecht, também Assis encara com tranquilidade a sucessão na direcção da bancada socialista. Evita definir um perfil e prefere sublinhar que "a questão determinante é que o futuro líder seja inteligente, tenha competência e coragem para mobilizar o grupo parlamentar socialista", tendo como objectivo central contribuir para que "o PS se reconstitua como alternativa de poder". Já Augusto Santos Silva entende que o sucessor de Costa deve ser alguém "da estrita confiança do secretário-geral, da confiança do grupo parlamentar, com velocidade de raciocínio e verve". O ex-ministro da Cultura afirma encarar "sem dramatismos e sem qualquer sentimento de orfandade" a anunciada decisão do líder parlamentar. Tanto mais que, sublinha, "isso significa que ele quer colocar-se na primeira linha de combate do PS". Para Santos Silva, a disponibilidade manifestada por Costa para protagonizar outros combates pelo partido até pode trazer "algum conforto". Recorda, a propósito, as dificuldades que líderes como Jorge Sampaio e António Guterres enfrentaram para encontrar no partido protagonistas nas eleições para a Câmara de Lisboa e para o Parlamento Europeu, respectivamente. OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL Oposição admite recorrer ao Presidente da República

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Penso que são questões pessoais que o levam a abandonar", afirma José Lello, deputado eleito pelo Porto. Essa ausência de razões objectivas leva um outro parlamentar socialista a reconhecer que "quem tem ambições políticas não pode estar sempre de faca afiada, como ele é obrigado a estar por causa do cargo que ocupa". Este mesmo deputado entende, no entanto, que foi um erro político para quem parece estar a posicionar-se num cenário pós-Ferro vir expor publicamente "o seu estado de alma" da forma que como António Costa o fez na entrevista ao PÚBLICO. Um outro deputado eleito pelo Porto considera que as declarações do ex-ministro da Justiça foram um sinal claro de distanciamento em relação à actual liderança de Ferro Rodrigues. "António Costa é um excelente líder parlamentar e tem tido uma postura de combate muito forte. É um dos poucos homens com futuro no PS", diz a este propósito o deputado José Saraiva, reconhecendo que "os militantes gostam muito dele", até porque "ele tem uma qualidade superior e é dos poucos que causa embaraço à direita pela firmeza e rigor com que a enfrenta no Parlamento". Sem querer tirar mérito "à forma sóbria e eficaz como Ferro Rodrigues tem conduzido o partido", Saraiva vai dizendo que a dupla Costa/Sócrates funciona excelentemente e utiliza mesmo a linguagem futebolística para os classificar: "É uma dupla de arietes de ouro". Fazendo questão de deixar claro o respeito que deve merecer a anunciada decisão de António Costa, o deputado Jorge Strecht deixa escapar uma crítica velada à oportunidade escolhida pelo líder parlamentar. "Provavelmente o tempo que ele escolheu para confessar as suas opções pode ter causado alguma perturbação". Mas lembra também que, à excepção de Salgado Zenha e de Francisco Assis, nenhum outro chefe da bancada do PS cumpriu a legislatura. Apesar da perturbação, Strecht encara a substituição de Costa sem dramatismos. "Se ele acha que não é talhado para este tipo de actividade, também é verdade que não ficamos descalços. Há quatro ou cinco claras possibilidades dentro do PS para liderar a bancada e a escolha deve ser feita em conjugação com Ferro Rodrigues", diz, recusando, porém, avançar nomes, tal como, aliás, aconteceu com os outros deputados ouvidos pelo PÚBLICO. Confrontado com o "timing" da saída de Costa, Strecht adverte para necessidade de o PS se reconstruir como alternativa ao governo de maioria de direita. "O PS vai ter que rever sua estratégia de médio prazo. Temos o dever de, no quadro da legislatura, apresentar alternativas políticas para reconquistar a confiança do eleitorado". Em suma, sublinha o deputado, o PS tem que surgir como uma alternativa e não apenas como o partido da alternância no poder em relação ao PSD. Sem sentimento de orfandade O ex-líder parlamentar, Francisco Assis, desdramatiza o quadro criado pelas declarações de António Costa. "Não vejo que isso debilite o PS. A decisão do líder parlamentar não se traduz num desinvestimento dele no combate político. António Costa tem dirigido a bancada com estoicismo, tem enfrentado enormes dificuldades", observa. Tal como Strecht, também Assis encara com tranquilidade a sucessão na direcção da bancada socialista. Evita definir um perfil e prefere sublinhar que "a questão determinante é que o futuro líder seja inteligente, tenha competência e coragem para mobilizar o grupo parlamentar socialista", tendo como objectivo central contribuir para que "o PS se reconstitua como alternativa de poder". Já Augusto Santos Silva entende que o sucessor de Costa deve ser alguém "da estrita confiança do secretário-geral, da confiança do grupo parlamentar, com velocidade de raciocínio e verve". O ex-ministro da Cultura afirma encarar "sem dramatismos e sem qualquer sentimento de orfandade" a anunciada decisão do líder parlamentar. Tanto mais que, sublinha, "isso significa que ele quer colocar-se na primeira linha de combate do PS". Para Santos Silva, a disponibilidade manifestada por Costa para protagonizar outros combates pelo partido até pode trazer "algum conforto". Recorda, a propósito, as dificuldades que líderes como Jorge Sampaio e António Guterres enfrentaram para encontrar no partido protagonistas nas eleições para a Câmara de Lisboa e para o Parlamento Europeu, respectivamente. OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL Oposição admite recorrer ao Presidente da República

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