Suplemento Economia

05-10-2003
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Segunda-feira, 29 de Setembro de 2003

Há coisas que poderiam explicar muito do que se passa pelo Ministério das Finanças nos tempos que correm. Mas até agora não deram o brado do que se passou na República Checa. Por um acaso simbólico ou por conspiração malévola, a nova edição da lista de telefones de Praga deu ao Ministério das Finanças o mesmo número do principal hospital psiquiátrico da capital. As telefonistas começaram então a ser literalmente bombardeadas por dezenas de pedidos diários de internamento e de assistência médica. A situação atingiu tal ponto que o próprio ministro Bohuslav Sobotka se viu forçado a sair a terreiro para chamar a atenção do editor da lista de telefones, antes que os telefonemas se transformassem em enfermeiros a entrar pelos corredores, pessoas transtornadas a remexer nos papéis oficiais e a sentarem-se à mesa dos responsáveis governamentais para lhes contar como tinha sido o seu dia ou a desabafar contra o mundo. É que há sempre o risco de a política melhorar ...

Nem todos os casamentos são eternos, mas alguns são mais duradouros que outros. Na semana passada, chegou aos jornais uma informação dando conta da cisão na sociedade de advogados Barrocas & Alves Pereira, depois de quatro anos de vida em conjunto que, segundo rezam as crónicas, foram de verdadeiro idílio. A referida nota "atira as culpas" do divórcio para a vontade de José Alves Pereira em constituir um novo escritório a partir de Janeiro próximo, do qual farão parte os advogados Jorge Neto, deputado e vice-presidente do PSD, e João Carlos Silva, ex-secretário de Estado do Orçamento do Governo PS e ex-presidente da RTP. Em matéria de casamentos, não há dúvida de que os mais duradouros ainda são os do chamado Bloco Central. É receita garantida.

Bem pode o mundo preparar-se para uma nova guerra independentista. Esta tem, porém, uma especificidade muito curiosa. Os litigantes não são propriamente facções armadas movidas por ideologias, mas sim... dois operadores de telecomunicações. Para perceber o que está em causa, é preciso começar por fazer uma viagem pela História. Era uma vez uma pequena região chamada Dnestr, situada na parte leste do território da antiga república soviética da Moldávia que luta desde há séculos pela independência mas sem sucesso. Em 1992, houve mesmo uma escaramuça entre os seus habitantes e os moldavos, tendo a coisa sido pacificado por via dos esforços diplomáticos desenvolvidos pela Rússia. Em Dnestr, a língua "oficial" é o russo, enquanto na Moldávia se fala maioritariamente romeno, o que constitui só por si uma dificuldade óbvia de comunicação. Recentemente a situação complicou-se quando a Moldtelecom, o operador incumbente moldavo, acusou a região de Dnestr de ter bloqueado a recepção de chamadas dos seus clientes com destino àquela parte do território. Mas Dnestr defendeu-se e disse que a "guerra" vem de trás, acusando a Moldtelecom de "piratear" as frequências em que operam os telemóveis usados pelos seus habitantes. Com a tensão ao rubro, o ministro moldavo das telecomunicações não esteve com meias medidas: incentivou os moldavos a desenvolverem "uma acção de larga escala contra Dnestr". Já se sabia que muitas guerras começam por falta de comunicação, mas o que não se sabia é que outras podem começar só porque os telefones de repente ficaram mudos...

Segunda-feira, 29 de Setembro de 2003

Há coisas que poderiam explicar muito do que se passa pelo Ministério das Finanças nos tempos que correm. Mas até agora não deram o brado do que se passou na República Checa. Por um acaso simbólico ou por conspiração malévola, a nova edição da lista de telefones de Praga deu ao Ministério das Finanças o mesmo número do principal hospital psiquiátrico da capital. As telefonistas começaram então a ser literalmente bombardeadas por dezenas de pedidos diários de internamento e de assistência médica. A situação atingiu tal ponto que o próprio ministro Bohuslav Sobotka se viu forçado a sair a terreiro para chamar a atenção do editor da lista de telefones, antes que os telefonemas se transformassem em enfermeiros a entrar pelos corredores, pessoas transtornadas a remexer nos papéis oficiais e a sentarem-se à mesa dos responsáveis governamentais para lhes contar como tinha sido o seu dia ou a desabafar contra o mundo. É que há sempre o risco de a política melhorar ...

Nem todos os casamentos são eternos, mas alguns são mais duradouros que outros. Na semana passada, chegou aos jornais uma informação dando conta da cisão na sociedade de advogados Barrocas & Alves Pereira, depois de quatro anos de vida em conjunto que, segundo rezam as crónicas, foram de verdadeiro idílio. A referida nota "atira as culpas" do divórcio para a vontade de José Alves Pereira em constituir um novo escritório a partir de Janeiro próximo, do qual farão parte os advogados Jorge Neto, deputado e vice-presidente do PSD, e João Carlos Silva, ex-secretário de Estado do Orçamento do Governo PS e ex-presidente da RTP. Em matéria de casamentos, não há dúvida de que os mais duradouros ainda são os do chamado Bloco Central. É receita garantida.

Bem pode o mundo preparar-se para uma nova guerra independentista. Esta tem, porém, uma especificidade muito curiosa. Os litigantes não são propriamente facções armadas movidas por ideologias, mas sim... dois operadores de telecomunicações. Para perceber o que está em causa, é preciso começar por fazer uma viagem pela História. Era uma vez uma pequena região chamada Dnestr, situada na parte leste do território da antiga república soviética da Moldávia que luta desde há séculos pela independência mas sem sucesso. Em 1992, houve mesmo uma escaramuça entre os seus habitantes e os moldavos, tendo a coisa sido pacificado por via dos esforços diplomáticos desenvolvidos pela Rússia. Em Dnestr, a língua "oficial" é o russo, enquanto na Moldávia se fala maioritariamente romeno, o que constitui só por si uma dificuldade óbvia de comunicação. Recentemente a situação complicou-se quando a Moldtelecom, o operador incumbente moldavo, acusou a região de Dnestr de ter bloqueado a recepção de chamadas dos seus clientes com destino àquela parte do território. Mas Dnestr defendeu-se e disse que a "guerra" vem de trás, acusando a Moldtelecom de "piratear" as frequências em que operam os telemóveis usados pelos seus habitantes. Com a tensão ao rubro, o ministro moldavo das telecomunicações não esteve com meias medidas: incentivou os moldavos a desenvolverem "uma acção de larga escala contra Dnestr". Já se sabia que muitas guerras começam por falta de comunicação, mas o que não se sabia é que outras podem começar só porque os telefones de repente ficaram mudos...

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