Quatro candidatos, dois apurados

25-06-2004
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O último ano da mudança estratégica

Quatro Candidatos, Dois Apurados

Segunda-feira, 07 de Junho de 2004

Foram precisos pouco mais de 12 meses para passar das palavras à acção. Os consórcios Luso-Oil (liderado pela Carlyle) e CVC ficam pelo caminho, avançam a Petrocer e o Grupo José de Mello para nova fase da reestruturação do sector energético português

Cristina Ferreira

Há pouco mais de um ano, o Governo anunciou que queria mudar a organização empresarial do sector energético. A Galpenergia ia emagrecer, com a saída do negócio do gás natural para a EDP, temendo-se que a empresa deixasse de ser apetecível. O ministro chegou a temer não arranjar substituto para a ENI na petrolífera. O aparecimento da Carlyle na corrida veio dar fôlego ao executivo, dinamizando a operação que viria a contar com mais candidatos do que os inicialmente previstos. Principais datas desta última fase:

28 de Abril de 2003. O Governo de Durão Barroso aprova nova orientação estratégica para o sector energético nacional, propondo desta vez a separação do petróleo do gás. No mês seguinte, delibera que a Parpública, empresa que detém as participações empresariais do Estado, deverá adquirir as acções da ENI na Galp a título transitório e instrumental para recolocação junto de um novo accionista de referência, através de um procedimento de negociação particular.

Novembro. O ministro da Economia, apoiado na Goldman Sachs, mete em marcha a reestruturação do sector energético, uma solução que não contava com o apoio da actual administração da Galp, liderada por Joaquim Ferreira do Amaral e António Mexia. Mas, ao contrário do que o Governo pretendia, e do que permitiria assegurar a estabilidade accionista da empresa, os italianos mostram-se reticentes em ficar na petrolífera. A solução exigirá a sua substituição, constituindo um problema adicional para os negociadores.

Dezembro. O fundo de "private-equity" Carlyle, um dos maiores do mundo, contacta o Governo, por via do BES, e revela-se disponível para ficar com a posição italiana na Galp. Frank Carlucci, John Major, James Baker ou George Bush são algumas das personalidades que surgem associadas à gestora norte-americana de capital risco, com investimentos em todo o mundo de 18 mil milhões de dólares.

2004. Fevereiro. O Governo, a ENI e a Iberdrola chegam a acordo. Os italianos saem da petrolífera, mas assumem 49 por cento da Gás de Portugal, mantendo a EDP a restante parte do capital. A Iberdrola fica com as distribuidoras regionais. Na sequência, Carlos Tavares sonda o ex-presidente da Petrogal, Manuel Ferreira de Oliveira, para regressar à petrolífera como presidente, convite que este declina, alegando compromissos com a Unicer. O Governo prepara-se para comunicar que vai abrir um concurso limitado para colocar as acções dos italianos. Por essa altura, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros António Martins da Cruz é apresentado como consultor da Carlyle.

A gestora de capital risco CVC, derrotada no concurso da Portucel, aparece a disputar a entrada na Galp, primando até ao fim pela discrição. Bastarão dias para um inesperado candidato se perfilar na grelha de partida para a compra da petrolífera, pois Ferreira de Oliveira surge agora a encabeçar a proposta dos accionistas da Viacer, que controlam a primeira empresa privatizada, a cervejeira Unicer.

Pouco depois, o ministro da Economia deixaria o mercado perplexo ao anunciar existirem três concorrentes à compra da posição da ENI. Foi o suficiente para José Manuel de Mello, com fortes interesses na área petroquímica, decidir também ele "meter-se ao barulho". Vasco de Mello desloca-se então ao Porto para conversar com Ferreira de Oliveira, a quem manifesta a disposição da José de Mello em negociar uma parceria. Mas a Viacer entende não ser o momento oportuno para estabelecer outros entendimentos.

1 de Abril. Carlos Tavares formaliza a abertura do concurso limitado para a compra de uma participação entre 33,3 por cento e 47,3 por cento, correspondente à detida pela ENI e pela EDP. E convida os quatro interessados a apresentarem propostas.

17 Abril. Joaquim Pina Moura é convidado para presidir à Iberdrola Portugal. O convite é aceite, levando para a empresa espanhola o seu ex-secretário de Estado da Indústria e Energia, Fernando Pacheco.

20 de Abril. Os jornais dão como certa a entrada da CGD no consórcio liderado pela Carlyle, enquanto accionista e financiador, desencadeando uma nova frente de batalha para o Governo. Depois de alguns avanços e recuos, a CGD fica fora do consórcio.

22 de Abril. A Sonangol informa que vai entrar no consórcio liderado pela Carlyle.

27 de Abril. Ferreira de Oliveira apresenta-se oficialmente como porta-voz do consórcio Petrocer, que integra o grupo de accionistas da Unicer, Violas, Arsopi e BPI.

29 de Abril. A Carlyle apresenta publicamente o consórcio Luso-Oil (BES, Fomentinvest, Fundação Oriente e Riopele), encabeçado pelo ex-ministro social-democrata Ângelo Correia. Ferreira de Oliveira defende publicamente a imparcialidade da comissão executiva da Galp, liderada por António Mexia. O grupo Mello divulga a sua proposta, onde não constam alianças.

Maio. O Governo comunica que a escolha do novo accionista da Galp ficará a cargo de João Morais Leitão, Eduardo Catroga e José Luís Sapateiro. A decisão fica nas "mãos" deste "comité de sábios", contornando assim qualquer compromisso que o executivo pudesse ter.

1 de Junho de 2004. O Governo anuncia que o "comité de sábios" seleccionou para o primeiro lugar "ex-aequo" as propostas da Petrocer e da José de Mello e dá um sinal para que os dois candidatos se entendam entre si. A Carlyle e a CVC ficam fora da corrida.

7 de Junho. Começa hoje o "sprint" final de negociações para designar o novo (ou os novos) accionista(s) de referência da Galp.

O último ano da mudança estratégica

Quatro Candidatos, Dois Apurados

Segunda-feira, 07 de Junho de 2004

Foram precisos pouco mais de 12 meses para passar das palavras à acção. Os consórcios Luso-Oil (liderado pela Carlyle) e CVC ficam pelo caminho, avançam a Petrocer e o Grupo José de Mello para nova fase da reestruturação do sector energético português

Cristina Ferreira

Há pouco mais de um ano, o Governo anunciou que queria mudar a organização empresarial do sector energético. A Galpenergia ia emagrecer, com a saída do negócio do gás natural para a EDP, temendo-se que a empresa deixasse de ser apetecível. O ministro chegou a temer não arranjar substituto para a ENI na petrolífera. O aparecimento da Carlyle na corrida veio dar fôlego ao executivo, dinamizando a operação que viria a contar com mais candidatos do que os inicialmente previstos. Principais datas desta última fase:

28 de Abril de 2003. O Governo de Durão Barroso aprova nova orientação estratégica para o sector energético nacional, propondo desta vez a separação do petróleo do gás. No mês seguinte, delibera que a Parpública, empresa que detém as participações empresariais do Estado, deverá adquirir as acções da ENI na Galp a título transitório e instrumental para recolocação junto de um novo accionista de referência, através de um procedimento de negociação particular.

Novembro. O ministro da Economia, apoiado na Goldman Sachs, mete em marcha a reestruturação do sector energético, uma solução que não contava com o apoio da actual administração da Galp, liderada por Joaquim Ferreira do Amaral e António Mexia. Mas, ao contrário do que o Governo pretendia, e do que permitiria assegurar a estabilidade accionista da empresa, os italianos mostram-se reticentes em ficar na petrolífera. A solução exigirá a sua substituição, constituindo um problema adicional para os negociadores.

Dezembro. O fundo de "private-equity" Carlyle, um dos maiores do mundo, contacta o Governo, por via do BES, e revela-se disponível para ficar com a posição italiana na Galp. Frank Carlucci, John Major, James Baker ou George Bush são algumas das personalidades que surgem associadas à gestora norte-americana de capital risco, com investimentos em todo o mundo de 18 mil milhões de dólares.

2004. Fevereiro. O Governo, a ENI e a Iberdrola chegam a acordo. Os italianos saem da petrolífera, mas assumem 49 por cento da Gás de Portugal, mantendo a EDP a restante parte do capital. A Iberdrola fica com as distribuidoras regionais. Na sequência, Carlos Tavares sonda o ex-presidente da Petrogal, Manuel Ferreira de Oliveira, para regressar à petrolífera como presidente, convite que este declina, alegando compromissos com a Unicer. O Governo prepara-se para comunicar que vai abrir um concurso limitado para colocar as acções dos italianos. Por essa altura, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros António Martins da Cruz é apresentado como consultor da Carlyle.

A gestora de capital risco CVC, derrotada no concurso da Portucel, aparece a disputar a entrada na Galp, primando até ao fim pela discrição. Bastarão dias para um inesperado candidato se perfilar na grelha de partida para a compra da petrolífera, pois Ferreira de Oliveira surge agora a encabeçar a proposta dos accionistas da Viacer, que controlam a primeira empresa privatizada, a cervejeira Unicer.

Pouco depois, o ministro da Economia deixaria o mercado perplexo ao anunciar existirem três concorrentes à compra da posição da ENI. Foi o suficiente para José Manuel de Mello, com fortes interesses na área petroquímica, decidir também ele "meter-se ao barulho". Vasco de Mello desloca-se então ao Porto para conversar com Ferreira de Oliveira, a quem manifesta a disposição da José de Mello em negociar uma parceria. Mas a Viacer entende não ser o momento oportuno para estabelecer outros entendimentos.

1 de Abril. Carlos Tavares formaliza a abertura do concurso limitado para a compra de uma participação entre 33,3 por cento e 47,3 por cento, correspondente à detida pela ENI e pela EDP. E convida os quatro interessados a apresentarem propostas.

17 Abril. Joaquim Pina Moura é convidado para presidir à Iberdrola Portugal. O convite é aceite, levando para a empresa espanhola o seu ex-secretário de Estado da Indústria e Energia, Fernando Pacheco.

20 de Abril. Os jornais dão como certa a entrada da CGD no consórcio liderado pela Carlyle, enquanto accionista e financiador, desencadeando uma nova frente de batalha para o Governo. Depois de alguns avanços e recuos, a CGD fica fora do consórcio.

22 de Abril. A Sonangol informa que vai entrar no consórcio liderado pela Carlyle.

27 de Abril. Ferreira de Oliveira apresenta-se oficialmente como porta-voz do consórcio Petrocer, que integra o grupo de accionistas da Unicer, Violas, Arsopi e BPI.

29 de Abril. A Carlyle apresenta publicamente o consórcio Luso-Oil (BES, Fomentinvest, Fundação Oriente e Riopele), encabeçado pelo ex-ministro social-democrata Ângelo Correia. Ferreira de Oliveira defende publicamente a imparcialidade da comissão executiva da Galp, liderada por António Mexia. O grupo Mello divulga a sua proposta, onde não constam alianças.

Maio. O Governo comunica que a escolha do novo accionista da Galp ficará a cargo de João Morais Leitão, Eduardo Catroga e José Luís Sapateiro. A decisão fica nas "mãos" deste "comité de sábios", contornando assim qualquer compromisso que o executivo pudesse ter.

1 de Junho de 2004. O Governo anuncia que o "comité de sábios" seleccionou para o primeiro lugar "ex-aequo" as propostas da Petrocer e da José de Mello e dá um sinal para que os dois candidatos se entendam entre si. A Carlyle e a CVC ficam fora da corrida.

7 de Junho. Começa hoje o "sprint" final de negociações para designar o novo (ou os novos) accionista(s) de referência da Galp.

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