Diário Económico

02-05-2003
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Banca CGD de mãos atadas para proteger a banca nacional de ofensiva hostil

Por Maria João Gago e Bruno Proença

Se o Governo decidir utilizar a Caixa Geral de Depósitos (CGD) para defender os principais bancos portugueses de uma eventual ofensiva internacional, designadamente espanhola, terá que reforçar o capital da instituição financeira pública através de injecções de capital.

Esta alternativa teria enormes custos para a dívida pública portuguesa, numa altura em que esta já está perto do limite de 60% do produto imposto por Bruxelas, no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). De acordo com o reporte de défices excessivos, entregue pelo Governo à Comissão Europeia (CE) em Fevereiro, a dívida pública atingiu 58% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2002.

No entanto, a dívida deverá continuar a crescer, segundo as últimas projecções. As previsões da Primavera da (CE) apontam para uma dívida estatal na ordem 59,4% este ano, que passará para 60,2% em 2004. Caso esta estimativa se confirme, Portugal violará o PEC. Estas projecções retiram espaço de manobra aos fortes aumentos de capital que a CGD necessitaria para proteger o sector financeiro de ofensivas estrangeiras.

Os aumentos de capital são classificados pelo Eurostat como operações financeiras, pelo que não contam para o cálculo do défice orçamental. Porém, fazem subir a dívida das Administrações Públicas.

Resumidamente, a perspectiva dos analistas é a de que qualquer euro que a Caixa invista no Banco Comercial Português (BCP), no Banco Espírito Santo (BES) ou no Banco BPI implicará um aumento de capital do banco público no mesmo valor. Isto porque os rácios de solvabilidade da CGD «estão no limite», defendem os economistas contactados pelo DE. No final do ano passado, o rácio de solvabilidade da instituição diminuiu 0,5 pontos percentuais, para 8,9%, ficando a menos de um ponto percentual do limite mínimo de 8% imposto pelo Banco de Portugal.

Os custos económicos e em termos políticos, a nível europeu, resultantes de uma estratégia que passasse por pôr a Caixa a «funcionar como um cavaleiro branco na defesa das empresas nacionais» - como defendeu recentemente António Sousa Franco, antigo ministro das Finanças - parecem tornar esta alternativa inviável. Os cenários elaborados pelo Diário Económico revelam a dimensão do problema que se colocaria à CGD e ao próprio Estado, se se optasse por essa solução.

Mesmo detendo já participações qualificadas em dois dos maiores bancos nacionais - 8,3% no BCP e 3,1% no BPI - , no caso de um grande grupo estrangeiro lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) geral sobre uma das três maiores instituições financeiras nacionais, a CGD teria de responder com uma contra-OPA. Esta operação poderia implicar que a Caixa oferecesse um prémio de 20% sobre o valor de mercado do banco em causa.

Se a ameaça recaísse sobre o Comercial Português, o banco liderado por António de Sousa teria de despender mais de 4,62 mil milhões de euros para adquirir os 91,7% do BCP que ainda não controla. Logo, de acordo com a opinião dos analistas contactados pelo DE, o Estado teria que injectar um valor equivalente na Caixa, através de um aumento da capital, o que faria disparar a dívida pública para 79,7 mil milhões de euros, ou seja, 61,6% do PIB, com base nos números de 2002.

Este é o pior dos cenários individuais previstos. No entanto, também a "defesa" do BES faria com que Portugal desrespeitasse os compromissos mínimos estabelecidos no PEC. A aquisição do banco de Ricardo Salgado custaria 4,35 mil milhões de euros, o que elevaria a dívida para 61,4% do PIB. A compra da instituição de Artur Santos Silva exigiria um investimento de mais de dois mil milhões de euros, o que aumentaria a dívida pública para cima de 77 mil milhões de euros, o que corresponde a 59,6% do produto. Ou seja, muito perto do limite dos 60%.

Três aumentos de capital desde 1999

Nos últimos anos, a CGD aumentou o seu capital em três vezes. A mais recente operação teve lugar em 2001, quando o Estado injectou 200 milhões de eurosno banco público, o que permitiu elevar o seu capital para 2,45 mil milhões de euros. Já no ano anterior, os cofres públicos tinham entregue à Caixa 250 milhões de euros, por forma a permitir à instituição manter os rácios de solvabilidade numa altura em que foi levada, pelo Governo, a adquirir a Mundial-Confiança e uma participação no Banco Comercial Português. Em 1999, ocorreu o reforço de capital de 250 milhões de euros, através da entrega à Caixa de 10,75% do capital da Galp. O então presidente da CGD, João Salgueiro, justificou a operação com a necessidade de manter os rácios de solvabilidade da instituição, num contexto em que o crédito concedido pelo banco estatal estava em crescimento acentuado. No final desse ano, o rácio de solvabilidade fixou-se em 10,8%, tendo diminuído para 8,9% no ano 2000. No exercício seguinte, aquele indicador subiu para 9,4%, tendo regressado aos níveis de Dezembro de 2000 no final do ano passado.

A solução de Pina Moura no caso Champalimaud

Para resolver o impasse criado pela oposição do Governo - protagonizada pelo então ministro das Finanças, António Sousa Franco - ao acordo de venda do Grupo Champalimaud (Banco Pinto & Sotto Mayor, Banco Totta & Açores, Mundial-Confiança, Crédito Predial Português e Banco Chemical) aos espanhóis do Banco Santander Central Hispano, Joaquim Pina Moura recorreu à Caixa Geral de Depósitos.

De acordo com a solução proposta pelo sucessor de Sousa Franco, a Caixa Geral de Depósitos comprou a maioria da Mundial-Confiança - a estrutura de topo do Grupo Champalimaud -, ao Banco Santander Central Hispano, com o compromisso de que venderia os bancos integrados na seguradora a instituições privadas. Foi assim que o Totta e o CPP foram entregues ao BSCH e o Sotto Mayor ao Banco Comercial Português. O grupo financeiro público integrou a companhia de seguros Mundial-Confiança na sua estrutura e adquiriu o Banco Chemical ao Santander. Além disso, como a solução de Pina Moura pretendia reestruturar o sector financeiro nacional e protegê-lo de ofensivas futuras, a CGD ficou com uma participação de cerca de 8% no capital do Comercial Português, que ainda hoje mantém.

mjgago@economica.iol.pt António de Sousa, presidente da CGD, já defendeu publicamente esta tese que é secundada por vários analistas contactados pelo Diário Económico.Esta alternativa teria enormes custos para a dívida pública portuguesa, numa altura em que esta já está perto do limite de 60% do produto imposto por Bruxelas, no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). De acordo com o reporte de défices excessivos, entregue pelo Governo à Comissão Europeia (CE) em Fevereiro, a dívida pública atingiu 58% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2002.No entanto, a dívida deverá continuar a crescer, segundo as últimas projecções. As previsões da Primavera da (CE) apontam para uma dívida estatal na ordem 59,4% este ano, que passará para 60,2% em 2004. Caso esta estimativa se confirme, Portugal violará o PEC. Estas projecções retiram espaço de manobra aos fortes aumentos de capital que a CGD necessitaria para proteger o sector financeiro de ofensivas estrangeiras.Os aumentos de capital são classificados pelo Eurostat como operações financeiras, pelo que não contam para o cálculo do défice orçamental. Porém, fazem subir a dívida das Administrações Públicas.Resumidamente, a perspectiva dos analistas é a de que qualquer euro que a Caixa invista no Banco Comercial Português (BCP), no Banco Espírito Santo (BES) ou no Banco BPI implicará um aumento de capital do banco público no mesmo valor. Isto porque os rácios de solvabilidade da CGD «estão no limite», defendem os economistas contactados pelo DE. No final do ano passado, o rácio de solvabilidade da instituição diminuiu 0,5 pontos percentuais, para 8,9%, ficando a menos de um ponto percentual do limite mínimo de 8% imposto pelo Banco de Portugal.Os custos económicos e em termos políticos, a nível europeu, resultantes de uma estratégia que passasse por pôr a Caixa a «funcionar como um cavaleiro branco na defesa das empresas nacionais» - como defendeu recentemente António Sousa Franco, antigo ministro das Finanças - parecem tornar esta alternativa inviável. Os cenários elaborados pelo Diário Económico revelam a dimensão do problema que se colocaria à CGD e ao próprio Estado, se se optasse por essa solução.Mesmo detendo já participações qualificadas em dois dos maiores bancos nacionais - 8,3% no BCP e 3,1% no BPI - , no caso de um grande grupo estrangeiro lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) geral sobre uma das três maiores instituições financeiras nacionais, a CGD teria de responder com uma contra-OPA. Esta operação poderia implicar que a Caixa oferecesse um prémio de 20% sobre o valor de mercado do banco em causa.Se a ameaça recaísse sobre o Comercial Português, o banco liderado por António de Sousa teria de despender mais de 4,62 mil milhões de euros para adquirir os 91,7% do BCP que ainda não controla. Logo, de acordo com a opinião dos analistas contactados pelo DE, o Estado teria que injectar um valor equivalente na Caixa, através de um aumento da capital, o que faria disparar a dívida pública para 79,7 mil milhões de euros, ou seja, 61,6% do PIB, com base nos números de 2002.Este é o pior dos cenários individuais previstos. No entanto, também a "defesa" do BES faria com que Portugal desrespeitasse os compromissos mínimos estabelecidos no PEC. A aquisição do banco de Ricardo Salgado custaria 4,35 mil milhões de euros, o que elevaria a dívida para 61,4% do PIB. A compra da instituição de Artur Santos Silva exigiria um investimento de mais de dois mil milhões de euros, o que aumentaria a dívida pública para cima de 77 mil milhões de euros, o que corresponde a 59,6% do produto. Ou seja, muito perto do limite dos 60%.Nos últimos anos, a CGD aumentou o seu capital em três vezes. A mais recente operação teve lugar em 2001, quando o Estado injectou 200 milhões de eurosno banco público, o que permitiu elevar o seu capital para 2,45 mil milhões de euros. Já no ano anterior, os cofres públicos tinham entregue à Caixa 250 milhões de euros, por forma a permitir à instituição manter os rácios de solvabilidade numa altura em que foi levada, pelo Governo, a adquirir a Mundial-Confiança e uma participação no Banco Comercial Português. Em 1999, ocorreu o reforço de capital de 250 milhões de euros, através da entrega à Caixa de 10,75% do capital da Galp. O então presidente da CGD, João Salgueiro, justificou a operação com a necessidade de manter os rácios de solvabilidade da instituição, num contexto em que o crédito concedido pelo banco estatal estava em crescimento acentuado. No final desse ano, o rácio de solvabilidade fixou-se em 10,8%, tendo diminuído para 8,9% no ano 2000. No exercício seguinte, aquele indicador subiu para 9,4%, tendo regressado aos níveis de Dezembro de 2000 no final do ano passado.Para resolver o impasse criado pela oposição do Governo - protagonizada pelo então ministro das Finanças, António Sousa Franco - ao acordo de venda do Grupo Champalimaud (Banco Pinto & Sotto Mayor, Banco Totta & Açores, Mundial-Confiança, Crédito Predial Português e Banco Chemical) aos espanhóis do Banco Santander Central Hispano, Joaquim Pina Moura recorreu à Caixa Geral de Depósitos.De acordo com a solução proposta pelo sucessor de Sousa Franco, a Caixa Geral de Depósitos comprou a maioria da Mundial-Confiança - a estrutura de topo do Grupo Champalimaud -, ao Banco Santander Central Hispano, com o compromisso de que venderia os bancos integrados na seguradora a instituições privadas. Foi assim que o Totta e o CPP foram entregues ao BSCH e o Sotto Mayor ao Banco Comercial Português. O grupo financeiro público integrou a companhia de seguros Mundial-Confiança na sua estrutura e adquiriu o Banco Chemical ao Santander. Além disso, como a solução de Pina Moura pretendia reestruturar o sector financeiro nacional e protegê-lo de ofensivas futuras, a CGD ficou com uma participação de cerca de 8% no capital do Comercial Português, que ainda hoje mantém.mjgago@economica.iol.pt

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Banca CGD de mãos atadas para proteger a banca nacional de ofensiva hostil

Por Maria João Gago e Bruno Proença

Se o Governo decidir utilizar a Caixa Geral de Depósitos (CGD) para defender os principais bancos portugueses de uma eventual ofensiva internacional, designadamente espanhola, terá que reforçar o capital da instituição financeira pública através de injecções de capital.

Esta alternativa teria enormes custos para a dívida pública portuguesa, numa altura em que esta já está perto do limite de 60% do produto imposto por Bruxelas, no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). De acordo com o reporte de défices excessivos, entregue pelo Governo à Comissão Europeia (CE) em Fevereiro, a dívida pública atingiu 58% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2002.

No entanto, a dívida deverá continuar a crescer, segundo as últimas projecções. As previsões da Primavera da (CE) apontam para uma dívida estatal na ordem 59,4% este ano, que passará para 60,2% em 2004. Caso esta estimativa se confirme, Portugal violará o PEC. Estas projecções retiram espaço de manobra aos fortes aumentos de capital que a CGD necessitaria para proteger o sector financeiro de ofensivas estrangeiras.

Os aumentos de capital são classificados pelo Eurostat como operações financeiras, pelo que não contam para o cálculo do défice orçamental. Porém, fazem subir a dívida das Administrações Públicas.

Resumidamente, a perspectiva dos analistas é a de que qualquer euro que a Caixa invista no Banco Comercial Português (BCP), no Banco Espírito Santo (BES) ou no Banco BPI implicará um aumento de capital do banco público no mesmo valor. Isto porque os rácios de solvabilidade da CGD «estão no limite», defendem os economistas contactados pelo DE. No final do ano passado, o rácio de solvabilidade da instituição diminuiu 0,5 pontos percentuais, para 8,9%, ficando a menos de um ponto percentual do limite mínimo de 8% imposto pelo Banco de Portugal.

Os custos económicos e em termos políticos, a nível europeu, resultantes de uma estratégia que passasse por pôr a Caixa a «funcionar como um cavaleiro branco na defesa das empresas nacionais» - como defendeu recentemente António Sousa Franco, antigo ministro das Finanças - parecem tornar esta alternativa inviável. Os cenários elaborados pelo Diário Económico revelam a dimensão do problema que se colocaria à CGD e ao próprio Estado, se se optasse por essa solução.

Mesmo detendo já participações qualificadas em dois dos maiores bancos nacionais - 8,3% no BCP e 3,1% no BPI - , no caso de um grande grupo estrangeiro lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) geral sobre uma das três maiores instituições financeiras nacionais, a CGD teria de responder com uma contra-OPA. Esta operação poderia implicar que a Caixa oferecesse um prémio de 20% sobre o valor de mercado do banco em causa.

Se a ameaça recaísse sobre o Comercial Português, o banco liderado por António de Sousa teria de despender mais de 4,62 mil milhões de euros para adquirir os 91,7% do BCP que ainda não controla. Logo, de acordo com a opinião dos analistas contactados pelo DE, o Estado teria que injectar um valor equivalente na Caixa, através de um aumento da capital, o que faria disparar a dívida pública para 79,7 mil milhões de euros, ou seja, 61,6% do PIB, com base nos números de 2002.

Este é o pior dos cenários individuais previstos. No entanto, também a "defesa" do BES faria com que Portugal desrespeitasse os compromissos mínimos estabelecidos no PEC. A aquisição do banco de Ricardo Salgado custaria 4,35 mil milhões de euros, o que elevaria a dívida para 61,4% do PIB. A compra da instituição de Artur Santos Silva exigiria um investimento de mais de dois mil milhões de euros, o que aumentaria a dívida pública para cima de 77 mil milhões de euros, o que corresponde a 59,6% do produto. Ou seja, muito perto do limite dos 60%.

Três aumentos de capital desde 1999

Nos últimos anos, a CGD aumentou o seu capital em três vezes. A mais recente operação teve lugar em 2001, quando o Estado injectou 200 milhões de eurosno banco público, o que permitiu elevar o seu capital para 2,45 mil milhões de euros. Já no ano anterior, os cofres públicos tinham entregue à Caixa 250 milhões de euros, por forma a permitir à instituição manter os rácios de solvabilidade numa altura em que foi levada, pelo Governo, a adquirir a Mundial-Confiança e uma participação no Banco Comercial Português. Em 1999, ocorreu o reforço de capital de 250 milhões de euros, através da entrega à Caixa de 10,75% do capital da Galp. O então presidente da CGD, João Salgueiro, justificou a operação com a necessidade de manter os rácios de solvabilidade da instituição, num contexto em que o crédito concedido pelo banco estatal estava em crescimento acentuado. No final desse ano, o rácio de solvabilidade fixou-se em 10,8%, tendo diminuído para 8,9% no ano 2000. No exercício seguinte, aquele indicador subiu para 9,4%, tendo regressado aos níveis de Dezembro de 2000 no final do ano passado.

A solução de Pina Moura no caso Champalimaud

Para resolver o impasse criado pela oposição do Governo - protagonizada pelo então ministro das Finanças, António Sousa Franco - ao acordo de venda do Grupo Champalimaud (Banco Pinto & Sotto Mayor, Banco Totta & Açores, Mundial-Confiança, Crédito Predial Português e Banco Chemical) aos espanhóis do Banco Santander Central Hispano, Joaquim Pina Moura recorreu à Caixa Geral de Depósitos.

De acordo com a solução proposta pelo sucessor de Sousa Franco, a Caixa Geral de Depósitos comprou a maioria da Mundial-Confiança - a estrutura de topo do Grupo Champalimaud -, ao Banco Santander Central Hispano, com o compromisso de que venderia os bancos integrados na seguradora a instituições privadas. Foi assim que o Totta e o CPP foram entregues ao BSCH e o Sotto Mayor ao Banco Comercial Português. O grupo financeiro público integrou a companhia de seguros Mundial-Confiança na sua estrutura e adquiriu o Banco Chemical ao Santander. Além disso, como a solução de Pina Moura pretendia reestruturar o sector financeiro nacional e protegê-lo de ofensivas futuras, a CGD ficou com uma participação de cerca de 8% no capital do Comercial Português, que ainda hoje mantém.

mjgago@economica.iol.pt António de Sousa, presidente da CGD, já defendeu publicamente esta tese que é secundada por vários analistas contactados pelo Diário Económico.Esta alternativa teria enormes custos para a dívida pública portuguesa, numa altura em que esta já está perto do limite de 60% do produto imposto por Bruxelas, no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). De acordo com o reporte de défices excessivos, entregue pelo Governo à Comissão Europeia (CE) em Fevereiro, a dívida pública atingiu 58% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2002.No entanto, a dívida deverá continuar a crescer, segundo as últimas projecções. As previsões da Primavera da (CE) apontam para uma dívida estatal na ordem 59,4% este ano, que passará para 60,2% em 2004. Caso esta estimativa se confirme, Portugal violará o PEC. Estas projecções retiram espaço de manobra aos fortes aumentos de capital que a CGD necessitaria para proteger o sector financeiro de ofensivas estrangeiras.Os aumentos de capital são classificados pelo Eurostat como operações financeiras, pelo que não contam para o cálculo do défice orçamental. Porém, fazem subir a dívida das Administrações Públicas.Resumidamente, a perspectiva dos analistas é a de que qualquer euro que a Caixa invista no Banco Comercial Português (BCP), no Banco Espírito Santo (BES) ou no Banco BPI implicará um aumento de capital do banco público no mesmo valor. Isto porque os rácios de solvabilidade da CGD «estão no limite», defendem os economistas contactados pelo DE. No final do ano passado, o rácio de solvabilidade da instituição diminuiu 0,5 pontos percentuais, para 8,9%, ficando a menos de um ponto percentual do limite mínimo de 8% imposto pelo Banco de Portugal.Os custos económicos e em termos políticos, a nível europeu, resultantes de uma estratégia que passasse por pôr a Caixa a «funcionar como um cavaleiro branco na defesa das empresas nacionais» - como defendeu recentemente António Sousa Franco, antigo ministro das Finanças - parecem tornar esta alternativa inviável. Os cenários elaborados pelo Diário Económico revelam a dimensão do problema que se colocaria à CGD e ao próprio Estado, se se optasse por essa solução.Mesmo detendo já participações qualificadas em dois dos maiores bancos nacionais - 8,3% no BCP e 3,1% no BPI - , no caso de um grande grupo estrangeiro lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) geral sobre uma das três maiores instituições financeiras nacionais, a CGD teria de responder com uma contra-OPA. Esta operação poderia implicar que a Caixa oferecesse um prémio de 20% sobre o valor de mercado do banco em causa.Se a ameaça recaísse sobre o Comercial Português, o banco liderado por António de Sousa teria de despender mais de 4,62 mil milhões de euros para adquirir os 91,7% do BCP que ainda não controla. Logo, de acordo com a opinião dos analistas contactados pelo DE, o Estado teria que injectar um valor equivalente na Caixa, através de um aumento da capital, o que faria disparar a dívida pública para 79,7 mil milhões de euros, ou seja, 61,6% do PIB, com base nos números de 2002.Este é o pior dos cenários individuais previstos. No entanto, também a "defesa" do BES faria com que Portugal desrespeitasse os compromissos mínimos estabelecidos no PEC. A aquisição do banco de Ricardo Salgado custaria 4,35 mil milhões de euros, o que elevaria a dívida para 61,4% do PIB. A compra da instituição de Artur Santos Silva exigiria um investimento de mais de dois mil milhões de euros, o que aumentaria a dívida pública para cima de 77 mil milhões de euros, o que corresponde a 59,6% do produto. Ou seja, muito perto do limite dos 60%.Nos últimos anos, a CGD aumentou o seu capital em três vezes. A mais recente operação teve lugar em 2001, quando o Estado injectou 200 milhões de eurosno banco público, o que permitiu elevar o seu capital para 2,45 mil milhões de euros. Já no ano anterior, os cofres públicos tinham entregue à Caixa 250 milhões de euros, por forma a permitir à instituição manter os rácios de solvabilidade numa altura em que foi levada, pelo Governo, a adquirir a Mundial-Confiança e uma participação no Banco Comercial Português. Em 1999, ocorreu o reforço de capital de 250 milhões de euros, através da entrega à Caixa de 10,75% do capital da Galp. O então presidente da CGD, João Salgueiro, justificou a operação com a necessidade de manter os rácios de solvabilidade da instituição, num contexto em que o crédito concedido pelo banco estatal estava em crescimento acentuado. No final desse ano, o rácio de solvabilidade fixou-se em 10,8%, tendo diminuído para 8,9% no ano 2000. No exercício seguinte, aquele indicador subiu para 9,4%, tendo regressado aos níveis de Dezembro de 2000 no final do ano passado.Para resolver o impasse criado pela oposição do Governo - protagonizada pelo então ministro das Finanças, António Sousa Franco - ao acordo de venda do Grupo Champalimaud (Banco Pinto & Sotto Mayor, Banco Totta & Açores, Mundial-Confiança, Crédito Predial Português e Banco Chemical) aos espanhóis do Banco Santander Central Hispano, Joaquim Pina Moura recorreu à Caixa Geral de Depósitos.De acordo com a solução proposta pelo sucessor de Sousa Franco, a Caixa Geral de Depósitos comprou a maioria da Mundial-Confiança - a estrutura de topo do Grupo Champalimaud -, ao Banco Santander Central Hispano, com o compromisso de que venderia os bancos integrados na seguradora a instituições privadas. Foi assim que o Totta e o CPP foram entregues ao BSCH e o Sotto Mayor ao Banco Comercial Português. O grupo financeiro público integrou a companhia de seguros Mundial-Confiança na sua estrutura e adquiriu o Banco Chemical ao Santander. Além disso, como a solução de Pina Moura pretendia reestruturar o sector financeiro nacional e protegê-lo de ofensivas futuras, a CGD ficou com uma participação de cerca de 8% no capital do Comercial Português, que ainda hoje mantém.mjgago@economica.iol.pt

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