Transportes, a face mais visível da greve

17-12-2002
marcar artigo

Transportes, a Face Mais Visível da Greve

Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002

TAP com voos cancelados, aviões em terra

Com uma paralisação quase total nos transportes colectivos, os serviços mínimos impostos pelo Governo às empresas do sector não conseguiram minimizar os efeitos da greve geral de ontem e o trânsito nos grandes centros urbanos transformou-se num verdadeiro pesadelo. A jornada de luta dos trabalhadores neste sector acabou também por "forçar" muitas pessoas a ficar em casa. Os transportes foram mesmo a face mais visível da greve geral. Por Joana Pereira Bastos

A adesão dos trabalhadores de terra da TAP à greve geral de ontem rondou, segundo fontes sindicais, cerca de 90 por cento, o que obrigou ao cancelamento de aproximadamente 80 por cento dos voos, no Aeroporto da Portela, em Lisboa. No Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, cerca de 80 por cento dos trabalhadores aderiram também à paralisação, o que provocou o cancelamento de 73 dos 110 voos previstos. Em Faro, todos os voos foram cancelados, assim como aconteceu no Aeroporto de Ponta Delgada, nos Açores, onde um voo proveniente de Lisboa teve mesmo que regressar à capital, devido à greve dos bombeiros. O Aeroporto do Funchal, na Madeira, foi o único do país a funcionar com relativa normalidade, apesar de o ter feito contra as normas de segurança, uma vez que 100 por cento dos bombeiros aderiram ao protesto.

CP com comboios parados na gare

Os comboios da CP estiveram parados durante todo o dia de ontem. Os trabalhadores da empresa, que iniciaram a paralisação às 12h00 de segunda-feira, aderiram de forma maciça à greve geral, registando uma adesão de 100 por cento, segundo informou ontem Álvaro Pinto, do Sindicato dos Ferroviários. Apesar de a empresa já ter avisado que não iria assegurar serviços mínimos, algumas pessoas juntaram-se ontem, às primeiras horas da manhã, em várias estações dos subúrbios de Lisboa, à espera que um comboio as pudesse levar à capital, mas rapidamente acabaram por desistir. Já a prever as dificuldades, muitos passageiros habituais decidiram levar o carro até ao emprego, o que fez aumentar a circulação automóvel, transformando os principais acessos viários à cidade num "verdadeiro caos", como ontem descreveram as autoridades policiais, citadas pela Lusa.

Metro do Porto e STCP com paralisação quase total

Pessoas que se amontoavam nas paragens, esperando e desesperando por um autocarro que não chegava. Foi este o cenário geral criado pela paralisação, quase total, dos transportes públicos em todo o país, nomeadamente no Norte. Segundo dados fornecidos pela União dos Sindicatos do Porto, dos 513 autocarros que deveriam circular na cidade Invicta, a partir das 7h30, apenas 17 saíram da estação de recolha.

As previsões da CGTP, segundo as quais a greve geral seria mais visível nos transportes, vieram a confirmar-se também com uma adesão a cem por cento da CP. No metro de superfície do Porto, cuja linha azul foi inaugurada oficialmente no sábado, a situação exigiu a intervenção de forças policiais. Na sequência do que uma fonte da administração do Metro apelidou de "bloqueio ilegal por um grupo de pessoas externas à empresa", em Guifões, o corpo de intervenção da GNR foi chamado a intervir. Apesar da União de Sindicatos do Porto ter anunciado que, após o incidente com o piquete de greve, a paralisação era total, duas composições continuavam em funcionamento.

João Teixeira Lopes, deputado do Bloco de Esquerda, denunciou numa conferência de imprensa realizada ontem de tarde que as unidades de metro que se encontravam em circulação "eram conduzidas por pessoas sem título para o fazer, pondo em risco a segurança dos passageiros".

Travessia do Tejo a conta-gotas

Às primeiras horas da manhã de ontem, os barcos chegavam a conta-gotas ao Cais das Colunas, no Terreiro do Paço, mas o movimento de passageiros era também bastante menor do que o habitualmente registado nos dias úteis. Muitas pessoas decidiram fazer o percurso de carro, através da Ponte 25 de Abril, o que tornou o trânsito ainda mais intenso, com a fila a começar a cerca de cinco quilómetros do início do tabuleiro. Os barcos da Transtejo, que efectuam a travessia entre Lisboa e o Montijo, Seixal, Barreiro e Cacilhas, estiveram ontem totalmente parados entre as 10h00 e as 17h30. O PÚBLICO tentou junto dos sindicatos e das administrações das empresas obter resultados da adesão à greve depois das 17h30 mas tal revelou-se impossível.

Metro de portas encerradas e Carris apenas com serviços mínimos

Os trabalhadores do metro e da Carris aderiram em massa à greve geral de ontem. Todas as estações do Metropolitano mantiveram encerradas as suas portas, enquanto a empresa rodoviária apenas colocou 103 viaturas em circulação, em vez das habituais 600, para minimizar os efeitos da paralisação. As duas empresas de transportes colectivos alugaram ainda 53 táxis que, desde as 6h00 de ontem, asseguraram o trajecto percorrido por alguns autocarros e linhas de metropolitano, mas o número de meios disponibilizados foi manifestamente insuficiente. Perto das 8h00, os terminais de transportes alternativos estavam com poucos autocarros disponíveis, apesar de ser igualmente fraca a afluência de passageiros. No entanto, ao final da tarde, foram aumentando as filas dos que pacientemente esperavam por transporte e o tempo previsto para chegar a casa era, na maioria dos casos, uma total incógnita.

Forte paralisação do Minho ao Algarve

Em todo o país registou-se ontem uma forte mobilização dos trabalhadores do sector dos transportes para a greve geral, convocada pela CGTP. No Algarve, a adesão rondou os 90 por cento, provocando a paralisação de grande parte dos transportes rodoviários da região, tal como aconteceu no Alentejo, onde, nomeadamente, as cidades de Évora e Beja ficaram sem carreiras urbanas. Na Região Centro, o panorama foi idêntico. Em Coimbra, por exemplo, praticamente não circularam autocarros, obrigando a um aumento significativo da circulação automóvel que entupiu as principais artérias da cidade. Também no Norte, o sector dos transportes foi afectado, tendo-se verificado a paralisação total dos autocarros municipais em Braga e Guimarães.

com Soraia Abdula

Transportes, a Face Mais Visível da Greve

Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002

TAP com voos cancelados, aviões em terra

Com uma paralisação quase total nos transportes colectivos, os serviços mínimos impostos pelo Governo às empresas do sector não conseguiram minimizar os efeitos da greve geral de ontem e o trânsito nos grandes centros urbanos transformou-se num verdadeiro pesadelo. A jornada de luta dos trabalhadores neste sector acabou também por "forçar" muitas pessoas a ficar em casa. Os transportes foram mesmo a face mais visível da greve geral. Por Joana Pereira Bastos

A adesão dos trabalhadores de terra da TAP à greve geral de ontem rondou, segundo fontes sindicais, cerca de 90 por cento, o que obrigou ao cancelamento de aproximadamente 80 por cento dos voos, no Aeroporto da Portela, em Lisboa. No Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, cerca de 80 por cento dos trabalhadores aderiram também à paralisação, o que provocou o cancelamento de 73 dos 110 voos previstos. Em Faro, todos os voos foram cancelados, assim como aconteceu no Aeroporto de Ponta Delgada, nos Açores, onde um voo proveniente de Lisboa teve mesmo que regressar à capital, devido à greve dos bombeiros. O Aeroporto do Funchal, na Madeira, foi o único do país a funcionar com relativa normalidade, apesar de o ter feito contra as normas de segurança, uma vez que 100 por cento dos bombeiros aderiram ao protesto.

CP com comboios parados na gare

Os comboios da CP estiveram parados durante todo o dia de ontem. Os trabalhadores da empresa, que iniciaram a paralisação às 12h00 de segunda-feira, aderiram de forma maciça à greve geral, registando uma adesão de 100 por cento, segundo informou ontem Álvaro Pinto, do Sindicato dos Ferroviários. Apesar de a empresa já ter avisado que não iria assegurar serviços mínimos, algumas pessoas juntaram-se ontem, às primeiras horas da manhã, em várias estações dos subúrbios de Lisboa, à espera que um comboio as pudesse levar à capital, mas rapidamente acabaram por desistir. Já a prever as dificuldades, muitos passageiros habituais decidiram levar o carro até ao emprego, o que fez aumentar a circulação automóvel, transformando os principais acessos viários à cidade num "verdadeiro caos", como ontem descreveram as autoridades policiais, citadas pela Lusa.

Metro do Porto e STCP com paralisação quase total

Pessoas que se amontoavam nas paragens, esperando e desesperando por um autocarro que não chegava. Foi este o cenário geral criado pela paralisação, quase total, dos transportes públicos em todo o país, nomeadamente no Norte. Segundo dados fornecidos pela União dos Sindicatos do Porto, dos 513 autocarros que deveriam circular na cidade Invicta, a partir das 7h30, apenas 17 saíram da estação de recolha.

As previsões da CGTP, segundo as quais a greve geral seria mais visível nos transportes, vieram a confirmar-se também com uma adesão a cem por cento da CP. No metro de superfície do Porto, cuja linha azul foi inaugurada oficialmente no sábado, a situação exigiu a intervenção de forças policiais. Na sequência do que uma fonte da administração do Metro apelidou de "bloqueio ilegal por um grupo de pessoas externas à empresa", em Guifões, o corpo de intervenção da GNR foi chamado a intervir. Apesar da União de Sindicatos do Porto ter anunciado que, após o incidente com o piquete de greve, a paralisação era total, duas composições continuavam em funcionamento.

João Teixeira Lopes, deputado do Bloco de Esquerda, denunciou numa conferência de imprensa realizada ontem de tarde que as unidades de metro que se encontravam em circulação "eram conduzidas por pessoas sem título para o fazer, pondo em risco a segurança dos passageiros".

Travessia do Tejo a conta-gotas

Às primeiras horas da manhã de ontem, os barcos chegavam a conta-gotas ao Cais das Colunas, no Terreiro do Paço, mas o movimento de passageiros era também bastante menor do que o habitualmente registado nos dias úteis. Muitas pessoas decidiram fazer o percurso de carro, através da Ponte 25 de Abril, o que tornou o trânsito ainda mais intenso, com a fila a começar a cerca de cinco quilómetros do início do tabuleiro. Os barcos da Transtejo, que efectuam a travessia entre Lisboa e o Montijo, Seixal, Barreiro e Cacilhas, estiveram ontem totalmente parados entre as 10h00 e as 17h30. O PÚBLICO tentou junto dos sindicatos e das administrações das empresas obter resultados da adesão à greve depois das 17h30 mas tal revelou-se impossível.

Metro de portas encerradas e Carris apenas com serviços mínimos

Os trabalhadores do metro e da Carris aderiram em massa à greve geral de ontem. Todas as estações do Metropolitano mantiveram encerradas as suas portas, enquanto a empresa rodoviária apenas colocou 103 viaturas em circulação, em vez das habituais 600, para minimizar os efeitos da paralisação. As duas empresas de transportes colectivos alugaram ainda 53 táxis que, desde as 6h00 de ontem, asseguraram o trajecto percorrido por alguns autocarros e linhas de metropolitano, mas o número de meios disponibilizados foi manifestamente insuficiente. Perto das 8h00, os terminais de transportes alternativos estavam com poucos autocarros disponíveis, apesar de ser igualmente fraca a afluência de passageiros. No entanto, ao final da tarde, foram aumentando as filas dos que pacientemente esperavam por transporte e o tempo previsto para chegar a casa era, na maioria dos casos, uma total incógnita.

Forte paralisação do Minho ao Algarve

Em todo o país registou-se ontem uma forte mobilização dos trabalhadores do sector dos transportes para a greve geral, convocada pela CGTP. No Algarve, a adesão rondou os 90 por cento, provocando a paralisação de grande parte dos transportes rodoviários da região, tal como aconteceu no Alentejo, onde, nomeadamente, as cidades de Évora e Beja ficaram sem carreiras urbanas. Na Região Centro, o panorama foi idêntico. Em Coimbra, por exemplo, praticamente não circularam autocarros, obrigando a um aumento significativo da circulação automóvel que entupiu as principais artérias da cidade. Também no Norte, o sector dos transportes foi afectado, tendo-se verificado a paralisação total dos autocarros municipais em Braga e Guimarães.

com Soraia Abdula

marcar artigo