PSD eleva Conselho de Opinião da RTP a força de bloqueio

01-06-2002
marcar artigo

PSD Eleva Conselho de Opinião da RTP a Força de Bloqueio

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Sexta-feira, 17 de Maio de 2002

Carrilho iniciou o debate sobre a estação pública acusando o Governo de querer regressar "ao local do crime"

O líder parlamentar do PSD, Guilherme Silva, acusou ontem o Conselho de Opinião da RTP de tentar "obstaculizar" o trabalho de um Governo democraticamente eleito. Foi esta - ainda antes de conhecida a decisão do órgão consultivo - a resposta do social-democrata à intervenção do socialista ex-ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, que ontem discursou no plenário para reiterar a intenção do PS dar luta ao "crime" que o Governo se prepara para cometer na RTP.

Segundo Guilherme Silva, o Conselho de Opinião da RTP não tem "qualquer legitimidade democrática" que lhe permita travar a "execução do programa de Governo, ratificado pelo Parlamento". As acusações do jurista madeirense surgiram a propósito do já então previsível chumbo do conselho de administração para a empresa pública de televisão nomeado pelo Governo de Durão Barroso.

Também Telmo Correia se insurgiu contra o discurso do deputado socialista ao perguntar-lhe se "no seu conceito de serviço público de televisão cabe a contratação de uma astróloga por dois mil contos".

Manuel Maria Carrilho viu-se forçado a responder aos ataques, acusando o PSD de pretender "ameaçar o Conselho de Opinião da RTP". Uma situação tanto mais inaceitável quanto o facto daquele órgão ser, para o ex-ministro, a instituição "independente" que o próprio Durão Barroso havia defendido durante a campanha eleitoral. "Durão Barroso disse que, se fosse Governo, criaria uma entidade independente do Governo para regular e fiscalizar a RTP e o cumprimento do serviço público de televisão", disse antes de aconselhar o PSD a "cumprir o que está na lei".

Antes disso, já o socialista tinha classificado a presente polémica como "o regresso do criminoso ao local do crime". Isto depois de, durante o seu discurso, ter ido buscar ao passado os erros do PSD em matéria de RTP: suspensão da taxa e venda da rede de emissores no princípio dos anos 90. Com o fim do segundo canal, o actual Governo prova, considerou Carrilho, que sempre esteve mais preocupado em dar mais "atenção aos serviços privados e aos seus problemas".

João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda, seguiu a mesma linha para dizer que não acreditava "em coincidências" em relação ao PSD. E por isso tinha estranhado ver "perfeitamente reproduzidas" no programa de Governo palavras do líder da Media Capital, Paes do Amaral, numa entrevista antes das últimas legislativas.

O deputado do PCP António Filipe até poderia ter aplaudido Carrilho "se [este] se demarcasse dos últimos seis anos" em que o seu partido estivera no poder. Mas não o fez porque ouvir Carrilho criticar o PSD era como "ouvir falar de corda em casa de um enforcado".

Trabalhadores ouviram CDS dizer que está tudo em aberto

Uma delegação de trabalhadores da RTP encontrou-se também ontem, pela primeira vez, com um partido de Governo. O CDS-PP recebeu-os na Parlamento para uma reunião que durou mais de duas horas. A intenção dos trabalhadores era sensibilizar aquele grupo parlamentar para a necessidade de estudar os problemas antes de tomar decisões sobre o futuro de cada um dos canais da empresa privada. Ao que tudo indica, não saíram totalmente frustrados do encontro com Telmo Correia. "Foi isso que ficou subentendido, que está tudo em aberto", incluindo a manutenção de um segundo canal generalista, disse Henriqueta Sabino, da RTP. "Eu penso que o CDS não fechou as portas ao diálogo, e é isso que nós queremos", disse à saída da reunião. Resta saber o que vai dizer hoje o grupo parlamentar do PSD, na reunião que ontem marcou com os trabalhadores. O maior partido da coligação governamental tem defendido intransigentemente o fim de um dos canais generalistas da RTP.

PSD Eleva Conselho de Opinião da RTP a Força de Bloqueio

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Sexta-feira, 17 de Maio de 2002

Carrilho iniciou o debate sobre a estação pública acusando o Governo de querer regressar "ao local do crime"

O líder parlamentar do PSD, Guilherme Silva, acusou ontem o Conselho de Opinião da RTP de tentar "obstaculizar" o trabalho de um Governo democraticamente eleito. Foi esta - ainda antes de conhecida a decisão do órgão consultivo - a resposta do social-democrata à intervenção do socialista ex-ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, que ontem discursou no plenário para reiterar a intenção do PS dar luta ao "crime" que o Governo se prepara para cometer na RTP.

Segundo Guilherme Silva, o Conselho de Opinião da RTP não tem "qualquer legitimidade democrática" que lhe permita travar a "execução do programa de Governo, ratificado pelo Parlamento". As acusações do jurista madeirense surgiram a propósito do já então previsível chumbo do conselho de administração para a empresa pública de televisão nomeado pelo Governo de Durão Barroso.

Também Telmo Correia se insurgiu contra o discurso do deputado socialista ao perguntar-lhe se "no seu conceito de serviço público de televisão cabe a contratação de uma astróloga por dois mil contos".

Manuel Maria Carrilho viu-se forçado a responder aos ataques, acusando o PSD de pretender "ameaçar o Conselho de Opinião da RTP". Uma situação tanto mais inaceitável quanto o facto daquele órgão ser, para o ex-ministro, a instituição "independente" que o próprio Durão Barroso havia defendido durante a campanha eleitoral. "Durão Barroso disse que, se fosse Governo, criaria uma entidade independente do Governo para regular e fiscalizar a RTP e o cumprimento do serviço público de televisão", disse antes de aconselhar o PSD a "cumprir o que está na lei".

Antes disso, já o socialista tinha classificado a presente polémica como "o regresso do criminoso ao local do crime". Isto depois de, durante o seu discurso, ter ido buscar ao passado os erros do PSD em matéria de RTP: suspensão da taxa e venda da rede de emissores no princípio dos anos 90. Com o fim do segundo canal, o actual Governo prova, considerou Carrilho, que sempre esteve mais preocupado em dar mais "atenção aos serviços privados e aos seus problemas".

João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda, seguiu a mesma linha para dizer que não acreditava "em coincidências" em relação ao PSD. E por isso tinha estranhado ver "perfeitamente reproduzidas" no programa de Governo palavras do líder da Media Capital, Paes do Amaral, numa entrevista antes das últimas legislativas.

O deputado do PCP António Filipe até poderia ter aplaudido Carrilho "se [este] se demarcasse dos últimos seis anos" em que o seu partido estivera no poder. Mas não o fez porque ouvir Carrilho criticar o PSD era como "ouvir falar de corda em casa de um enforcado".

Trabalhadores ouviram CDS dizer que está tudo em aberto

Uma delegação de trabalhadores da RTP encontrou-se também ontem, pela primeira vez, com um partido de Governo. O CDS-PP recebeu-os na Parlamento para uma reunião que durou mais de duas horas. A intenção dos trabalhadores era sensibilizar aquele grupo parlamentar para a necessidade de estudar os problemas antes de tomar decisões sobre o futuro de cada um dos canais da empresa privada. Ao que tudo indica, não saíram totalmente frustrados do encontro com Telmo Correia. "Foi isso que ficou subentendido, que está tudo em aberto", incluindo a manutenção de um segundo canal generalista, disse Henriqueta Sabino, da RTP. "Eu penso que o CDS não fechou as portas ao diálogo, e é isso que nós queremos", disse à saída da reunião. Resta saber o que vai dizer hoje o grupo parlamentar do PSD, na reunião que ontem marcou com os trabalhadores. O maior partido da coligação governamental tem defendido intransigentemente o fim de um dos canais generalistas da RTP.

marcar artigo