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20-11-2002
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João Teixeira Lopes em entrevista à Rádio Nova

Só abstenção pode vencer Fernando Gomes

Por Filipe Félix

Segunda-feira, 26 de Novembro de 2001 Previsível. Dificilmente se poderá classificar de outra forma a corrida eleitoral à Câmara Municipal do Porto que tem no candidato socialista, Fernando Gomes, um vencedor anunciado. A "novela" alimentada pelo ainda autarca portuense, Nuno Cardoso, em relação a uma possível recandidatura ao cargo e as suspeitas de irregularidades praticadas pela equipa de Gomes, acusado de violar os ficheiros da autarquia para fazer propaganda nos bairros municipais, foram as únicas notas dissonantes de uma pré-campanha feita a meio gás. Tanto assim é que as diversas sondagens já realizadas indicam que o único adversário capaz de "derrotar" o PS é a abstenção. Fernando Gomes já alertou, aliás, para os riscos que constituem as vitórias tidas como adquiridas, uma vez que desmobilizam o eleitorado. Exemplo desta situação foi o que aconteceu nas autárquicas de 1997, quando Gomes viu o seu resultado ser penalizado pela elevada taxa de abstenção então verificada.

O ponto mais significativo destas eleições já terá, porventura, acontecido. Com efeito, a partir do momento em que Nuno Cardoso tomou a opção de não ir a votos a 16 de Dezembro, ficou aberto o caminho para uma vitória confortável de Fernando Gomes, ao mesmo temp, que a coligação PSD/CDS-PP - representada por Rui Rio - viu fugir-lhe a possibilidade de aproveitar uma previsível divisão do eleitorado socialista.

As críticas que Fernando Gomes dirigiu à gestão de Cardoso nos últimos dois anos - altura em que o agora candidato do PS abandonou a Câmara para integrar o Governo de António Guterres, na qualidade de ministro da Administração Interna - ainda levaram o actual edil a ponderar avançar com uma candidatura independente.

No discurso em que anunciou o seu recuo, Nuno Cardoso não conseguiu deixar de expressar um certo azedume face à forma como o PS procedeu à escolha do seu candidato, deixando claro que estaria disposto a avançar para a recandidatura. Sem o apoio partidário, o autarca terá considerado, no entanto, que não tinha uma base de apoio suficiente que lhe permitisse vencer a corrida eleitoral.

Ainda assim, e por mais paradoxal que possa parecer, ao mesmo tempo que acusa Gomes de procurar "um protagonismo excessivo" e "balofo", Nuno Cardoso garante que irá votar no candidato socialista, respondendo desta forma ao "namoro" que lhe vinha sendo movido pelo representante da CDU, o comunista Rui Sá, que pretende manter, pelo menos, o único vereador que aquela coligação tem na Câmara Municipal.

Com igual objectivo parte o Bloco de Esquerda (BE) que tem em João Teixeira Lopes o cabeça de lista que procurará superar a soma das votações da UDP e PSR - os dois partidos que sustentam o BE - que nas últimas autárquicas não conseguiram mais do que 1,5 por cento dos votos. Desafios para o novo autarca São muitas as tarefas que a próxima equipa camarária terá pela frente. Desde logo gerir o descontentamento da população em relação ao estaleiro em que a cidade está mergulhada desde há dois anos. Com efeito, e quando os portuenses já se viam livres dos transtornos causados pelas obras da Capital Europeia da Cultura - que ainda deixou por completar a Casa da Música -, eis que surgem em força os trabalhos para a construção do Metro do Porto, que em breve deverão chegar à superfície.

Mas as consequências das obras não se farão sentir apenas ao nível dos incómodos causados aos moradores das zonas afectadas, alargando-se também ao trânsito da cidade, já por si caótico, e que deverá impossibilitar os portuenses de utilizar livremente o carro nas principais artérias da cidade.

O trânsito é, aliás, o terceiro factor de preocupação da população do Porto, de acordo com uma sondagem da Universidade Católica para o PÚBLICO, tendo apenas à sua frente a droga e criminalidade, eleitas como os problemas mais graves da cidade.

As contas da autarquia são outro dos motivos de preocupação do futuro presidente da Câmara do Porto. O endividamento da autarquia, que muitos acreditam cifrar-se entre os 23 milhões de contos (cerca de 115 milhões de euros) e os 30 milhões de contos (cerca de 150 milhões de euros) são uma dor de cabeça a ter em conta, até porque poderá condicionar a acção e os projectos da futura equipa camarária.

A polémica em torno da construção da frente urbana no Parque da Cidade, um projecto defendido pelo executivo camarário socialista e recusado pelas restantes forças partidárias, promete fazer correr ainda muita tinta. Fernando Gomes e Rui Rio estão de acordo com a realização do referendo, posição recusada por Nuno Cardoso, para quem os decisores políticos não devem rejeitar as suas responsabilidades.

A recuperação urbanística da zona histórica do Porto, com muitas dezenas de edifícios em avançado estado de deterioração e a demolição de bairros problemáticos, como o do Aleixo, defendida por Nuno Cardoso, constituem alguns dos desafios em termos de habitação.

Finalmente, a própria Capital Europeia da Cultura trará um desafio importante que passa por estimular a dinâmica cultural da cidade e proceder a uma eficaz ocupação dos espaços criados para este evento.

João Teixeira Lopes em entrevista à Rádio Nova

Só abstenção pode vencer Fernando Gomes

Por Filipe Félix

Segunda-feira, 26 de Novembro de 2001 Previsível. Dificilmente se poderá classificar de outra forma a corrida eleitoral à Câmara Municipal do Porto que tem no candidato socialista, Fernando Gomes, um vencedor anunciado. A "novela" alimentada pelo ainda autarca portuense, Nuno Cardoso, em relação a uma possível recandidatura ao cargo e as suspeitas de irregularidades praticadas pela equipa de Gomes, acusado de violar os ficheiros da autarquia para fazer propaganda nos bairros municipais, foram as únicas notas dissonantes de uma pré-campanha feita a meio gás. Tanto assim é que as diversas sondagens já realizadas indicam que o único adversário capaz de "derrotar" o PS é a abstenção. Fernando Gomes já alertou, aliás, para os riscos que constituem as vitórias tidas como adquiridas, uma vez que desmobilizam o eleitorado. Exemplo desta situação foi o que aconteceu nas autárquicas de 1997, quando Gomes viu o seu resultado ser penalizado pela elevada taxa de abstenção então verificada.

O ponto mais significativo destas eleições já terá, porventura, acontecido. Com efeito, a partir do momento em que Nuno Cardoso tomou a opção de não ir a votos a 16 de Dezembro, ficou aberto o caminho para uma vitória confortável de Fernando Gomes, ao mesmo temp, que a coligação PSD/CDS-PP - representada por Rui Rio - viu fugir-lhe a possibilidade de aproveitar uma previsível divisão do eleitorado socialista.

As críticas que Fernando Gomes dirigiu à gestão de Cardoso nos últimos dois anos - altura em que o agora candidato do PS abandonou a Câmara para integrar o Governo de António Guterres, na qualidade de ministro da Administração Interna - ainda levaram o actual edil a ponderar avançar com uma candidatura independente.

No discurso em que anunciou o seu recuo, Nuno Cardoso não conseguiu deixar de expressar um certo azedume face à forma como o PS procedeu à escolha do seu candidato, deixando claro que estaria disposto a avançar para a recandidatura. Sem o apoio partidário, o autarca terá considerado, no entanto, que não tinha uma base de apoio suficiente que lhe permitisse vencer a corrida eleitoral.

Ainda assim, e por mais paradoxal que possa parecer, ao mesmo tempo que acusa Gomes de procurar "um protagonismo excessivo" e "balofo", Nuno Cardoso garante que irá votar no candidato socialista, respondendo desta forma ao "namoro" que lhe vinha sendo movido pelo representante da CDU, o comunista Rui Sá, que pretende manter, pelo menos, o único vereador que aquela coligação tem na Câmara Municipal.

Com igual objectivo parte o Bloco de Esquerda (BE) que tem em João Teixeira Lopes o cabeça de lista que procurará superar a soma das votações da UDP e PSR - os dois partidos que sustentam o BE - que nas últimas autárquicas não conseguiram mais do que 1,5 por cento dos votos. Desafios para o novo autarca São muitas as tarefas que a próxima equipa camarária terá pela frente. Desde logo gerir o descontentamento da população em relação ao estaleiro em que a cidade está mergulhada desde há dois anos. Com efeito, e quando os portuenses já se viam livres dos transtornos causados pelas obras da Capital Europeia da Cultura - que ainda deixou por completar a Casa da Música -, eis que surgem em força os trabalhos para a construção do Metro do Porto, que em breve deverão chegar à superfície.

Mas as consequências das obras não se farão sentir apenas ao nível dos incómodos causados aos moradores das zonas afectadas, alargando-se também ao trânsito da cidade, já por si caótico, e que deverá impossibilitar os portuenses de utilizar livremente o carro nas principais artérias da cidade.

O trânsito é, aliás, o terceiro factor de preocupação da população do Porto, de acordo com uma sondagem da Universidade Católica para o PÚBLICO, tendo apenas à sua frente a droga e criminalidade, eleitas como os problemas mais graves da cidade.

As contas da autarquia são outro dos motivos de preocupação do futuro presidente da Câmara do Porto. O endividamento da autarquia, que muitos acreditam cifrar-se entre os 23 milhões de contos (cerca de 115 milhões de euros) e os 30 milhões de contos (cerca de 150 milhões de euros) são uma dor de cabeça a ter em conta, até porque poderá condicionar a acção e os projectos da futura equipa camarária.

A polémica em torno da construção da frente urbana no Parque da Cidade, um projecto defendido pelo executivo camarário socialista e recusado pelas restantes forças partidárias, promete fazer correr ainda muita tinta. Fernando Gomes e Rui Rio estão de acordo com a realização do referendo, posição recusada por Nuno Cardoso, para quem os decisores políticos não devem rejeitar as suas responsabilidades.

A recuperação urbanística da zona histórica do Porto, com muitas dezenas de edifícios em avançado estado de deterioração e a demolição de bairros problemáticos, como o do Aleixo, defendida por Nuno Cardoso, constituem alguns dos desafios em termos de habitação.

Finalmente, a própria Capital Europeia da Cultura trará um desafio importante que passa por estimular a dinâmica cultural da cidade e proceder a uma eficaz ocupação dos espaços criados para este evento.

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