Ministro da Cultura criticado por não ter peso político

24-11-2002
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Ministro da Cultura Criticado por Não Ter Peso Político

Por POR CARLOS CÂMARA LEME

Sexta-feira, 22 de Novembro de 2002

O ministro da Cultura está debaixo de fogo. Há vozes no interior do PSD que pedem mais visibilidade. A oposição não pede a cabeça de Roseta, mas crítica a sua política. A falta de dinheiro para o financiamento dos museus foi a gota de água para suscitar no Parlamento algumas perplexidades.

Na maioria parlamentar e, em particular, na bancada do PSD, há a ideia de que o ministro da Cultura, Pedro Roseta, tem pouca visibilidade e falta de peso político no interior do Governo, o que está a criar um certo mal-estar entre os sociais-democratas.

O PÚBLICO soube que vários dirigentes da JSD - alguns com assento na Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Desporto - criticaram, junto de deputados da oposição, o "low profile" de Pedro Roseta à frente dos destinos do Ministério da Cultura (MC). Estes jovens deputados dizem que o ministro "vive na estratosfera" e acham que o inquilino do Palácio da Ajuda não tem a força política necessária para pôr a cultura na agenda política do Governo.

Ou seja: sem explicitamente pedirem a cabeça do ministro, gostavam de ter um "Carrilho laranja" no Parlamento e na vida político-cultural portuguesa.

O desconvite em Outubro a Jorge Pedreira para dirigir a Biblioteca Nacional - cargo que viria a ser ocupado por Diogo Pires Aurélio, aparentemente por pressões do próprio primeiro-ministro Durão Barroso - motivou críticas da oposição mas houve alguns socias-democratas que se sentiram também incomodados (ver caixa).

Ao PÚBLICO, Pedro Roseta reagiu ontem com serenidade: "Estou aqui para prestar um serviço - essa é a minha visão da política. Ser popular não me interessa."

Ainda que haja entre maioria e oposição a noção muito clara de que Pedro Roseta é um homem culto, civilizado e aberto aos desafios que estão colocados à cultura portuguesa e contemporânea, já quanto à situação de Roseta no Governo as opiniões dividem-se.

"Se tem força política? Espero que tenha e tem todo o nosso apoio", disse ao PÚBLICO Gonçalo Capitão, vice-presidente do grupo parlamentar do PSD. "Poderá não ser um gladiador mas é um sábio", acrescentou o deputado laranja.

Ontem, o "Diário Económico" noticiava que Roseta teria pedido à ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, o descongelamento das verbas oriundas do Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) - 8,3 milhões de euros - e das despesas de funcionamento do MC, da ordem de um milhão de euros.

Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete de imprensa do Ministério das Finanças foi lacónico: "Não fazemos comentários." E remeteu qualquer decisão para Ferreira Leite.

Se os deputados da maioria achavam que o ministro iria encontrar uma solução para os vários problemas de paralisação de alguns organismos tutelados pelo MC - os museus em particular -, já os da oposição mostravam-se cépticos: "Por que razão Ferreira Leite iria abrir esta excepção?"

É aqui que entra, de novo, a força política que Roseta tem, ou não, no interior do Executivo. Augusto Santos Silva, o último responsável pela pasta da Cultura dos governos socialistas de António Guterres, e actual porta-voz do PS para a Cultura, pensa que "Roseta está politicamente isolado no interior do Governo e na sua relação com a maioria parlamentar, a qual tem um discurso e prática políticas que contradizem o pendor humanista de Pedro Roseta" - uma tese partilhada por João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda. "Mas o PS", sublinha Santos Silva, "não pede a demissão do ministro."

Um pesadelo suicida

Os comunistas afinam pelo mesmo diapasão: "Não me peçam para atirar achas para a fogueira. Pedro Roseta é uma pessoa que nos merece todo o respeito." Quem o diz é a deputada Luísa Mesquita, do grupo parlamentar do PCP. "Agora o que não podemos deixar passar em claro é que os cortes realizados em 2002 e o que vai acontecer em 2003 é muito grave."

A situação em que se encontram os museus - "estamos habituados a ter poucos meios, mas assim não poderemos continuar por muito mais tempo", resumia ontem Teresa Viana, do Soares dos Reis, no Porto, ao PÚBLICO - é vista por todos os deputados, da maioria ou da oposição, como muito preocupante.

Confrontados pelo PÚBLICO, Santos Silva e Gonçalo Capitão até parecem estar do mesmo lado da barricada. Enquanto o socialista diz que "se com o PS já se estava nos mínimos aceitáveis, este corte é suicida, não há mais margens para cortar, porque coloca os museus abaixo da linha de água", o social-democrata afirma: "Mal estaríamos se os museus paralisassem. Nem quero pensar nisso nos meus piores pesadelos".

João Pinho de Almeida, deputado do CDS/PP, concorda: "Em caso algum pode ser posto em causa o funcionamento dos museus."

O ministro, que dará hoje posse a Manuel Oleiro como director do Instituto Português de Museus (IPM) numa cerimónia no Museu Nacional de Arte Antiga, não quis adiantar ontem como vai resolver a situação: "Falarei na tomada de posse. Não é agradável que o presidente do IPM saiba pelos jornais as soluções", disse Roseta.

Ministro da Cultura Criticado por Não Ter Peso Político

Por POR CARLOS CÂMARA LEME

Sexta-feira, 22 de Novembro de 2002

O ministro da Cultura está debaixo de fogo. Há vozes no interior do PSD que pedem mais visibilidade. A oposição não pede a cabeça de Roseta, mas crítica a sua política. A falta de dinheiro para o financiamento dos museus foi a gota de água para suscitar no Parlamento algumas perplexidades.

Na maioria parlamentar e, em particular, na bancada do PSD, há a ideia de que o ministro da Cultura, Pedro Roseta, tem pouca visibilidade e falta de peso político no interior do Governo, o que está a criar um certo mal-estar entre os sociais-democratas.

O PÚBLICO soube que vários dirigentes da JSD - alguns com assento na Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Desporto - criticaram, junto de deputados da oposição, o "low profile" de Pedro Roseta à frente dos destinos do Ministério da Cultura (MC). Estes jovens deputados dizem que o ministro "vive na estratosfera" e acham que o inquilino do Palácio da Ajuda não tem a força política necessária para pôr a cultura na agenda política do Governo.

Ou seja: sem explicitamente pedirem a cabeça do ministro, gostavam de ter um "Carrilho laranja" no Parlamento e na vida político-cultural portuguesa.

O desconvite em Outubro a Jorge Pedreira para dirigir a Biblioteca Nacional - cargo que viria a ser ocupado por Diogo Pires Aurélio, aparentemente por pressões do próprio primeiro-ministro Durão Barroso - motivou críticas da oposição mas houve alguns socias-democratas que se sentiram também incomodados (ver caixa).

Ao PÚBLICO, Pedro Roseta reagiu ontem com serenidade: "Estou aqui para prestar um serviço - essa é a minha visão da política. Ser popular não me interessa."

Ainda que haja entre maioria e oposição a noção muito clara de que Pedro Roseta é um homem culto, civilizado e aberto aos desafios que estão colocados à cultura portuguesa e contemporânea, já quanto à situação de Roseta no Governo as opiniões dividem-se.

"Se tem força política? Espero que tenha e tem todo o nosso apoio", disse ao PÚBLICO Gonçalo Capitão, vice-presidente do grupo parlamentar do PSD. "Poderá não ser um gladiador mas é um sábio", acrescentou o deputado laranja.

Ontem, o "Diário Económico" noticiava que Roseta teria pedido à ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, o descongelamento das verbas oriundas do Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) - 8,3 milhões de euros - e das despesas de funcionamento do MC, da ordem de um milhão de euros.

Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete de imprensa do Ministério das Finanças foi lacónico: "Não fazemos comentários." E remeteu qualquer decisão para Ferreira Leite.

Se os deputados da maioria achavam que o ministro iria encontrar uma solução para os vários problemas de paralisação de alguns organismos tutelados pelo MC - os museus em particular -, já os da oposição mostravam-se cépticos: "Por que razão Ferreira Leite iria abrir esta excepção?"

É aqui que entra, de novo, a força política que Roseta tem, ou não, no interior do Executivo. Augusto Santos Silva, o último responsável pela pasta da Cultura dos governos socialistas de António Guterres, e actual porta-voz do PS para a Cultura, pensa que "Roseta está politicamente isolado no interior do Governo e na sua relação com a maioria parlamentar, a qual tem um discurso e prática políticas que contradizem o pendor humanista de Pedro Roseta" - uma tese partilhada por João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda. "Mas o PS", sublinha Santos Silva, "não pede a demissão do ministro."

Um pesadelo suicida

Os comunistas afinam pelo mesmo diapasão: "Não me peçam para atirar achas para a fogueira. Pedro Roseta é uma pessoa que nos merece todo o respeito." Quem o diz é a deputada Luísa Mesquita, do grupo parlamentar do PCP. "Agora o que não podemos deixar passar em claro é que os cortes realizados em 2002 e o que vai acontecer em 2003 é muito grave."

A situação em que se encontram os museus - "estamos habituados a ter poucos meios, mas assim não poderemos continuar por muito mais tempo", resumia ontem Teresa Viana, do Soares dos Reis, no Porto, ao PÚBLICO - é vista por todos os deputados, da maioria ou da oposição, como muito preocupante.

Confrontados pelo PÚBLICO, Santos Silva e Gonçalo Capitão até parecem estar do mesmo lado da barricada. Enquanto o socialista diz que "se com o PS já se estava nos mínimos aceitáveis, este corte é suicida, não há mais margens para cortar, porque coloca os museus abaixo da linha de água", o social-democrata afirma: "Mal estaríamos se os museus paralisassem. Nem quero pensar nisso nos meus piores pesadelos".

João Pinho de Almeida, deputado do CDS/PP, concorda: "Em caso algum pode ser posto em causa o funcionamento dos museus."

O ministro, que dará hoje posse a Manuel Oleiro como director do Instituto Português de Museus (IPM) numa cerimónia no Museu Nacional de Arte Antiga, não quis adiantar ontem como vai resolver a situação: "Falarei na tomada de posse. Não é agradável que o presidente do IPM saiba pelos jornais as soluções", disse Roseta.

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