Suplemento Economia

04-12-2002
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Segunda-feira, 11 de Novembro de 2002

O debate em Comissão Parlamentar de Economia e Finanças decorria num ritmo pacífico, a discutir na especialidade a proposta de Orçamento do Estado para 2003. Joel Hasse Ferreira, do PS, trata sempre com deferência a antiga colega presidente da comissão, hoje ministra das Finanças. Lino de carvalho, do PCP, apesar de um estilo mais directo, gera saudades na ministra, como ela já reconheceu na comissão. Mas não acontece com todos. Estava Manuela Ferreira Leite a responder ao presidente João Cravinho quando José Sócrates, do PS, fez um aparte. A ministra não se conteve: "Ó senhor presidente, mande calar ali o senhor deputado José Sócrates que me enerva!" O senhor presidente avisou o deputado que teria de se inscrever. Sócrates aproveitou a aberta para querer falar, mas o presidente não deixou. Sócrates lá conseguiu que o deputado Vítor Baptista trocasse com ele e fez a sua intervenção. Era apenas para frisar que a ministra, que - por uma questão de disciplina - defende sempre a aplicação do critério de défice de três por cento, tinha deixado o país, em 1993, com um défice de 6,8 por cento do PIB. "É uma mancha no seu currículo", conclui. "O senhor deputado não sabe o que está a dizer", respondeu a ministra. "O saldo primário nesse ano foi de zero. Em nome do crédito do seu partido, não fale mais nisso." Sócrates sorria.

Agora que se instala a discussão sobre a defesa dos centros de decisão nacionais, face ao iminente perigo castelhano, era importante mostrar que Portugal tem alguma mais-valia. Num artigo do "El Pais" (3/11/02) agitado no Parlamento pela oposição, são referidas questões e expedientes orçamentais que há muito vêm sendo discutidos em Portugal, o que revela o nosso poder de antecipação. Ou talvez a ginástica orçamental possível em época de contenção, sob um cenário espartilhado por um quadro de convergência rígido.

"A credibilidade dos orçamentos gerais do Estado para 2003 é duvidosa", começa o artigo do jornal espanhol num tom claramente opinativo. "As hipóteses de crescimento e inflação que sustentam os cálculos de receitas e despesas públicas têm difícil defesa", prossegue o artigo em tom militante. "Em consequência, a previsão de equilíbrio orçamental para o ano que vem só se sustenta na aparência." Défices pagos pelo fundos da União Europeia, por dinheiros da Segurança Social, previsões inflacionadas, défice por ocultação de despesas e ainda os famigerados "apagões estatísticos", tudo parece demasiado familiar para quem leia o jornal espanhol. A oposição divide-se quanto a haver um espanhol no Ministério das Finanças ou um assessor português no Governo espanhol.

Segunda-feira, 11 de Novembro de 2002

O debate em Comissão Parlamentar de Economia e Finanças decorria num ritmo pacífico, a discutir na especialidade a proposta de Orçamento do Estado para 2003. Joel Hasse Ferreira, do PS, trata sempre com deferência a antiga colega presidente da comissão, hoje ministra das Finanças. Lino de carvalho, do PCP, apesar de um estilo mais directo, gera saudades na ministra, como ela já reconheceu na comissão. Mas não acontece com todos. Estava Manuela Ferreira Leite a responder ao presidente João Cravinho quando José Sócrates, do PS, fez um aparte. A ministra não se conteve: "Ó senhor presidente, mande calar ali o senhor deputado José Sócrates que me enerva!" O senhor presidente avisou o deputado que teria de se inscrever. Sócrates aproveitou a aberta para querer falar, mas o presidente não deixou. Sócrates lá conseguiu que o deputado Vítor Baptista trocasse com ele e fez a sua intervenção. Era apenas para frisar que a ministra, que - por uma questão de disciplina - defende sempre a aplicação do critério de défice de três por cento, tinha deixado o país, em 1993, com um défice de 6,8 por cento do PIB. "É uma mancha no seu currículo", conclui. "O senhor deputado não sabe o que está a dizer", respondeu a ministra. "O saldo primário nesse ano foi de zero. Em nome do crédito do seu partido, não fale mais nisso." Sócrates sorria.

Agora que se instala a discussão sobre a defesa dos centros de decisão nacionais, face ao iminente perigo castelhano, era importante mostrar que Portugal tem alguma mais-valia. Num artigo do "El Pais" (3/11/02) agitado no Parlamento pela oposição, são referidas questões e expedientes orçamentais que há muito vêm sendo discutidos em Portugal, o que revela o nosso poder de antecipação. Ou talvez a ginástica orçamental possível em época de contenção, sob um cenário espartilhado por um quadro de convergência rígido.

"A credibilidade dos orçamentos gerais do Estado para 2003 é duvidosa", começa o artigo do jornal espanhol num tom claramente opinativo. "As hipóteses de crescimento e inflação que sustentam os cálculos de receitas e despesas públicas têm difícil defesa", prossegue o artigo em tom militante. "Em consequência, a previsão de equilíbrio orçamental para o ano que vem só se sustenta na aparência." Défices pagos pelo fundos da União Europeia, por dinheiros da Segurança Social, previsões inflacionadas, défice por ocultação de despesas e ainda os famigerados "apagões estatísticos", tudo parece demasiado familiar para quem leia o jornal espanhol. A oposição divide-se quanto a haver um espanhol no Ministério das Finanças ou um assessor português no Governo espanhol.

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