Bloco quer determinar governação de eventual Executivo PS

18-02-2005
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Bloco Quer Determinar Governação de Eventual Executivo PS

Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005

Francisco Louçã deixa recados internos sobre "responsabilidade histórica" do partido nas eleições do dia 20

Maria José Oliveira

Uma "responsabilidade histórica". Foi assim que Francisco Louçã designou a "vitória" do Bloco de Esquerda (BE) nas eleições legislativas: "Esta vitória que teremos no dia 20 é uma responsabilidade enorme, é mesmo uma responsabilidade histórica."

No discurso que proferiu no mega-comício (para a escala bloquista, mais de 700 pessoas é um feito) realizado em Braga, anteontem à noite, Louçã falou na "responsabilidade histórica" que o BE pode ganhar nas eleições para lançar recados externos. Naquela afirmação estava, porém, também um aviso interno, cujo objectivo é desde já impedir a abertura de eventuais divisões dentro do partido. Perante um cenário de uma eventual maioria relativa do PS, que obrigará os socialistas a firmar alianças com outros partidos, o Bloco quer fazer parte da "história" com a viabilização, em determinados termos, da governação do país.

Daí se compreendem as reicidentes críticas dos bloquistas à ausência de "compromissos" por parte do PS. Anteontem à noite, Louçã repetiu: "O eng. Sócrates não se compromete com políticas (....), mas nós comprometemo-nos e essa é toda a nossa diferença." Mais uma vez, Francisco Louçã replicou as declarações de alguns dirigentes socialistas (como António Costa), que já anunciaram publicamente que os projectos do eventual Governo do PS não serão condicionados pelo Bloco de Esquerda.

A quatro dias das eleições legislativas, Louçã começa a acentuar nas suas intervenções a necessidade de o eventual Governo PS não ter outra alternativa se não realizar acordos de índole parlamentar com o Bloco. Por isso, no comício de Braga salientou que "não existem diferenças" entre o PSD e o CDS/PP - "Não finjam que estão separados", afirmou, "são uma única pessoa, um único Governo". E regressou aos avisos para o PS. "Nós somos a derrota da direita, nós somos o compromisso dessa derrota", disse, sem explicitar se se referia aos sociais-democratas ou aos democratas-cristãos.

Os "compromissos" aos quais aludia eram aqueles que o Bloco tem vindo a evocar desde o início da campanha: "Nós comprometemo-nos com a convergência das pensões ao salário mínimo, com a reforma do sistema político, com a limitação de mandatos políticos, com uma política concreta de combate ao desemprego." Louçã desfiou ainda mais "compromissos" e voltou a sublinhar que o Bloco é "a maioria deste país".

Mais explícito nas mensagens para os socialistas, o cabeça de lista pelo distrito de Lisboa declarou ainda que as eleições do dia 20 constituem uma "oportunidade para uma nova esquerda" e que, ao longo da campanha, os bloquistas têm recolhido "muita força por este país inteiro".

Já terminado o comício-concerto, que encerrou com a actuação de Pedro Abrunhosa, Francisco Louçã, interpelado pelos jornalistas sobre a hipótese de o eventual Governo PS optar por fazer acordos com o CDS/PP, começou por dizer que não podia responder pelo secretário-geral dos socialistas, José Sócrates. Logo a seguir, contudo, lembrou as "experiências" dos governos de António Guterres, que preferiu "fazer alianças com o PSD e o CDS". Para Louçã, "o que acontecerá agora dependerá exclusivamente dos resultados do dia 20". Por isso, os bloquistas lutam por uma elevada fasquia - a de ultrapassar os resultados do CDS/PP. Se tal acontecer, "mais difíceis serão as alianças com a direita", explicou, recusando novamente nomear o PSD e o CDS/PP.

"Ó doutor Louçã pode cumprimentar que eu não mordo"

As acções do dia de ontem - distribuição de propaganda pelo centro de Santarém e a visita a uma das clínicas de medicina tracional chinesa de Pedro Choy (terceiro candidato por aquele distrito) - teriam tido uma importância mínima, não fosse o facto de se ter assistido a um episódio inédito na campanha dos bloquistas.

Naquele que foi o primeiro encontro de rua (desde o arranque da campanha oficial) da comitiva do BE com um outro grupo partidário adversário - neste caso, o Partido da Nova Democracia (PND) -, Francisco Louçã fugiu literalmente aos habituais cumprimentos que acontecem nestes momentos. Quando Manuel Monteiro, que encabeçava a comitiva da Nova Democracia (ND), estava prestes a atravessar a rua para cumprimentar Louçã, eis que surge uma ambulância. Os bloquistas aproveitaram a passagem da carrinha para prosseguir, em passo bastante apressado, o seu caminho, deixando Monteiro e o seu grupo estarrecidos com tal situação e parados no meio da rua.

O líder do PND ainda gritou, acenando: "Ó doutor Louçã, bom dia! Pode cumprimentar, que eu não mordo." Os bloquistas nem olharam para trás. Questionado pelo PÚBLICO sobre o facto de se ter recusado a cumprimentar a comitiva do PND, Louçã respondeu: "Mas eu cumprimentei-o. Só que passou uma ambulância." Cumprimentou-o como? "Acenei", justificou.

ALTO

É verdade que foram buscar pessoas ao Porto, Famalicão e Barcelos, mas o comício de Braga foi um dos momentos altos da campanha bloquista. Até porque a maior parte do público esteve ali para ouvir os dirigentes do Bloco e não para ouvir cantar Pedro Abrunhosa. Quando este subiu ao palco, muitas pessoas saíram da sala.

BAIXO

A falta de "fair play" de Francisco Louçã ao fugir de Manuel Monteiro para evitar cumprimentar o líder da Nova Democracia. Será assim que Louçã reage àquilo que não está devidamente previsto?

Bloco Quer Determinar Governação de Eventual Executivo PS

Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005

Francisco Louçã deixa recados internos sobre "responsabilidade histórica" do partido nas eleições do dia 20

Maria José Oliveira

Uma "responsabilidade histórica". Foi assim que Francisco Louçã designou a "vitória" do Bloco de Esquerda (BE) nas eleições legislativas: "Esta vitória que teremos no dia 20 é uma responsabilidade enorme, é mesmo uma responsabilidade histórica."

No discurso que proferiu no mega-comício (para a escala bloquista, mais de 700 pessoas é um feito) realizado em Braga, anteontem à noite, Louçã falou na "responsabilidade histórica" que o BE pode ganhar nas eleições para lançar recados externos. Naquela afirmação estava, porém, também um aviso interno, cujo objectivo é desde já impedir a abertura de eventuais divisões dentro do partido. Perante um cenário de uma eventual maioria relativa do PS, que obrigará os socialistas a firmar alianças com outros partidos, o Bloco quer fazer parte da "história" com a viabilização, em determinados termos, da governação do país.

Daí se compreendem as reicidentes críticas dos bloquistas à ausência de "compromissos" por parte do PS. Anteontem à noite, Louçã repetiu: "O eng. Sócrates não se compromete com políticas (....), mas nós comprometemo-nos e essa é toda a nossa diferença." Mais uma vez, Francisco Louçã replicou as declarações de alguns dirigentes socialistas (como António Costa), que já anunciaram publicamente que os projectos do eventual Governo do PS não serão condicionados pelo Bloco de Esquerda.

A quatro dias das eleições legislativas, Louçã começa a acentuar nas suas intervenções a necessidade de o eventual Governo PS não ter outra alternativa se não realizar acordos de índole parlamentar com o Bloco. Por isso, no comício de Braga salientou que "não existem diferenças" entre o PSD e o CDS/PP - "Não finjam que estão separados", afirmou, "são uma única pessoa, um único Governo". E regressou aos avisos para o PS. "Nós somos a derrota da direita, nós somos o compromisso dessa derrota", disse, sem explicitar se se referia aos sociais-democratas ou aos democratas-cristãos.

Os "compromissos" aos quais aludia eram aqueles que o Bloco tem vindo a evocar desde o início da campanha: "Nós comprometemo-nos com a convergência das pensões ao salário mínimo, com a reforma do sistema político, com a limitação de mandatos políticos, com uma política concreta de combate ao desemprego." Louçã desfiou ainda mais "compromissos" e voltou a sublinhar que o Bloco é "a maioria deste país".

Mais explícito nas mensagens para os socialistas, o cabeça de lista pelo distrito de Lisboa declarou ainda que as eleições do dia 20 constituem uma "oportunidade para uma nova esquerda" e que, ao longo da campanha, os bloquistas têm recolhido "muita força por este país inteiro".

Já terminado o comício-concerto, que encerrou com a actuação de Pedro Abrunhosa, Francisco Louçã, interpelado pelos jornalistas sobre a hipótese de o eventual Governo PS optar por fazer acordos com o CDS/PP, começou por dizer que não podia responder pelo secretário-geral dos socialistas, José Sócrates. Logo a seguir, contudo, lembrou as "experiências" dos governos de António Guterres, que preferiu "fazer alianças com o PSD e o CDS". Para Louçã, "o que acontecerá agora dependerá exclusivamente dos resultados do dia 20". Por isso, os bloquistas lutam por uma elevada fasquia - a de ultrapassar os resultados do CDS/PP. Se tal acontecer, "mais difíceis serão as alianças com a direita", explicou, recusando novamente nomear o PSD e o CDS/PP.

"Ó doutor Louçã pode cumprimentar que eu não mordo"

As acções do dia de ontem - distribuição de propaganda pelo centro de Santarém e a visita a uma das clínicas de medicina tracional chinesa de Pedro Choy (terceiro candidato por aquele distrito) - teriam tido uma importância mínima, não fosse o facto de se ter assistido a um episódio inédito na campanha dos bloquistas.

Naquele que foi o primeiro encontro de rua (desde o arranque da campanha oficial) da comitiva do BE com um outro grupo partidário adversário - neste caso, o Partido da Nova Democracia (PND) -, Francisco Louçã fugiu literalmente aos habituais cumprimentos que acontecem nestes momentos. Quando Manuel Monteiro, que encabeçava a comitiva da Nova Democracia (ND), estava prestes a atravessar a rua para cumprimentar Louçã, eis que surge uma ambulância. Os bloquistas aproveitaram a passagem da carrinha para prosseguir, em passo bastante apressado, o seu caminho, deixando Monteiro e o seu grupo estarrecidos com tal situação e parados no meio da rua.

O líder do PND ainda gritou, acenando: "Ó doutor Louçã, bom dia! Pode cumprimentar, que eu não mordo." Os bloquistas nem olharam para trás. Questionado pelo PÚBLICO sobre o facto de se ter recusado a cumprimentar a comitiva do PND, Louçã respondeu: "Mas eu cumprimentei-o. Só que passou uma ambulância." Cumprimentou-o como? "Acenei", justificou.

ALTO

É verdade que foram buscar pessoas ao Porto, Famalicão e Barcelos, mas o comício de Braga foi um dos momentos altos da campanha bloquista. Até porque a maior parte do público esteve ali para ouvir os dirigentes do Bloco e não para ouvir cantar Pedro Abrunhosa. Quando este subiu ao palco, muitas pessoas saíram da sala.

BAIXO

A falta de "fair play" de Francisco Louçã ao fugir de Manuel Monteiro para evitar cumprimentar o líder da Nova Democracia. Será assim que Louçã reage àquilo que não está devidamente previsto?

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