Jerónimo responde a Alegre usando diferenças entre os socialistas

09-02-2005
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Jerónimo Responde a Alegre Usando Diferenças Entre Os Socialistas

Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005

Líder comunista prometeu, no Cacém, "combate" ao aumento da idade de reform

Natália Faria

A caça ao voto de protesto iniciada pelo PS (ver PÚBLICO de ontem) não passou despercebida ao secretário-geral do PCP. Durante o almoço de ontem com apoiantes do Cacém, em Sintra, Jerónimo de Sousa investiu forte contra os socialistas que, na véspera, tinham qualificado o voto no PCP de "inútil e até perigoso". Como? Explorando as clivagens internas no seio dos socialistas.

"Não era Manuel Alegre que dizia que o PS, para ser de esquerda, tinha que revogar o Código do Trabalho? E não era ele que, de uma forma quase angustiante, dizia a Sócrates que, se não conseguissem a maioria absoluta era necessário um entendimento à esquerda?", questionou o líder dos comunistas, para acusar: "Afinal, esqueceu-se destes apelos angustiantes e vem agora dizer que no seio do PS lá se hão-de entender."

Num tom irónico, Jerónimo de Sousa recuou ao tempo em que Manuel Alegre e José Sócrates disputaram a liderança do PS para alegar que a CDU até encontrou inspiração nas preocupações de Alegre, nomeadamente quando este propalava que o PS não podia pactuar com as privatizações na Saúde e na Segurança Social. Concluído o "flash-back", Jerónimo acusou o deputado-poeta de andar agora a querer convencer o eleitorado de que o PS pode ser transformado numa "espécie de albergue espanhol onde tudo cabe". "Esqueceu-se que Sócrates já afirmou que, ganhando as eleições, quem decide é ele", desferiu o líder do PCP, sobrancelhas erguidas a sublinhar o espanto.

A insistência de Jerónimo de Sousa na necessidade do voto na CDU para garantir uma governação à esquerda, entusiasmou os perto de 400 comensais que não se importaram de pagar 15 euros para se juntarem naquela que é, na opinião de um taxista local, "a parte negra de Sintra". Traduzindo: subúrbio-dormitório, com a paisagem desfeada por prédios anárquicos, habitados por gente que desespera com os engarrafamentos diários no IC-19, que liga a Lisboa.

Por isso mesmo, o líder do PCP dedicou a segunda parte do discurso aos "desempregados, empregados com baixos salários, agricultores à beira da ruína e às classes médias garroteadas pelas políticas de direita dos últimos governos". Sublinhando que o objectivo das eleições de 20 de Fevereiro não é a eleição do primeiro-ministro, mas de 230 deputados, alegou que o voto na CDU pode ser o garante do protesto face "àquilo que o PS pretende".

E aquilo que Sócrates pretende, ainda na opinião de Jerónimo de Sousa, está espelhado no respectivo programa eleitoral. "Como é possível que se esqueça dos mais de 250 mil trabalhadores que têm um salário mínimo nacional que significa muitas vezes trabalhar empobrecendo?", indignou-se. Procurando sempre falar ao coração daquele que é o eleitorado nacional da CDU, Jerónimo prometeu vociferar contra "a ideia peregrina" de que é preciso, tendo em conta o aumento da esperança de vida, aumentar a idade da reforma. "Como é possível que um PS, que deveria ser de esquerda, diga isto às centenas de milhares de portugueses que estão no limiar da reforma?", interrogou, para deixar claro o aviso: "Queremos dizer ao PS que, se avança com esta medida, terá o nosso combate."

CX

Positivo

Uma encenação teatral imprimiu colorido ao figurino que habitualmente rege os almoços com os militantes. Apesar do guião algo ingénuo, os comensais rejubilaram com os operários que, de fatos-macacos e ferramentas, se insurgiram vitoriosamente contra a exploração dos patrões, representados por alguém de chapéu aristocrático e barriga inchada à custa de almofadas. No final, os apoiantes ergueram o punho cerrado para entoar a plenos pulmões o "Avante, camaradas...".

Negativo

O frio de enregelar os ossos que se sentiu durante todo o almoço, que decorreu num pavilhão com cadeiras de plástico e chão de cimento. O som da chuva que caiu impiedosamente durante o almoço deixou alguns militantes com dificuldades em ouvir as palavras do secretário-geral

Jerónimo Responde a Alegre Usando Diferenças Entre Os Socialistas

Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005

Líder comunista prometeu, no Cacém, "combate" ao aumento da idade de reform

Natália Faria

A caça ao voto de protesto iniciada pelo PS (ver PÚBLICO de ontem) não passou despercebida ao secretário-geral do PCP. Durante o almoço de ontem com apoiantes do Cacém, em Sintra, Jerónimo de Sousa investiu forte contra os socialistas que, na véspera, tinham qualificado o voto no PCP de "inútil e até perigoso". Como? Explorando as clivagens internas no seio dos socialistas.

"Não era Manuel Alegre que dizia que o PS, para ser de esquerda, tinha que revogar o Código do Trabalho? E não era ele que, de uma forma quase angustiante, dizia a Sócrates que, se não conseguissem a maioria absoluta era necessário um entendimento à esquerda?", questionou o líder dos comunistas, para acusar: "Afinal, esqueceu-se destes apelos angustiantes e vem agora dizer que no seio do PS lá se hão-de entender."

Num tom irónico, Jerónimo de Sousa recuou ao tempo em que Manuel Alegre e José Sócrates disputaram a liderança do PS para alegar que a CDU até encontrou inspiração nas preocupações de Alegre, nomeadamente quando este propalava que o PS não podia pactuar com as privatizações na Saúde e na Segurança Social. Concluído o "flash-back", Jerónimo acusou o deputado-poeta de andar agora a querer convencer o eleitorado de que o PS pode ser transformado numa "espécie de albergue espanhol onde tudo cabe". "Esqueceu-se que Sócrates já afirmou que, ganhando as eleições, quem decide é ele", desferiu o líder do PCP, sobrancelhas erguidas a sublinhar o espanto.

A insistência de Jerónimo de Sousa na necessidade do voto na CDU para garantir uma governação à esquerda, entusiasmou os perto de 400 comensais que não se importaram de pagar 15 euros para se juntarem naquela que é, na opinião de um taxista local, "a parte negra de Sintra". Traduzindo: subúrbio-dormitório, com a paisagem desfeada por prédios anárquicos, habitados por gente que desespera com os engarrafamentos diários no IC-19, que liga a Lisboa.

Por isso mesmo, o líder do PCP dedicou a segunda parte do discurso aos "desempregados, empregados com baixos salários, agricultores à beira da ruína e às classes médias garroteadas pelas políticas de direita dos últimos governos". Sublinhando que o objectivo das eleições de 20 de Fevereiro não é a eleição do primeiro-ministro, mas de 230 deputados, alegou que o voto na CDU pode ser o garante do protesto face "àquilo que o PS pretende".

E aquilo que Sócrates pretende, ainda na opinião de Jerónimo de Sousa, está espelhado no respectivo programa eleitoral. "Como é possível que se esqueça dos mais de 250 mil trabalhadores que têm um salário mínimo nacional que significa muitas vezes trabalhar empobrecendo?", indignou-se. Procurando sempre falar ao coração daquele que é o eleitorado nacional da CDU, Jerónimo prometeu vociferar contra "a ideia peregrina" de que é preciso, tendo em conta o aumento da esperança de vida, aumentar a idade da reforma. "Como é possível que um PS, que deveria ser de esquerda, diga isto às centenas de milhares de portugueses que estão no limiar da reforma?", interrogou, para deixar claro o aviso: "Queremos dizer ao PS que, se avança com esta medida, terá o nosso combate."

CX

Positivo

Uma encenação teatral imprimiu colorido ao figurino que habitualmente rege os almoços com os militantes. Apesar do guião algo ingénuo, os comensais rejubilaram com os operários que, de fatos-macacos e ferramentas, se insurgiram vitoriosamente contra a exploração dos patrões, representados por alguém de chapéu aristocrático e barriga inchada à custa de almofadas. No final, os apoiantes ergueram o punho cerrado para entoar a plenos pulmões o "Avante, camaradas...".

Negativo

O frio de enregelar os ossos que se sentiu durante todo o almoço, que decorreu num pavilhão com cadeiras de plástico e chão de cimento. O som da chuva que caiu impiedosamente durante o almoço deixou alguns militantes com dificuldades em ouvir as palavras do secretário-geral

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