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29-04-2003
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Boas notícias para o PS Por entre o turbilhão de relatos da guerra, ainda é possível surgirem algumas pequenas notícias animadoras, que ajudam a contrariar o pessimismo instalado. E num partido momentaneamente irreconhecível no seu radicalismo oratório e frentista, como o PS, ainda há pequenos acontecimentos a demonstrar que nem tudo está perdido. É o caso da inesperada derrota de um dos mais persistentes símbolos do aparelhismo partidário, Narciso Miranda, na eleição para a federação do Porto do PS, a maior do país. Narciso Miranda é, há longos anos, uma das figuras emblemáticas do sistema ou do modelo aparelhístico que domina a vida política portuguesa. Por um lado, naquilo que o aparelhismo partidário tem de positivo, como a combatividade de que sempre deu provas, o espírito de sacrifício da vida pessoal e a dedicação ao partido, a capacidade de organização ou a continuidade de trabalho e de participação nos bons e nos maus momentos, nas vitórias e nas derrotas. Narciso Miranda é, há longos anos, uma das figuras emblemáticas do sistema ou do modelo aparelhístico que domina a vida política portuguesa. Por um lado, naquilo que o aparelhismo partidário tem de positivo, como a combatividade de que sempre deu provas, o espírito de sacrifício da vida pessoal e a dedicação ao partido, a capacidade de organização ou a continuidade de trabalho e de participação nos bons e nos maus momentos, nas vitórias e nas derrotas. Mas, por outro lado, Narciso Miranda é, também, uma das faces mais cristalizadas daquilo que o aparelhismo tem de pior e de mais nocivo para o funcionamento da democracia. Os aparelhos dos partidos -- o seu corpo de funcionários e múltiplos dirigentes, a nível nacional, regional e local -- vivem, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar. Mas, por outro lado, Narciso Miranda é, também, uma das faces mais cristalizadas daquilo que o aparelhismo tem de pior e de mais nocivo para o funcionamento da democracia. Os aparelhos dos partidos -- o seu corpo de funcionários e múltiplos dirigentes, a nível nacional, regional e local -- vivem, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar. Nas concelhias, nas federações, nas listas para deputados são sempre os mesmos, com mais uns tios, primos, filhos e afilhados, a dividir os lugares e o poder, com raras alternâncias entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. É este sistema que, no momento da ascensão dos partidos ao poder, dá origem aos «jobs for the boys» ou aos privilégios para quem possui «cartão laranja». Nas concelhias, nas federações, nas listas para deputados são sempre os mesmos, com mais uns tios, primos, filhos e afilhados, a dividir os lugares e o poder, com raras alternâncias entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. É este sistema que, no momento da ascensão dos partidos ao poder, dá origem aos «jobs for the boys» ou aos privilégios para quem possui «cartão laranja». Mas o aparelhismo dos partidos tem outras componentes perversas, como o mundo obscuro dos financiamentos partidários ou a teia de interesses comprometedores que estabelece com empreiteiros, empresários, especuladores imobiliários, pequenos e grandes patrões do futebol, etc. Com o consequente tráfico de influências de que se alimenta essa teia. Mas o aparelhismo dos partidos tem outras componentes perversas, como o mundo obscuro dos financiamentos partidários ou a teia de interesses comprometedores que estabelece com empreiteiros, empresários, especuladores imobiliários, pequenos e grandes patrões do futebol, etc. Com o consequente tráfico de influências de que se alimenta essa teia. Daí que se saúde este sinal de mudança no poderoso aparelho da federação socialista do Porto. Não que a vitória de Francisco Assis represente um corte radical com os hábitos e interesses instalados (basta lembrar que, entre os seus apoiantes, se contam nomes como o de Orlando Gaspar, outro dinossauro do aparelhismo partidário e um dos principais responsáveis pelo descrédito em que há muito caiu a organização socialista no Porto). Mas porque a derrota de Narciso Miranda constitui uma oportunidade para a renovação, um virar de página, uma lufada de ar fresco num aparelho quase irrespirável. Daí que se saúde este sinal de mudança no poderoso aparelho da federação socialista do Porto. Não que a vitória de Francisco Assis represente um corte radical com os hábitos e interesses instalados (basta lembrar que, entre os seus apoiantes, se contam nomes como o de Orlando Gaspar, outro dinossauro do aparelhismo partidário e um dos principais responsáveis pelo descrédito em que há muito caiu a organização socialista no Porto). Mas porque a derrota de Narciso Miranda constitui uma oportunidade para a renovação, um virar de página, uma lufada de ar fresco num aparelho quase irrespirável. Narciso Miranda é, aliás, e coerentemente, um dos mais destacados opositores, dentro do PS, à proposta de limitação de mandatos dos autarcas e de outros cargos políticos. Proposta que, como é natural, tem suscitado ferozes resistências no interior de todos os partidos, do PS ao PSD, do PCP ao CDS. Os aparelhos reagem com vigor sempre que o seu poder é ameaçado ou posto em causa. Tal como tem acontecido como as repetidas intenções e propostas de revisão do sistema eleitoral ou de redução do número de deputados -- sempre boicotadas e inviabilizadas, à partida, no interior dos próprios partidos. Narciso Miranda é, aliás, e coerentemente, um dos mais destacados opositores, dentro do PS, à proposta de limitação de mandatos dos autarcas e de outros cargos políticos. Proposta que, como é natural, tem suscitado ferozes resistências no interior de todos os partidos, do PS ao PSD, do PCP ao CDS. Os aparelhos reagem com vigor sempre que o seu poder é ameaçado ou posto em causa. Tal como tem acontecido como as repetidas intenções e propostas de revisão do sistema eleitoral ou de redução do número de deputados -- sempre boicotadas e inviabilizadas, à partida, no interior dos próprios partidos. Veremos até onde chega, agora, esta proposta da limitação de mandatos, a começar pelas cúpulas do PS e do PSD. E se, a exemplo da derrota de Narciso Miranda, é de uma viragem ou de mera continuidade que se trata. Veremos até onde chega, agora, esta proposta da limitação de mandatos, a começar pelas cúpulas do PS e do PSD. E se, a exemplo da derrota de Narciso Miranda, é de uma viragem ou de mera continuidade que se trata. P. S. -- José Barros Moura era um dos raros políticos cuja independência de espírito e coragem de atitudes sempre constituiram um incómodo para os aparelhos partidários. Foi perseguido e preso pela ditadura, expulso do PCP por afrontar a cegueira da ortodoxia vigente e afastado de cargos dirigentes e até do lugar de deputado no PS por denunciar a corrupção na Câmara de Felgueiras e as conivências do aparelho do partido. Um percurso invejável de intransigência nos princípios, de liberdade de pensamento e de opinião e de integridade de comportamento. P. S. -- José Barros Moura era um dos raros políticos cuja independência de espírito e coragem de atitudes sempre constituiram um incómodo para os aparelhos partidários. Foi perseguido e preso pela ditadura, expulso do PCP por afrontar a cegueira da ortodoxia vigente e afastado de cargos dirigentes e até do lugar de deputado no PS por denunciar a corrupção na Câmara de Felgueiras e as conivências do aparelho do partido. Um percurso invejável de intransigência nos princípios, de liberdade de pensamento e de opinião e de integridade de comportamento. 27 Março 2003

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Comentários

41 a 54 de 54 LaVacheQuiRit 12:10 27 Março 2003 Caro Asdrúbal

Seguia com atenção o seu diálogo com Rodrigo sobre a necessidade de «reabilitar» o integralismo quando se abateu um silêncio ensurdecedor sobre a conversa.

Decidiram «reabilitá-lo» em privado?

Concluíram não haver «reabilitação» possível?

Você é o «João Amaral» e Rodrigo o «Jerónimo de Sousa»?

zippiz 12:05 27 Março 2003 e a prepósito de milhões ....

o dito funcionário público não exercia nenhum cargo enquanto os laranjas ( e outros blocos centrais )governavam o país ? zippiz 12:02 27 Março 2003 PPedroso :

por falar em distrações , temos aquela tentativa de Barroso de misturar cadáveres no Iraque com directores gerais na UE !

Asdrúbal 11:43 27 Março 2003 ""Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais "

Para mais (e melhores) informações - mesmo, por vezes, eloquentes - ler o Ensaio de André Freire e Farelo Lopes, intitulado «Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais». Paulo Pedroso 11:26 27 Março 2003

Fiquei a saber que a história do funcionário público que junta uma fortuna de 1 milhão de contos (e já lá vão alguns anos valentes) é, afinal de contas, uma mera história de alcova.

E depois sou eu que ando distraído!!! RATETE 11:23 27 Março 2003 A Meia Verdade

A análise da situação exposta é uma meia verdade que só peca por ter cariz partidário.A grande verdade é que tal raciocínio é aplicável a todos os partidários com poder autárquico ou outro qualquer nos aparelho de Estado.Aliás este é sem dúvida um dos males que o pós 25 de Abril nos trouxe ,se é verdade que muitos, muito deram em prol do desenvolvimento dos concelhos e freguesias do país outros tantos se aproveitaram para bem próprio do poder que lhes foi autorgado democraticamente.E este problema não é fácil de resolver porque ao meter-se todos no mesmo "saco" para limpar os "impuros" muitos dos "bons" irão sair do "sistema" com prejuízo real para o país.O ideal seria que todos nós eleitores também fossemos coerentes e objectivos quando votamos colocando os interesses colectivos acima dos partidários....mas a verdade é que tal se revela impossível uma vez que na nossa demacracia o poder é exercido ao contrário não são as bases que escolhem os seus dirigentes...são estes que arrastam os seus seguidores e escolhem o seu "grupo" de confiança para atingir os "seus" interesses pessoais.É preciso mudar mas como? zippiz 11:11 27 Março 2003 PPedroso e as estórias de alcova...para destrair o pagode...

Não se pode deixar de registar o incómodo da maioria/governo face às responsabilidades que tem nas mortes (dos 2 lados) que estão a acontecer no Iraque.

E tudo isto por um Director Geral na UE e por uma representação da NATO em Oeiras !

Convenhamos que se eu fosse apoiante laranja tambem ficaria incomodado Paulo Pedroso 11:07 27 Março 2003 Estórias

Era uma vez um homem. Era tão homem, tão homem, tão homem que... gostava de bater a torto e a direito na mulher (enfim, era um adepto dos pauliteiros de Miranda).

Enfim, subiu na vida à custa dos lugares de influência que ia estrategicamente ocupando e, sem nunca deixar de ser um mero funcionário público, enriqueceu desmesuradamente.

Um dia, o homem cheio de valentia, deu mais uma daquelas corajosas porradas na sua cara-metade. E esta, farta de levar no toutiço pediu-lhe o divórcio e metade da fortuna.

Se não... Se não... Se não...

E lá teve o corajoso homem que pagar narcisicamente uma fortuna de centenas de milhar de contos. Para alguém que sempre foi funcionário público!.!.!.!.!.!.!

Pois é, JAL, é melhor calar-me porque estas estórias jornalísticas não entram no Expresso. Já todos sabemos de quem estou a falar, não é? Será do Saddam? woodmarket 10:51 27 Março 2003 O problema é que esta nomeklatura, que está instalada em todos os partidos, vai resistir contra os ventos de mudança.

Os Narcisos, os Valentins e outros quejandos controlam demasiados interesses instalados para que se faça uma reforma efectiva.

Quem pensar o contrário ou é ingénuo ou não conhece a realidade da democracia portuguesa. Basty 10:44 27 Março 2003 Fica tudo "entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. "

Está visto que o Sr. Lima quando escreve sobre política interna vai acertando umas quantas.

No que diz respeito à ilegalidade, ilegitimidade, irresponsabilidade e atrocidade contra a democracia e justiça universais e contra a vida, quanto a isso o Sr. Lima ainda não se encontrou. Temos que defender os princípios do cristianismo. O respeito pela vida é sagrado. Ninguém se pode arrogar o direito de tirar a vida a outro ser humano. Quem está a favor da guerra está simplesmente a ser igual aos ditadores.

Mas voltando ao cenário politico/partidário nacional, o diagnóstico está efectuado há já muito tempo.

Então e agora ? Não vamos fazer nada ?

Vamos continuar a permitir que quem governa os nossos destinos como cidadãos contribuintes "-- viva, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar." ?

Eu também digo não !

O povo português é muito melhor do que isso.

Apelo a todos os que lerem

esta mensagem que se interessem por saber como funcionam as candidauras de cidadãos independentes a cargos de eleição. Vamos tomar o poder nas autarquias. Algumas juntas de freguesia e câmaras municipais do nosso país já estão a ser geridas por cidadãos responsáveis com sentido de estado e livres dos aparelhos político/partidários. Pessoas filhas ou adoptadas pelas terras onde servem efectivamente quem neles votou e o nosso país e não os interesses partidários.

Temos que tomar o nosso destino nas nossas mãos.

Bem hajam todos os que amam o nosso país e que estão dispotos a servir, sem segundos interesses, o povo de Portugal, o futuro dos nossos filhos. Sanco 10:44 27 Março 2003 Deixando de lado a guerra e as boas(!) noticias(!!) do PS!

O Barros Moura era dos poucos "renovadores" do PC por quem tive sempre admiração. Por nunca se calar, mesmo quando teve de defrontar a bicharada PS de Felgueiras... mais um "bom" que se perdeu :( Narcisos e Assis não o vão substituir, de certeza :( zippiz 10:00 27 Março 2003

Não se pode deixar de registar o incómodo da maioria/governo face às responsabilidades que tem nas mortes (dos 2 lados) que estão a acontecer no Iraque.

E tudo isto por um Director Geral na UE e por uma representação da NATO em Oeiras !

Convenhamos que se eu fosse apoiante laranja tambem ficaria incomodado. Zarolho 09:52 27 Março 2003 Boas notícias para o PS

Por um instante, quando li o titulo, achei que as boas notícias vinham da moção (ridicula) ao governo. Mas não, vêm da troca de Narciso Miranda, um homem do aparelho/sistema por uma cara nova que assegura a renovação do partido como ... Francisco Assis. Por favor, isto foi uma troca de caras, positiva mas saiu um senhor do aparelho (com maus resultados acumulados e apoiado pelo injustiçado Fernando Gomes) e entrou outro.

As más notícias vêm mesmo da original moção de censura que se distinguia "das restantes por apelar à necessidade de manter as relações transatlânticas e unidade dos Estados da União Europeia." A frase é bonita, só falta mesmo é explicar como: será que passa por dizer aos EUA que apoiamos e à França que estamos contra. Por outro lado, o que é a Unidade: a vontade da França, ou a da Espanha. Por outro lado, votou a favor de uma moção do BE que é contra a cedência das Lages, quando o PS é a favor (tal como o PR). Isto tudo já para não falar no caso do Kosovo.

Esta liderança bicefala (Ana Gomes e Ferro Rodrigues) ainda lhes vai garantir uns anos de oposição. surpreso 09:39 27 Março 2003 Saltou um "bimbo"-mor do Norte,mas não se pense que o partido vai mudar.Há interêsses bastantes que vão manter os mesmos vicios.Marciso era apenas a velha "corista",que já não atraía publico... < anteriores

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Boas notícias para o PS Por entre o turbilhão de relatos da guerra, ainda é possível surgirem algumas pequenas notícias animadoras, que ajudam a contrariar o pessimismo instalado. E num partido momentaneamente irreconhecível no seu radicalismo oratório e frentista, como o PS, ainda há pequenos acontecimentos a demonstrar que nem tudo está perdido. É o caso da inesperada derrota de um dos mais persistentes símbolos do aparelhismo partidário, Narciso Miranda, na eleição para a federação do Porto do PS, a maior do país. Narciso Miranda é, há longos anos, uma das figuras emblemáticas do sistema ou do modelo aparelhístico que domina a vida política portuguesa. Por um lado, naquilo que o aparelhismo partidário tem de positivo, como a combatividade de que sempre deu provas, o espírito de sacrifício da vida pessoal e a dedicação ao partido, a capacidade de organização ou a continuidade de trabalho e de participação nos bons e nos maus momentos, nas vitórias e nas derrotas. Narciso Miranda é, há longos anos, uma das figuras emblemáticas do sistema ou do modelo aparelhístico que domina a vida política portuguesa. Por um lado, naquilo que o aparelhismo partidário tem de positivo, como a combatividade de que sempre deu provas, o espírito de sacrifício da vida pessoal e a dedicação ao partido, a capacidade de organização ou a continuidade de trabalho e de participação nos bons e nos maus momentos, nas vitórias e nas derrotas. Mas, por outro lado, Narciso Miranda é, também, uma das faces mais cristalizadas daquilo que o aparelhismo tem de pior e de mais nocivo para o funcionamento da democracia. Os aparelhos dos partidos -- o seu corpo de funcionários e múltiplos dirigentes, a nível nacional, regional e local -- vivem, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar. Mas, por outro lado, Narciso Miranda é, também, uma das faces mais cristalizadas daquilo que o aparelhismo tem de pior e de mais nocivo para o funcionamento da democracia. Os aparelhos dos partidos -- o seu corpo de funcionários e múltiplos dirigentes, a nível nacional, regional e local -- vivem, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar. Nas concelhias, nas federações, nas listas para deputados são sempre os mesmos, com mais uns tios, primos, filhos e afilhados, a dividir os lugares e o poder, com raras alternâncias entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. É este sistema que, no momento da ascensão dos partidos ao poder, dá origem aos «jobs for the boys» ou aos privilégios para quem possui «cartão laranja». Nas concelhias, nas federações, nas listas para deputados são sempre os mesmos, com mais uns tios, primos, filhos e afilhados, a dividir os lugares e o poder, com raras alternâncias entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. É este sistema que, no momento da ascensão dos partidos ao poder, dá origem aos «jobs for the boys» ou aos privilégios para quem possui «cartão laranja». Mas o aparelhismo dos partidos tem outras componentes perversas, como o mundo obscuro dos financiamentos partidários ou a teia de interesses comprometedores que estabelece com empreiteiros, empresários, especuladores imobiliários, pequenos e grandes patrões do futebol, etc. Com o consequente tráfico de influências de que se alimenta essa teia. Mas o aparelhismo dos partidos tem outras componentes perversas, como o mundo obscuro dos financiamentos partidários ou a teia de interesses comprometedores que estabelece com empreiteiros, empresários, especuladores imobiliários, pequenos e grandes patrões do futebol, etc. Com o consequente tráfico de influências de que se alimenta essa teia. Daí que se saúde este sinal de mudança no poderoso aparelho da federação socialista do Porto. Não que a vitória de Francisco Assis represente um corte radical com os hábitos e interesses instalados (basta lembrar que, entre os seus apoiantes, se contam nomes como o de Orlando Gaspar, outro dinossauro do aparelhismo partidário e um dos principais responsáveis pelo descrédito em que há muito caiu a organização socialista no Porto). Mas porque a derrota de Narciso Miranda constitui uma oportunidade para a renovação, um virar de página, uma lufada de ar fresco num aparelho quase irrespirável. Daí que se saúde este sinal de mudança no poderoso aparelho da federação socialista do Porto. Não que a vitória de Francisco Assis represente um corte radical com os hábitos e interesses instalados (basta lembrar que, entre os seus apoiantes, se contam nomes como o de Orlando Gaspar, outro dinossauro do aparelhismo partidário e um dos principais responsáveis pelo descrédito em que há muito caiu a organização socialista no Porto). Mas porque a derrota de Narciso Miranda constitui uma oportunidade para a renovação, um virar de página, uma lufada de ar fresco num aparelho quase irrespirável. Narciso Miranda é, aliás, e coerentemente, um dos mais destacados opositores, dentro do PS, à proposta de limitação de mandatos dos autarcas e de outros cargos políticos. Proposta que, como é natural, tem suscitado ferozes resistências no interior de todos os partidos, do PS ao PSD, do PCP ao CDS. Os aparelhos reagem com vigor sempre que o seu poder é ameaçado ou posto em causa. Tal como tem acontecido como as repetidas intenções e propostas de revisão do sistema eleitoral ou de redução do número de deputados -- sempre boicotadas e inviabilizadas, à partida, no interior dos próprios partidos. Narciso Miranda é, aliás, e coerentemente, um dos mais destacados opositores, dentro do PS, à proposta de limitação de mandatos dos autarcas e de outros cargos políticos. Proposta que, como é natural, tem suscitado ferozes resistências no interior de todos os partidos, do PS ao PSD, do PCP ao CDS. Os aparelhos reagem com vigor sempre que o seu poder é ameaçado ou posto em causa. Tal como tem acontecido como as repetidas intenções e propostas de revisão do sistema eleitoral ou de redução do número de deputados -- sempre boicotadas e inviabilizadas, à partida, no interior dos próprios partidos. Veremos até onde chega, agora, esta proposta da limitação de mandatos, a começar pelas cúpulas do PS e do PSD. E se, a exemplo da derrota de Narciso Miranda, é de uma viragem ou de mera continuidade que se trata. Veremos até onde chega, agora, esta proposta da limitação de mandatos, a começar pelas cúpulas do PS e do PSD. E se, a exemplo da derrota de Narciso Miranda, é de uma viragem ou de mera continuidade que se trata. P. S. -- José Barros Moura era um dos raros políticos cuja independência de espírito e coragem de atitudes sempre constituiram um incómodo para os aparelhos partidários. Foi perseguido e preso pela ditadura, expulso do PCP por afrontar a cegueira da ortodoxia vigente e afastado de cargos dirigentes e até do lugar de deputado no PS por denunciar a corrupção na Câmara de Felgueiras e as conivências do aparelho do partido. Um percurso invejável de intransigência nos princípios, de liberdade de pensamento e de opinião e de integridade de comportamento. P. S. -- José Barros Moura era um dos raros políticos cuja independência de espírito e coragem de atitudes sempre constituiram um incómodo para os aparelhos partidários. Foi perseguido e preso pela ditadura, expulso do PCP por afrontar a cegueira da ortodoxia vigente e afastado de cargos dirigentes e até do lugar de deputado no PS por denunciar a corrupção na Câmara de Felgueiras e as conivências do aparelho do partido. Um percurso invejável de intransigência nos princípios, de liberdade de pensamento e de opinião e de integridade de comportamento. 27 Março 2003

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41 a 54 de 54 LaVacheQuiRit 12:10 27 Março 2003 Caro Asdrúbal

Seguia com atenção o seu diálogo com Rodrigo sobre a necessidade de «reabilitar» o integralismo quando se abateu um silêncio ensurdecedor sobre a conversa.

Decidiram «reabilitá-lo» em privado?

Concluíram não haver «reabilitação» possível?

Você é o «João Amaral» e Rodrigo o «Jerónimo de Sousa»?

zippiz 12:05 27 Março 2003 e a prepósito de milhões ....

o dito funcionário público não exercia nenhum cargo enquanto os laranjas ( e outros blocos centrais )governavam o país ? zippiz 12:02 27 Março 2003 PPedroso :

por falar em distrações , temos aquela tentativa de Barroso de misturar cadáveres no Iraque com directores gerais na UE !

Asdrúbal 11:43 27 Março 2003 ""Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais "

Para mais (e melhores) informações - mesmo, por vezes, eloquentes - ler o Ensaio de André Freire e Farelo Lopes, intitulado «Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais». Paulo Pedroso 11:26 27 Março 2003

Fiquei a saber que a história do funcionário público que junta uma fortuna de 1 milhão de contos (e já lá vão alguns anos valentes) é, afinal de contas, uma mera história de alcova.

E depois sou eu que ando distraído!!! RATETE 11:23 27 Março 2003 A Meia Verdade

A análise da situação exposta é uma meia verdade que só peca por ter cariz partidário.A grande verdade é que tal raciocínio é aplicável a todos os partidários com poder autárquico ou outro qualquer nos aparelho de Estado.Aliás este é sem dúvida um dos males que o pós 25 de Abril nos trouxe ,se é verdade que muitos, muito deram em prol do desenvolvimento dos concelhos e freguesias do país outros tantos se aproveitaram para bem próprio do poder que lhes foi autorgado democraticamente.E este problema não é fácil de resolver porque ao meter-se todos no mesmo "saco" para limpar os "impuros" muitos dos "bons" irão sair do "sistema" com prejuízo real para o país.O ideal seria que todos nós eleitores também fossemos coerentes e objectivos quando votamos colocando os interesses colectivos acima dos partidários....mas a verdade é que tal se revela impossível uma vez que na nossa demacracia o poder é exercido ao contrário não são as bases que escolhem os seus dirigentes...são estes que arrastam os seus seguidores e escolhem o seu "grupo" de confiança para atingir os "seus" interesses pessoais.É preciso mudar mas como? zippiz 11:11 27 Março 2003 PPedroso e as estórias de alcova...para destrair o pagode...

Não se pode deixar de registar o incómodo da maioria/governo face às responsabilidades que tem nas mortes (dos 2 lados) que estão a acontecer no Iraque.

E tudo isto por um Director Geral na UE e por uma representação da NATO em Oeiras !

Convenhamos que se eu fosse apoiante laranja tambem ficaria incomodado Paulo Pedroso 11:07 27 Março 2003 Estórias

Era uma vez um homem. Era tão homem, tão homem, tão homem que... gostava de bater a torto e a direito na mulher (enfim, era um adepto dos pauliteiros de Miranda).

Enfim, subiu na vida à custa dos lugares de influência que ia estrategicamente ocupando e, sem nunca deixar de ser um mero funcionário público, enriqueceu desmesuradamente.

Um dia, o homem cheio de valentia, deu mais uma daquelas corajosas porradas na sua cara-metade. E esta, farta de levar no toutiço pediu-lhe o divórcio e metade da fortuna.

Se não... Se não... Se não...

E lá teve o corajoso homem que pagar narcisicamente uma fortuna de centenas de milhar de contos. Para alguém que sempre foi funcionário público!.!.!.!.!.!.!

Pois é, JAL, é melhor calar-me porque estas estórias jornalísticas não entram no Expresso. Já todos sabemos de quem estou a falar, não é? Será do Saddam? woodmarket 10:51 27 Março 2003 O problema é que esta nomeklatura, que está instalada em todos os partidos, vai resistir contra os ventos de mudança.

Os Narcisos, os Valentins e outros quejandos controlam demasiados interesses instalados para que se faça uma reforma efectiva.

Quem pensar o contrário ou é ingénuo ou não conhece a realidade da democracia portuguesa. Basty 10:44 27 Março 2003 Fica tudo "entre famílias e clientelas do mesmo aparelho. "

Está visto que o Sr. Lima quando escreve sobre política interna vai acertando umas quantas.

No que diz respeito à ilegalidade, ilegitimidade, irresponsabilidade e atrocidade contra a democracia e justiça universais e contra a vida, quanto a isso o Sr. Lima ainda não se encontrou. Temos que defender os princípios do cristianismo. O respeito pela vida é sagrado. Ninguém se pode arrogar o direito de tirar a vida a outro ser humano. Quem está a favor da guerra está simplesmente a ser igual aos ditadores.

Mas voltando ao cenário politico/partidário nacional, o diagnóstico está efectuado há já muito tempo.

Então e agora ? Não vamos fazer nada ?

Vamos continuar a permitir que quem governa os nossos destinos como cidadãos contribuintes "-- viva, em regra, fechados sobre si próprios e sobre os seus interesses. Colocam a fidelidade acima da competência, o seguidismo acima das contribuições críticas, o carreirismo acima de qualquer qualificação ou mérito profissional, o acefalismo acima da liberdade de pensar." ?

Eu também digo não !

O povo português é muito melhor do que isso.

Apelo a todos os que lerem

esta mensagem que se interessem por saber como funcionam as candidauras de cidadãos independentes a cargos de eleição. Vamos tomar o poder nas autarquias. Algumas juntas de freguesia e câmaras municipais do nosso país já estão a ser geridas por cidadãos responsáveis com sentido de estado e livres dos aparelhos político/partidários. Pessoas filhas ou adoptadas pelas terras onde servem efectivamente quem neles votou e o nosso país e não os interesses partidários.

Temos que tomar o nosso destino nas nossas mãos.

Bem hajam todos os que amam o nosso país e que estão dispotos a servir, sem segundos interesses, o povo de Portugal, o futuro dos nossos filhos. Sanco 10:44 27 Março 2003 Deixando de lado a guerra e as boas(!) noticias(!!) do PS!

O Barros Moura era dos poucos "renovadores" do PC por quem tive sempre admiração. Por nunca se calar, mesmo quando teve de defrontar a bicharada PS de Felgueiras... mais um "bom" que se perdeu :( Narcisos e Assis não o vão substituir, de certeza :( zippiz 10:00 27 Março 2003

Não se pode deixar de registar o incómodo da maioria/governo face às responsabilidades que tem nas mortes (dos 2 lados) que estão a acontecer no Iraque.

E tudo isto por um Director Geral na UE e por uma representação da NATO em Oeiras !

Convenhamos que se eu fosse apoiante laranja tambem ficaria incomodado. Zarolho 09:52 27 Março 2003 Boas notícias para o PS

Por um instante, quando li o titulo, achei que as boas notícias vinham da moção (ridicula) ao governo. Mas não, vêm da troca de Narciso Miranda, um homem do aparelho/sistema por uma cara nova que assegura a renovação do partido como ... Francisco Assis. Por favor, isto foi uma troca de caras, positiva mas saiu um senhor do aparelho (com maus resultados acumulados e apoiado pelo injustiçado Fernando Gomes) e entrou outro.

As más notícias vêm mesmo da original moção de censura que se distinguia "das restantes por apelar à necessidade de manter as relações transatlânticas e unidade dos Estados da União Europeia." A frase é bonita, só falta mesmo é explicar como: será que passa por dizer aos EUA que apoiamos e à França que estamos contra. Por outro lado, o que é a Unidade: a vontade da França, ou a da Espanha. Por outro lado, votou a favor de uma moção do BE que é contra a cedência das Lages, quando o PS é a favor (tal como o PR). Isto tudo já para não falar no caso do Kosovo.

Esta liderança bicefala (Ana Gomes e Ferro Rodrigues) ainda lhes vai garantir uns anos de oposição. surpreso 09:39 27 Março 2003 Saltou um "bimbo"-mor do Norte,mas não se pense que o partido vai mudar.Há interêsses bastantes que vão manter os mesmos vicios.Marciso era apenas a velha "corista",que já não atraía publico... < anteriores

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