"Há empresas que procuram deficientes como um valor"

31-05-2004
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"Há Empresas Que Procuram Deficientes como Um Valor"

Por SOFIA RODRIGUES

Domingo, 18 de Abril de 2004

O presidente do premiado Centro de Reabilitação Profissional de Gaia (CRPR), dedicado à integração de deficientes no mercado de trabalho, considera que "é injusto dizer que os empregadores não são abertos a contratar pessoas com deficiência". Jerónimo de Sousa está consciente de que "é difícil a um deficiente arranjar emprego", mas também tem dúvidas de que a quota obrigatória no sector privado resolva o problema.

"Há empresas que procuram pessoas com deficiência porque isso é um valor e humaniza-as", afirma Jerónimo de Sousa, considerando que cada vez mais os empregadores têm uma noção de cidadania social. "O nosso papel é propor soluções de emprego que passam pelo desenvolvimento de competência e também de apoio aos empregadores que recebem os deficientes, numa espécie de serviço de 'venda e pós venda'".

É neste princípio que assenta o trabalho do CRPR, fruto de uma parceria entre o sector público e o privado, que apresenta uma taxa de integração sócio-profissional de mais de 70 por cento. Em Janeiro deste ano, o centro foi distinguido com a Marca Europeia de Qualidade em Reabilitação pelo Trabalho, um prémio criado pelo Parlamento Europeu.

A política de consciência social faz parte, por exemplo, dos objectivos do grupo Auchan, que detém os hipermercados Jumbo, em que actualmente trabalham 26 pessoas com diversos tipo de deficiência, 81 por cento das quais são efectivos. Até 2005, a cadeia de supermercados quer ter entre três a cinco deficientes em cada loja.

À semelhança de muitas empresas, o grupo Auchan não recorreu a subsídios estatais específicos para adaptar o local de trabalho às necessidades do deficiente.

Apesar do optimismo sobre a crescente sensibilidade das empresas, Jerónimo de Sousa diz não estar a pintar um quadro idílico. "É difícil a um deficiente arranjar emprego porque a nossa sociedade ainda tem dificuldade em lidar com a diferença".

Dúvidas quanto às quotas

A contratação obrigatória de pessoas com deficiência pelo sector privado é a solução proposta pelo Governo para combater o problema. O projecto de lei, que se encontra na comissão parlamentar de Assuntos Sociais, impõe uma quota máxima de dois por cento de deficientes do total de funcionários em empresas privadas e um tecto de cinco por cento na Administração Pública, o que já era obrigatório por lei, embora nem sempre seja cumprido.

A imposição de quotas no privado é bem-vinda pelas associações de apoio aos deficientes, apesar de não acreditarem na viabilidade da medida.

Para o presidente da Confederação Nacional das Organizações de Deficientes, Henrique Mendonça, "há outras formas de as empresas privadas poderem empregar pessoas com deficiência sem estarem obrigadas por lei". É que, sublinha, "as empresas fazem as contas e preferem pagar a coima do que cumprir a legislação".

A própria Administração Pública admite que não tem capacidade para fazer cumprir as normas. "No Orçamento de Estado não há nada escrito sobre os subsídios à alteração do posto de trabalho para se adaptar ao deficiente", exemplifica o presidente desta confederação que reúne 29 associações.

Jerónimo de Sousa também tem dúvidas sobre a solução das quotas, porque "as pessoas com deficiência sentem que conseguiram o emprego não por direito próprio mas como uma obrigação decretada por outro". E prefere sublinhar que existem recursos em Portugal para que a integração seja possível, mas é preciso que haja mobilização. "Há pessoas que chegam aqui quatro ou cinco anos depois de um acidente".

"Há Empresas Que Procuram Deficientes como Um Valor"

Por SOFIA RODRIGUES

Domingo, 18 de Abril de 2004

O presidente do premiado Centro de Reabilitação Profissional de Gaia (CRPR), dedicado à integração de deficientes no mercado de trabalho, considera que "é injusto dizer que os empregadores não são abertos a contratar pessoas com deficiência". Jerónimo de Sousa está consciente de que "é difícil a um deficiente arranjar emprego", mas também tem dúvidas de que a quota obrigatória no sector privado resolva o problema.

"Há empresas que procuram pessoas com deficiência porque isso é um valor e humaniza-as", afirma Jerónimo de Sousa, considerando que cada vez mais os empregadores têm uma noção de cidadania social. "O nosso papel é propor soluções de emprego que passam pelo desenvolvimento de competência e também de apoio aos empregadores que recebem os deficientes, numa espécie de serviço de 'venda e pós venda'".

É neste princípio que assenta o trabalho do CRPR, fruto de uma parceria entre o sector público e o privado, que apresenta uma taxa de integração sócio-profissional de mais de 70 por cento. Em Janeiro deste ano, o centro foi distinguido com a Marca Europeia de Qualidade em Reabilitação pelo Trabalho, um prémio criado pelo Parlamento Europeu.

A política de consciência social faz parte, por exemplo, dos objectivos do grupo Auchan, que detém os hipermercados Jumbo, em que actualmente trabalham 26 pessoas com diversos tipo de deficiência, 81 por cento das quais são efectivos. Até 2005, a cadeia de supermercados quer ter entre três a cinco deficientes em cada loja.

À semelhança de muitas empresas, o grupo Auchan não recorreu a subsídios estatais específicos para adaptar o local de trabalho às necessidades do deficiente.

Apesar do optimismo sobre a crescente sensibilidade das empresas, Jerónimo de Sousa diz não estar a pintar um quadro idílico. "É difícil a um deficiente arranjar emprego porque a nossa sociedade ainda tem dificuldade em lidar com a diferença".

Dúvidas quanto às quotas

A contratação obrigatória de pessoas com deficiência pelo sector privado é a solução proposta pelo Governo para combater o problema. O projecto de lei, que se encontra na comissão parlamentar de Assuntos Sociais, impõe uma quota máxima de dois por cento de deficientes do total de funcionários em empresas privadas e um tecto de cinco por cento na Administração Pública, o que já era obrigatório por lei, embora nem sempre seja cumprido.

A imposição de quotas no privado é bem-vinda pelas associações de apoio aos deficientes, apesar de não acreditarem na viabilidade da medida.

Para o presidente da Confederação Nacional das Organizações de Deficientes, Henrique Mendonça, "há outras formas de as empresas privadas poderem empregar pessoas com deficiência sem estarem obrigadas por lei". É que, sublinha, "as empresas fazem as contas e preferem pagar a coima do que cumprir a legislação".

A própria Administração Pública admite que não tem capacidade para fazer cumprir as normas. "No Orçamento de Estado não há nada escrito sobre os subsídios à alteração do posto de trabalho para se adaptar ao deficiente", exemplifica o presidente desta confederação que reúne 29 associações.

Jerónimo de Sousa também tem dúvidas sobre a solução das quotas, porque "as pessoas com deficiência sentem que conseguiram o emprego não por direito próprio mas como uma obrigação decretada por outro". E prefere sublinhar que existem recursos em Portugal para que a integração seja possível, mas é preciso que haja mobilização. "Há pessoas que chegam aqui quatro ou cinco anos depois de um acidente".

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